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FACULDADE DE ECONOMIA DA UMN

Docente
Domingos Camilo Celestino Kalumana

• Assistente Estagiário

• Mestrando em Administração e Finanças

• Licenciado em Gestão de Empresas

• Técnico Oficial de Contas

• E-mail: celestino.kalumana@hotmail.com

• Telef.: +244 925 424 202

Fiscalidade
3º Ano – Gestão de Empresas Domingos Camilo Celestino Kalumana Lubango, 2022 1
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“O Estado é uma grande ficção pela qual todos tentam viver às custas dos demais”
Frédric Bastia
Cabinda

Zaire Uíge 1.246.700 Km²Área Total


Bengo
Lunda
18 Provínciassendo a Capital Luanda
Cuanza
Luanda
Norte
Malange
Norte
28 Milhões de Habitantes
aproximadamente
Lunda Sul
Cuanza Milhões População Ativa
Sul

Huambo
8 Entre os 15 e mais anos de idade

Bié Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE)


Benguela
Moxico

Huíla

Namibe
Cunene Cuando Cubango

Fiscalidade I
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Enquadramento e Objectivo da Fiscalidade


Fiscalidade é o conjunto de impostos e taxas, em vigor num determinado
espaço; sistema de arrecadação de impostos; conjunto de leis relativas a esse
sistema. É um processo pelo qual há arrecadação de receitas por parte do Estado
tendo em vista a satisfação das necessidades dos cidadãos.

É uma actividade meramente do Estado, A actividade fiscal do Estado tem


uma perspectiva histórica, vem dos
no qual tem a responsabilidade traçar TEMPO Espaço
tempos remotos, pelo que, sempre
mecanismos e políticas de flexibillização Vs
foi o meio através do qual o Estado
tem arrecadado receitas para fazer
da actividade arrecadatória. face as despesas públicas

Fiscalidade I
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Breve Perspectiva Histórica…


O fenómeno fiscal ou tributário apareceu na historia dos povos desde os mais
remotos tempos e Sob formas e sentidos diversos.
Foram considerados primeiramente como um auxilio, uma dádiva ou
presentes feitos aos príncipes ou soberanos pelos seus súbditos.
Outras vezes tiveram um sentido de contribuições que os soberanos ou
príncipes exigiam para armar cavalheiros, para casamentos e festas ou fazer
face às guerras de conquistas.

Fiscalidade
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Breve Perspectiva Histórica…

Objectivo: contrapor
o poder tributário do
Mudanças soberano
Pela 1ª vez na história
Aparecimento de uma
instituição politica do Carta Magna
tipo parlamento

Fiscalidade
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Breve Perspectiva Histórica…


Outros movimentos contestatários do poder tributário dos soberanos
verificaram-se em muitos países, como por exemplo em França, com os
episódios que marcaram a chama Revolução Francesa.

A tributação ou forma de obtenção de receitas, através de impostos foi sendo


assim aos poucos disciplinada por regras ou normas, que foram adquirindo o
carácter constitucional a fim de defender os direitos individuais e socias dos
cidadãos.

Fiscalidade
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Situação Actual…
O tributo ou imposto atingiu a situação actual de categoria jurídica e aos
cidadãos conquistou o estatuto de contribuinte.
O fenómeno tributário ou fiscal passou a ser tutelado e regulado pela
legalidade. Aquele que é obrigado a pagar imposto deve fazê-lo nos termos e
limites estabelecidos na Lei.

Nota: a política fiscal do Estado Angolano não é estática, tem sofrido várias
transformações ao longo do tempo com a REFORMA TRIBUTÁRIA (com maior
visibilidade nos anos de 2018 a 2020), como forma de adquar e tornar mais
célere, fácil e participativo este processo.
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Conceito e objectivo dos tributos


Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se pode exprimir, que
não constitua sanção de acto ilícito, instituída por lei e cobrada mediante actividade administrativa
plenamente vinculativa.

