Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROPÓSITO
Conhecer as características dos aminoácidos, das proteínas e enzimas hepáticas é
fundamental para compreender os distúrbios/patologias que envolvem esses elementos,
permitindo determinar de forma acurada os exames laboratoriais e o fornecimento de
diagnósticos mais precisos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
Quando estudamos a fisiologia humana, dividimos o organismo em várias partes para facilitar a
análise, mas os sistemas estão todos integrados, não é verdade? Portanto, aqui, você estudará
a Análise de proteína e hepatograma dividida em três módulos: um sobre aminoácidos e
proteínas; outro sobre metabolismo do ferro; e o último sobre o fígado.
À primeira vista, os assuntos podem parecer estranhos entre si, mas, acredite, não são.
Veremos as alterações genéticas pontuais que afetam vias metabólicas de aminoácidos,
causando distúrbios ligados a funções hepáticas e alterando o perfil proteico no plasma
sanguíneo. Logo, pequenas mudanças geram alterações que impactam todo o organismo.
O fígado é o órgão que produz a maior parte das proteínas plasmáticas e de fase aguda. Entre
elas, estão aquelas que participam do metabolismo do ferro. O bom funcionamento desse
órgão complexo e vital para a manutenção da vida pode ser avaliado com a ajuda de exames
laboratoriais que envolvem essas e outras substâncias, permitindo auxiliar diagnósticos e
acompanhar patologias associadas. Para isso, você precisará, primeiro, entender cada parte
desse todo.
Vamos lá!
MÓDULO 1
AUTOSSÔMICA
PRINCIPAIS AMINOACIDOPATIAS
FENILCETONÚRIA (PKU)
Se o defeito não for detectado de forma rápida e o bebê submetido a uma dieta especial, pode
desenvolver retardo mental, já que a fenilalanina é tóxica para o cérebro. Vale ressaltar que
existem três tipos de PKU, de acordo com a atividade da enzima hidroxilase. Veja a seguir
alguns tipos de fenilcetonúria.
FENILCETONÚRIA CLÁSSICA
A atividade da enzima praticamente não existe (inferior a 1%). Nesses casos, os níveis
plasmáticos de fenilalanina são superiores a 20 mg/dL.
FENILCETONÚRIA LEVE
SAIBA MAIS
A triagem neonatal, popularmente conhecida como teste do pezinho, é um dos exames mais
importantes a que os bebês são submetidos ao nascer. A partir de poucas gotas de sangue do
calcanhar recolhidas em um papel filtro especial, é possível diagnosticar precocemente
algumas doenças metabólicas, congênitas e infecciosas, entre elas a fenilcetonúria.
No Brasil, o teste é oferecido gratuitamente na rede pública (pelo Sistema Único de Saúde –
SUS) e a amostra deve ser coletada entre o terceiro e o quinto dia de vida. O teste pode ser
realizado por fluorimetria, ensaio enzimático colorimétrico ou espectrometria de massa.
Teste do pezinho.
DOENÇA DE HARTNUP
Este é outro defeito inato e envolve o transporte de aminoácidos nos túbulos renais e no
intestino. Neste caso, os aminoácidos neutros não são devidamente reabsorvidos e são
encontrados em grandes quantidades na urina. Também é comum ter quantidades aumentadas
de indóis na urina. Os indóis são metabólitos resultantes da decomposição bacteriana do
triptofano, quando esse aminoácido não é absorvido no intestino.
AMINOÁCIDOS NEUTROS
Também conhecida como leucinose, a DXB é uma doença inata que afeta o metabolismo dos
aminoácidos leucina, isoleucina e valina. O distúrbio é caracterizado pela deficiência de
atividade do complexo enzimático alfacetoácido-desidrogenase, levando ao acúmulo dos
subprodutos desses aminoácidos. Isso causa alterações neurológicas, como convulsões e
deficiência intelectual, e produz um odor característico na urina – que também pode se
apresentar em outros líquidos corporais.
VOCÊ SABIA
O xarope de bordo, em inglês maple syrup , é pouco conhecido no Brasil, mas utilizado nos
Estados Unidos e no Canadá como condimento para as panquecas. Ele apresenta cheiro
adocicado que lembra açúcar queimado ou caramelo, mesmo cheiro observado na urina dos
pacientes com DXB.
CISTINÚRIA E CISTINOSE
A cistinúria é um exemplo de distúrbio inato que afeta o transporte de aminoácidos nos túbulos
renais. O defeito leva à menor reabsorção de cistina, o que aumenta a sua concentração na
urina.
A cistina é resultado da oxidação do aminoácido cisteína e, por ser mais estável, é a maneira
que prevalece tanto no sangue quanto na urina. O excesso de cistina forma cálculos de cistina,
devido à sua baixa solubilidade na urina ácida. Os cristais terminam por se depositarem nos
rins, na bexiga, na pelve renal e/ou nos ureteres. Isso pode levar à insuficiência renal ou à
infecção do trato urinário, já que os cristais podem criar um ambiente propício ao acúmulo de
bactérias.
PELVE RENAL
URETERES
CISTINOSE INFANTIL
É a forma mais comum e mais agressiva. Também chamada de cistinose nefropática.
CISTINOSE DE APARECIMENTO TARDIO
Também denominada cistinose juvenil ou intermediária. É mais branda do que a infantil. Na
imagem, há cálculos de cistina encontrados na urina.
CISTINOSE BENIGNA
Chamada também de cistinose não nefropática. É a forma mais branda, costuma acometer os
adultos afetando apenas os olhos.
Esta é outra doença hereditária recessiva autossômica. Neste caso, o metabolismo afetado é
do aminoácido homocisteína, resultante da metabolização do aminoácido metionina
proveniente da alimentação. O distúrbio é causado pela ausência da enzima cistationina β-
sintase, levando ao acúmulo de homocisteína e metionina.
TIROSINEMIA
Esta doença hereditária é resultante de uma mutação que afeta enzimas que metabolizam o
aminoácido tirosina. A metabolização da tirosina acontece em cinco etapas e o distúrbio pode
afetar três das enzimas que participam desta transformação, são elas:
TIROSINEMIA TIPO I
Resultado da deficiência da enzima fumarilacetoacetato hidrolase, com acúmulo de
fumarilacetoacetato. Apresenta a clínica mais agressiva, podendo, em sua forma crônica,
levar à insuficiência hepática, crise neurológica e até hepatocarcinoma.
