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PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

CAPÍTULO 3

Descrição do Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

Daniela Fernandes Marques


Bárbara Backes
Regina Basso Zanon
Cleonice Alves Bosa

O presente capítulo tem como objetivo descrever de forma detalhada o Sistema


PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista, especialmente no que
concerne ao segundo eixo do instrumento, referente ao Protocolo de Avaliação
Comportamental para Crianças com Suspeita de TEA – Versão Revisada – Não Verbal
(PROTEA-R-NV). No eixo 2 serão apresentadas as orientações para a adequação do
espaço físico e da seleção dos brinquedos, os contextos de avaliação (livre e dirigido) e a
definição operacional dos itens que constituem o protocolo. Serão, adicionalmente, expostos
brevemente aspectos concernentes às entrevistas de anamnese (eixo 1) e devolutiva (eixo
3). Estes temas serão abordados em detalhes nos Capítulos 7 e 8, respectivamente.
Inicialmente, será apresentada uma visão geral do Sistema PROTEA-R de Avaliação
do Transtorno do Espectro Autista, seguida da descrição do protocolo de observação
propriamente dito (PROTEA-R-NV). O Sistema PROTEA-R tem como objetivo principal o
rastreamento da presença de comportamentos inerentes à sintomatologia do Transtorno do
Espectro Autista (TEA), conhecidos como “sinais de alerta”, em crianças em torno dos 24
aos 60 meses de idade, especialmente naquelas não verbais. É importante salientar que o
PROTEA-R não é um instrumento de diagnóstico do TEA, mas, sim, uma ferramenta para
avaliar, de forma sistemática, o comportamento infantil, em casos com suspeita de TEA, por
meio de situações semiestruturadas de brincadeira interativa. Isso significa que para
confirmar a suspeita de TEA, indicada pelo Sistema PROTEA-R, deve-se realizar avaliação
especializada, preferencialmente por meio do uso de instrumentos diagnósticos
internacionalmente conhecidos.
O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista pode ser
utilizado por profissionais de diferentes áreas (ex. psicólogos, fonoaudiólogos,
psicopedagogos, terapeutas ocupacionais), desde que tenham propriedade das bases
teóricas do instrumento (ver Capítulo 2) e domínio das técnicas e estratégias a serem
utilizadas durante o processo avaliativo (ver Capítulo 4). Nesse sentido, salienta-se que,
para que seja cumprido o papel de rastreamento a que se propõe o Sistema PROTEA-R, é
fundamental que o clínico atente para esses aspectos e siga as orientações do presente
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manual. Estas últimas foram cuidadosamente desenvolvidas visando a uma descrição


detalhada do comportamento infantil, numa situação de brincadeira, tanto em termos de
suas potencialidades quanto de suas dificuldades.
Conforme explicado no Capítulo 1, o Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno
do Espectro Autista está dividido em três eixos: 1) Entrevista de anamnese; 2) Protocolo de
Avaliação Comportamental para Crianças com Suspeita de TEA – Versão Revisada – Não
Verbal (PROTEA-R-NV); e 3) Entrevista de devolutiva.
O primeiro e o terceiro eixos são compostos por entrevistas, respectivamente, de
anamnese e devolutiva, realizadas com os pais/cuidadores. A anamnese tem como objetivo
investigar a história da criança, ou seja, todos aqueles aspectos que podem ser importantes
para compreender o motivo da avaliação (a queixa da família). Dentre estes aspectos
investiga-se o desenvolvimento da criança desde a gestação até o momento da avaliação. É
apresentada em formato de entrevista semiestruturada e está pautada nos critérios
diagnósticos de TEA presentes no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
– Quinta Edição [DSM-5] (APA, 2013). Ao longo da anamnese, o desenvolvimento infantil é
investigado quanto aos seus aspectos motores, comunicativos (verbais e não verbais),
cognitivos, socioemocionais e de brincadeira. Além disso, são coletadas informações
referentes aos primeiros sinais que desencadearam preocupação nos pais ou responsáveis
em relação ao comportamento do(a) seu(sua) filho(a). Destaca-se que uma entrevista de
anamnese adequadamente conduzida, além de informar o histórico do paciente, proporciona
ao avaliador uma noção prévia acerca do comportamento da criança, preparando-o para que
possa planejar, antecipadamente, possíveis estratégias para serem utilizadas nas sessões
de observação do comportamento infantil. Por exemplo, se o clínico é informado, na
entrevista de anamnese, que a criança apresenta hipersensibilidade a estímulos sonoros, o
mesmo poderá antecipar possíveis desconfortos infantis após a apresentação de objetos
musicais e, com isso, poderá reforçar seus comportamentos preparatórios em relação a
algumas brincadeiras propostas. Cabe dizer que o conhecimento prévio de alguma
dificuldade nessa área não deve limitar a apresentação de brinquedos como o piano, por
exemplo, mas sim, alertar o clínico para a importância de antecipar para a criança o som
que irá produzir, acionando as teclas de forma gradual e atentando para as respostas da
criança. A intenção da avaliação não é gerar sofrimento na criança, mas é necessário que
os comportamentos relatados pelos pais sejam investigados durante as sessões avaliativas.
Informações mais detalhadas sobre como proceder nessa etapa estão apresentadas no
Capítulo 7.
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O segundo eixo do Sistema PROTEA-R é constituído pelo Protocolo de Avaliação


Comportamental para Crianças com Suspeita de TEA – Versão Revisada – Não Verbal
(PROTEA-R-NV) que está organizado em três áreas: (1) comportamentos
sociocomunicativos; (2) qualidade da brincadeira; e (3) movimentos repetitivos e
estereotipados do corpo. Essas áreas são compostas por dimensões comportamentais,
contendo 17 itens planejados para investigar alguns dos principais critérios diagnósticos do
TEA apresentados no DSM-5 (APA, 2013). A primeira área – Comportamentos
sociocomunicativos – contempla oito itens e engloba comportamentos de iniciativa e
resposta de atenção compartilhada, imitação, engajamento social, sorriso, busca e resposta
ao contato físico afetivo, busca de assistência, e protesto e/ou retraimento à interação. A
segunda área – Qualidade da brincadeira – é composta por seis itens referentes à
exploração dos brinquedos, forma da exploração, coordenação visomotora, brincadeira
funcional, brincadeira simbólica e sequência da brincadeira simbólica. Já a terceira área –
Movimentos repetitivos e estereotipados do corpo – é constituída por três itens e abrange os
comportamentos repetitivos de mãos e de outras partes do corpo, bem como
comportamentos autolesivos.
Cada um dos 17 itens deve ser codificado de acordo com as Escalas de Qualidade e
de Frequência. A Escala de Qualidade diz respeito a aspectos como reciprocidade,
flexibilidade, amplitude, convencionalidade, consistência e intensidade dos comportamentos,
e recebe classificação que varia de (A) a (E). A reciprocidade diz respeito ao quanto a
criança se envolve em trocas interativas com o parceiro, espontaneamente. A flexibilidade,
ao contrário da rigidez, refere-se ao quão facilmente o comportamento pode ser modificado.
A amplitude é definida pela variabilidade do comportamento em vários momentos da
sessão. A convencionalidade refere-se aos quanto o comportamento é expresso da forma
como é comumente utilizado e compreendido em nossa cultura (ex. apontar com o dedo
indicador estendido). A consistência diz respeito ao quanto os comportamentos se mantêm
ao longo da sessão, revelando uma tendência ou padrão e intensidade dos
comportamentos se refere à força ou vigor com que o comportamento se manifesta. Na
maior parte dos itens do protocolo (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14), que investiga a
presença de comportamentos típicos (esperados) no desenvolvimento infantil, o código (A)
refere-se aos comportamentos menos comprometidos e (C), ao mais comprometido. A
pontuação (D) refere-se à ausência do comportamento investigado, o que, nesse caso, pode
indicar um comprometimento ainda maior do que aqueles em que o comportamento está
presente, porém com dificuldades ( B e C). Já no restante dos itens (8, 15, 16 e 17), que
investigam comportamentos atípicos (protesto/retraimento, movimentos repetitivos de mãos
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e outras partes do corpo, e comportamentos autolesivos), o código (A) refere-se à ausência