O conceito de tributo é mais amplo do que o de imposto, na medida em que os tributos podem ser,
impostos (incluindo direitos aduaneiros), taxas ou contribuições especiais.
Os impostos são tributos com natureza unilateral, sem contraprestação, ou seja, a sua obrigação não
constitui qualquer contrapartida de prestação.

A tributação tem têm como finalidade a cobertura das despesas públicas (finalidades fiscal) e ainda
tendo em atenção objectivos de ordem económica e social (finalidade extra-fiscal).
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Actividade Financeira do Estado


A actividade financeira do Estado é representada pelas acções que o estado
desempenha para obtenção dos recursos necessários ao seu sustento e a respectiva
realização de despesas voltas a execução das necessidades públicas.

Essa ectividade financeira do Estado depende de três elementos essenciais:


I. A elaboração do orçamento público, como peça delimitadora das receitas e
despesas públicas, inerentes a um certo período;

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Actividade Financeira do Estado (Cont…)


Essa ectividade financeira do Estado depende de três elementos essenciais:
II. As formas e limites de obtenção de receitas públicas para fazer frente às
despesas públicas fixadas;
III. As formas, condições e limites de gastos do dinheiro público, bem como, os
métodos de aplicação e dispêndio das respectivas despesas públicas.

A actividade financeira do Estado pode ser analisada em dois períodos específicos:


O período CLÁSSICO e o período MODERNO.

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Actividade Financeira do Estado (Cont…)


I. PERÍODO CLÁSSICO
Este período está ligado ao ESTADO LIBERAL dos séculos XVIII e XIX e caracterizou-se
pelo PRINCÍPIO DO NÃO INTERVENCIONISMO do Estado no mundo económico. Neste
período observou-se o mínimo possível de intervenção do Estado na economia, este
regime derrubou o Estado absolutista monarca, sendo influenciado pelo:

1) INDIVIDUALISMO FILOSÓFICO (ILUMINISMO) e POLÍTICO (REVOLUÇÃO FRANCESA)


do seculo Século XVIII (Proteção do indivíduo contra os abusos do Estado na economia,
opunha-se ao ABSOLUTISMO MONÁRQUICO); e
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Actividade Financeira do Estado (Cont…)


I. PERÍODO CLÁSSICO

2) LIBERALISMO ECONÓMICO que pregava o livre comércio e não admitia a


intervenção estatal. Sua principal característica era a liberdade económica com mínima
intervenção do Estado.

No período CLASSICO a actividade financeira do Estado visava somente à obtenção


de recursos para custear as despesas públicas. O Imposto tinha finalidade fiscal, não
intervinha nos domínios económicos e social.

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Actividade Financeira do Estado (Cont…)


I. PERÍODO MODERNO

Este período começou a ser delineado a partir do final do século XIX com a aplicação
das funções estatais decorrente de quatro factores:
a) As fortes oscilações económicas dos países que passavam rapidamente de grande
euforia económica e financeira para depressão;
b) Grandes crises económico-financeiras provocadas pelo crescente desemprego dos
períodos de depressão económica, gerando tensões sociais;

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Actividade Financeira do Estado (Cont…)


I. PERÍODO MODERNO

c) As grandes descobertas cientificas e o efeito de suas aplicações;


d) Os efeitos decorrentes da Revolução Industrial e o agravamento das condições
materiais dos trabalhadores.

A Revolução Industrial modificou as condições de trabalho, fez surgir o Direito do


Trabalho, pois a partir desse marco histórico verifica-se a necessidade do Estado intervir
nas relações trabalhistas, deixando, assim de ser essencialmente liberal e tornou-se
mais intervencionista, sobre tudo através da instituição de tributos com finalidade…
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Actividade Financeira do Estado (Cont…)


I. PERÍODO MODERNO

… extrafiscal (ou seja, ao mesmo tempo que um tributo visava a obtenção de recursos
ele influenciava directamente a economia) e através da personalidade do imposto
dando a cada produto um valor específico.