TIROSINEMIA TIPO II
Resultado da deficiência da enzima tirosina aminotransferase e da não formação do ácido
4-hidroxifenilpiruvato. Essa forma não está associada a danos hepáticos e sua clínica
costuma acometer olhos, pele e Sistema Nervoso Central.
No caso de suspeita de tirosinemia do tipo III, também é possível realizar testes de função
hepática (que estudaremos a seguir). Para confirmação de diagnóstico, podem ser realizados
testes genéticos.
ALCAPTONÚRIA
O ácido homogentísico se oxida e polimeriza em contato com o ar, formando a alcaptona (por
isso, o nome alcaptonúria), um pigmento negro que dá cor à urina dos afetados pela doença.
O pigmento também pode se depositar em órgãos e tecidos, o que é chamado de ocronose.
Os sinais clínicos mais comum são: artropatia ocronótica, ocronose cardiovascular, cutânea e
ocular, e obstrução do trato geniturinário por cálculos ocronóticos. O diagnóstico se baseia na
coloração da urina e detecção do ácido homogentísico no plasma e na urina.
Como a excreção dos aminoácidos é muito variável, a urina não se apresenta como uma boa
amostra para análise. Entretanto, ela é a melhor escolha para análise das aminoacidopatias
renais, porque, nesses quadros, o metabolismo dos aminoácidos está normal, mas a
reabsorção nos túbulos renais está comprometida. As anormalidades aparecerão na urina.
TESTE DETECTA PATOLOGIA
Nenhum dos testes nesse quadro é específico. Contudo, resultados positivos podem direcionar
para a realização de exames mais acurados. Quando apontam que determinado aminoácido
está em concentrações maiores do que o normal, é indicado o uso de técnicas quantitativas,
como a cromatografia de troca iônica, rotineiramente usada na análise de aminoácidos.
Em casos agudos, devido ao tempo de análise, ela tem sido substituída pela espectrometria
de massa em tandem, técnica bastante sensível e rápida, que permite diagnóstico de amplo
espectro de doenças metabólicas em uma única corrida analítica, como a PKU e outras
hiperfenilalaninemias; DXB; homocistinúria; tirosinemias do tipo I, II e III; alcaptonúria e outras
aminoacidopatias. As amostras são de sangue, coletadas em papel filtro.
A cromatografia líquida (HPLC), que usa amostras de plasma heparinizado ou urina, também é
bastante precisa e permite quantificar diversos aminoácidos ao mesmo tempo. Para dosagem
de succinilacetona na urina (tirosinemia do tipo I), é comum usar cromatografia gasosa
acoplada à espectrometria de massa.
Amniocentese – Procedimento invasivo para obter líquido amniótico a partir da 15ª semana de
gestação. Alguns exames utilizam diretamente o líquido amniótico, mas a maioria dos testes
depende da cultura celular inicial.
Análise pré-natal de DNA – Realizada no caso em que os pais são afetados pela doença ou
são portadores conhecidos da mutação.
ALBINISMO E O METABOLISMO DA
TIROSINA
A especialista Kathleen da Silva Gonçalves fala sobre a fisiopatologia do albinismo e seu
diagnóstico clínico e laboratorial.
PROTEÍNAS PLASMÁTICAS
Os níveis plasmáticos das proteínas têm grande relevância na avaliação do estado nutricional
dos indivíduos e no diagnóstico de doenças sistêmicas, tanto agudas como crônicas.
A dosagem isolada de proteínas plasmáticas totais não permite uma avaliação precisa, pois o
aumento dos níveis de determinada fração pode, por exemplo, ser compensado pela
diminuição dos níveis de outra fração de proteínas (veremos mais adiante o que representam
essas frações).
Entretanto, há casos em que alterações nos valores totais podem indicar determinados quadros
clínicos como, por exemplo:
Quando há diminuição acentuada dos níveis proteicos, característica de estados de
desnutrição grave, doenças hepáticas e renais.
MIELOMA MÚLTIPLO
Já foram identificados mais de cem tipos de proteínas no plasma sanguíneo, estudados a partir
de sangue coletado sem anticoagulante separando-se o soro. Elas podem ser avaliadas como
proteínas totais pelos métodos bioquímicos (turbimetria, floculação, química seca),
imunológicos ou por ultracentrifugação. Porém, quando se quer avaliar componentes
específicos, utiliza-se a técnica de eletroforese padrão de proteínas plasmáticas, que
permite o fracionamento dessas moléculas em cinco frações: albumina, alfa-1 globulina, alfa-2
globulina, betaglobulina e gamaglobulina, conforme a figura a seguir.
Para se fazer uma análise clínica correta a partir das alterações apresentadas no resultado da
eletroforese, é indispensável conhecer os valores normais apresentados na tabela a seguir.
Proteínas* % g/dL
Totais 100 6,0 a 8,0
O fígado é o local onde a maioria das proteínas plasmáticas é produzida e, por esse motivo, a
análise das proteínas séricas é fundamental para avaliação da função desse órgão. Não se
preocupe, nosso foco agora serão as proteínas plasmáticas, e a função hepática abordaremos
no último módulo.
Os métodos laboratoriais para o estudo das proteínas circulantes podem ser quantitativos,
semiquantitativos ou qualitativos. Os utilizados mais frequentemente são:
ANÁLISE QUALITATIVA
Os elementos a serem detectados são identificados a partir da coloração, odor, ponto de fusão,
ponto de ebulição e solubilidade. Ex.: No caso da eletroforese, a análise qualitativa é feita pela
comparação dos tempos de migração dos padrões utilizados com os tempos de migração das
proteínas do soro.
ANÁLISE QUANTITATIVA
É realizada por densitometria, que calcula a porcentagem da área de cada fração.