dos mesmos, indicando comportamentos menos comprometidos. As pontuações (B) a (D)
contemplam a intensidade dos comportamentos observados, sendo (B) menos intenso e (D)
mais intenso. Em todos os itens do protocolo, a codificação (E), “Não se aplica”, é pontuada
quando não foi possível observar o comportamento por contingências do próprio contexto
(por exemplo, problemas técnicos no vídeo, o avaliador não eliciou o comportamento; a
criança dormiu durante a sessão) e não por causa da habilidade ou inabilidade da criança. A
Escala de Frequência, por sua vez, é do tipo Likert, com intervalo de 1 a 3, sendo 1 “baixa”,
2 “média” e 3 “alta”. As instruções detalhadas para codificação de ambas as escalas são
apresentadas no Capítulo 5. Salienta-se que a partir dos estudos psicométricos, em
associação a pressupostos teóricos e dados empíricos, foram estabelecidos itens críticos
para a avaliação de risco de crianças com suspeita de TEA (para maior aprofundamento
sobre os aspectos teóricos, ver Capítulo 2; para dados psicométricos, ver Capítulo 6).
Por fim, a entrevista devolutiva, componente do terceiro eixo do Sistema PROTEA-R
de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista, cujas diretrizes são apresentadas no
Capítulo 8, baseia-se em pressupostos teóricos acerca dos fatores emocionais
(especialmente parentais) implicados no processo de avaliação de uma suspeita de TEA
no(a) filho(a). Isso porque o impacto da suspeita de TEA é visto como um processo cujas
variáveis podem conduzir a diferentes níveis de compreensão e ajustamento familiar e o
avaliador deve estar preparado para manejar quaisquer desfechos. Por exemplo, enquanto
alguns pais podem buscar na avaliação explicações para as dificuldades apresentadas pelo
filho, o que pode reduzir o próprio sentimento de culpa, outros pais podem negar tais
comprometimentos, desenvolvendo crenças que justificam os atrasos da criança (por
exemplo, o filho não interage com outras pessoas por ser tímido; apresenta uma brincadeira
repetitiva por ser extremamente organizado; não fala ainda, pois é como o tio, que falou
tarde). Todos esses aspectos são discutidos em detalhes no Capítulo 8.
Destaca-se que, idealmente, a avaliação proposta no Sistema PROTEA-R de
Avaliação do Transtorno do Espectro Autista, contempla, além das referidas entrevistas, três
sessões de observação do comportamento infantil, referente à administração do
PROTEA-R-NV (com cerca de 45 minutos de duração cada). Esse número de três sessões
de observação é definido como ideal em função de permitir uma avaliação consistente do
comportamento da criança, possibilitando que a mesma se ambiente com o espaço, bem
como com o avaliador, e possa demonstrar mudanças comportamentais ao longo do
processo avaliativo. Contudo, o contexto profissional no qual o clínico se encontra pode
inviabilizar esse número de sessões. Nessa situação, o Sistema PROTEA-R também
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contempla um processo avaliativo breve, composto por uma sessão de observação do


comportamento infantil, além das entrevistas de anamnese e devolução. Por tratar-se de
uma versão breve, as informações provenientes da observação constituem um recorte único
do comportamento da criança e, portanto, o clínico deve estar ciente de que a não
ocorrência de determinado comportamento pela criança pode ser decorrente do tempo –
curto – de observação, falta de ambientação com o espaço e com o avaliador, dentre outros
aspectos e não, necessariamente, à ausência do comportamento, principalmente com
relação às habilidades da criança.
Salienta-se que o Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro
Autista contempla diferentes fontes de informação que devem ser consideradas ao longo do
processo avaliativo para a indicação da presença e/ou ausência de risco para TEA. Assim,
ainda que alguns itens do PROTEA-R-NV (Eixo 2) sejam indicados como críticos para o
estabelecimento de risco para TEA, é fundamental que o clínico leve em consideração
outros dados, como as informações coletadas durante a entrevista de anamnese, para que
haja uma compreensão mais ampla do caso, tornando mais robusta a indicação tanto de
presença quanto de ausência de risco para o referido transtorno.

Descrição do Protocolo de Avaliação Comportamental para Crianças com Suspeita de


TEA – Versão Revisada – Não Verbal (PROTEA-R-NV)

O objetivo principal do PROTEA-R-NV, eixo 2 do Sistema PROTEA-R de Avaliação


do Transtorno do Espectro Autista, é o exame dos comportamentos envolvidos na interação
da criança com o avaliador e a qualidade da brincadeira. Deste modo, alguns aspectos são
fundamentais para a realização de uma avaliação consistente, como a adequação do
espaço físico e dos brinquedos, o uso de diferentes contextos de avaliação e o domínio
acerca da definição operacional dos itens. Sobre esse último aspecto, é fundamental que o
clínico tenha clareza dos pressupostos teóricos que embasaram as definições dos itens,
pois os comportamentos observados (por exemplo, apontar para um objeto) podem ser
compreendidos como habilidades distintas, quando considerada a intencionalidade da
criança (por exemplo, iniciativa de atenção compartilhada ou busca de assistência). Ainda,
tem destaque no PROTEA-R-NV a importância da conduta do avaliador para preservar tanto
quanto possível a dinâmica da interação avaliador-criança, visando a criar oportunidades
para que o repertório comportamental infantil emerja (orientações específicas são
apresentadas no Capítulo 4).