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Direito Financeiro

Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal


– Direito Privado
Todos os intervenientes actuam em pé de igualdade face à Lei.
– Direito Público
Um dos Intervenientes (sujeito activo) actua com poder soberano (sobre o sujeito
passivo).

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– Ramos do Direito Público
• Direito Constitucional: Regula a organização do Estado e os princípios fundamentais
dos cidadãos.
• Direito Administrativo: Disciplina e regula as relações entre os orgãos administrativos
do Estado.
• Direito Penal: Regula os crimes, definindo o que é crime e as sanções respectivas .

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal (Cont…)
– Ramos do Direito Público (Cont…)
• Direito Financeiro: Regula a recolha e a gestão de meios do Estado (financeiros
públicos)
• Direito Processual: Regula o modo de funcionamento dos tribunais e os trâmites a
seguir em qualquer acção (processual civil e processual penal)

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– Direito Financeiro: conjunto de Normas reguladoras da Actividade Financeira do
Estado.
Dentro do Direito Financeiro, encontra-se o Direito Tributário e o Direito Fiscal

Fiscalidade
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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal

– Direito Tributário
• Conjunto de Normas que disciplinam a actividade do Estado, desenvolvida no
sentido da arrecadação de receitas coactivas.

Direito Fiscal
• Conjunto de normas que disciplinam as relações que se estabelecem entre o
Estado e os outros Entes Públicos, por um lado, e os cidadãos, pelo outro, por via do
IMPOSTO.
É o conjunto de normas que regulam o imposto nas suas várias fases: Incidência;
Lançamento; Liquidação e Cobrança.
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Direito Financeiro

Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal


– O Direito Fiscal como Direito Público
• Critério dos Interesses: As normas do Direito Fiscal visam tutelar interesses da
colectividade, destinando-se à satisfação de necessidades públicas.

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– O Direito Fiscal como Direito Público (cont…)
• Critério dos sujeitos da relação jurídica
– A actuação do Ente Público desenvolve-se num plano superior ao do simples
particular (jus imperii).
Permite por exemplo, a execução do património do devedor para a realização dos
créditos não voluntariamente satisfeitos, sem a necessidade de declaração judicial
prévia do seu direito –Benefício da Execução Prévia.

Fiscalidade Lubango, 2022


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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do Direito
• Relações com o Direito Internacional – Celebração de Convenções, acordos e
tratados internacionais versando matéria fiscal.
Ex: Convenções tendentes a evitar a Dupla Tributação Internacional.

• Relações com o Direito Criminal – Penalidades impostas pelo não cumprimento.


Numa Acção – Apresentação de Declarações.
Numa Abstenção – Ex: a não inutilização dos documentos nos prazos previstos.

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do Direito (cont…)
• Relações/Conexões com o Direito Privado – Tributação tem por base factos, actos
e direitos patrimoniais (ex: Imposto sobre as Transmissões Onerosas de
Imóveis; Imposto de Selo nas Sucessões/Doações.

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Direito Financeiro

Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal


– Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do Direito (cont…)
• Relações com o Direito Constitucional – Artigo 101.º - Sistema Fiscal (CRA) -
O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras
entidades públicas assegurar a realização da política económica e social do Estado e
proceder a uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional.

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do Direito (cont…)
• Relações com o Direito Constitucional (Cont..)

Os impostos são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios
fiscais e as garantias dos contribuintes.
Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos
da Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança não
façam nos termos da lei.

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do Direito (cont…)
• Relações com o Direito Constitucional (Cont..)
O imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das desigualdades e é único
e progressivo, tendo em conta as necessidades e os rendimentos do agregado
familiar.

A tributação das empresas incide fundamentalmente sobre o seu rendimento real.


A tributação do património deve contribuir para a igualdade entre os cidadãos.

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Direito Financeiro
Enquadramento e âmbito do Direito Fiscal
– Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do Direito (cont…)
• Relações com o Direito Constitucional (Cont..)