PADRÕES
ELETROFORESE CONVENCIONAL
As proteínas migram em um meio poroso, que pode ser de acetato de celulose, gel de agarose
ou gel de poliacrilamida. A separação acontece com a formação de bandas (frações) de
proteínas. É um método manual em sistema aberto, ou seja, o meio em que as proteínas
migram é manipulado.
ELETROFORESE CAPILAR
As proteínas migram por um tubo capilar e são separadas por tamanho e pelas propriedades
físico-químicas. É um sistema fechado e pode ser manual ou automatizado.
Podemos utilizar diferentes métodos. O quadro a seguir faz um resumo desses métodos:
Capilar eletro-
Rotina laboratorial Excelente
osmótica
É a proteína mais abundante no plasma (60% do total proteico). É produzida no fígado e suas
principais funções são a manutenção da pressão osmótica no plasma e o transporte de
diversas substâncias endógenas e exógenas, como os ácidos graxos e fármacos.
Por ser uma molécula de tamanho bem reduzido, é comum ser excretada pela urina quando há
danos aos glomérulos renais. A diminuição acentuada de sua concentração, chamada de
hipoalbuminemia, é indicativa de quadros clínicos caracterizados por:
1.
2.
ALFA-1 GLOBULINA
Embora essa fração seja formada por várias proteínas, 90% dela é composta de alfa-1
antitripsina. A porção restante é composta por alfa-1 glicoproteína ácida, alfafetoproteína e
algumas proteínas carreadoras.
PROTEASES
IMUNOTURBIDIMETRIA
NÍVEIS AUMENTADOS
NÍVEIS REDUZIDOS
NÍVEIS AUMENTADOS
Artrite reumatoide;
Neoplasias;
Infarto do miocárdio;
NÍVEIS REDUZIDOS
Hepatopatias graves;
Desnutrição.
ALFA-2 GLOBULINA
A alfa-2 macroglobulina é um inibidor de proteases produzido pelo fígado, por isso sua
diminuição é observada em quadros de hepatopatias crônicas. Já a elevação de seus níveis é
característica da síndrome de deficiência imunológica adquirida (AIDS). Na síndrome nefrótica,
sua concentração cresce de forma significativa (cerca de 10 vezes). Como é uma das maiores
proteínas globulínicas, seus níveis séricos podem ficar iguais, ou até maiores, do que os da
albumina.
BETAGLOBULINA
Composta por um grupo bem heterogêneo de proteínas. As mais importantes do ponto de vista
clínico são a transferrina e o complemento C3.
A transferrina tem como função primordial o transporte do ferro no plasma sanguíneo. Assim, a
elevação dos seus níveis séricos é um bom indicador de carência de ferro, como acontece na
anemia por deficiência de ferro (anemia ferropriva). Concentrações diminuídas são
observadas em hepatopatias crônicas, uma característica comum nas proteínas sintetizadas no
fígado. Voltaremos a falar da transferrina no próximo módulo.
SAIBA MAIS
GAMAGLOBULINA
É composta por todas as classes de imunoglobulinas (Igs): IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, que
podem ser encontradas no plasma sanguíneo e nos líquidos orgânicos. Cada uma dessas
imunoglobulinas tem concentrações e funções diferentes em nosso organismo, conforme
observado no quadro a seguir. A maioria dos anticorpos no plasma é do tipo IgA, IgG e IgM.
IMUNOGLOBULINAS (IGS)
Anticorpos compostos por glicoproteínas secretados pelos plasmócitos. Existem ainda quatro
subclasses de IgG e duas de IgA.
Concentração
Tipos Características e principais funções
plasmática
Na corrida eletroforética das gamaglobulinas, apenas a IgG apresenta migração por toda a
banda da fração gama. Além disso, por ter a maior concentração entre as globulinas, as
alterações nessa zona acabam por refletir o que acontece com essa imunoglobulina.
A IgA é a que aparece mais próxima do polo negativo (anodo) e pode se localizar na área de
encontro da fração gama com a beta. A IgM é menos anódica e migra na zona eletroforética da
betaglobulina, quando estimulada (nos casos de infecções agudas). É possível detectá-la na
região entre a IgA e a IgG. Existem situações clínicas em que a delimitação entre as zonas beta
e gama não aparece, essa fusão geralmente ocorre em soro e plasma de pacientes com
cirrose hepática.
PICO POLICLONAL
Quando as imunoglobulinas são produzidas por diferentes plasmócitos, chamamos a banda de
policlonal.
PICO MONOCLONAL
Quando há aumento de anticorpos produzidos por um único clone plasmocitário, ou seja,
quando são produzidas imunoglobulinas idênticas entre si, temos um pico monoclonal,
característico de gamopatias monoclonais.
O gráfico eletroforético apresenta uma curva gama de base estreita, pois o crescimento
representa um único anticorpo e geralmente apresenta um pico na fração gama. No entanto,
como vimos, a IgA tem uma migração característica e, caso seja a proteína que está
aumentada, o pico pode se apresentar na fração beta.
Podemos considerar o mesmo raciocínio para a elevação de IgM monoclonal. Sendo assim,
quando ocorre crescimento na fração gama, não é possível determinar, com certeza, se a
fração monoclonal é IgA, IgG ou IgM. Portanto, é necessário realizar dosagens imunológicas
específicas para essas imunoglobulinas ou ensaios de imunoeletroforese com determinados
antissoros.
HIPOGAMAGLOBULINEMIA
Também chamada de agamaglobulinemia, caracteriza a redução dos níveis de
gamaglobulinas e é indicativo da presença de variante da cadeia leve do mieloma múltiplo,
presente em cerca de 20% dos casos de MM. Normalmente, o pico monoclonal é visto na
eletroforese a partir de amostras de urina, pois as cadeias leves das imunoglobulinas são
pequenas o suficiente para extravasarem os túbulos renais. Essas proteínas são chamadas de
proteínas Bence Jones. Além do mieloma múltiplo, outras causas levam à
hipogamaglobulinemia, são elas:
Outras causas da deficiência ou ausência de imunoglobulinas.
SAIBA MAIS
Nas gamopatias monoclonais, as imunoglobulinas secretadas pelas células podem ser intactas
ou fragmentos delas. Nos referimos às duas como paraproteínas, proteínas monoclonais ou
proteínas M. É possível que elas sejam de qualquer classe de anticorpos e o aumento revela
na eletroforese uma única banda estreita.