Preparando o ambiente: Adequação do espaço físico e seleção dos brinquedos


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Para a administração do PROTEA-R-NV é necessário que condições relacionadas ao


espaço físico em que acontecerá a avaliação, bem como orientações referentes às
características dos brinquedos utilizados, sejam seguidas rigorosamente. A ideia é adequar
o ambiente para a criança de forma a possibilitar uma visão clara do seu comportamento,
com a menor interferência possível de fatores externos aos procedimentos e materiais do
instrumento.
Com relação ao espaço físico, é fundamental que a avaliação seja realizada em uma
sala sem excesso de estímulos visuais e auditivos (por exemplo, paredes decoradas com
muitos estímulos, diversos materiais e brinquedos expostos e ao alcance da criança etc.). A
mobília deve ser adequada ao tamanho da criança, sendo que a mesa e as cadeiras devem
ter, de preferência, cantos arredondados para evitar acidentes. Com relação aos brinquedos,
recomenda-se que os mesmos sejam laváveis, sem partes que soltem e de tamanho que
não possa ser engolido. Ainda, indica-se que os objetos mecânicos, que quando acionados
apresentam sons, luzes e/ou movimento, sejam de fácil manuseio, para que possam ser
facilmente desligados pelo clínico e/ou pela própria criança. No Capítulo 4 consta a lista
completa dos brinquedos que devem ser utilizados durante a avaliação. É importante,
também, que outros brinquedos que não serão utilizados durante a avaliação estejam dentro
de armários ou acondicionados em caixas opacas, em prateleiras (fixas na parede) e fora do
alcance, inclusive visual, da criança para que ela mantenha a atenção nos estímulos
apresentados pelo avaliador, evitando despertar seu interesse por outros objetos.
Em relação aos brinquedos, especificamente, propõem-se a organização dos
mesmos em três settings, conforme as imagens apresentadas a seguir. O primeiro setting
(Figura 1), organizado no chão da sala, deve contemplar objetos propícios à exploração livre
e também à brincadeira simbólica (kit de chá, carrinhos, bonecos, mesa e cadeiras), assim
como brinquedos acondicionados em uma caixa com tampa e um pote com tampa de rosca
(ambos transparentes para que a criança veja o conteúdo). Isso foi planejado para eliciar
comportamentos de busca de auxílio do avaliador. Caso a criança não busque auxílio para
abrir o pote de forma espontânea, recomenda-se que o clínico, em determinado momento,
chame a atenção dela para os brinquedos de dentro do pote, colocando-o no seu campo de
visão, movimentando-os e tecendo comentários que possam o tornar atrativo (por exemplo,
“hum, tem um cachorro aqui dentro, eu acho que ele está com fome”). Em seguida, pode
largar o pote na frente da criança e aguardar alguns segundos, para ver a sua reação.
Outro setting (Figura 2), organizado em uma mesa, deve trazer brinquedos de
encaixe, quebra-cabeças e material gráfico (lápis de cor ou giz de cera, e papel). Caso a
criança não procure a mesa e os objetos dispostos em cima dela espontaneamente, é
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importante que o clínico tente direcioná-la para esse setting, podendo o fazer vinculando
com alguma brincadeira prévia que tenha agradado a criança. Por exemplo, poderia pegar
um carrinho e simular uma corrida até a mesa, depois uma corrida em cima da mesa, de
modo que a criança já tenha que sentar na cadeira. Ou, ainda, o clínico poderia convidar a
criança para desenhar algo que tenha aparecido no setting anterior, como sua comida
favorita, após um contexto de brincadeira simbólica com o kit de chá.
Finalmente, o terceiro setting (Figura 3) refere-se à caixa do avaliador, que contém
objetos que estimulam reações sensoriais, incluindo brinquedos sonoros, luminosos e que
produzem movimento. Essa caixa deve ser opaca e ficar sobre um armário, sendo utilizada
em um momento específico. É importante que essa caixa esteja, durante toda a sessão, sob
o controle do clínico, de modo que somente ele tenha acesso aos brinquedos, os quais
devem ser apresentados um-a-um. Os brinquedos sonoros devem ser do tipo que se possa
desligar a qualquer momento, sem necessidade de se esperar pelo término do estímulo
(caso a criança reaja negativamente).

Figura 1. Disposição dos brinquedos no chão da sala

Figura 2. Disposição dos brinquedos na mesa


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Figura 3. Brinquedos da caixa do avaliador

Contextos de avaliação

Cada sessão de avaliação com base no PROTEA-R-NV deve ser organizada para
que ocorra em dois contextos diversos: o de Brincadeira Livre e o de Brincadeira
Semiestruturada, detalhados a seguir. Essa organização tem como objetivo proporcionar
diferentes situações interativas a fim de potencializar a resposta da criança. É importante
ressaltar que se recomenda que um dos pais ou responsáveis da criança acompanhe as
sessões de avaliação, permanecendo dentro da sala de atendimento. Para tanto, faz-se
necessário que o acompanhante seja preparado e orientado quanto ao que deve ou não
fazer, conforme descrito no Capítulo 4.

Contexto de Brincadeira Livre

Duração aproximada: 15 minutos

Objetivo: avaliar principalmente (mas não exclusivamente) iniciativas e respostas de


atenção compartilhada1, imitação de cunho complexo (por exemplo, imitação simbólica),
engajamento social, brincadeira simbólica, busca e resposta ao contato físico afetivo.

1
Como será descrito detalhadamente nas instruções de codificação, os itens Iniciativa de Atenção
compartilhada (IAC), Resposta de Atenção Compartilhada (RAC), Imitação (IM) e Brincadeira Simbólica (BS)
estão entre os cinco itens considerados críticos do PROTEA-R-NV.
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Conduta do avaliador: Nesta seção serão apresentadas orientações gerais para o avaliador.
Para um maior detalhamento na administração do protocolo, ver Capítulo 4. Para fins de
familiarização com o espaço físico, recomenda-se que, inicialmente, entrem e permaneçam
na sala apenas a criança e um dos cuidadores (importante orientá-los antes para que não
abram potes e caixas). Após cerca de 1 minuto, o clínico deve bater na porta, anunciando a
sua entrada, cumprimentar o cuidador e a criança e se dirigir ao setting em que a criança
esteja próxima. Nesse momento, poderá dizer algo neutro para o acompanhante e evitar,
num primeiro momento, aproximar-se muito da criança ou tocá-la diretamente. É importante
sentar-se (no chão ou nas cadeiras da mesa infantil – na mesma altura que a criança),
inicialmente mantendo certa distância e avaliar em que medida a criança permite maior
aproximação. Algumas crianças responderão de imediato, outras precisarão de um pouco
mais de tempo para aproximarem-se e o avaliador deve adequar seu manejo de acordo com
cada situação. Indica-se tentar engajar a criança nas brincadeiras, por meio de comentários
breves e da demonstração de um dos brinquedos. Por exemplo, poderá pegar um carrinho,
dizendo “Que legal esse carrinho, eu acho que ele deve andar muito rápido... Vou testar
para ver se as rodas dele são boas mesmo...” e, em seguida, deverá jogar o carrinho em
direção à criança, e aguardar a sua reação. Nesse momento, é importante que o clínico
mantenha um comportamento mais diretivo, evitando fazer muitas perguntas à criança, pois
estas podem aumentar a demanda social e cognitiva, interferindo no andamento da sessão.
Com o tempo, e conforme as reações da criança, o avaliador poderá convidá-la para alguma
brincadeira conjunta (por exemplo, "Acho que furou o pneu do carro. Você [falar o nome da
criança] pode me ajudar a trocar o pneu?”), ou, então, realizar perguntas dando opções de
respostas simples (por exemplo, “Acho que o cachorro está com fome. Será que ele quer
leite quente ou frio?"). Caso a criança não tenha adquirido a linguagem falada (como é o
caso de grande parte delas) não insista nas perguntas e adote uma conduta no sentido de
“narrar” o que está acontecendo (ex: “acho que ele quer leite frio”) e observe a sua reação.
Quando o avaliador perceber que a criança se interessou por algum brinquedo apresentado,
deve-se permitir que ela o explore sozinha por alguns minutos antes de fazer outras
demonstrações com o mesmo objeto ou trocá-lo. Esse comportamento é importante para
fins de observação da qualidade da brincadeira, bem como das possíveis iniciativas
espontâneas infantis.
É importante retirar os brinquedos gradualmente de circulação ao longo da sessão, a
fim de que a criança não seja distraída pelo excesso de objetos espalhados no ambiente
(sugere-se acondiciona-los em caixas ou dentro de armários). Assim, após manipular os
brinquedos do setting organizado no chão, por exemplo, é necessário colocá-los fora do
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alcance e visão da criança. Nesse momento, o avaliador poderá dar pequenas explicações à
criança, como “Agora eu vou guardar esses brinquedos para te mostrar outros, bem legais
também”. Sempre procure adequar a sua fala ao nível de compreensão da criança,
recorrendo a gestos (ex: apontar/tocar a caixa a ser usada em seguida) para facilitar o
entendimento da situação. Além disso, caso algum brinquedo em particular prenda a
atenção da criança de forma demasiada, prejudicando a exploração de outros objetos e a
interação com o avaliador, deve-se retirar o brinquedo do campo visual da criança assim que
possível. Sugere-se “negociar” a retirada de um objeto/brinquedo por meio da substituição
deste por outro objeto. Caso essa estratégia não funcione, o avaliador deve procurar engajar
a criança em outras atividades e retirar o brinquedo, sem que ela perceba, assim que o foco
de atenção da criança tenha sido desviado para outro objeto/evento. Encerrado o tempo, o
avaliador deve dizer para a criança que agora irá mostrar outros brinquedos, ao mesmo
tempo em que começa a guardar aqueles que estão no chão. É importante não apresentar
os objetos da caixa enquanto todos os demais não estiverem guardados.