A tributação do consumo visa adaptar a estrutura do consumo à evolução das


necessidades do desenvolvimento económico e da justiça social, devendo onerar os
consumos de luxo.

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Natureza do Direito Fiscal


O Direito Tributário pode ser classificado como ramo jurídico pertencente ao direito
público, com a figura do Estado sempre presente em um dos pólos da relação jurídica
– e sempre em situação de superioridade jurídica perante o particular -, haja vista o
interesse de tutela jurídica de compulsoriedade.

A noção de verticalidade própria da “desigualdade jurídica”, que marca as relações


de direito público, em contraponto à horizontalidade, adstrita à “igualdade jurídica”,
é fácil perceber que o interesse público deve prevalecer sobre o interesse particular,
no processo tributário, desde que se respeitem os direitos e garantias individuais.
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Natureza do Direito Fiscal (cont…)


Ainda quanto à natureza, pode-se asseverar que o Direito Fiscal revela-se como um
ordenamento obrigacional e comum. Com efeito, o Direito Fiscal é um direito
obrigacional, pois vincula o Estado ao contribuinte, em uma relação de índole
sinalagmática, ou seja, em um liame estabelecido a partir da presença de partes
(sujeito activo e sujeito passivo), de prestação (obejecto) e de vínculo jurídico
(causa), com elementos estruturais da obrigação tributária. O Direito Fiscal é um
direito comum, haja vista a fixação de regras de caráter geral, visando atingir uma
generalidade de pessoas e situações.
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Autonomia do Direito Fisal


As relações que o Direito Fiscal estabelece com os demais ramos de Direito permite-nos
concluir que não existe uma autonomia completa em qualquer ramo do Direito porque,
afinal o direito é um só.
O Direito Fiscal é considerado autónomo na medida em que tem conceitos próprios que,
muitas vezes são expressos através de termos idênticos aos utilizados noutros ramos do
Direito, nomeadamente do Direito Civil (normas que disciplinam a condição normal da
pessoa) e do Direito comercial (normas que regulam os actos de comércio, sejam ou não
comerciantes as pessoas que nela intervêm. Ao Direito Fiscal interessa o aspecto económico
das situações, independentemente da sua regularidade formal.
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Doutrina Fiscal
Adam Smith percursor dos dogmas fiscais – 1776 – Riqueza das nações

• Justiça

• Simplicidade

• Neutralidade

• Consentimento

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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.1. Conceito de imposto
O conceito de imposto teve as mais variadas definições ao longo dos tempos. Vários cultores do Direito
Fiscal procuraram definir o imposto tomando como base ora a sua função financeira, ora os seus
elementos jurídicos. Actualmente, é consensual definir o imposto tendo em conta as suas
características fundamentais.

• Imposto é uma prestação coactiva, pecuniária, unilateral, estabelecida pela lei a favor do Estado ou de
outro ente público, sem carácter de sanção, com vista à cobertura das despesas públicas (finalidades
fiscais do imposto) e ainda tendo em atenção objectivos de ordem económica e social (finalidades
extra-fiscais do imposto).

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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.1. Conceito de imposto
CARACTERÍSTICAS DO IMPOSTO
1. Prestação coactiva 4. Prestação estabelecida na Lei (art. 102o CRA)
– Os sujeitos activos do imposto a quem a lei confere a – É a lei que confere ao Estado/Administração o poder de
faculdade de lançar e cobrar impostos, exigem a tributar (ex-lege).
respectiva prestação dos sujeitos passivos de imposto
que se encontrem nas condições previstas na lei para 5. Prestação sem carácter de sanção
sujeição ao imposto. – Característica distintiva de outras prestações
pecuniárias e unilaterais, também exigidas pelo Estado,
2. Prestação Pecuniária mas a título de sanção ou de inflicção de um mal (ex:
– É uma prestação em dinheiro (dare pecuniam) coimas).

