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Unidade III
5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE POLITRAUMATIZADO
O politrauma é uma síndrome decorrente de lesões múltiplas, com reações sistêmicas que podem
levar à falha ou à disfunção de órgãos ou sistemas vitais não diretamente lesados pelo trauma.
Segundo as estatísticas, em um dia médio, 170 mil homens, mulheres e crianças sofrem traumatismos,
e aproximadamente 400 morrem como resultado de suas lesões.
O avanço na condução dos pacientes politraumatizados deu-se de modo que o atendimento a essas
vítimas ficou mais sistematizado e houve a exclusão das medidas terapêuticas impraticáveis. Muitas
vezes, as indicações e os procedimentos terapêuticos são baseados no exame clínico inicial.
O atendimento inicial do politraumatizado deve ser como uma patologia única, contudo, com uma
avaliação global de todos os sistemas.
Na avaliação inicial são identificados e tratados os fatores que oferecem risco de morte ao paciente,
obedecendo às seguintes prioridades:
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Unidade III
• déficit neurológico;
Um dos principais problemas encontrados no politraumatizado são as vias aéreas obstruídas devido
à queda da língua quando inconsciente, presença de corpos estranhos, restos alimentares, sangue ou
hematomas e edema da laringe por traumatismo direto. Outra condição para suspeitar de obstrução das
vias aéreas ocorre em pacientes com TCE, trauma bucomaxilofacial e na região cervical.
A identificação da obstrução das vias aéreas deve ser realizada imediatamente. No primeiro contato,
devemos fazer uma pergunta para o paciente e, na ausência da resposta verbal, devemos avaliar e
identificar o nível de consciência.
Alguns sinais podem facilitar no diagnóstico de obstrução de vias aéreas: agitação sugere hipóxia e
sonolência sugere hipercapnia. Respiração ruidosa ou com estridor e disfonia deve ser investigada como
possível corpo estranho.
Os objetivos das condutas na obstrução das vias aéreas são sua permeabilização, obtenção e
manutenção. As condutas aplicadas dependem da causa da obstrução, para a obstrução por queda de
língua quando a conduta aplicada é tracioná-la através da elevação da mandíbula, seguida da colocação
de uma cânula de Guedel. Sangue e secreções podem ser removidos com aspiração.
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Quando houver ventilação inadequada, faz-se necessária a obtenção de uma via aérea. As alternativas
disponíveis são:
• intubação orotraqueal;
• intubação nasotraqueal;
• cricotireoidotomia cirúrgica.
Quando é identificada a necessidade de obter uma via aérea, todos os pacientes devem ser ventilados
com ambu e máscara até que todo o material esteja à disposição.
Todas as manobras devem ser executadas com a mínima movimentação possível, evitando-
se a hiperextensão e hiperflexão da cabeça, pois considera-se que todo paciente politraumatizado,
principalmente aquele com lesões acima da clavícula, é portador de uma fratura de coluna cervical até
prova em contrário.
A lesão na coluna cervical não é descartada com o exame neurológico. A integridade da coluna só
pode ser avaliada adequadamente realizando-se uma radiografia da coluna cervical com todos os sete
corpos vertebrais visíveis.
5.1.2 Respiração
A permeabilidade da via aérea não assegura uma respiração adequada. As condições traumáticas
que mais frequentemente comprometem a respiração são:
• pneumotórax hipertensivo;
• pneumotórax aberto;
• hemotórax;
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O diagnóstico pode ser realizado através da inspeção da caixa torácica. É preciso observar a expansão
adequada, a simetria e a presença de movimento paradoxal. Na palpação, pesquisar crepitações de
arcos costais e presença de enfisema de subcutâneo. Auscutar o MV em ambos os hemitórax. Observar
presença de cianose e a frequência respiratória.
No politraumatizado com problemas respiratórios, a ventilação inicial deve ser feita com ar
enriquecido com oxigênio. As condutas iniciais para solucionar as dificuldades ventilatórias resumem‑se
em assistência ventilatória e drenagem da cavidade pleural.
5.1.3 Circulação
Quando o volume de sangue circulante se reduz pela metade ou mais, a perfusão cerebral
torna-se comprometida, levando o paciente à perda da consciência. Ao contrário, se o paciente
se encontra orientado e consciente, podemos presumir que a volemia é suficiente para manter a
perfusão cerebral.
Um exame neurológico mais apurado deve ser realizado para atendimento secundário através da
Escala de Coma de Glasgow, como vemos na tabela a seguir. A deterioração do estado neurológico pode
indicar a presença de lesão intracraniana ou a diminuição da oxigenação do SNC.