Contexto de brincadeira semiestruturada: caixa do avaliador e mesa

Duração aproximada: 30 minutos

Objetivo: eliciar comportamentos de busca de assistência e investigar a presença de


respostas atípicas (por exemplo, uso repetitivo de objetos, maneirismos motores), assim
como brincadeira exploratória e funcional (sobretudo habilidade com encaixes e
atividades gráficas, incluindo o desenho).

Conduta do avaliador: É importante respeitar uma ordem para a demonstração dos


brinquedos da caixa. Primeiro devem ser apresentados aqueles com algum tipo de efeito
(luz, som, movimento), depois os “dedoches” e, por último, as bolhas de sabão (ver Capítulo
4 para instruções mais detalhadas). Salienta-se que a apresentação dos brinquedos com
efeitos sonoros ou visuais deve ser feita verbalmente num primeiro momento, antecipando à
criança que o brinquedo fará barulho ou acenderá alguma luz e, somente após, devem ser
acionados. A primeira ação deve ser realizada mantendo-se certa distância da criança e
avaliando sua reação para, após, se aproximar. É fundamental que o avaliador tenha o
controle da caixa, por isso, deve-se evitar abaixa-la e deixar ao alcance da criança, pois ela
pode querer pegar os brinquedos, comprometendo a avaliação. Cabe registrar que o
avaliador deve, primeiramente, demonstrar para a criança como os brinquedos da caixa
operam para, em seguida, oferece-lo para ela o manipule ou propor alguma brincadeira de
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troca de turnos. Para tanto, é importante que o clínico organize a cena de modo que a
criança fique próxima dele a ponto de conseguir observar, mas sem interferir na sua
apresentação inicial do objeto. É importante ressaltar que a duração sugerida para ambos os
contextos é flexível. O momento do deslocamento da criança para a mesa deve levar em
conta o interesse dela em aproximar-se da mesma para explorar os brinquedos (ver Capítulo
4 para orientações sobre transição de um contexto para outro).

Definição Operacional dos Itens

Nessa subseção serão abordados aspectos operacionais que definem cada um dos
17 itens do protocolo. As definições operacionais apresentadas contemplam os diferentes
códigos referentes à Escala de Qualidade e, portanto, devem ser utilizadas durante a
codificação do PROTEA-R-NV. É importante ressaltar que as habilidades investigadas em
cada item envolvem, em muitos casos, conceitos complexos. Portanto, é fundamental que o
clínico tenha domínio não apenas da prática, mas também da teoria que fundamenta o
protocolo, para compreender adequadamente os conceitos e definições implicados em cada
item. Nesse sentido, é imperativa a leitura pormenorizada do Capítulo 2, que aborda os
pressupostos teóricos que embasaram a construção do presente instrumento, antes da
administração do protocolo e sempre que se fizer necessário para a adequada
caracterização do comportamento da criança.
Os 17 itens que compõe o PROTEA-R-NV estão organizados em três áreas: (1)
Comportamentos Sociocomunicativos; (2) Qualidade da Brincadeira; e (3) Movimentos
Repetitivos e Estereotipados do Corpo, considerando importantes aspectos para a
investigação do comportamento infantil. Para fins de elucidação, juntamente com a definição
operacionais dos itens, serão apresentados modelos de conduta do avaliador e exemplos de
comportamento por parte da criança que ilustram cada um dos códigos da Escala de
Qualidade, apresentados a seguir.

ÁREA 1 – “COMPORTAMENTOS SOCIOCOMUNICATIVOS”

Os itens marcados com asteriscos são considerados críticos por sua relevância
teórico-empírica e psicométrica para a avaliação de risco de crianças com suspeita de TEA
(mais detalhes são apresentados no capítulo de instruções para codificação).

1. Iniciativa de Atenção Compartilhada (IAC)*

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança toma iniciativa de convidar o
avaliador para brincar ou de demonstrar para ele seu interesse por algum estímulo
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externo (objetos, brinquedos, desenhos, acontecimentos, brincadeiras, etc.). Examina-se se


ela tenta direcionar a atenção do avaliador para brinquedos/eventos de interesse dela
própria, de forma espontânea, para compartilhar seu interesse (com propósito
declarativo) ou se, ao contrário, não apresenta iniciativa. É importante salientar que a
questão aqui não é se a criança interage ou não, mas se ela efetivamente convida o
avaliador para brincar. A IAC é manifestada por meio de gestos ou outros atos
comunicativos (por exemplo, mostrar, apontar, trazer objetos para avaliador), coordenados
com o olhar (criança alterna o olhar entre o brinquedo/objeto e o rosto do avaliador de modo
a deixar clara a sua intenção de “captar” o interesse e atenção do avaliador para a
brincadeira ). este ato comunicativo, pode também estar acompanhado de expressões
afetivas (por exemplo, sorriso). Se o comportamento de IAC estiver presente, deve-se
observar em que contextos ocorre, ou seja, se ele aparece em uma variedade de situações
ou somente em atividades repetitivas (estereotipadas) da criança. Salienta-se que algumas
crianças podem apresentar comportamentos rudimentares que remetem à emergência da
IAC, caracterizados pelo foco de interesse no funcionamento de determinado brinquedo
acionado por ela própria, ou pelo compartilhamento de objetos, porém sem coordenação
com gestos, olhar ou expressões afetivas. Portanto, nesses casos a intencionalidade da
criança para interagir com o avaliador não fica clara. Para confirmar se houve o
compartilhamento de interesse é importante que o avaliador observe se a criança mantém
sua atenção ao objeto (por exemplo, sorri) enquanto o adulto o manipula. Não devem ser
considerados como IAC gestos ou outros atos comunicativos utilizados para pedir ajuda (por
exemplo, para alcançar ou para fazer funcionar algum brinquedo), pois este tipo de iniciativa,
claramente tomada para satisfação de alguma necessidade da criança (propósito
imperativo), não se configura como comportamento de atenção compartilhada. O item 7
(Busca de Assistência) é específico para avaliação deste outro tipo de iniciativa de
interação.