As proteínas de Bence Jones que vimos são exemplos delas, encontradas no mieloma múltiplo,
macroglobulinemia de Waldenström e em doenças de cadeia pesada. Entretanto, pode-se
achar paraproteínas também em pacientes sem patologia associada, em que são referenciadas
como paraproteínas benignas ou gamopatia monoclonal de significância incerta.
Os testes para identificação específica das imunoglobulinas são realizados principalmente com
amostras de sangue. A imunoeletroforese é a mais conhecida, mas, hoje, existem métodos
mais rápidos e sensíveis como:
Imunoturbidimetria
Eletroquimioluminescência
Radioimunoensaio
Elisa
No caso da IgE, a quantificação total não é útil como método de triagem para diagnóstico de
doença alérgica. Inclusive, níveis séricos normais de IgE não descartam a possibilidade deste
quadro clínico.
Os testes para quadros alérgicos são, em grande parte, testes de sensibilização alérgica ou
pesquisa de IgE específica contra determinados alergênicos.
Função Exemplos
OPSONIZAR
Essa proteína é sintetizada pelo fígado e encontrada no plasma e, em condições normais, com
concentrações inferiores a 1 mg/dL. Em resposta a um estímulo inflamatório, seus níveis
aumentam rapidamente (em 6 horas já é possível detectar), podendo chegar a mil vezes os
valores basais.
Os testes quantitativos utilizados para medir os valores de PCR não têm sensibilidade para
detectar a proteína no soro de indivíduos saudáveis, o que é necessário para o monitoramento
de quadros inflamatórios crônicos. Para esses casos, são aplicadas técnicas de alta
sensibilidade, hs-PCR (high sensitivity -PCR). Já se encontram disponíveis no mercado a
metodologia ELISA e métodos automatizados de turbidimetria e nefelometria.
SAIBA MAIS
Níveis de PCR estão associados ao maior risco de doença arterial periférica, infarto do
miocárdio, AVC e morte súbita cardiovascular.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
IMPORTÂNCIA DO FERRO
O ferro é um elemento essencial para o corpo humano, pois desempenha papel de relevância
em diversos processos metabólicos. Ele é o íon central do grupo heme, um componente não
proteico tanto da hemoglobina como da mioglobina, fundamental no transporte de oxigênio
para os tecidos.
Estrutura do heme com o íon Fe2+ no centro.
CITOCROMOS
RIBONUCLEOTÍDEO-REDUTASE
METABOLISMO DO FERRO
O ferro encontrado no organismo é originário de duas fontes principais: alimentação e
reciclagem dos glóbulos vermelhos senescentes.
O conteúdo total de ferro no corpo de adultos sem patologias é entre 3 e 4 g. Para formação de
novas hemácias, é necessário cerca de 30 mg de ferro ao dia. Contudo, diariamente, o corpo
perde, aproximadamente, 1 mg de ferro e essa perda precisa ser reposta pela alimentação. As
mulheres têm perda extra de 0,5 mg de ferro devido ao período menstrual ou gravidez.
Crianças e adolescentes também requerem quantidade maior. As concentrações normais de
ferro no soro variam entre 10 e 40 μmol/L.
ATENÇÃO
No organismo, o ferro pode existir em dois estados estáveis oxidados: ferro ferroso solúvel
≈≈
ferro em sua forma Fe3+. Cada transferrina carreia dois íons de ferro férrico e esse complexo
(ferro-ferritina) pode se ligar a receptores específicos na membrana de diversos tipos celulares.
Além de ser estocada na ferritina, a forma férrica (Fe3+) também pode ser encontrada na
hemossiderina, que é a forma degradada da ferritina, e ser corada com ferrocianeto de potássio
na presença de ácido clorídrico.
Corte histológico mostrando a presença de hemossiderina (marrom) em macrófagos
alveolares.
A homeostase do ferro é controlada pelas proteínas reguladoras de ferro que atuam na inibição
ou indução da transcrição genética (regulação intracelular) e pela regulação sistêmica, que
requer uma comunicação entre os locais de absorção, de utilização e de estoque. Esse papel é
desempenhado pela hepcidina, um hormônio circulante sintetizado no fígado, que atua como
regulador negativo do metabolismo do ferro. Sua expressão é induzida, quando há sobrecarga
de ferro e em quadros de infecção e inflamação, e diminuída, em situações de deficiência de
ferro.
Regulação da hepcidina e sua ação no metabolismo do ferro.
O METABOLISMO DO FERRO
A especialista Kathleen da Silva Gonçalves fala sobre a absorção, o transporte e a regulação
do ferro no organismo humano.
DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DO FERRO
A anemia é o quadro mais característico, quando os níveis de ferro estão abaixo dos valores
de referência. Quando seus níveis estão aumentados, também há quadros clínicos que
precisam de atenção. Sendo assim, é de grande importância realizar o monitoramento e
controle dos níveis desse metal.
A anemia pode ser classificada, de acordo com o tamanho dos eritrócitos, em: microcítica,
normocítica e macrocítica.
Os sintomas são vagos, mas refletem a fraca distribuição de oxigênio no organismo, podendo
ser acompanhados de cansaço, dor de cabeça, falta de ar, entre outros. A anemia ferropriva é
causada, principalmente, pela deficiência de ferro, mas também pode ocorrer devido a outros
fatores, como:
Além da anemia, existem outros quadros clínicos acompanhados da diminuição dos níveis de
ferro, entre eles estão:
Inflamações crônicas
Doenças malignas
Infarto do miocárdio
Hemorragia aguda
Ciclo menstrual
DISTÚRBIOS RELACIONADOS AO EXCESSO DE
FERRO
É possível ocorrer por doenças genéticas ou de forma adquirida. A sobrecarga pode ser
resultado de transfusões sanguíneas realizadas de maneira crônica, como acontece com
alguns pacientes com anemia falciforme, ou ser resultado de hematopoiese deficiente, comum
na insuficiência renal. Doenças como hemocromatose, que veremos no próximo tópico,
também levam à elevação dos níveis de ferro, bem como casos de intoxicação por ferro.
