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COMPLICAÇÕES DOS AGENTES QUIMIOTERÁPICOS UTILIZADOS NO

TRATAMENTO DE LINFOSSARCOMA EM UM CANINO

SIMON, Caroline Ferreira1; HENNEMANN, Carla2; DOMINGUES, Lídice


Rodrigues1; ANTUNES, Tatiana de Avila3
1
Médica Veterinária Autônoma
2
Professora Disciplina Bioquímica Clínica- Faculdade de veterinária- ULBRA-RS
3
Mestre. Professora substituta disciplina Patologia Clínica- Departamento de Clínicas Veterinária-
UFPel
Hospital de Clínicas Veterinária- Campus Universitário, S/N, Pelotas-RS CEP: 96010-900
carolvetfs@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO

A quimioterapia percorre estreito caminho entre a eficácia e a toxicidade. De


fato, os protocolos quimioterápicos estão muito freqüentemente limitados, não pelo
grau de mortalidade das células tumorais, mas pelas ações tóxicas ao paciente [4].
O acompanhamento seriado de dados mínimos como exame físico,
hemograma, contagem de plaquetas, nível sérico de creatinina e urinálise são
importantes para a detecção precoce das complicações causadas pelo tratamento
quimioterápico [3].
A ciclosfosfamida é um medicamento do grupo dos compostos alquilantes, e
requer a ação do metabolismo hepático para sua ativação. Ela é quase totalmente
eliminada pela urina na forma de um metabólito chamado acroleína, a qual pode
causar irritação da mucosa da vesícula urinária e, em alguns casos, cistite
hemorrágica necrosante asséptica, sendo com isso a causa da interrupção do
tratamento [2, 3]. Como efeito colateral ocorre também supressão da medula óssea,
levando a leucopenia e trombocitopenia sete a 10 dias após o início do tratamento
[1].
O Sulfato de vincristina é um alcalóide da vinca atuando nas células,
promovendo ruptura do fuso mitótico e droga de fase específica, por isso é utilizada
nas neoplasias, interrompendo a divisão celular, sendo metabolizada no fígado e
excretada pela bile. Causa mielossupressão em grau leve, neuropatia periférica,
parestesia e anorexia [6].
Doxorrubicina é um derivado antraciclínico incluído em muitos protocolos
quimioterápicos de combinação seqüencial de fármacos e também usado como
agente isolado [3]. Mielossupressão grave, diarréia, vômito, colite hemorrágica,
cardiointoxicação, necrose perivascular, alopecia, nefrointoxicação e reações
anafiláticas são alguns dos efeitos adversos relacionados ao uso de doxorrubicina
[1]. As modificações hematológicas como anemia, neutropenia e trombocitopenia
ocorrem por volta de 10 dias após a administração do quimioterápico, retornando ao
normal por volta de três semanas após a suspensão do tratamento [1].
A miocardia induzida pela doxorrubicina é resultante da intoxicação
cumulativa no miocárdio, a qual é irreversível e pode provocar também nefrotoxicose
em cães com doença renal preexistente e naqueles que estão recebendo outras
nefrotoxinas [5].
O objetivo deste trabalho foi relatar as complicações e alterações laboratoriais
em um canino tratado com quimioterápicos para Linfossarcoma.
2. MATERIAL E MÉTODOS

Foi atendido no Hospital Veterinário da ULBRA- RS um canino, Rottweiller,


macho, com 5 anos de idade apresentando polaquiúria e vinha sendo submetido à
quimioterapia para o tratamento de linfossarcoma há seis meses.
O protocolo quimioterápico usado era sulfato de vincristina, doxorrubicina e
ciclofosfamida. Com base nestes dados, foram solicitados hemograma, contagem de
plaquetas, uréia, creatinina e urinálise.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No hemograma e nos exames bioquímicos os valores encontravam-se dentro


dos parâmetros considerados normais para espécie. A urinálise apresentou-se com
proteinúria severa e presença de sangue oculto. Na análise do sedimento observou-
se hematúria, presença de células renais e de transição, presença de cilindros
granulosos e hialinos, o que pode sugerir a existência de uma lesão renal induzida
por uso de quimioterápicos (Quadro 1).
Quinze dias após, o clínico informou que havia sido suspensa a quimioterapia