Modelo de conduta do avaliador para investigar IAC: Permitir que a criança explore sozinha
um determinado brinquedo, sem a interferência do avaliador. É preciso dar tempo para que a
iniciativa ocorra, se for o caso. Quando a criança apresentar o comportamento de IAC é
importante que o avaliador reaja de forma empática e contingente, respondendo ao que a
criança está comunicando. Nesse momento, pode-se dar a brincadeira com troca de turnos.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)


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Código "A": A criança pega o carrinho e olha para o avaliador, que permanece sentado, de
frente para ela. Em seguida a criança empurra o carrinho em direção ao avaliador, com clara
intenção de que o está convidando para brincar. O avaliador sorri para a criança, faz um
comentário breve e em seguida empurra o carrinho de volta para ela, imitando o som do
motor do carro e iniciando brincadeira com troca de turnos.

Código "B": A criança pega o carrinho e olha para o avaliador, que permanece sentado, de
frente para ela. Em seguida a criança empurra o carrinho em direção ao avaliador, com clara
intenção de que o está convidando para brincar. O avaliador sorri para a criança, faz um
comentário breve e em seguida empurra o carrinho de volta para ela, imitando o som do
motor do carro e iniciando brincadeira com troca de turnos. Contudo, a criança não utiliza
nenhum outro objeto para convidar o adulto para brincar, insistindo sempre na brincadeira
com o carrinho.

Código "C": A criança pega o carrinho e, sem olhar para o avaliador, empurra em sua
direção. O avaliador sorri para a criança, faz um comentário breve e em seguida empurra o
carrinho de volta para a criança, imitando o som do motor do carro. A criança pega o
carrinho, ainda sem fazer contato visual com o avaliador, e passa a explorá-lo sozinha por
alguns segundos. Após, ela joga o carrinho novamente em direção próxima a do avaliador,
porém sem estabelecer contato visual com o mesmo. Nesse exemplo, ao contrário dos
códigos anteriores, inicialmente a intenção da criança (de convidar o adulto para brincar)
não fica clara ao avaliador, devido à falta de coordenação dos diferentes canais
sociocomunicativos.

2. Resposta de Atenção Compartilhada (RAC)*

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança responde às iniciativas de


interação do avaliador, incluindo convites para brincar. Examina-se se ela responde às
tentativas do avaliador de dirigir a sua atenção para brinquedos/eventos de interesse ou se,
ao contrário, interessa-se apenas pelo brinquedo oferecido, sem considerar a
intenção/proposta do avaliador. Observar se ela, por exemplo, segue os gestos de apontar
do avaliador, se troca turnos com o mesmo durante a brincadeira, etc. Salienta-se que deve
haver algum indicativo de que a criança prestou atenção no avaliador, e não somente no
objeto apresentado, para receber os códigos de qualidade [A] e [B]. A RAC é manifestada
por meio de gestos ou outros atos comunicativos (por exemplo, pegar ou tocar em
objetos oferecidos pelo parceiro), coordenados com o olhar (por exemplo, criança alterna o
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

olhar entre o alvo de interesse e o rosto do avaliador), podendo também estar acompanhado
de expressões faciais (por exemplo, sorriso) e de mudança de postura/orientação
corporal (por exemplo, direcionar o corpo em direção ao foco de interesse indicado). Se o
comportamento de RAC estiver presente, observar se ele aparece em uma variedade de
situações ou somente em atividades repetitivas (estereotipadas) da criança. Além disso,
observar se a criança pega os objetos oferecidos de forma espontânea ou somente após
insistência do avaliador. Salienta-se que algumas crianças podem apresentar
comportamentos rudimentares que remetem à emergência da RAC, caracterizados pelo foco
de interesse no objeto e não necessariamente na interação com o avaliador. Nesses casos,
o comportamento da criança pode não estar coordenado com gestos, olhar ou expressões
afetivas, comprometendo a clareza acerca da intencionalidade da criança.

Modelo de conduta do avaliador para investigar RAC: Apresentar algum brinquedo


(cachorro) para a criança e fazer um comentário breve (por exemplo “Olha que legal esse
cachorrinho!”), fazer gestos (por exemplo, apontar e mostrar o cachorro o movimentando) e
expressões faciais contingentes (por exemplo, expressão de surpresa, alegria) e emitir o
som do cachorro, a fim de compartilhar com a criança o seu próprio interesse pelo objeto.
Em seguida, oferecer o brinquedo para a criança e a convidar para brincar (interação
triádica, envolvendo criança, objeto e avaliador). Nesse momento, pode-se iniciar
brincadeira com troca de turnos. Observar a reação da criança durante a brincadeira (ex.
contato visual, gestos, orientação postural, sorriso).

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": O avaliador aponta para o cachorrinho de brinquedo e comenta “olha que legal
esse cachorrinho!”, em seguida faz movimentos com o cachorrinho, dizendo "au-au-au" e
sorri para a criança, oferecendo o brinquedo. Enquanto o avaliador apresenta o estímulo, a
criança intercala o olhar entre o cachorrinho (quando o avaliador o aponta) e o rosto do
adulto, sorrindo. A criança, então, pega o cachorrinho quando o avaliador o oferece,
seguindo a brincadeira.

Código "B": O avaliador aponta para o cachorrinho de brinquedo e comenta “olha que legal
esse cachorrinho!”, em seguida faz movimentos com o cachorrinho, dizendo "au-au-au" e
sorri para a criança, oferecendo o brinquedo. Enquanto o avaliador apresenta o estímulo, a
criança intercala o olhar entre o cachorrinho (quando o avaliador o aponta) e o rosto do
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

adulto, sorrindo. Entretanto, a criança não pega o cachorrinho quando o avaliador o oferece,
engajando na brincadeira somente após várias iniciativas do adulto. Ou, ainda, aceita o
objeto oferecido pelo avaliador (cachorrinho), mas brinca de forma repetitiva (por exemplo,
apertando o cachorro com as mãos, ou batendo-o no chão, repetindo os mesmos
movimentos).

Código "C": O avaliador aponta para o cachorrinho de brinquedo e comenta “olha que legal
esse cachorrinho!”, em seguida faz movimentos com o cachorrinho, dizendo "au-au-au" e
sorri para a criança, oferecendo o brinquedo. A criança olha para o cachorrinho (quando o
avaliador o aponta), mas não intercala seu olhar entre o brinquedo e o rosto do avaliador ou
apresenta outras expressões afetivas, demonstrando claramente que seu interesse está
somente no cachorrinho.