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Variáveis Escore
Espontânea 4
À voz 3
Abertura ocular
À dor 2
Nenhuma 1
Orientada 5
Confusa 4
Resposta verbal Palavras inapropriadas 3
Palavras incompreensivas 2
Nenhuma 1
Obedece comandos 6
Localiza dor 5
Movimento de retirada 4
Resposta motora
Flexão anormal 3
Extensão anormal 2
1
Nenhuma
5.1.5 Exposição
Deve-se retirar todas as vestimentas do paciente, o que permitirá e facilitará a sua avaliação global.
5.1.6 Ressuscitação
O objetivo dessa etapa é assegurar o metabolismo aeróbio das células, por meio da manutenção
de uma perfusão adequada. A oxigenação e a reposição volêmica são os meios utilizados para atingir
essas metas.
Durante a ressuscitação, executam-se reavaliações repetidas dos parâmetros vitais para averiguar a
eficácia das medidas adotadas, como observado na figura a seguir.
A avaliação secundária não deve ser iniciada até que a avaliação primária tenha sido completada e
a fase de ressuscitação, iniciada.
Nessa etapa do atendimento, realiza-se o exame minucioso de todos os segmentos do corpo. Deve-
se recorrer às técnicas de propedêutica convencional, como medida da PA, FC, FR e PVC. Inspeção,
palpação, percussão e ausculta são feitas cuidadosamente, incluindo cabeça, face, pescoço, tórax,
abdome e membros. A seguir, os pontos relevantes a serem observados:
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• Olhos: diâmetro das pupilas, reflexo fotomotor, hemorragias conjuntivais, ferimentos ou corpos
estranhos e acuidade visual.
• Região cervical: face anterior e posterior, cartilagem tireoide, traqueia, apófises espinhosas da
coluna cervical.
• Tórax: região anterior e posterior, ferimentos, deformidades, respiração paradoxal, clavículas, arcos
costais, enfisema subcutâneo. Auscultar as bulhas cardíacas e o MV.
Na avaliação secundária devem ser realizados os exames ginecológico e o toque retal à procura de
sangramento, espículas ósseas, flutuação da próstata e ferimentos da vagina ou reto. Utilizam-se as
sondas nasogástrica e vesical quando não contraindicadas.
Avaliação primária e secundária
Escala de Coma
DEVE SER REALIZADA EM TODA A Avaliar de Glasgow
ABORDAGEM DE PACIENTES estado
neurológico Pupila
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Nessa fase, as lesões recebem o tratamento específico. Portanto, o hospital deve ser adequado para
o tratamento das lesões que coloquem em risco a vida do paciente.
Existem dois tipos de acidente vascular encefálico: AVC isquêmico, diagnosticado pelo bloqueio
de um vaso sanguíneo responsável por alimentar o cérebro; e o AVC hemorrágico, quando há um
sangramento ao redor ou dentro do cérebro.
É o tipo de AVC mais comum – acomete cerca de 80% dos pacientes. O AVC isquêmico é decorrente
da falta do fluxo sanguíneo para o cérebro. Isso pode ocorrer por três motivos:
• obstrução na drenagem do sangue venoso – como acontece na trombose venosa, o que dificulta
a entrada do sangue arterial no cérebro.
É importante salientar que, nos primeiros momentos em que o AVC ocorre, não há morte do tecido
cerebral, mas, por conta da falta de suprimento sanguíneo, ele se degenera muito rapidamente. Porém,
há uma região em volta do acidente que possui um fluxo de sangue reduzido e que se mantém viva por
um tempo ainda, a chamada penumbra. É justamente nela que os esforços terapêuticos se concentram
na hora do tratamento.
Dentro do AVC isquêmico há ainda um subtipo, chamado Ataque Isquêmico Transitório (AIT). O AIT se
caracteriza por um entupimento passageiro em um dos vasos sanguíneos, mas que não chega a causar
uma lesão cerebral. Ou seja, é um déficit de sangue momentâneo que se reverte em poucos minutos ou
em até 24 horas, sem deixar sequelas. Caso o tempo de 24 horas ultrapasse e o AIT ainda não tenha sido
revertido, ele passa a se chamar acidente isquêmico vascular por definição.
