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Capítulo 1 – Vocação Profissional

Neste capítulo, o autor esclarece sobre requisitos importantes para ser um


psicoterapeuta. É importante conhecer estes requisitos antes de escolher uma
profissão que exigirá tanto tempo.
Para ser um bom terapeuta é útil ter traços de caráter que dificilmente serão
adquiridos na formação. Se for importante ter uma gratidão elevada dos
pacientes então não seja um terapeuta, por dois motivos:
1 – Dificilmente encontrará a gratidão que um médico encontra;
2 – Depois que o problema passa, o terapeuta é esquecido.
A confiança que o paciente deposita no saber do profissional pode ser
excessiva, mas é bom que seja assim, esta confiança auxilia no processo de
cura. Mas esta confiança não deve se transformar em uma eterna admiração,
seria substituir um mal por outro, perpetuando a terapia.
Traços do caráter do terapeuta
1 – Gosto pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por diferentes
que sejam de você.
2 – Curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo de
preconceito
Se for um limite que não consegue superar, encaminhe para outro terapeuta.
Se tiver opiniões morais prontas é melhor não seguir a profissão
3 – Experiências de vida
O terapeuta não precisa ser um modelo da normalidade. A fantasia e os
desejos só encontram seu sentido nas vidas singulares
4 – Uma dose de sofrimento psíquico
Quem trabalha com as motivações conscientes ou inconscientes de seus
pacientes deve fazer sua terapia, não com fins didáticos, mas para se trabalhar
também. Além disto, poderão ocorrer casos em que o paciente não melhora e
você duvidará de sua prática, mas saberá que a prática funciona, pois já curou
pelo menos um: si próprio.
Capítulo 2 – 4 Bilhetes
Bilhete 1
Poderia existir algum “desvio” para impedir uma pessoa de se tornar um
psicoterapeuta, ser um travesti, por exemplo? A escolha deve ser por
confiança, assim haverá os pacientes que se sentirão bem e os que não.
Bilhete 2 E o pedófilo? A pedofilia é uma fantasia de domínio e domínio do
saber. Se o terapeuta encontrar seu gozo na suposta supremacia de seu saber,
não poderá analisar de forma isenta.
Bilhete 3 Qual o limite? O autor não consegue acompanhar quem consegue
agir em grandes horrores sem que sua subjetividade esteja envolvida. Aqueles
que dizem: “foram as ordens”, “isso é o que manda nossa fé”.
Bilhete 4 Será que devemos influenciar os pacientes? A escolha de uma
direção não deve ser decidida por uma norma ou por um saber. Espera-se que
o terapeuta empurre a pessoa na direção de seu desejo. Por isto, que uma
terapia demora, porque antes de empurrar é preciso que o desejo se manifeste
Capítulo 3 – 1o Paciente
Neste capítulo, o autor fala da expectativa pelo primeiro paciente, de como
tentou disfarçar o apartamento para dá a impressão de ser um terapeuta
experiente. Nada disto é preciso, às vezes, o paciente busca exatamente a
inexperiência do terapeuta. O importante é ser você mesmo e principalmente
ter interesse no paciente como se fosse o primeiro. Seu primeiro paciente foi
indicado por uma amiga que admirava ele por ter outros interesse além da
psicanálise. “Temo o psicoterapeuta de um livro só”.
Capítulo 4 – Amores terapêuticos
Neste capítulo é tratada a relação que pode surgir entre paciente e terapeuta.
Primeiro, como dito no capítulo 1, a transferência é importante na relação de
cura. Se ocorre relação pessoal, ela se dará por um dos seguintes motivos:
1 – Terapeuta se achar poderoso – O terapeuta não analisa, manda
2 – Ego – Se achar irresistível. Quando o paciente não dá mais importância ele
se separa e irá procurar outro que o admire (é recorrente)
3 – Amor verdadeiro
A carta “Amores Terapêuticos” do livro “Cartas a um jovem terapeuta” de
Contardo Calligaris aborda a relevância dos sentimentos negativos, como o
ódio, na prática clínica. Segundo o autor, esses sentimentos facilitam e
permitem o trabalho psicoterápico tanto quanto seus similares positivos. A
psicanálise define essa paixão como “amor de transferência” [1][2].
Além disso, a carta também discute a fina linha que divide a idealização
terapêutica para o interesse amoroso. Existe uma construção de mão dupla,
onde há a necessidade de idealizar aquele que poderá curá-lo, tal qual aquele
que poderá se curar2. É importante para o terapeuta estar ciente dessas
questões e lidar com elas de maneira ética e profissional.