Hemocromatose
Esse ferro é, enfim, excretado com a descamação das células intestinais. Logo, a redução dos
níveis de hepcidina está associada ao aumento dos níveis de ferro sérico e à desregulação do
seu metabolismo.
SAIBA MAIS
Existem quatro tipos de mutações, em genes diferentes, que levam ao desenvolvimento desta
doença:
Tipo 1: As mutações do gene HFE estão entre as causas de maior prevalência da doença, mas
varia de acordo com os grupos étnicos e raramente apresenta sintomas antes dos 20 anos. A
mutação C282Y é a mais comum.
Tipo 2: Hemocromatose juvenil. É rara e as mutações afetam os genes HJV (tipo 2A) e HAMP
(tipo 2B).
Tipo 3: Ocorre devido a mutações no gene TRF2, que codifica o receptor de transferrina.
Tipo 4: Também chamada de doença por ferroportina, já que as mutações afetam o gene
SLC40A1 que codifica aferroportina-1.
Existem outros distúrbios que acompanham o crescimento dos níveis de ferro sérico. Vejamos
a seguir:
ACERULOPLASMINEMIA
Acúmulo excessivo de hemossiderina nos tecidos. Os principais órgãos afetados são pulmões
e rins. Neles, os depósitos resultam de hemorragia nos tecidos seguida da ruptura dos
eritrócitos, causando liberação de ferro. Nos rins, a hemólise pode ser intravascular e o ferro se
acumula no tecido renal à medida que o sangue é filtrado.
HEMOSSIDEROSE
Consequência de mutações no gene da proteína ceruloplasmina. Essa proteína atua na
regulação do estado iônico do ferro, oxidando o Fe+2 em Fe+3. Assim, permite a incorporação
do íon à transferrina. Sem poder se ligar a ela, há acúmulo de ferro sérico.
ATRANSFERRINEMIA
Distúrbio raro e congênito em que há deficit de transferrina, que aumenta o ferro sérico livre, e
o desenvolvimento de quadros graves devido ao estresse oxidativo.
PARÂMETROS DO HEMOGRAMA
Você estudará este assunto com mais profundidade em outro momento, mas vamos conhecer
os valores de referência dos parâmetros que devem ser avaliados nos casos de deficiência de
ferro.
Determinação do número
de hemácias
> 6% indicam deficiência
hipocrômicas (possível Número de hemácias
de ferro
com certos analisadores
automáticos)
Como os valores de referência para o ferro no soro apresentam grande variação, a medida da
sua concentração tem valor limitado, pois as baixas concentrações plasmáticas podem ser
observadas em diversos quadros clínicos. Seu valor é mais preditivo em casos de sobrecarga e
envenenamento agudo por ferro.
ATENÇÃO
Como a ferritina é uma proteína plasmática de fase aguda, caso haja quadros inflamatórios
coexistentes com deficiência de ferro, seus níveis podem se apresentar falsamente normais.
Clínicas que acompanham o aumento dos níveis de ferritina.
No plasma, em condições normais, a transferrina está cerca de 30% saturada com Fe2+:
Quando essa saturação diminui (< 16%), podemos suspeitar de quadros de deficiência de
ferro.
Quando a saturação aumenta (> 55% em homens e > 50% em mulheres), desconfiamos de
quadros de sobrecarga de ferro.
A TIBC é uma medida da concentração máxima de saturação da transferrina. Como apenas 1/3
dos sítios ligadores de ferro está ocupado, a proteína tem capacidade reserva para ligação com
mais íons. Assim, a TIBC está elevada nas deficiências de ferro e diminuída nos quadros
inflamatórios, doenças malignas e desordens relacionadas à sobrecarga de ferro.
Deficiência de ferro ↓ ↑
Infecções crônicas ↓ ↓
Malignidades ↓ ↓
Menstruações ↓ ↓
Envenenamento por Fe ↑ ↓
Hemocromatose ↑ N, ↓
Infarto do miocárdio ↓ N
Gravidez tardia ↓ ↑
Anticoncepcionais orais N, ↑ ↑
Nefrose ↓ ↓
Kwashiorkor ↓ ↓
Talassemia ↑ ↓
MÓDULO 3
FÍGADO
Cerca de 80% da massa celular do fígado é formada pelos hepatócitos que se agrupam
compondo placas chamadas de lóbulos hepáticos. A unidade funcional do fígado é
representada pelos ácinos. Estes não são estruturas anatômicas definidas e foram
arbitrariamente divididos em três zonas (1, 2 e 3) que correspondem à sequência em que o
sangue se desloca. Os hepatócitos da zona 1 são irrigados com o sangue mais oxigenado. Os
hepatócitos da zona 3 recebem um sangue com menos oxigênio e nutrientes.
SISTEMA DIGESTÓRIO
O fígado realiza múltiplas funções. Portanto, a preocupação com a saúde desse órgão é crucial
para a homeostase de todo o organismo. Veja essas funções a seguir.
METABOLISMO
Tem papel fundamental no metabolismo dos nutrientes provenientes da alimentação,
principalmente dos carboidratos, lipídeos e proteínas.
SÍNTESE
Com exceção das globulinas, a maioria das proteínas plasmáticas de fase aguda é produzida
no fígado. Ele auxilia na manutenção da pressão oncótica ao produzir albumina.
ARMAZENAMENTO
Armazena glicose na forma de glicogênio (estoque de energia), ferro, vitaminas lipossolúveis A,
D, E e K, vitamina B12, ácido fólico e diversas outras substâncias.
DESINTOXICAÇÃO
O conjunto de enzimas que participam dessa atividade é chamado de sistema microssomal
hepático, que converte compostos nocivos ou pouco solúveis em substâncias que possam ser
excretadas pelos rins.
EXCREÇÃO
É responsável pela excreção de toxinas e produtos finais do metabolismo. Também secreta a
bile, uma substância com composição bastante diversa, entre elas ácidos e sais biliares.
BILE
Uma secreção gastrointestinal responsável por excretar diversos solutos que não são expelidos
pelos rins e ainda secretar substâncias fundamentais para o processo digestivo e para a
absorção de lipídios.