3. Prestação Unilateral
– Não implica qualquer contraprestação por parte do
sujeitoactivo do imposto
Sujeito activo: aquele a quem a lei confere o direito de lançar e cobrar imposto. Vs Sujeito passivo: quem tem a obrigação de pagar imposto.

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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.1. Conceito de imposto
FASES DO IMPOSTO
1. Incidência 3. Liquidação
– Definição geral e abstracta, feita pela lei, dos actos ou – Entende-se como a aplicação da respectiva taxa à
situações sujeitos a imposto e das pessoas sobre as matéria colectável, para a determinação do montante
quais recai o dever de o prestar. da colecta (em sentido restrito).
– Dois aspectos a realçar na Incidência:
• O que está Sujeito a Imposto – Incidência Real, 4. Cobrança ou pagamento
Material ou Objectiva; – Momento final da vida do imposto.
• Quem está Sujeito a Imposto – Incidência Pessoal ou – É a operação administrativa que visa a entrada do
Subjectiva. imposto nos cofres do Estado.
– Pode ser classificada em: voluntária – dentro dos prazos
2. Lançamento estabelecidos nas leis tributárias. Coerciva – por
– É a Série de operações administrativas conducentes à imposição legal
identificação do sujeito passivo do imposto e à
determinação da matéria colectável.
Matéria coletável – rendimento sujeito a imposto Vs Colecta: valor do imposto a pagar resultante da aplicação da taxado imposto a matéria colectável

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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.1. Conceito de imposto
CLASSIFICAÇÃO DOS IMPOSTOS
IMPOSTO INDIRECTOS IMPOSTOS PESSOAIS
– são os que incidem sobre os rendimentos no momento da – os que tributam as pessoas independentemente da sua
sua utilização sob a forma de consumo. No nosso caso condição económica.
(Angola), temos o Imposto sobre o Valor acrescentado
(IVA) e o Imposto Especial de Consumo (IEC). IMPOSTOS REAIS
– os que tributam os rendimentos ou riquezas de que as
IMPOSTOS DIRECTOS pessoas são titulares mas tendo em conta a situação
– são aqueles cujos pressupostos correspondem à pessoal dos contribuintes.
verificação ou identificação concreta do contribuinte, o qual Exemplo de situação pessoal: Prejuízos fiscais, benefícios
está dotado de património colectável ou aufere rendimento fiscais).
tributável.

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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.1. Conceito de imposto
Quanto ao critério da territorialidade os impostos classificam-se em gerais e locais. São gerais os
impostos que são cobrados em todo o território nacional. São locais os que limitam a uma região ou
zona.
Quanto a natureza permanente ou acidental dos factos ou situações que deram origem ao imposto,
pode se classificar o imposto em Periódicos e de Obrigação única. São periódicos os impostos que se
repetem ciclicamente (Imposto sobre os rendimentos do trabalho) ao passo que os de obrigação única
são aqueles que se verificam ocasionalmente (imposto sobre sucessões e doações).

Com base nas características das taxas os impostos agrupam-se em: impostos de taxa fixa – o imposto é
proporcional, ele aumenta proporcionalmente à matéria colectável. (Exemplo: Imposto Industrial e
Imposto predial Urbano)
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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.1. Conceito de imposto
Os impostos de taxa variável podem ser: progressivos e regressivos.

A taxa aumenta à média que cresce a matéria colectável. O São caracterizados pela diminuição da taxa do
imposto aumenta mais que proporcional, face ao aumento imposto sempre que aumenta a matéria
da matéria colectável. Exemplo: Impostos sobre sucessões colectável.
e doações e imposto e imposto sobre os rendimentos do Em angola não existe este tipo de imposto.
trabalho

O conceito de tributo é mais amplo do que o de imposto, na medida em que os tributos podem ser,
impostos (incluindo direitos aduaneiros), taxas ou contribuições especiais.
Os impostos são tributos com natureza unilateral, sem contraprestação, ou seja, a sua obrigação não
constitui qualquer contrapartida de prestação.
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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.1. Conceito de imposto

As taxas e as contribuições especiais constituem contraprestação… em virtude da prestação


individualizada, concreta e efectiva de um serviço público, da utilização de um bem do domínio
público…
Exemplo: o pagamento de taxa de circulação pela utilização de um bem público (aqui existe claramente
uma contraprestação).