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• tabaco;
• hipertensão arterial;
• obesidade;
Outra causa possível é ter um ritmo de batimento cardíaco irregular, o que pode gerar coágulos
sanguíneos no cérebro. Essa irregularidade no batimento cardíaco pode ser consequência de:
• hipertensão;
• pericardite;
• hipertireoidismo;
• fala arrastada;
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• tontura;
• alterações da memória.
Esse tipo de AVC é o menos comum de ocorrer, mas não deixa de ser grave. Ele acontece quando
há uma ruptura de um vaso sanguíneo localizado dentro do crânio do paciente, causando uma ação
irritativa por conta do contato do sangue com o parênquima nervoso (tecido cerebral com maior função).
Além disso, essa inflamação, juntamente com a pressão que o coágulo faz sobre o tecido nervoso,
prejudica e degenera o cérebro, bem como a sua função.
• Ruptura dos aneurismas de Charcot-Bouchard – pequenas bolsas das artérias cerebrais que se
formam por hipertensão arterial descontrolada ou não tratada.
Como esse tipo de AVC acontece por conta da falta de sangue no cérebro, alguns fatores podem
ser extremamente perigosos para que ele acometa uma pessoa – ainda mais se ela já tiver idade
mais avançada.
A principal causa do AVC hemorrágico é a hipertensão arterial, condição que acaba enfraquecendo
as artérias do cérebro, tornando-as mais propensas à ruptura.
• fumar;
• não se exercitar;
• estresse.
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Além dos fatores que acabam por agilizar o acontecimento das causas do AVC, há diversos outros
que podem ser classificados da seguinte forma:
Gênero
Os casos de AVC são mais comuns em homens do que em mulheres, a não ser que se trate da
terceira idade, quando o problema acomete mais as mulheres do que os homens. Supõe-se que
isso acontece pelo fato de as mulheres viverem mais do que os homens, e o AVC ser mais comum
em pessoas de mais idade.
A gravidez e o uso de pílulas anticoncepcionais podem aumentar ainda mais o risco de um AVC
nas mulheres.
Raça
As pessoas listadas a seguir possuem maior chance de terem AVC do que os brancos – porém essas
chances diminuem conforme a idade vai avançando:
• americanos nativos;
• hispânicos;
• asiáticos;
• afro-americanos.
Estilo de vida
• fumar;
• dieta;
• excesso de álcool;
• excesso de drogas.
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• edema cerebral;
• náuseas e vômitos;
6.2.3 Diagnóstico
• exames laboratoriais;
• tomografia computadorizada;
• ressonância magnética;
• ultrassom de carótida;
• ecocardiograma;
• angiografia cerebral.
6.2.4 Tratamento
Para tratar esse tipo de AVC, os médicos precisam restaurar rapidamente o fluxo sanguíneo para o
cérebro do paciente.
Tratamento emergencial com medicamentos: esse procedimento, se feito de maneira rápida, pode
não só aumentar a chance de sobrevivência, mas também reduzir as eventuais complicações. Os médicos
podem se utilizar de:
• injeção intravenosa de ativador do plasminogênio dos tecidos: restaura o fluxo sanguíneo através
da dissolução do coágulo.
Observação
Estudos recentes dizem que esses dois procedimentos não são benéficos
para grande parte dos pacientes com AVC. É preciso que os médicos
verifiquem detalhadamente se o uso deles pode ser feito ou não.
Demais procedimentos:
• Endarterctomia carotídea: esse procedimento visa à retirada das placas que estão impedindo
o sangue de realizar o seu fluxo normal dentro das artérias localizadas no pescoço. É preciso
enfatizar que a endarterctomia também possui certos riscos, principalmente em pessoas que
tenham doenças cardíacas ou outras condições médicas.
• Angioplastia e stents: através do uso de um balão, as artérias estreitadas são expandidas. Em seguida,
um stent – pequeno tubo expansível e em forma de malha – é inserido a fim de apoiar a artéria aberta.
Cirurgia para reparar os vasos sanguíneos: o procedimento cirúrgico pode ser utilizado para reparar
anomalias que estão presentes nos vasos sanguíneos em decorrência de um AVC. O procedimento
indicado pode ser um dos seguintes:
• Clipagem cirúrgica: o médico coloca uma pequena braçadeira na base do aneurisma para estancar
o fluxo de sangue que está indo em direção a ele.
• Desvio intracraniano: em alguns casos, o desvio de certos vasos sanguíneos pode ser uma opção
para melhorar a circulação do sangue na região do cérebro.