A confiança traz os amores terapêuticos, vem da admiração, do respeito e, em


geral, dos sentimentos que destinamos às pessoas a quem pedimos algum tipo
de cura para nossos males. Calligaris comenta que esses afetos facilitam o
trabalho do terapeuta e que, neste caso, espera-se que o encantamento se
resolva, acabe um dia. Sem isso, a psicoterapia condenaria o paciente a uma
eterna dependência afetiva.
A psicanálise deu a essa paixão um nome específico: amor de transferência. O
termo sugere que o afeto, por mais que seja genuíno, sincero e, às vezes,
brutal, teria sido “transferido”, transplantado ao terapeuta.
Esta situação de paixão transferencial leva a paciente a supor que seu
terapeuta detenha o segredo ou algum segredo de sua vida. Ou seja, a
paciente idealiza o terapeuta, e quem idealiza acaba se apaixonando. Calligaris
conclui: o apaixonamento da paciente é um equívoco. E não é bom construir
uma relação amorosa e sexual sobre um equívoco. Se paciente e terapeuta se
juntar, a coisa, mais cedo ou mais tarde, produzirá, no mínimo, uma decepção
e, frequentemente, uma catástrofe emocional, pois a decepção virá de um lugar
que pode ter sido idealizado além da conta. Pode acontecer uma vez na vida.
Sabendo – se, que um verdadeiro encontro é muito raro, e é compreensível
que um terapeuta não deixe passar a ocasião, mas a partir da segunda, a série
é suficiente para provar que o terapeuta está precisando de terapia. É por isso,
aliás, que é sempre bom que um terapeuta, de vez em quando, volte a ser
paciente...
Uma discussão teórica sobre a carta “amores terapêuticos” do livro “cartas a
um jovem terapeuta” de Contardo Calligaris poderia abordar os seguintes
pontos:

- A carta trata da questão dos sentimentos que surgem na relação terapêutica,


tanto por parte do paciente quanto do terapeuta. Calligaris afirma que esses
sentimentos são inevitáveis e fazem parte do processo de cura, mas devem ser
manejados com cuidado e ética.
- O autor distingue entre dois tipos de amores terapêuticos: o amor
transferencial e o amor real. O amor transferencial é aquele que o paciente
projeta no terapeuta, atribuindo-lhe qualidades e características que nem
sempre correspondem à realidade. O amor real é aquele que o terapeuta sente
pelo paciente, reconhecendo-o como uma pessoa única e singular.
- Calligaris defende que o amor transferencial é um instrumento valioso para o
trabalho psicoterápico, pois revela aspectos inconscientes do paciente, suas
fantasias, desejos e conflitos. O terapeuta deve acolher esse amor sem rejeitá-
lo nem alimentá-lo, mas interpretá-lo e devolvê-lo ao paciente de forma
simbólica e esclarecedora.
- Já o amor real do terapeuta pelo paciente é um sentimento legítimo e
humano, que demonstra o envolvimento e a empatia do profissional. No
entanto, esse amor deve ser sublimado e canalizado para o bem-estar do
paciente, sem interferir na neutralidade e na objetividade do terapeuta. O autor
alerta para os riscos de uma relação amorosa entre terapeuta e paciente, que
pode ser prejudicial para ambos e comprometer a eficácia da terapia.
- A carta de Calligaris é um convite à reflexão sobre a complexidade e a riqueza
da relação terapêutica, que envolve sentimentos, afetos e emoções. O autor
propõe uma postura ética, responsável e respeitosa do terapeuta diante dos
amores terapêuticos, que devem ser compreendidos como parte integrante do
processo de cura e crescimento pessoal do paciente.
Uma possível discussão teórica sobre a carta “amores terapêuticos” do livro
“cartas a um jovem terapeuta” de Contardo Calligaris, trazendo outros autores,
poderia ser:

- A carta de Calligaris aborda o tema dos sentimentos que emergem na relação


terapêutica, tanto por parte do paciente quanto do terapeuta, e que são
chamados de amores terapêuticos. O autor diferencia dois tipos de amores
terapêuticos: o amor transferencial e o amor real. O primeiro é aquele que o
paciente projeta no terapeuta, atribuindo-lhe qualidades e características que
nem sempre correspondem à realidade. O segundo é aquele que o terapeuta
sente pelo paciente, reconhecendo-o como uma pessoa única e singular.
- Esse tema é central na psicanálise, pois envolve a questão da transferência,
que é o motor da análise. A transferência é definida por Freud como “a
reprodução de sentimentos, desejos e modos de relação que se originaram em
relação a pessoas importantes da primeira infância e que agora são dirigidos
ao analista” . Freud considera o amor de transferência como um fenômeno
universal e inevitável, que deve ser manejado com cuidado e ética pelo
analista. Freud afirma que “a transferência cria, assim, uma região
intermediária entre a doença e a vida real [...]. Nessa região intermediária, o
amor se torna possível para esses pacientes e através dele também uma
cura” .
- Lacan, por sua vez, enfatiza o aspecto simbólico da transferência,
relacionando-a ao desejo do analisando de saber. Lacan afirma que “a
transferência é o amor ao saber” . Para Lacan, o analisando coloca o analista
na posição de sujeito suposto saber, ou seja, de um saber consistente, de um
saber que sabe. No entanto, da perspectiva do analista, esse saber não existe,
pois ele é apenas um semblante, uma máscara. O objetivo da análise é levar o
analisando a confrontar-se com a falta de saber do analista e com a sua própria
falta de saber sobre si mesmo.
- Outros autores que abordaram o tema dos amores terapêuticos foram
Winnicott e Bion. Winnicott propôs o conceito de holding, que é a capacidade
do terapeuta de sustentar e conter as emoções do paciente, oferecendo-lhe um
ambiente seguro e acolhedor. Winnicott considerava que o amor do terapeuta
pelo paciente era um fator essencial para o desenvolvimento psíquico do
paciente. Bion, por sua vez, desenvolveu o conceito de continente-contido, que
se refere à relação entre o terapeuta e o paciente na qual o terapeuta recebe e
transforma as projeções do paciente, devolvendo-as em forma de
interpretações. Bion afirmava que o terapeuta deveria manter uma atitude de
reverência pelo paciente, evitando qualquer tipo de preconceito ou julgamento.
- A carta de Calligaris é um convite à reflexão sobre a complexidade e a riqueza
da relação terapêutica, que envolve sentimentos, afetos e emoções. O autor
propõe uma postura ética, responsável e respeitosa do terapeuta diante dos
amores terapêuticos, que devem ser compreendidos como parte integrante do
processo de cura e crescimento pessoal do paciente.