Tendo conta a entidade que recebe os tributos, eles podem ser: ( art. 3º, nº. 1, 2 e 3 do Código Geral
Tributário): Tributos Estaduais – cujo sujeito activo seja a administração directa do Estado ou qualquer
órgão da sua administração indirecta; Tributos locais – cujos sujeitos activos sejam municípios,
organizações supramunicipais, ou outros órgãos territoriais do Estado designados por lei.

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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.2. Imposto e figuras afins
A par do imposto, os cidadãos têm com a entidades públicas diversas obrigações pecuniárias ou
transferências patrimoniais sob a forma de Taxas, multas, confiscos, expropriação para utilidade pública.
Existem diferenças que distinguem o imposto e estas figuras afins que se lhe assemelham, sendo por isso,
importante analisar.
# Imposto e Taxa
• As receitas tributárias incluem para além do imposto as taxas. As taxas são pagamentos em dinheiro
feitos pelos cidadãos à entidade pública, com um caracter definitivo, estabelecido por lei como
pagamento dos serviços prestados pelo Estado ou pela utilização de bens públicos (estradas, pontes,
etc.). Ao contrário do imposto, a taxa tem caracter bilateral (sinalagmático), equivalendo ao preço dos
serviços ou bens cuja titularidade pertence ao estado.
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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.2. Imposto e figuras afins
# Imposto e Taxa (cont…)
Existem várias taxas: taxas judiciais, administrativas (registo notariado, propinas, comparticipações
escolares, taxa de circulação, taxas públicas, taxas portuárias, portagens, taxas de entrada nos museus,
dos serviços comunitários, etc.).
# Imposto e Multa
• A multa é um pagamento em dinheiro a favor de uma entidade pública, resultante de uma violação de
norma legal cuja gravidade deve ser sancionada com a exigência de determinada importância aos seus
autores.
A multa tem um carácter de sanção ou penalidade, aspecto que difere do imposto.

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1.1. Conceito de imposto e figuras afins


1.1.2. Imposto e figuras afins
# Imposto e Confisco
• Um confisco é uma transferência patrimonial a favor de uma entidade pública como uma sanção
aplicada a particulares que pratiquem actos que violam as normas económicas vigentes numa
determinada sociedade.

# Imposto e Expropriação por utilidade pública


• A expropriação por utilidade pública é um acto através do qual uma entidade pública exige dos cidadãos,
a cessão de um bem (geralmente imóveis, terrenos) mediante uma indeminização, com a finalidade de
ser utilizado para satisfação de interesses colectivos.

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1.2. Estrutura Dinâmica do Imposto


Qualquer imposto é tecnicamente, constituída a partir dos seus elementos fundamentais que podem ser
de natureza qualitativa e quantitativa. Imposto

Elementos de Elementos de
natureza natureza
qualitava quantitativa

Objecto do O facto Deduções a Aplicação da


imposto O contribuinte gerador do matéria taxa
(Incidência) imposto colectável do imposto

Taxa específica Taxa ad-valorem

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1.2. Estrutura Dinâmica do Imposto


# O objecto – o objecto do imposto é uma realidade económica, uma situação de facto ou de direito sobre a
qual incide esse imposto, ou seja, é tudo aquilo que a lei consagra como sendo o pressuposto da
constituição da obrigação tributária.
A determinação do objecto do imposto é ponto inicial da técnica fiscal, na medida em que nesse momento é
delimitado o universo de bens, as manifestações de riqueza e outras realidades sobre as quais há de incidir o
imposto.
Esta delimitação torna-se necessário porque nas sociedades modernas, existem vários impostos o que
implica dizer que a Legislação Tributária destas sociedades escolhe várias situações ou realidades que
servem de base para acionar o fenómeno tributário. Se o cidadão pagasse apenas um único imposto, como
acontecia nas sociedades antigas, não haveria necessidade de distinguir todas estas realidades ou situações
que dão origem a obrigação tributária.
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1.2. Estrutura Dinâmica do Imposto


# O contribuinte (sujeito passivo do imposto) – é a pessoa que tem a obrigação de pagar o imposto, o
contribuinte está submetido a obrigação tributária. Geralmente o contribuinte tem uma forte relação com o
objecto do imposto.