Inicialmente, é sintetizada pelos hepatócitos que secretam, nos canalículos biliares, um fluido
com osmolaridade similar ao plasma, contendo sais biliares, colesterol, fosfolipídios, pigmentos
biliares e outras substâncias. Na passagem pelos dutos biliares, suas células epiteliais (os
colangiócitos) secretam nesse concentrado um fluido rico em bicarbonato, induzido por
hormônios, principalmente a secretina.
No intervalo entre as refeições, parte da bile é direcionada para a vesícula biliar, órgão
responsável pelo seu armazenamento. Nela ocorre a remoção de sais e água dessa bile
(hepática), formando o que chamamos de bile vesicular.
SAIS BILIARES
O fígado é o principal local de síntese do colesterol endógeno e o único local onde ele é
convertido em ácidos biliares que serão excretados. O ácido cólico e o quenodesoxicólico são
os ácidos biliares primários. A maior parte desses ácidos biliares, ao chegar no intestino, é
reabsorvida no íleo e retorna pela veia porta ao fígado (circulação êntero-hepática), onde é
novamente conjugada e excretada.
Os ácidos primários, que seguem pelo íleo em direção ao intestino grosso, sofrem a ação da
enzima 7α-hidroxilase de bactérias presentes no intestino e são convertidos em ácidos biliares
secundários: ácidos desoxicólicos e litocólicos, excretados por meio das fezes.
SECRETINA
ATENÇÃO
A principal função dos sais biliares é solubilizar o colesterol contido na bile, bem como produtos
da digestão dos lipídeos provenientes da alimentação.
BILIRRUBINA E UROBILINOGÊNIO
1.
2.
A protoporfirina IX (grupamento heme sem o ferro) é transformada em biliverdina que, por sua
vez, é reduzida à bilirrubina, um dos pigmentos biliares.
GLOBINAS
Proteínas que contêm um grupo heme. Capazes de transportar, entre outros, o oxigênio.
Hemoglobina e mioglobina são exemplos de globinas.
Na bile, 25% da bilirrubina está conjugada com monoglicuronídeos e 75% conjugada com
diglicuronídeos, havendo ainda traços de bilirrubina não conjugada. Se o trato biliar estiver
bloqueado por algum motivo (como, por exemplo, a existência de cálculos biliares), a bilirrubina
não será excretada.
HIPERBILIRRUBINEMIA
Fenótipo característico de icterícia: pele e esclera amarelados.
Hemólise
Dano hepatocelular
SAIBA MAIS
Os canalículos biliares podem ser obstruídos em quadros como cirrose, câncer hepático ou por
infecção, levando ao aumento da concentração de bilirrubina conjugada no plasma.
Nem sempre a obstrução é consequência de problemas na árvore biliar, como ocorre nas
hepatites virais ou devido à intoxicação por drogas, por exemplo. Nesses casos, além da
bilirrubina e da fosfatase alcalina, outras enzimas, como as aminotransferases, também estarão
com seus níveis elevados.
Hemoglobina ↓
Fosfatase alcalina
AST, ALT, LDH um pouco
Haptoglobina ↓ aumentada
aumentadas
tardiamente
↑ LDH (possivelmente)
LDH
Os valores de bilirrubina total no plasma não são utilizados para estabelecer nenhum
diagnóstico. Na verdade, a concentração de sais biliares no soro é um índice mais sensível
para avaliar o transporte hepático. Contudo, alterações dos níveis de bilirrubina plasmática
podem ter significado prognóstico para a evolução de doenças como a cirrose biliar primária.
Também é importante no monitoramento de icterícia neonatal; na avaliação da resposta ao pós-
operatório de desobstrução das vias biliares; e para confirmar suspeita de hiperbilirrubinemia,
que não é clinicamente aparente.
A amostra utilizada para exames laboratoriais é o soro obtido em jejum e isento de hemólise e
lipemia. O método mais comum é o colorimétrico. No quadro a seguir, veja os exames para a
dosagem de bilirrubina.
Valores de
Exame Quantificação Características
referência
Adultos e
Bilirrubina não
Método colorimétrico Bilirrubina não crianças acima
conjugada não é
̶ reação com álcool conjugada* de 1 ano: 0,2 a
solúvel em água
1,0 mg/dL
HEPATOGRAMA
Os exames que compõem o hepatograma também costumam ser chamados de testes (ou
provas ou exames) de função hepática. No entanto, esse nome é considerado inadequado,
já que os resultados, como veremos a seguir, não fornecem uma análise quantitativa da
capacidade do fígado de realizar suas funções.
FATORES DE RISCO
ATENÇÃO
Algumas das substâncias dosadas no hepatograma podem estar com valores fora da
referência em pessoas com distúrbios não relacionados ao fígado. Lembre-se de que os testes
auxiliam no estabelecimento de doença hepática, mas não fornecem diagnóstico!
ENZIMAS HEPÁTICAS
As enzimas dosadas nos testes de função hepática, geralmente, têm pouca ou nenhuma
função fisiológica conhecida no plasma sanguíneo. Contudo, a alteração dos seus níveis
séricos é utilizada como um indicador importante de dano hepático.
1.
2.
3.
Hipóxia grave.
4.
ATENÇÃO
Contudo, quando há lesão hepática, ocorre elevação dos níveis de ambas aminotransferases, e
costuma ser na mesma proporção. A exceção é quando há dano hepático gerado por ingestão
alcóolica, pois o álcool tem efeito inibidor sobre a síntese de ALT. Neste caso, a elevação dos
níveis de AST é bem maior do que a de ALT (AST/ALT > 2).
ATENÇÃO
Caso haja uma lesão somente no fígado, os níveis de ALT subirão mais rapidamente do que os
de AST.
Hepatite virais
Miopatias Esteatose Medicamentos/toxinas
agudas
Ligadura da artéria
Doença de Wilson
hepática
↑aumento
Fosfatase alcalina
A fosfatase alcalina (FA) não é específica do fígado. É possível encontrá-la nos ossos, no
intestino delgado, na placenta, nos rins e outras partes. Seus níveis séricos dependem da
idade e do sexo, sendo normalmente mais altos em idosos, crianças e gestantes.