e nova urinálise foi realizada, onde a urina estava com a coloração vermelha,

aspecto turvo, proteinúria severa, presença de sangue oculto, piúria e hematúria

mais severa que o exame anterior (Figura 1). Também havia a presença de cilindros

granulosos o que pode sugerir nefrose tubular (Quadro 2). De acordo com a

literatura a presença de isostenúria, glicosúria, proteinúria, cilindros tubulares e

epiteliais juntamente com a elevação da uréia sangüínea e da creatinina servem

como diagnóstico de nefrointoxicação em animais sob tratamento quimioterápico

com doxorrubicina[1].

Após 14 dias foi solicitada outra urinálise do paciente para acompanhamento

da evolução do quadro. Neste novo exame, já não havia mais a presença de

hematúria, mas ainda persistiam os cilindros granulosos, células epiteliais de

transição e renais e bacteriúria.

Quadro 1-Urinálise de canino sob tratamento quimioterápico


URINÁLISE

Colheita: cateterização

Exame físico-químico Exame microscópico (sedimento)

Volume: 13 ml Eritrócitos: 20-30 /campo


Cor: amarelo-claro Leucócitos: 0-5 /campo
Aspecto: turvo-pouco Cilindros: granulosos 0-3 /cga
Densidade: 1,013 hialino 0-1 /cga
PH: 7,0 Células epiteliais: transição(+)
Proteínas: ++++ renais(+)
Sangue oculto: ++
Glicose: -
Bilirrubina: -
Corpos cetônicos: -
Urobilinogênio: normal

Fonte: ULBRA-RS/2005

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Figura 1- Urina de um canino com hematúria severa (ULBRA-RS/ 2005)

Quadro 2- Urinálise de canino com hematúria induzida por quimioterapia

URINÁLISE
Colheita: cateterização

Exame físico-químico Exame microscópico (sedimento)


Volume: 27 ml Eritrócitos: >30 /campo
Cor: vermelha Leucócitos: 20-30 /campo
Aspecto: turvo Cilindros: granulosos 0-1 /CGA
Densidade: 1,028 Células epiteliais: transição(++)
PH: 8,0 renais(+)
Proteínas: ++++
Sangue oculto: +++
Glicose: -
Bilirrubina: -
Corpos cetônicos: -
Urobilinogênio: normal

Fonte: ULBRA-RS/2005
4. CONCLUSÕES

Conclui-se com este trabalho a importância de fazer um monitoramento

laboratorial durante a utilização de agentes quimioterápicos devido aos efeitos

colaterais produzidos por estas drogas.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BISTNER, S.I.; FORD, R.B.; RAFFE, M.R.; Manual de Procedimentos


Veterinários e Tratamento Emergencial. 7 ed. São Paulo: Roca, 2002.934 p.
[2] BRANDÃO,L.P; HAGIWARA, M.K.; FRANCHINI,M.L. Anemia Hemolítica
Imunomediada em cão. Revista Clínica Veterinária, n.44, p.46-54, 2003.
[3] COPPOC, G.L. Quimioterapia das doenças neoplásicas. In: BOOTH, N.H.;
MCDONALD, L.E. Farmacologia e Terapêutica em Veterinária. 6ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan S.A.,1992.p.687-670.
[4] MACEWEN,E.G.;ROSENTHAL,R.C.Abordagem do Tratamento dos Pacientes
Cancerosos. In: ETTINGER,S.J.Tratado de Medicina Interna Veterinária, 3ed. São
Paulo: Manole,1992,vol.1, p.312-326.
[5] NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 2 ed.
Rio de Janeiro: Guanabara, 2001, 1084 p.
[6] PEREZ et al. Ação do Decanoato de nandrolona sobre parâmetros hematológicos
e proteína total plasmática de ratos com depressão medular induzida após a
administração de sulfato de vincristina. Ciência Rural, Santa Maria,V 35,n.3,p.11-22,
Maio./Junho.2005.

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