O paciente com acidente vascular encefálico requer cuidados intensivos em algum momento do
período de hospitalização, sobretudo na emergência, e, posteriormente, em domicílio:
• Fazer exercícios passivos nos membros afetados. Fazer os exercícios lentamente para permitir que
os músculos tenham tempo de relaxar e apoiar extremidades acima e abaixo da articulação para
prevenir lesões nas articulações e nos tecidos.
• Ensinar o cliente a realizar exercícios ativos nos membros não afetados, no mínimo quatro vezes
por semana.
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Unidade III
• Permitir que as pernas fiquem suspensas sobre a lateral da cama por alguns minutos antes de ficar
em pé.
O traumatismo cranioencefálico, ou craniano, é uma lesão na cabeça que pode afetar apenas o
crânio, no caso de fraturas, ou provocar danos graves no cérebro, como contusão ou coágulo sanguíneo,
passando a ser chamado de traumatismo cranio-encefálico.
Normalmente, o crânio protege o cérebro de pancadas externas moderadas, como dar uma cabeçada.
Contudo, casos de trauma grave, como uma queda de grande altura ou acidentes de carro, podem
causar lesões cerebrais que devem ser tratadas o mais rápido possível.
O traumatismo craniano tem cura, dependendo da sua causa e gravidade; no entanto, o indivíduo
pode ficar com sequelas, como um estado de coma, epilepsia, paraplegia ou cegueira, principalmente
quando o cérebro é afetado.
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Em alguns casos, os sintomas de traumatismo craniano surgem algumas horas depois, principalmente
quando acontece a ruptura de um vaso na cabeça, já que pode haver acúmulo lento de sangue dentro
do crânio e, por isso, é importante vigiar a vítima durante 12 horas após o episódio.
Nas crianças, os sintomas de traumatismo craniano podem também incluir choro persistente, recusa
para comer e depressões na cabeça após quedas de superfícies altas, como mesa ou cama, por exemplo.
O tratamento para traumatismo craniano deve ser feito por um neurologista no hospital e,
geralmente, é iniciado com exames de diagnóstico, como tomografia computadorizada ou ressonância
magnética para detectar se existem danos no cérebro ou fraturas no crânio.
Assim, caso existam danos leves, podem ser utilizadas injeções anticoagulantes para evitar a formação
de coágulos no cérebro ou remédios anti-inflamatórios na veia para reduzir a inflamação cerebral, sendo
que o paciente pode ter alta até 48 horas após o internamento, mantendo os remédios por via oral e
sob orientação do médico.
No entanto, nos casos de traumatismo craniano grave, em que existem hemorragias internas,
fraturas ou lesões cerebrais graves, pode ser necessário utilizar cirurgia e, por isso, o internamento pode
ser prolongado por vários dias.
O TCE pode ser classificado em três categorias: leve, moderado e grave. No grau leve, o paciente pode
apresentar-se consciente, confuso e levemente sonolento, como vemos na tabela a seguir.
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Unidade III
Os casos intermediários são classificados como moderados. Apesar da alta incidência de traumatismo
craniano, felizmente, tanto nas incidências norte-americanas quanto nas nacionais, a grande maioria
(50 a 75%) é considerada leve. Esses pacientes acabam recebendo alta após as investigações.
Os pacientes vítimas de TCE grave são os que apresentam piores prognósticos com mortalidade, que
podem variar de 25 a 45%, dependendo da gravidade do trauma, da qualidade do resgate pré-hospitalar
e do tratamento recebido na UTI.
São considerados pacientes com TCE leve (ECG de 13) de baixo risco:
• TCE por mecanismo de trauma de pequena intensidade, totalmente assintomáticos, exame físico
geral normal, sem alteração neurológica. Raios X de crânio podem ser realizados a critério médico,
bem como Tomografia Computadorizada de Crânio (TCC).
• hematoma subgaleal e/ou laceração pequeno, com raios X de crânio ou TCC (se realizada) normal;
• pacientes com raios X de crânio que revelarem qualquer alteração, durante a internação, serão
submetidos à TC de crânio;
São considerados pacientes com TCE leve (ECG 14) de médio risco:
• história de sintomas neurológicos ou envolvimento em acidente grave e/ou com vítimas fatais e/
ou história admissional obscura ou não confiável (por exemplo criança espancada);
• paciente com fratura de crânio, sem lesões intracranianas à tomografia de crânio com anosmia
ou anacusia;
São considerados pacientes com TCE leve (ECG 15) de alto risco:
• criança espancada;
São definidos como pacientes com TCE moderado aqueles que se apresentam com 9 a 12 pontos
na ECG seis horas após o TCE. Se houver piora neurológica, queda de 2 pontos na ECG, repetir
imediatamente a TCC.