3. Imitação (IM)*

Esse item tem por objetivo identificar a presença de comportamento imitativo na


criança. É fundamental, neste item, que o avaliador diferencie a aprendizagem por imitação
(quando o foco de interesse da criança está na interação com o adulto) da aprendizagem
por emulação (quando o foco de interesse da criança está nas propriedades do brinquedo),
aspectos esses que diferenciam os códigos da Escala de Qualidade. É importante observar
se a criança reproduz intencionalmente (não acidentalmente) algum tipo de gesto,
expressão facial ou ações demonstradas pelo avaliador e em que contextos esse
comportamento aparece (em uma variedade de situações ou apenas em situações restritas).
Além disso, na aprendizagem por imitação o foco de interesse da criança deve ser o
comportamento do avaliador (por exemplo, bater no tambor com as mãos) e não apenas o
efeito da sua ação (por exemplo, o barulho do tambor, não importando se é ou não com as
mãos). Se o comportamento de IM estiver presente, observar se a criança alterna turnos
com o avaliador.

Modelo de conduta do avaliador para investigar IM: Para verificar a presença de


aprendizagem por imitação com objeto (situação triádica) o avaliador deve apresentar um
brinquedo mecânico para a criança, se certificando de que o objeto esteja no campo visual
dela, e o acionar (demonstrar como operar o objeto). Após, entregar o brinquedo para a
criança e observar a sua reação (se ela vai repetir a ação do avaliador). Durante a execução
da atividade, o avaliador deve fazer comentários breves, bem como gestos e expressões
faciais contingentes, a fim de tornar o objeto atrativo e a brincadeira divertida. Outro exemplo
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

de imitação, desta vez em situação diádica (sem mediação de objetos), é quando o adulto
bate palmas "festejando" algum acontecimento durante a brincadeira e a criança também o
faz. Esses comportamentos podem estar acompanhados de expressões afetivas e
vocalizações.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": O avaliador diz: "Eu tenho um brinquedo bem legal para te mostrar!”, sorrindo, e
mostra a máquina fotográfica para a criança. Então, faz de conta que a está fotografando
(acionando o brinquedo), entregando, em seguida a máquina para a criança. Ela, então,
aciona o brinquedo da mesma forma, fazendo de conta que fotografa, e troca turnos com o
avaliador (minha vez, sua vez), alternando a ação de um e de outro, simulando “poses” e
demonstrando divertir-se com a brincadeira.

Código "B": O comportamento da criança é semelhante àquele descrito no Código A, porém


a tendência da criança ao longo da sessão é apresentar imitação somente em algumas
atividades, por exemplo, naquelas mediadas por objetos que produzem som, ou imitação de
movimentos do corpo.

Código "C": O avaliador diz: "Eu tenho um brinquedo bem legal para te mostrar!”, sorrindo, e
mostra a máquina fotográfica para a criança. Então, faz de conta que a está fotografando
(acionando o brinquedo), entregando, em seguida a máquina para a criança. Ela, então,
aciona o brinquedo da mesma forma, porém vira de costas para o avaliador e começa a
fotografar objetos da sala, sem trocar turnos com o avaliador, e sem sorrir e/ou olhar para o
mesmo, demonstrando, claramente, que seu interesse está somente em acionar a máquina
fotográfica (e não na interação).

4. Engajamento Social (ES)

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança se engaja em brincadeiras com o
avaliador sem o uso de brinquedos, isto é, situações diádicas (por exemplo, cantar,
dançar, pega-pega, esconde-esconde). Caso o comportamento de ES esteja presente,
observar se a criança inicia (convida o parceiro) e/ou responde (aceita os convites do
parceiro) às brincadeiras sem o uso objetos. Nos casos em que a criança não inicia, mas
responde ao ES, deve-se observar se essa aceitação ocorre de forma rígida (sempre no
mesmo formato) ou espontânea/flexível (aceita variações na conduta do avaliador na
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

mesma brincadeira). Além disso, observar se o ES aparece em uma variedade de situações


ou somente em atividades repetitivas (estereotipadas) da criança. Não considerar neste item
a interação mediada por objetos, por exemplo, “tocar” piano e dançar ao mesmo tempo
(situação triádica).

Modelo de conduta do avaliador para investigar ES: Quando a criança estiver sentada
(preferencialmente no chão) próxima do avaliador, apresentar algum objeto para iniciar a
brincadeira. Inicialmente, propor encostar esse objeto na criança, para que sinta o toque. Em
seguida, retirar o brinquedo da cena interativa e iniciar brincadeira diádica, podendo ser a de
fingir que vai fazer cócegas ou cantar uma música e convidar a criança para dançar,
tocando-lhe as mãos, por exemplo. Observar se a criança responde a esse convite e como
ela reage (contato visual, expressão facial, gestos) durante a interação diádica. É importante
não insistir caso a criança não permita ou reaja mal ao toque.
Atenção: Observar que neste item não deve ser pontuada a reação da criança no momento
do uso do brinquedo em seu corpo, pois isso serve apenas para prepará-la para o toque,
caso não surja uma oportunidade natural.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": A criança começa a cantarolar uma música e olha para o avaliador ou, após o
avaliador cantar uma música, ela começa a dançar, olhando ou pegando a mão do avaliador
para dançar junto.

Código "B": O avaliador canta uma música e convida a criança para dançar, ela aceita e
passa a cantar e dançar com o avaliador, demonstrando divertir-se com a brincadeira.

Código "C": O avaliador canta uma música e convida a criança para dançar, ela se aproxima
dele e balança o corpo, porém não olha para o avaliador e quando este propõe outras
músicas, a criança se afasta e para de interagir.

5. Sorriso (SOR)

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança entrou na atmosfera prazerosa da
brincadeira, por meio da presença e qualidade do sorriso. É importante avaliar se ela
apresenta sorriso espontâneo e recíproco, dirigido ao adulto e junto com o do adulto ou se,
ao contrário, o sorriso é difuso (quando a criança sorri apenas por causa de alguma
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

sensação provocada pelo brinquedo ou, ainda, sem motivo aparente). Se o SOR estiver
presente, observar se ele aparece de forma espontânea ou somente em resposta ao sorriso
do avaliador. Verificar, também, se o SOR se mostra acompanhado de contato visual, gestos
ou vocalizações dirigidas ao avaliador, bem como se é adequado ao contexto (identificar
motivo desencadeador). O avaliador deve estar atento para sua postura, que deve ser
empática, com expressões faciais contingentes e atrativas para a criança durante todas as
sessões, uma vez que essas ações proporcionam mais oportunidades para a observação da
qualidade do SOR.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": A criança sorri espontaneamente para o avaliador durante diferentes


brincadeiras, nas quais ambos estão engajados e se divertindo. O sorriso é acompanhado
pelo contato visual (ou gestos/vocalizações) e claramente direcionado ao avaliador com o
intuito de compartilhar o prazer com a atividade.

Código "B": A criança não sorri espontaneamente, mas o faz em resposta ao sorriso do
adulto durante diferentes brincadeiras, nas quais ambos estão engajados e se divertindo.
Contudo, o sorriso nem sempre é acompanhado pelo contato visual (ou
gestos/vocalizações), mas é adequado ao contexto em que se apresenta. Por exemplo, o
avaliador apresenta os dedoches à criança, produz diferentes vozes para os personagens e
cria uma cena na qual a vovozinha quer fazer cócegas na barriga da criança. O avaliador, ao
se aproximar da criança, sorri e a criança sorri em resposta, de forma adequada ao
contexto, porém seu olhar fica fixo nos personagens (dedos do avaliador) durante toda a
brincadeira com os dedoches.

