Você está na página 1de 4

1.

Teoria selecionada A arte como imitação – Caracterização

Definir arte implica identificar as propriedades comuns a todos os objetos ou casos suscetíveis
de entrarem na categoria arte (as condições necessárias para algo ser arte) e as propriedades
que só esses objetos ou casos têm (as condições suficientes para algo ser arte). Definir arte é
relevante para a ação em geral e para sabermos como devemos reagir a um dado objeto.

A teoria da arte como representação tem origem na teoria mimética da arte de Platão e
Aristóteles constituindo as primeiras reflexões filosóficas sobre arte conhecidas no Ocidente.
De acordo com esta teoria, toda a arte é imitação, reprodução ou cópia da aparência de uma
pessoa, lugar objeto, ação ou acontecimento: X só é uma obra de arte se for uma imitação (se
X é arte, então é imitação).

Os defensores da teoria representacionalista da arte afirmam que a representação é uma


condição necessária da arte, ou seja, uma propriedade essencial comum a todas as obras de
arte: X é só uma obra de arte se for representação (se X é arte, então é a representação). A
teoria da arte como representação fornece um critério classificativo de arte (estabelece o que
é arte) e um critério avaliativo de arte (estabelece o que é boa ou má arte).

A representação está presente, ao longo da história, em diversas obras que classificamos como
arte e o conceito é bastante menos restritivo que o de imitação. Contudo, desde a Antiguidade
abundam contra-exemplos que derrotam a teoria. A representação não é uma condição
necessária nem suficiente para que algo seja arte. Por isso, a teoria representacionista da arte
é, à semelhança da teoria mimética que lhe dá origem, demasiado exclusiva. Assim, existem
várias objeções a esta visão, tais como:

1. Criatividade e originalidade:

A arte não se limita à exclusiva cópia ou imitação da realidade. Muitas formas de arte
envolvem a criatividade, a originalidade e a expressão pessoal do artista. Os artistas procuram
frequentemente criar algo novo e único, explorando diferentes formas, conceitos e ideias. A
arte pode transcender a imitação e tornar-se uma manifestação da imaginação e da
criatividade humana.

2. Subjetividade e interpretação:

A arte é frequentemente aberta a múltiplas interpretações e significados. As obras de arte


podem ser ambíguas, simbólicas ou abstratas, desafiando a noção de que a arte simplesmente
imita a realidade de forma direta. A experiência artística é influenciada pelas perceções e
experiências individuais de cada espetador, o que leva a uma ampla amostra de interpretações
e respostas emocionais.

3. Transformação e crítica social:

A arte muitas vezes tem como objetivo ir além da imitação da realidade para explorar
questões sociais, políticas e culturais. Muitos artistas usam a arte como uma forma de
questionar, desafiar e criticar as normas e estruturas estabelecidas da sociedade. Eles podem
representar realidades alternativas, propor visões utópicas ou fornecer comentários sociais e
políticos que vão além da simples imitação da realidade.
4. Abstração e experimentação formal:

Certas formas de arte, como o abstracionismo, desafiam diretamente a ideia de que a arte
deve imitar a realidade de maneira reconhecível. A arte abstrata não representa objetos ou
figuras reconhecíveis, mas foca certos elementos como a forma, cor, textura e composição.
Isto permite uma exploração mais livre da expressão artística e da liberdade de
experimentação com os elementos formais da arte.

Estas objeções sugerem que a arte ultrapassa a simples imitação da realidade, envolvendo
uma variedade de abordagens criativas, interpretações subjetivas e críticas sociais. A arte pode
ser uma forma de expressão única e pessoal, proporcionando novas perspetivas e experiências
aos espetadores.

2. Pintor escolhido (biografia)

Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi ou Sandro Botticelli (Florença, 1º de março de 1445 –


17 de maio de 1510), foi um célebre pintor italiano da Escola Florentina do Renascimento.