Classicamente existe uma correlação direta entre o desvio de linha mediana evidenciado pela TCC
e o nível de consciência apresentado pelo paciente vítima de TCE. Assim, os TCEs moderados e graves
costumam associar-se a alterações tomográficas mais exuberantes.
A monitorização da pressão intracraniana (PIC) nos pacientes com TCE moderado é realizada pelos
métodos extradural, subdural ou intraparenquimatoso ou intraventricular, sendo, sobretudo, indicada a
pacientes com tumefação cerebral hemisférica.
São considerados pacientes com TCE grave aqueles admitidos com nível de consciência de 3 a 9
pontos na ECG após 6 horas do TCE. Em 10% a 32% do TCE leve ou moderado, há evolução com piora
rápida da consciência para o TCE grave.
Existem também pacientes com histórico que os classificam como de alto risco e que apresentam
radiografia de crânio normal, internados por até 48 horas, e que evoluem rapidamente para piora
neurológica, chegando a apresentar coma aperceptivo, arreativo e midríase paralítica.
Lesões primárias
As lesões primárias do cérebro ocorrem como resultado direto das forças envolvidas no evento
traumático: as contusões e lacerações da superfície cerebral (que ocorrem na parte inferior dos lobos
frontal e temporal, quando o cérebro se choca contra a base do crânio).
• a lesão difusa do axônio (relacionada com o cisalhamento que rompe os axônios nervosos na
substância branca cerebral);
Lesões secundárias
Os danos secundários do cérebro resultam do evento traumático, com manifestação mais tardia,
sugerindo que podem ser evitadas.
• edema cerebral;
• hidrocefalia.
Também é considerada como lesão secundária a cascata de eventos neuroquímicos após lesão
cerebral, que leva à morte neuronal.
Considerando os cuidados específicos para pacientes com esse tipo de patologia, apresentamos a
seguir um plano de cuidados:
• manter acesso venoso calibroso ou cateter venoso central para quantificação da volemia;
• imobilizar coluna até descartar trauma raquimedular (colar cervical, prancha rígida e mobilização
em bloco);
• realizar passagem de sonda nasogástrica para descompressão gástrica. Em caso de lesão facial ou
trauma de base de crânio (confirmado ou suspeita), é contraindicada a passagem nasogástrica,
devendo ser feita orogástrica;
• criar um ambiente acolhedor para a família, que certamente se encontra angustiada e apreensiva
por ter um ente querido gravemente enfermo e ocupando um leito na UTI.
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Unidade III
Observação
O cérebro ocupa posição singular no corpo humano porque está contido dentro de uma caixa óssea,
fechada no adulto, juntamente com o líquido cefalorraquiano (LCR) e com o sangue circulante.
Quando há livre comunicação entre os espaços liquóricos, a pressão intracraniana (PIC) é definida
como pressão liquórica. Como essa pressão apresenta flutuações características, ela pode ser definida
como a pressão de um estado de equilíbrio em relação à atmosfera sobre o qual se superpõem os
componentes cardíaco e respiratório.
Dependendo da inter-relação dinâmica entre o cérebro, o LCR e o sangue, e entre outros componentes
que possam vir a ocupar espaço dentro do crânio, podem ocorrer situações em que a PIC sofra aumento.
Basicamente, as doenças que provocam hipertensão intracraniana (HIC) o fazem por um ou mais dos
seguintes mecanismos:
• aumento de líquido nos espaços intersticial e/ou intracelular do encéfalo (edema cerebral);
6.5.1 Fisiopatologia
O LCR constitui 10% do volume intracraniano, atingindo um volume de cerca de 150 ml no sistema
nervoso (20-30 ml nos ventrículos e o nos espaços subaracnóideos intracraniano e raquiano).
O LCR produzido circula, através dos forames de Monro, dos ventrículos laterais para o terceiro
ventrículo. Posteriormente, passa para o quarto ventrículo por meio do aqueduto cerebral. Do quarto
ventrículo, o LCR sai pelos forames de Luschka e Magendie e alcança as cisternas basais. Por via anterior,
através das cisternas anteriores do tronco cerebral, alcança a convexidade do encéfalo após passar pela
base dos lobos frontais e temporais.