O contribuinte pode ser de Facto ou de Direito. O contribuinte de Facto é aquele que efectivamente suporta
o imposto, transferindo parte do seu rendimento a favor do Estado. Os consumidores, por exemplo, são os
que efectivamente suportam o ónus do imposto sobre determinados produtos, embora não sejam os que
têm a obrigação fiscal da entrega do valor do imposto aos cofres do estado. O contribuinte de Direito é a
pessoa (singular ou colectiva) definida na lei

O contribuinte de Direito é a pessoa (singular ou colectiva) definida na Lei como sendo o sujeito passivo da
obrigação tributária.

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1.2. Estrutura Dinâmica do Imposto


# O contribuinte (cont…)
A legislação tributária prevê casos de substituição fiscal em que determinada pessoa se substitui à outra,
por força da Lei, no cumprimento da obrigação tributária principal ou acessória. É o caso das entidades
patronais que, nos termos da Lei do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho, devem reter a entrega
aos cofres do Estado o imposto descontado nas remunerações dos seus trabalhadores.

# O facto gerador do imposto ou facto tributário


É um acontecimento, um acto ou uma situação de Facto ou de Direito com repercussão económica que
determina a incidência do imposto (rendimento).
Para que se constitua uma obrigação tributária não basta que exista o objecto ou se conheça o
contribuinte. É indispensável que se produzam determinados factos ou actos, ou ainda que se verifiquem
determinadas situações tipificadas na lei, que ao acontecerem dão origem à criação efectiva da obrigação tributária.
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1.2. Estrutura Dinâmica do Imposto

# O facto gerador do imposto ou facto tributário (cont…)


O nº. 1 do artigo 1º do código do imposto industrial diz que o Imposto Industrial incide sobre os lucros
imputáveis ao exercício ao exercício de qualquer actividade de natureza comercial ou industrial, ainda que
acidentais. Neste sentido o facto gerador do imposto é a actividade efectiva de natureza comercial ou
industrial. A consequência do facto gerador do imposto é o “rendimento”(incidência do imposto).

Perante a obrigação tributária os rendimentos podem ser normais ou presumíveis. Os rendimentos


normais são os calculados com base nos factos económicos ocorridos durante um determinado período.
Enquanto que, os rendimentos presumíveis são os fixados com base numa estimativa dos resultados que
o contribuinte poderia ter obtido na sua actividade durante um determinado período. Exemplo: tributação
com base na tabela dos lucros mínimos.

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1.2. Estrutura Dinâmica do Imposto


Da repercussão económica que determina o rendimento tributável, base do imposto ou matéria colectável
surge o passo seguinte, que consiste no estabelecimento da forma como o imposto deve ser calculado
(efectuar as deduções a matéria colectável e aplicar a taxa do imposto).

# Deduções a matéria colectável


As deduções são as importâncias que, nos termos da Lei, devem ser retiradas a base de imposto como
forma de atender à situação pessoal e social dos contribuintes.
A partir do novo valor aplica-se a taxa de imposto para se determinar o montante do imposto apagar.
# Taxa do imposto - e um factor multiplicativo previamente determinado na Lei que se aplica à base do
imposto para calcular o valor do imposto a pagar. A taxa especifica é aferida como uma unidade física, tais
como peso, medida, cumprimento ou moeda. A taxa ad-valorem é fixada numa percentagem que se aplica
a um valor monetário.
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