Código "C": A criança sorri enquanto caminha pela sala, sem estar interagindo com o
avaliador e sem estar brincando com algum objeto (sem motivo aparente).

6. Busca e resposta ao Contato Físico Afetivo (CFA)

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança busca e/ou responde ao contato ou
proximidade física do adulto de forma típica e espontânea, atípica ou se, ao contrário, ela
não apresenta esses comportamentos. O foco é algum tipo de intimidade e carinho que se
estabelece entre a criança e o avaliador, evidenciado pelo contato físico afetivo. Se o
comportamento de busca ao CFA estiver presente, observar se ele aparece em uma
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

variedade de situações ou somente em momentos de interesse sensorial, nos quais não


haveria intenção de provocar alguma resposta do adulto (por exemplo, tocar no cabelo para
cheirá-lo), ou ainda, apenas para apoiar-se no avaliador para executar melhor uma
atividade. Além disso, observar se a criança busca CFA de forma espontânea ou somente
responde ao contato físico estabelecido pelo avaliador. É importante destacar que se
entende por resposta ao CFA demonstrações por parte da criança que remetam a sensação
de bem-estar e receptividade ao “carinho”, como aconchegar-se, sorrir, aproximar-se, etc.

Modelo de conduta do avaliador para investigar CFA: No contexto de alguma brincadeira


(preferencialmente no chão), quando a criança executar uma ação contingente, elogiá-la
(“Muito bem!”), fazendo carinho nas suas costas e observar sua reação.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": Durante alguma brincadeira, a criança se aproxima do avaliador, toca-o e


aconchega-se no seu colo.

Código "B": A criança não busca espontaneamente o contato físico afetivo, mas aceita
quando o avaliador faz carinho em suas costas ou lhe dá um abraço.

Código "C": A criança busca contato físico com o avaliador apenas para tocar seu cabelo
para cheirá-lo ou para apoiar-se para alcançar algum brinquedo.

7. Busca de Assistência (BA)

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança utiliza gestos (mostrar, apontar, trazer
objetos para o avaliador), coordenados com o olhar (a criança alterna o olhar entre o alvo de
interesse e o rosto do avaliador) e/ou com vocalizações, com a finalidade de buscar
assistência (por exemplo, abrir a tampa de uma caixa, fazer funcionar um brinquedo, pedir
para repetir uma brincadeira). Observar se a criança integra, ou não, diferentes canais
comunicativos (gestos, contato visual, vocalizações) ou, ainda, se ela apresenta o
comportamento de BA apenas de forma não convencional (por exemplo, pega a mão do
adulto e a coloca sobre o objeto para abrir tampas, acionar um brinquedo; escala o corpo do
adulto para alcançar um objeto etc).
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

Modelo de conduta do avaliador para investigar BA: Apresentar algum brinquedo com
propriedades atrativas para a criança e, após demonstrar os seus efeitos, retirá-lo do seu
alcance imediato e aguardar algum “pedido” por parte dela.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": O avaliador mostra para a criança o brinquedo que produz bolhas de sabão e
comenta "Vamos fazer bolhas de sabão?", sorrindo para a criança. Em seguida, ele sopra as
bolhas e chama a atenção dela para as mesmas. Então, o avaliador permanece com o
brinquedo nas mãos (fora do alcance da criança), porém sem fazer bolhas de sabão. A
criança, então, aponta para o objeto, sorrindo e intercalando o olhar entre o avaliador e o
brinquedo, claramente solicitando que ele faça mais bolhas.

Código "B": O avaliador mostra para a criança o brinquedo que produz bolhas de sabão e
comenta "Vamos fazer bolhas de sabão?", sorrindo para a criança. Em seguida, ele sopra as
bolhas e chama a atenção dela para as mesmas. Então, o avaliador permanece com o
brinquedo nas mãos (fora do alcance da criança), porém sem fazer bolhas de sabão. A
criança, então, olha para o objeto e sorri, porém, sem apontar ou olhar para o avaliador para
solicitar que ele faça mais bolhas.

Código "C": O avaliador mostra para a criança o brinquedo que produz bolhas de sabão e
comenta "Vamos fazer bolhas de sabão?", sorrindo para a criança. Em seguida, ele sopra as
bolhas e chama a atenção dela para as mesmas. Então, o avaliador permanece com o
brinquedo nas mãos (fora do alcance da criança), porém sem fazer bolhas de sabão. A
criança, então, tenta “escalar” o corpo do avaliador para alcançar o objeto ou, quando este
está ao seu alcance, coloca a mão do adulto sobre o brinquedo para que ele faça mais
bolhas.

8. Protesto/Retraimento (P/R)

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança tenta evitar a interação com o
adulto. Se o comportamento de P/R estiver presente, observar se ele aparece de forma
branda (por exemplo, dá as costas ou afasta a mão do adulto), ativa (por exemplo,
afasta-se, encolhe-se em um canto) ou intensa (por exemplo, afasta-se e grita ou agita-se).
É importante destacar que esse item avalia reações de P/R à interação e não deve ser
pontuado com base em situações nas quais a criança proteste ou retraia-se à apresentação
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

ou retirada de objetos (por exemplo, quando o avaliador aciona um objeto que acaba por
assustá-la ou quando algum brinquedo é guardado e a criança grita ou chora). O avaliador
deve pontuar esse item mesmo que a criança tenha protestado ou retraindo-se uma única
vez.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B, C e D)

Código "A": Em nenhum momento ao longo da sessão a criança protesta ou retrai-se às


tentativas de interação iniciadas pelo avaliador, tanto em situações diádicas (sem a
medicação de objetos) quanto triádicas (mediadas por objetos).

Código "B": Em alguns momentos ao longo da sessão a criança protesta ou retrai-se às


tentativas de interação iniciadas pelo avaliador, por exemplo, dando às costas a ele ou
afastando sua mão de algum objeto de interesse. A criança pode resistir quando solicitada
para trocar turnos durante uma brincadeira com o piano, por exemplo, afastando a mão do
avaliador quando o mesmo tenta entrar no contexto interativo com a intenção de tocar uma
música, por exemplo. Entretanto, a criança permanece próxima ao avaliador e não
apresenta comportamentos mais intensos, como choros e gritos.

Código "C": Em alguns momentos ao longo da sessão a criança protesta ou retrai-se às


tentativas de interação iniciadas pelo avaliador, por exemplo, afastando-se e mantendo-se
longe do alcance do avaliador. Nesse caso, a criança pode se retirar da cena interativa,
esconder-se embaixo da mesa, ignorar as tentativas de aproximação do adulto e
permanecer lá por um período considerável de tempo, explorando sozinha os objetos.
Entretanto, a criança não apresenta comportamentos mais intensos, como choros e gritos.

Código "D": Em alguns momentos ao longo da sessão a criança protesta ou retrai-se às


tentativas de interação iniciadas pelo avaliador, demonstrando desorganização, por
exemplo, agitando-se, gritando e/ou chorando.