Por via posterior, o LCR circula pela cisterna magna, cisternas supracerebelares, cisternas ambientes
e cisternas do corpo caloso, atingindo também a convexidade cerebral. Além disso, o LCR circula ao
redor da medula no canal raquidiano em um movimento de entrada e saída na caixa craniana.
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
A propagação da corrente liquórica é atribuída ao efeito de “martelo d’água” exercido pelas pulsações
cardíacas nas artérias do plexo coróideo, o qual provoca uma onda de pressão.
Outra condição para a HIC é o edema cerebral, que constitui o acúmulo anormal de líquido nos
espaços intersticial e/ou intracelular, resultante do funcionamento inadequado dos mecanismos de
transporte da água e eletrólitos entre os capilares e espaços extra e intracelular.
Sangue Liquor
venoso
PIC = Normal
75 ml 75 ml
PIC = descompensada
6.5.2 Tratamento
O tratamento ideal da HIC visa à remoção da sua causa. Esse objetivo pode ser alcançado em
pacientes que apresentam lesões expansivas que podem ser removidas. Quando isso não é possível,
medidas concomitantes ou de emergência devem ser tomadas enquanto a causa não é removida. Essas
medidas podem ser gerais ou específicas.
Medidas gerais
Entre as medidas gerais para redução da PIC, destacam-se o posicionamento elevado da cabeça
do doente em relação ao tórax para facilitar o retorno do sangue do segmento cefálico, a completa
desobstrução das vias aéreas, a manutenção da pressão arterial e a correção de distúrbios hidroeletrolíticos.
Se a respiração espontânea do paciente não é suficiente para manter a PO2 acima de 60-70 mmHg
e a PCO2 arterial entre 30-40 mmHg, geralmente, para essa correção, a ventilação mecânica deve ser
instalada. A avaliação de possíveis distúrbios deve ser feita antes de medidas específicas.
Medidas específicas
• hiperventilação;
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Unidade III
• diuréticos;
• barbitúricos;
• glicorticoides;
• cirurgia.
Para o paciente com hipertensão intracraniana, são necessários alguns cuidados específicos:
• O transdutor que decodifica o valor da PIC deve permanecer ao nível do meato auricular.
• O cateter de PIC é confeccionado por fibra ótica, portanto, não pode dobrar, pois se rompe.
• A cabeça deve ser posicionada de modo que não fique sobre o cateter.
• Monitorização da PIC: manusear todo o sistema com técnica asséptica e interpretar os resultados
(ondas e valor numérico).
• Cuidados gerais: avaliação cuidadosa da influência de estímulos que possam gerar estresse (dor,
banho, procedimentos médicos, fisioterápicos e de enfermagem, iluminação e ruído ambiental).
• Vias aéreas e ventilação: avaliar frequência, ritmo e padrão respiratório, presença de cianose,
ausculta torácica, manter vias aéreas permeáveis para prevenir hipóxia – retenção de CO2 –
edema cerebral, aspiração traqueal, instalar oximetria de pulso, monitorar gases sanguíneos com
gasometria arterial e venosa.
• Posição e movimentação do paciente: manter a cabeça elevada 30° e alinhada com o corpo para
facilitar a drenagem.
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
• Evitar que o paciente faça esforço físico como tossir, espirrar, esforço para evacuar, movimentos
bruscos no leito ou fora dele, pois aumenta a PA e a PIC.
• Terapias com drogas: conhecer a ação, a dosagem, o preparo e os efeitos colaterais das drogas
utilizadas para diminuir a PIC.
• Eliminação urinária e intestinal: monitorar débito urinário, facilitar a eliminação intestinal (dietas,
laxantes e manobras).
Morte cerebral, mais corretamente chamada de morte encefálica (ME), corresponde à perda total,
definitiva e irreversível das funções do tronco cerebral, que faz parte do encéfalo.
O encéfalo, por sua vez, é constituído pelo diencéfalo, cérebro, cerebelo e tronco encefálico, onde
estão o mesencéfalo, a ponte e o bulbo. O tronco cerebral é a sede das estruturas nervosas que controlam
as funções que mantêm vivo o indivíduo, como pressão arterial, batimentos cardíacos, atividade
respiratória e nível de consciência.
A morte encefálica é, na verdade, um novo conceito de morte, baseado no conceito de estado de coma
irreversível. Mas a morte cerebral não é a mesma coisa que o estado de coma. No estado de coma, as funções
cerebrais estão ativas; na morte cerebral, há a perda definitiva das funções neurológicas do cérebro.