No fígado, a FA é encontrada, principalmente, nas células que revestem os canalículos biliares
e seus níveis costumam elevar em resposta à obstrução das vias biliares, tanto intra como
extra-hepática. No entanto, esse aumento não é específico de obstrução biliar, já que outros
tipos de lesão hepática podem induzir o crescimento dos níveis dessa enzima, com ou sem
colestase.
O aumento de três vezes nos níveis de fosfatase alcalina, contudo, é um forte indicador de
doenças hepáticas colestáticas, infiltrativas (como neoplasias) e em doenças ósseas com
grande turnover.
A maior parte da FA detectada no plasma é originária do fígado e dos ossos e, para identificar
sua origem, é possível separá-las por eletroforese. Quando o aumento de FA está associado à
elevação de outra enzima, a gama-glutamiltranspeptidase (GGT), temos um forte indício de
obstrução biliar. No entanto, o aumento de FA acompanhado de níveis normais de GGT sugere
doenças ósseas.
Gama-glutamiltranspeptidase (GGT)
A GGT é uma enzima sintetizada em diversos tecidos. No fígado, ela é sintetizada difusamente
por todo o órgão, diferentemente da FA que é, em grande parte, produzida nas células dos
canalículos biliares.
O aumento dos níveis plasmáticos é um índice sensível para doença hepática, mas não é
específico. Sua atividade é elevada pelo uso de álcool e algumas drogas, mesmo sem
doença hepática associada.
Gama-
Hepatopatias Fosfatase alcalina
Glutamiltranspeptidase
Doenças
Aumentados Aumentados
colestáticas
Tumores hepáticos De normais até > 10x LSN De normais até > 10x LSN
Cirrose hepática De normais até > 10x LSN De normais até > 15x LSN
Normais ou pouco
Hepatite alcóolica Muito aumentados
aumentados
PROTEÍNAS PLASMÁTICAS
Como o fígado está envolvido com a síntese, liberação e depuração de muitas proteínas
plasmáticas, não é de se estranhar que, em distúrbios que afetem esse órgão, as
concentrações dessas proteínas possam estar modificadas. É possível que as alterações dos
níveis de determinadas proteínas, como, por exemplo, a albumina e os fatores de coagulação,
indiquem problemas na função hepática; enquanto outras, como a alfa-1 antitripsina e a
ceruloplasmina (que estudamos no módulo anterior), podem ser usadas no diagnóstico de
hepatopatias específicas.
A albumina, como sabemos, é produzida exclusivamente pelo fígado. Sua meia-vida é longa e,
por isso, não é um bom indicador para a severidade de hepatopatias agudas, pois níveis
reduzidos demoram para ser detectados no plasma. Portanto, a hipoalbuminemia é mais
comum em doenças crônicas como a cirrose.
É preciso avaliar, contudo, a ingestão inadequada de proteínas e ingestão excessiva de álcool
como possíveis causas de redução da síntese de albumina. Veja outros fatores que podem
contribuir para hipoalbuminemia:
Por esses motivos, as concentrações plasmáticas de albumina não devem ser utilizadas como
um indicador isolado da função de síntese do fígado.
A alfafetoproteína é uma proteína produzida pelo fígado nos fetos. É o equivalente fetal da
albumina. Sua síntese cessa logo após o nascimento. Em adultos normais, sua concentração
plasmática é muito pequena, mas, nos casos de carcinoma hepatocelular, seus níveis
aumentam cerca de 80 a 90% e ela se torna detectável no plasma. Também é utilizada como
marcador de tumores de células germinativas.
TEMPO DE PROTROMBINA
O fígado tem uma função central na hemostasia, pois sintetiza grande parte dos fatores e das
proteínas envolvidos na coagulação e no sistema fibrinolítico. Um exemplo é a protrombina,
uma proteína produzida pelo fígado, que, quando ativada, promove a conversão de fibrinogênio
em fibrina.
A síntese de fatores de coagulação é dependente de vitamina K, lipossolúvel, obtida
pelos alimentos e que tem sua absorção dependente da ação dos sais biliares.
É possível que a produção dos fatores de coagulação seja afetada pelo mau funcionamento do
fígado ou pela falta deste composto. A cirrose biliar primária e a colangite esclerosante primária
são distúrbios relacionados à obstrução das vias biliares, que podem ser a causa da deficiência
de vitamina K, levando à diminuição da síntese dos fatores de coagulação.
Como a protrombina tem uma meia-vida curta, ela funciona como um indicador precoce da
redução da síntese hepática. Além disso, o teste do tempo de protrombina é um método
simples e barato para avaliar essa função do fígado. Os valores de referência de tempo de
protrombina estão entre 10 e 14 segundos.
DOENÇAS HEPÁTICAS
Existem muitas doenças que afetam o fígado, podendo ser agudas ou crônicas. A diferença
entre esses distúrbios é a gravidade e a velocidade com que deterioram o órgão.
Principais causas de dano hepático agudo e seus possíveis desfechos.
Veremos agora os quadros clínicos mais relevantes, começando pelos agudos até chegarmos
nas complicações crônicas.
INTOXICAÇÃO
As intoxicações hepáticas mais comuns envolvem doses excessivas de drogas ilícitas, álcool e
de alguns medicamentos, como o paracetamol.
Hepatite é um termo utilizado para qualquer processo inflamatório que acometa o fígado,
levando à degeneração e necrose do tecido hepático e que resulta na diminuição da sua
função. É possível que este quadro seja causado por microrganismos infecciosos,
medicamentos, toxinas e outros.
No caso dos microrganismos, tanto bactérias como vírus podem gerar hepatite. Porém, os
casos mais comuns são de hepatites virais. Estudaremos as de maior prevalência a seguir.
HEPATITE A
Causada pelo vírus da família Picornaviridae, que se multiplica nos hepatócitos e é excretado
para o sistema digestório pela bile. Por isso, suas partículas costumam ser encontradas nas
fezes de infectados com a doença aguda.