: Freud S (1912). A dinâmica da transferência. In: Edição standard brasileira


das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12). Rio de Janeiro:
Imago.
: Freud S (1915). Observações sobre o amor transferencial. In: Edição standard
brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12). Rio de
Janeiro: Imago.
: Lacan J (1964). O seminário livro 11: os quatro conceitos fundamentais da
psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Capítulo 5 – Formação
O terapeuta deve ter formação psi ou não? As vantagens de quem tem a
formação psi é o conhecimento de várias abordagens (pluralidade), o
conhecimento de padrões internacionais (CID / DSM) e estágios. A linha a ser
seguida não é uma ideologia, não é preciso ser fiel.
Capítulo 6 – Curar ou não curar
Não deve haver pressa na terapia. Não se deve suprimir os sintomas antes que
a doença se manifeste. Cura é definida como o restabelecimento a
normalidade funcional, ou, levar o sujeito de volta a seu estado anterior à
doença. Psicanálise não tem noção preestabelecida de normalidade, mas um
estado em que o sujeito se permite realizar suas potencialidades.
Psicoterapia é uma experiência que transforma, pode-se sair dela sem o
sofrimento, mas ao custo de uma mudança.
A psicologia francesa dos anos 60 não era adepta da ideia de cura. Curar
significava perder o potencial de revolta. Mas, o autor se interessa pela
psicanálise por acreditar que ela tem a capacidade de transformar vidas e
atenuar a dor
Capítulo 7 – O que fazer para ter mais clientes
No início de sua carreira o autor ouviu que para ter mais cliente era necessário
“fazer-se conhecer”. Na época, “fazer-se conhecer” significava ser conhecido
dos colegas, pois imaginavam que os clientes só viriam indicados por outros
colegas. Por isto, o objetivo era impressionar os colegas.
A questão do término da análise também é tratada no capítulo, pois “o que nos
faz sofrer é a relevância excessiva que atribuímos à nossa presença no mundo.
Insistimos sempre em ser iguais a nós mesmos”. No final da análise seríamos
capazes de largar os sintomas que nos devastam e que nós amamos a tal
ponto que ao conseguimos desistir deles. “O momento em que eu realizasse a
experiência de que não sou nada seria o momento em que finalmente
conseguiria ser alguma coisa ou mesmo alguém”. Alcançar este momento
passou a ser o objetivo dos terapeutas e não tratar pessoas. Para o autor o
importante para conseguir mais clientes é ter compromisso primeiro com as
pessoas que confiam em você.
Capítulo 8 – Questões Práticas
A regra de que o paciente pode falar sobre tudo deve ser enunciada? depende
do paciente e do sentimento do terapeuta. O importante é que “as palavras
sempre levarão seus pacientes por terra imprevistas”. A autorização para o
paciente falar, não obriga a falar do que nós queremos ouvir. “É possível se
esconder de si mesmo usando a razão ou a poesia”.
Regras utilizadas por Freud
1 – Durante a análise não tomar decisões cruciais. Esta regra não é utilizada
hoje por dois motivos:
- Às vezes o motivo da análise é exatamente o de tomar uma decisão
- A análise pode demorar muito
2 – Não falar da terapia com as pessoas próximas
- Os amigos poderão achar que a pessoa irá mudar com eles
- Pode gerar conflitos em casais que fazem terapias com terapeutas diferentes
O setting depende do paciente. Sentado, no divã, etc. O terapeuta não deve
ser afoito e tomar cuidados com as perguntas iniciais. O autor faz duas:
1 – Eu (o terapeuta) posso ajudar? Posso estabelecer a aliança terapêutica.
Deve-se ser sincero, o autor, por exemplo, tem restrições a vozes que ele não
gosta
2 – O que o paciente espera? Procurar descobrir o que realmente a pessoa
espera (sentir) e não o que disse que espera. Esta pergunta deve ser repetida
ao longo da terapia e as mudanças da resposta analisada.
A duração da sessão poderá variar, mas não deve ser breve
Havia uma crença de que o paciente devia pagar do bolso, mas “as
resistências não são vencidas pelo esforço de pagar”
A frequência semanal depende da necessidade. O terapeuta deve estar
disponível para emergências
Se necessário, um supervisor não deve custar mais do que cobra ao paciente e
a função da supervisão não é didática é inspirar confiança.
Se você confia em si a ponto de autorizar-se a atender, continue.
Capítulo 9 – Conflitos Inúteis
Neste capítulo o autor fala do conflito existente entre a psicofarmacologia, a
neurociência e a psicanálise. Este conflito é criado por interesse particular
(indústria farmacêutica, insegurança profissional). Quem realmente conhece,
sabe o espaço de cada um.
Capítulo 10 – Infância e Atualidades, causas internas e externas.
As pessoas não querem falar da infância e sim dos seus problemas atuais.
Para a psicanálise o trauma não é causado no momento da ocorrência e sim
quando se repete. Por exemplo o fato de um bebê ser abandonado pode não
significar nada, mas se este mesmo bebê for abandonado pelo companheiro(a)
este segundo evento poderá causar trauma, pois há uma ligação com o
primeiro. Trauma seria um evento mais ou menos difícil que num segundo
momento não consegue ser integrado na história do sujeito.
Reinterpretar o passado, descobrir (ou inventar) novos sentidos para o que
aconteceu é quase sempre uma maneira de mudar nosso presente.
Porém, a sociedade atual está diferente “a modernidade define o sujeito não
por sua herança e, mas por suas potencialidades”. Então, seriam duas as
razões para evocar o passado: “para reinventar o sentido de uma história e
para amenizar o peso do futuro, devolvendo assim, quem sabe, seu justo lugar
ao presente de nossas vidas”.
Os pacientes se queixam que seus problemas têm causas externas. Há um
conflito entre psicólogos sociais e clínicos quanto a isto. Para Fernando Pessoa
“o mundo exterior é uma realidade interior”. Para Lacan “o inconsciente não é
nem individual nem coletivo, ele é “o” coletivo mesmo. Deve ser considerado
que existem transformações de personalidades que são ditadas pela situação
coletiva na qual o sujeito se encontra. O terapeuta não deve desconsiderar o
fator social.
Capítulo 11 – O que mais
Identificar-se com o terapeuta não pode ser o que se espera de uma terapia.
Mas, se isto é inevitável o terapeuta deve assumir a responsabilidade? a
resposta é “ser você mesmo”, não agir para passar uma imagem agradável.
O conselho final é para o terapeuta ser humilde, não quanto aos efeitos de seu
trabalho, mas humilde nas aceitações das condições impostas por seus
pacientes

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