Toda agressão ao encéfalo pode afetar finalmente o tronco cerebral e alterar ou paralisar as funções
vitais. A lesão do encéfalo pode ser causada por um problema primário dessa estrutura ou ser a via final
de uma agressão isquêmica, anóxica ou metabólica consequente de uma enfermidade sistêmica.
De uma forma mais concreta, pode-se apontar como causas da morte cerebral as mesmas causas
do estado de coma: traumatismos cranianos, falta de oxigênio no cérebro, parada cardiorrespiratória,
acidente vascular cerebral, inchaço no cérebro, tumores, overdose de drogas, falta de glicose no sangue
e edema cerebral.
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Unidade III
• Ausência de hipotermia (temperatura ≥ 36,5 °C), hipotensão (PA sistólica ≥ 90 mmHg), intoxicação
exógena ou uso de drogas sedativas e bloqueadores neuromusculares (suspender e aguardar o
triplo da meia-vida da medicação para iniciar o protocolo); se indicado, considerar dosagem sérica
da droga.
— Ereção peniana reflexa, arrepio, reflexos reflexores de retirada dos membros inferiores ou
superiores, reflexo tônico cervical.
• Conhecer a causa do coma, através da história clínica, exame físico e exames complementares.
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
• Excluir uso de drogas depressoras do sistema nervoso central com níveis capazes de causar o
coma e mimetizar a ME.
• Checklist:
— coma aperceptivo;
— ausência de reflexo;
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Unidade III
• Apneia – etapas:
— rotação da cabeça em 90º, para cada lado e no plano vertical, com movimentos rápidos de
báscula. Atenção para presença de trauma raquimedular cervical;
— ausência de reflexo de tosse (IX e X pares): testar com espátula na faringe posterior bilateral e
sonda de aspiração pelo tubo endotraqueal;
• Teste de apneia:
— pré-requisitos: temp. ≥ 36,5 oC; PA sist ≥ 90 mmHg; balanço hídrico nas 6 horas positivo);
— ventilar o paciente (±10 minutos com FiO2 de 100%), para PaO2 alvo ≥ 200 mmHg);
— observar movimentos respiratórios (se possível, com ventilômetro acoplado) por até 10 minutos
ou até PCO2 ≥ 55 mmHg;
Lembrete
Interpretação:
• Positivo:
• Negativo:
— Movimentos respiratórios.
• Inconclusivo:
— Arritmias cardíacas.
Os exames devem ser realizados 6 horas após o primeiro por profissionais diferentes, que não poderão
ser integrantes da equipe de remoção e transplante, sendo pelo menos um dos exames realizado por
neurologista ou neurocirurgião.
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Unidade III
• 2 anos: 6 horas.
• Eletroencefalograma.
• Doppler transcraniano.
Interpretação:
• EEG: é o único exame possível abaixo de 1 ano de idade. Deve demonstrar ausência de atividade
bioelétrica cerebral (silêncio elétrico cerebral é definido como a ausência de atividade elétrica
maior que 2 microV, por um mínimo de 30 minutos).
• Arteriografia cerebral: ausência de fluxo sanguíneo na entrada do cérebro dos quatro vasos em 20
segundos; parada circulatória no polígono de Willis; enchimento lento acima de 15 segundos do
seio longitudinal superior cerebral.
Após constatada a ME, deve-se: comunicar o médico assistente; comunicar a família do paciente –
sem falar sobre transplante de órgãos; comunicar a central de doação de órgãos e considerar o protocolo,
se indicado; enviar uma cópia da declaração ao órgão controlador estadual; registrar todos os passos do
protocolo na folha de evolução e na folha padronizada.
Observação
Após o primeiro exame ser conclusivo para ME, comunicar à comissão de transplante do hospital.
Após a confirmação por outro profissional, comunicar à família a confirmação diagnóstica.
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Unidade III
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Após o diagnóstico de morte encefálica, a família deve ser consultada e orientada sobre o processo
de doação de órgãos. Depois de 6 horas de atestada a falência cerebral, o potencial doador passa por
um novo teste clínico para confirmar o diagnóstico. Em seguida, a família é questionada sobre o desejo
de doar os órgãos.
Mensagens por escrito deixadas pelo doador não são válidas para autorizar a doação. Por
isso, apenas os familiares podem dar o aval da cirurgia, após a assinatura de um termo. De
acordo com o Ministério da Saúde, metade das famílias entrevistadas não permite a retirada
dos órgãos para doação. Por isso, é importante conversar com a família ainda em vida para
deixar claro esse desejo.