Recetivo às aquisições introduzidas por Masaccio e às tendências do Gótico tardio, seguiu os


preceitos da perspetiva central e estudou as esculturas da Antiguidade, evoluindo
posteriormente para a acentuação das formas decorativas e da atenção dispensada à
harmonia linear do traçado e ao vigor e pureza do colorido.

Foi depois de uma viagem a Roma, onde esteve exposto a muitas obras da cultura greco-
romana que, no regresso a casa, inspirado pelo que viu, começou a pintar cenas baseadas na
mitologia.

As suas obras tardias revelariam ainda um expressionismo trágico, de agitação visionária.


Protegido dos Medici para os quais executou preciosos registos de pintura de cunho
mitológico, foi bem relacionado no círculo florentino, trabalhando também para o Vaticano
produzindo frescos para a Capela Sistina. O seu talento excecional para transpor para a
linguagem formal as ideias dos seus clientes, tornou-o um dos pintores mais disputados de seu
tempo.

A sua reputação, alvo de interesse no século XVI, esvaiu-se. Somente com o reaparecimento
de uma crescente curiosidade pelo Renascimento registada no século XIX e, em particular, pela
interpretação filosófica das suas obras é que a sua arte volta a adquirir a notoriedade que
mantém até hoje.

Botticelli pode ser considerado um artista arrojado e progressista sob muitos pontos de vista.
Ele foi o primeiro a pintar uma mulher nua que não fosse Eva, num gesto bastante polémico
para a sua época. Foi também dos primeiros artistas a pintar quadros mitológicos que faziam
um elogio à cultura pagã, iniciando uma verdadeira renovação no período do Renascimento.
Não satisfeito por quebrar tantos paradigmas, Botticelli foi ainda dos primeiros criadores a
pintar quadros sobre tela na Toscana. Até então as imagens eram pintadas na parede ou sobre
madeira.
3. Explicação/ interpretação da obra

A Primavera – Sandro Botticelli, cerca de 1482

A Primavera, também conhecido como Alegoria da Primavera, é um quadro do pintor


renascentista Sandro Botticelli. A pintura utiliza a técnica de têmpera sobre madeira. Pintado
no ano 1482, o quadro é descrito como "um dos quadros mais populares na arte ocidental". É
também uma das pinturas mais faladas e mais controversas do mundo. Enquanto a maioria
dos críticos concordam que a pintura retrata um grupo de figuras mitológicas num jardim
(alegoria para o crescimento exuberante da Primavera), outros dão sentidos diferentes à obra,
sendo, por vezes, citado para ilustrar o ideal de amor neoplatónico.

A origem da pintura “A Primavera” é um pouco obscura. Pode ter sido criada em resposta a um
pedido em 1477 de Lorenzo de Medici ou pode ter sido encomendada por Lorenzo um pouco
mais tarde, ou pelo seu primo Lorenzo di Pierfrancesco de Medici. Outra teoria sugere que
Lorenzo encomendou o retrato para celebrar o nascimento de seu sobrinho, Júlio di Juliano de
Médici (que um dia se tornaria Papa), mas mudou de ideia após o assassinato do pai de Júlio,
seu irmão Juliano, tendo assim oferecido como um presente de casamento para Lorenzo di
Pierfrancesco de Medici, que se casou em 1482.

O quadro em geral foi inspirado por uma descrição do poeta Ovídio sobre a chegada da
Primavera, embora os detalhes podem ter sido derivados de um poema de Poliziano. Outra
fonte de inspiração para a pintura parece ter sido Lucrécio no poema "Natura Rerum De". Tem
sido proposto que o modelo de Vénus foi Simonetta Vespucci, esposa de Marco Vespucci e,
talvez, a amante de Juliano de Médici, que se diz ter sido ele próprio o modelo para Mercúrio.
Desde 1919 que a pintura faz parte da coleção da Galeria Uffizi em Florença, Itália.