HEPATITE B
Transmitida por um vírus mais complexo que leva ao acometimento de uma doença mais
prolongada e séria do que a hepatite A. O vírus infecta e se replica em grande quantidade nos
hepatócitos, de onde é liberado para a circulação sanguínea periférica. Laboratorialmente, é
detectado por diferentes antígenos, como mostra o esquema a seguir.
Verificar se as hepatites são ou não virais (realizado por testes sorológicos, exames de
imagem ou avaliação histológica).
SAIBA MAIS
Nos quadros de hepatite aguda, os testes geralmente apresentam os seguintes resultados no
plasma:
Grande elevação dos níveis das aminotransferases (AST e ALT), geralmente acima de
1.000 U/L. Os níveis de atividade dessas enzimas no plasma costumam indicar a
gravidade da doença; por exemplo, nas hepatites fulminantes, os níveis chegam a
aumentar de 20 a 40 vezes em relação ao limite superior do intervalo de referência;
Uma elevação discreta dos níveis de fosfatase alcalina, menos do que duas vezes os
valores de referência, que variam bastante dependendo do sexo e da idade;
Via de
Fecal-oral Parental Parental
transmissão
Tempo de
2 a 7 semanas 1 a 6 semanas 6 a 8 semanas
incubação
↑ = aumento
PARENTAL
Contato com secreções orgânicas, via sexual, transmissão vertical, transfusões sanguíneas,
punções com agulhas contaminadas e qualquer outro procedimento que permita o contato com
sangue contaminado.
SAIBA MAIS
Além do ABC, existem outros vírus que causam hepatite. Um exemplo é o vírus da hepatite D
(VHD). Ele não é patogênico, mas precisa do VHB para sua replicação. Quando ocorre a
coinfecção, a evolução clínica pode ser tão grave como uma hepatite fulminante, uma
hepatopatia crônica ou um hepatocarcinoma. O diagnóstico para detectar sua infecção é o
HBsAg e anti-VHD positivos. O vírus da hepatite E (VHE) é semelhante ao VHA, gerando
sintomas leves e inespecíficos, com raras exceções, como nas mulheres grávidas em que há
elevado grau de mortalidade. O diagnóstico laboratorial é a detecção de anticorpos anti-VHE
(IgM e IgG). As hepatites também podem ser induzidas por drogas (hepatite tóxica). A clínica é
semelhante à de outras hepatites. O que determinará a gravidade do quadro é a quantidade do
agente tóxico. O abuso de álcool é uma das causas mais comuns desse tipo de hepatite,
resultando, às vezes, não só em hepatite alcóolica como em esteatose hepática e cirrose.
INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA
Pode ainda ocorrer um desequilíbrio dos eletrólitos e das concentrações de sódio e cálcio no
sangue, bem como aumento dos níveis de amônia que não foi convertida em ureia.
Aguda
Os quadros agudos são causados, principalmente, por vírus, medicamentos e toxinas. Nesses
casos, a síntese de albumina é afetada, podendo causar hipoalbuinemia, levando ao
surgimento de edemas e/ou ascites. Há maior tendência a hemorragias e, em quadros mais
graves, aumento de processos de coagulação intravascular, ambos em decorrência da
diminuição da produção de fatores de coagulação.
Nesses quadros, os testes de função hepática são utilizados para monitorar a recuperação e
como prognóstico auxiliar.
Crônica
ATENÇÃO
Existem três formas principais de dano crônico que podem progredir até a insuficiência
hepática, são elas: esteatose hepática alcoólica; hepatite crônica ativa; e cirrose biliar primária.
Ou seja, todas podem evoluir para cirrose.
Além da fibrose, que se estende por todo o tecido hepático e é, na maioria dos casos,
irreversível, surgem os nódulos parenquimatosos de vários tamanhos, nos locais resultantes
do ciclo contínuo de lesão e regeneração dos hepatócitos. Isso gera as cicatrizes fibróticas que
causam a contração do tecido. Ocorre, então, a desorganização da arquitetura tecidual, que
atinge não só as células, mas uma extensa rede vascular hepática, o que interfere fortemente
no transporte de sangue pelo órgão.
Todo esse cenário de fibrose e comprometimento do fluxo de sangue resulta em maior tensão
sobre a veia porta, levando ao que chamamos de hipertensão portal, característica marcante
do quadro de cirrose.
Tecido hepático cirrótico com formação de nódulos ao redor de áreas com intensa fibrose.
ATENÇÃO
Cirrose não é sinônimo de insuficiência hepática! Muitos indivíduos podem passar anos com
cirrose e não chegar a esse quadro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que as aminoacidopatias são os erros inatos de metabolismo mais frequentes. Elas
estão associadas a sintomas graves, como distúrbios do Sistema Nervoso Central, sistema
respiratório e digestivo. Para minimizar, ou até eliminar, esses sintomas, é necessário detectar
a doença o mais precocemente possível. Os aminoácidos, por sua vez, são os formadores de
proteínas, constituintes essenciais de todos os tecidos e órgãos, desempenhando muitas
funções. Investigar a concentração das proteínas é indispensável, tanto como
acompanhamento preventivo como em quadros clínicos patológicos.
Por fim, relembramos a anatomia, histologia e fisiologia de um dos órgãos mais complexos do
corpo humano: o fígado. Para auxiliar no diagnóstico de patologias que o afetam, aprendemos
sobre o hepatograma, importante ferramenta nas análises laboratoriais para a avaliação da
função e do metabolismo do órgão, bem como para acompanhar a evolução de hepatopatias.
PODCAST
A especialista Kathleen da Silva Gonçalves encerra o conteúdo falando sobre o metabolismo
de macronutrientes no fígado.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARCELOS, L. F.; AQUINO, J. L. Tratado de Análises Clínicas. 1.ed. Rio de Janeiro:
Atheneu, 2018.
GAW, A.; MURPHY, M. J.; SRIVASTAVA, R.; COWAN, R.A.; O’REILLY, D. J. Bioquímica
Clínica. 5.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
MARSHALL, W. J.; LAPSLEY, M.; DAY, A. P.; AYLING, R. M. Bioquímica Clínica: aspectos
clínicos e metabólicos. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
EXPLORE+
CONTEUDISTA
Kathleen da Silva Gonçalves
CURRÍCULO LATTES