Depois da confirmação da morte encefálica e de manifestado o desejo pela família de doar os órgãos
do parente, a equipe médica realiza um questionário com os familiares para detalhar o histórico clínico
do paciente. A ideia é investigar se os hábitos do doador teriam levado ao desenvolvimento de possíveis
doenças ou infecções que possam ser transmitidas ao receptor.
Doenças crônicas como diabetes, infecções ou mesmo uso de drogas injetáveis podem acabar
comprometendo o órgão que seria doado, inviabilizando o transplante. Por isso, a equipe médica
verifica o passado clínico do doador. A entrevista é um guia para os médicos, que ainda realizam
testes biológicos e físicos que indicam também a possível compatibilidade com os receptores na
fila do transplante.
De um mesmo doador, é possível retirar vários órgãos para o transplante. Em geral, as cirurgias mais
recorrentes são as de coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e
tendões. Com isso, inúmeras pessoas podem ser beneficiadas com os órgãos de um mesmo doador. Os
órgãos que duram menos tempo uma vez fora do corpo são retirados antes.
6.7.3 Transporte
Para reforçar o processo de transporte, a Força Aérea Brasileira (FAB) também forneça apoio ao
Ministério da Saúde, especialmente em missões solicitadas pela Central Nacional de Transplantes.
115
Unidade III
6.7.4 Recuperação
A estimativa do Ministério da Saúde é de que a sobrevida dos pacientes depois de cinco anos da
cirurgia é de 60% nos casos de transplante de fígado e pulmão; 70% para cirurgias de substituição do
coração; e 80% para os transplantes de rim.
Nos 27 centros de notificação integrados, os dados informatizados do doador são cruzados com os
das pessoas que aguardam na fila pelo órgão para que o candidato ideal, conforme urgência e tempo de
espera, seja encontrado em qualquer parte do País.
116
ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
CAMINHO DO
TRANSPLANTE
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Unidade III
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Saiba mais
Resumo
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Unidade III
Após a retirada dos órgãos, o corpo fica como antes, sem qualquer
deformidade. Não há necessidade de sepultamentos especiais. O doador
poderá ser velado e sepultado normalmente.
Exercícios
Questão 1. (Enade 2013) Um paciente de 5 anos de idade foi encontrado pela enfermeira
não responsivo e sem apresentar respiração em uma unidade de pediatria de um hospital geral. A
enfermeira tentou, durante 10 segundos, detectar o pulso carotídeo, sem sucesso. Por ter sido treinada
segundo as diretrizes da American Heart Association, identificou que esse paciente estava em parada
cardiorrespiratória e, assim, iniciou os procedimentos de assistência a seguir.
A) 1 – 2 – 4 – 3.
B) 1 – 3 – 2 – 4.
C) 1 – 3 – 4 – 2.
D) 2 – 4 – 3 – 1.
E) 4 – 3 – 1 – 2.
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Análise da questão
Seguindo as Diretrizes da AHA, após a detecção de uma PCR em uma unidade pediátrica, a enfermeira
deve acionar imediatamente o (1) serviço médico de emergência ou a equipe médica da unidade de
saúde. Sequencialmente, a enfermeira deve aplicar as (3) manobras de RCP seguindo a ordem: (2)
compressões torácicas, (4) abertura das vias aéreas e ventilação (C-A-B).
Questão 2. (Enade 2013) Um paciente de 23 anos de idade foi internado na unidade de terapia
intensiva (UTI), em período pós-operatório imediato de cirurgia de craniotomia para exérese tumoral.
O paciente encontra-se em ventilação mecânica por tubo orotraqueal, com monitorização pressórica
arterial, cardíaca e da pressão intracraniana (PIC), além de oximetria de pulso. Mantém acesso venoso
central em subclávia direita com curativo oclusivo. Apresenta anisocoria e sinais de hipertensão
intracraniana como complicações pós-operatórias.
A) Manter o paciente em decúbito dorsal, com elevação da cabeceira do leito de 15° a 30° de
inclinação, e com a cabeça e o pescoço alinhados em posição anatômica.
B) Manter o paciente em decúbito dorsal, com elevação da cabeceira do leito acima de 30° de
inclinação, e a cabeça e o pescoço alinhados.
C) Manter o paciente em decúbito lateral, com elevação da cabeceira do leito de 15° a 30° de
inclinação, e com membros flexionados.
D) Manter o paciente em decúbito lateral, com elevação da cabeceira do leito acima de 30° de
inclinação, e com membros flexionados.
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