Conforme referido, para compor a sua tela, Botticelli procurou inspiração na antiguidade
clássica. Assim como noutras obras renascentistas, fica evidente a influência da cultura greco-
romana e a referência à cultura pagã. Nesse sentido, o Renascimento promoveu uma
verdadeira revolução. Em termos de forma, almejava-se a harmonia e a composição de uma
beleza clássica, fatores que podem ser observados na perfeição da construção dos corpos
femininos. A valorização da natureza é também outro elemento característico do movimento
que se faz ver na tela pintada por Botticelli.
O quadro apresenta igualmente duas conquistas do Renascimento: a elaboração da técnica da
perspetiva e da profundidade. Observamos como as figuras protagonistas do quadro se
encontram maiores, em primeiro plano, quando comparadas com a natureza em redor.
A obra, A Primavera, possui nove personagens distribuídos por toda a extensão do quadro. A
leitura da obra da direita para a esquerda: Zéfiro, o vento cortante de março sequestra e
possui a ninfa Clóris, com quem mais tarde se casa e a transforma em divindade, torna-se
deusa da Primavera, portadora da vida eterna espalhando rosas pelo chão. Botticelli retomou
aqui um conto mitológico de Ovídio, poeta da Antiguidade: o deus do vento Zéfiro perseguiu a
ninfa Clóris e transformou-a em Flora, a deusa das flores da Primavera.

Ao centro da obra, soberana, a olhar o espetador, está uma mulher em pé, Vénus, com o corpo
levemente em “S”, segurando um manto vermelho. Sobre ela, uma personagem que remete
para cupido, com o corpo infantil, asas que o suspendem no ar e olhos vendados, apontando
para um grupo de três mulheres. Essas três mulheres de pele e cabelos claros dançam vestidas
com tecidos transparentes.

`A esquerda, a personagem de um jovem (quase fora da composição pelo olhar e ações


indiferentes ao resto da obra) chama atenção ao lado das personagens femininas devido ao
seu manto vermelho nesta composição de cores claras. O jovem tem uma espada na cintura e
uma das mãos erguidas que alcança uma fruta.

Voltando para o lado direito da obra, o tema Primavera parece alcançar o seu auge. Neste
espaço, o olhar segue da primeira à última figura e volta da última para a primeira, procurando
compreender a narrativa da obra. Neste grupo, a deusa das Flores espalha flores e, atrás dela,
uma jovem, também vestida de forma transparente, foge dos braços e do sopro de um ser
azulado com asas. Na obra, o chão verde-escuro é muito florido e o cenário dos
acontecimentos parece ser um bosque com muitas árvores dando frutos alaranjados. Há
diferentes flores, diferentes caules de árvores e diferentes folhas. Perto de quinhentas
espécies de plantas, das quais noventa e sete são flores foram identificadas neste quadro.

Há algumas entradas de luz, mas duas delas, atrás da personagem central, chamam atenção
pela sua forma, que ora parecem olhos, ora parecem pulmões. As personagens destacam-se
pela suavidade das cores, contrastando com o escuro do fundo e do chão. As figuras estão
quase todas na vertical, com exceção do cupido, que está na horizontal, e de duas do grupo a
direita que estão em diagonal, mas amparadas pelas verticais das outras personagens.

O quadro parece conter um outro simbolismo mais subtil que uma representação primaveril
do jardim de amor de Vénus, mas antes um esforço constante para passar da paixão
desenfreada representada por Zéfiro ao desejo espiritualizado de conhecimento e de luz na
união com Deus.

4. Bibliografia

Manual de filosofia: Ponto de fuga, 11.º ANO ENSINO SECUNDÁRIO FILOSOFIA

Taschen: Botticelli _Barbara Deimling_ Edições Público

Trabalho realizado pela aluna Matilde Mourão de Almeida Sequeira Anahory, nº 21, 11º H

Você também pode gostar