ÁREA 2 – “QUALIDADE DA BRINCADEIRA”

9. Exploração dos Brinquedos (EXB)

Esse item tem por objetivo avaliar a gama de objetos manipulados/explorados


pela criança, em termos de abrangência da exploração. Abrangência diz respeito à
quantidade de objetos disponíveis manipulados pela criança durante a sessão. Ressalta-se
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

que a abrangência se difere da frequência do comportamento, uma vez que a criança pode
brincar várias vezes com o mesmo brinquedo e não explorar outros objetos disponíveis.
Considera-se, nesse item, a exploração das propriedades físicas e sensoriais dos
brinquedos/objetos (bater, rolar, sacudir), não sendo exigido que os mesmos sejam
utilizados no contexto de brincadeiras com o adulto.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B, C e D)

Código "A": A criança explora muitos brinquedos (mais da metade dos objetos apresentados
ao longo da sessão).

Código "B": A criança explora poucos brinquedos (menos da metade dos objetos
apresentados ao longo da sessão).

Código "C": A criança explora pouquíssimos brinquedos (menos de ⅓ [um terço] dos objetos
apresentados ao longo da sessão).

Código "D": A criança não explora os objetos. Pode abrir portas ou potes, mas não se
interessa pelos brinquedos podendo até pisar por cima dos mesmos como se não os visse.

10. Forma de Exploração (FEX) (apenas se assinalado A, B ou C no item 9)

Esse item tem por objetivo avaliar a forma como a criança explora os brinquedos, em
termos de flexibilidade da exploração. A flexibilidade se refere à variedade de ações da
criança com os objetos ao explorar suas múltiplas propriedades, tais como formas e
texturas. Assim, o avaliador deve observar se a exploração ocorre de diferentes formas (por
exemplo, bate, rola, sacode), de forma muito breve (por exemplo, toca nos objetos para
colocá-los na boca), de forma atípica (por exemplo, interesse pelo cheiro, movimento ou
partes isoladas de brinquedos) e/ou repetitiva (por exemplo, alinhar, girar objetos, sem
função aparente). Salienta-se que pode haver exploração atípica por meio de “olhar
periférico” (quando a criança explora os brinquedos e os olha com o “canto do olho”, ou se
deita no chão e se vira de lado para obter este efeito).

Modelo de conduta do avaliador para investigar FEX: É difícil avaliar se a brincadeira é


repetitiva ou atípica (estereotipada) em crianças muito pequenas. Por isso, se a criança
estiver realizando uma ação repetidamente, deve-se tentar interromper delicadamente a
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

brincadeira (por exemplo, se ela está girando um objeto, tocar o brinquedo rapidamente; se
ela estiver alinhando ou enfileirando objetos, mudar a ordem da “fila”, como se estivesse
brincando e não “provocando”) e observar sua reação. De forma geral, quando a atividade
tem caráter repetitivo, a resposta da criança a essas intervenções tende a ser negativa (por
exemplo, chorar, gritar, retirar-se).

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": A criança explora os brinquedos de forma variada (sacode, empilha, gira, rola),
demonstrando curiosidade sobre o que pode ser feito com os mesmos. Essas explorações
se mostram adequadas ao contexto da brincadeira e são identificadas pelo avaliador como
formas típicas de explorar e manipular os objetos.

Código "B": A criança explora os brinquedos de forma variada, conforme descrito no código
A, porém também são observadas explorações atípicas e repetitivas. Por exemplo, quando o
foco da criança está nas propriedades sensoriais dos objetos, fazendo-a apertar inúmeras
vezes o botão da máquina fotográfica para observar a luz produzida, aproximando-a dos
olhos ou apresentado olhar periférico durante a exploração. Ou, ainda quando a criança faz
sempre os mesmos movimentos com os objetos, como alinhar girar, sacudir ou bater sem
função aparente.

Código "C": A exploração dos objetos é feita basicamente de forma breve e/ou atípica e/ou
repetitiva. Por exemplo, a criança pega os objetos e logo os larga ou joga no chão, coloca
diferentes brinquedos na boca, brinca da mesma forma repetidas vezes (alinhando, girando,
empilhando).

11. Coordenação Visomotora (CV)

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança segura os brinquedos


adequadamente de forma a conseguir explorá-los visualmente ou se, ao contrário, não
coordena o olhar com a manipulação.

Modelo de conduta do avaliador para investigar CV: Apresentar diferentes brinquedos para a
criança, colocando-os próximos de suas mãos. Observar se ela pega e olha para os
brinquedos de forma adequada durante a exploração. Nos casos em que a criança não toca
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

nenhum objeto é importante que o avaliador estimule o aparecimento deste comportamento


(por exemplo, colocar algum brinquedo diretamente na mão da criança).

12. Brincadeira Funcional (BF)

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança manipula objetos/brinquedos não
apenas com fins exploratórios, mas de acordo com suas funções (por exemplo,
apertar/girar botões e teclas, colocar uma xícara sobre um pires em miniatura, fazer
encaixe). Se a BF estiver presente, observar a gama de objetos operados funcionalmente
(se muitos ou se poucos), bem como a consistência do comportamento (por exemplo, se a
criança inicia e completa a ação) e sua flexibilidade (variedades de ações que a criança
realiza com os brinquedos). Ressalta-se que abrangência (gama) se difere da frequência do
comportamento, uma vez que a criança pode brincar várias vezes com o mesmo brinquedo
e não explorar outros objetos disponíveis.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)


Código "A": A criança opera muitos brinquedos (mais da metade dos objetos apresentados
ao longo da sessão), de acordo com sua função (por exemplo, tirar foto com a máquina,
colocar a xícara sobre o pires, fazer encaixes seguindo a lógica do brinquedo, apertar
botões, empurrar carrinho, estourar bolhas de sabão).

Código "B": A criança opera poucos brinquedos (menos da metade dos objetos
apresentados ao longo da sessão), mas o faz de acordo com sua função (por exemplo, tirar
foto com a máquina, colocar a xícara sobre o pires, fazer encaixes seguindo a lógica do
brinquedo, apertar botões, empurrar carrinho, estourar bolhas de sabão).

Código "C": A criança opera os brinquedos de forma parcial (por exemplo, a criança empurra
o carrinho em direção ao avaliador, porém sem deixar clara a intenção de brincar) ou de
forma atípica (ex. aperta os botões da máquina fotográfica de forma repetitiva).

13. Brincadeira Simbólica (BS)*

Esse item tem por objetivo avaliar se a criança apresenta brincadeira de faz de
conta, ou seja, se ela utiliza um objeto para representar outro quando está brincando (por
exemplo, uma tampa de um pote serve como escudo, um bloco de madeira é usado como
telefone) ou criando propriedades que estão ausentes (por exemplo, assoprar para esfriar o
chá, fazer o barulho do carro). Se o comportamento de BS estiver presente, observar se ele
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

é espontâneo (iniciado pela criança), flexível (representado em diversas ações) e se envolve


diferentes brinquedos. Além disso, observar se a BS aparece em diferentes contextos ou se
ela envolve apenas os interesses restritos/estereotipados da criança.

Modelo de conduta do avaliador para investigar BS: Avaliar se a criança entende o faz de
conta, utilizando substituições de objetos (por exemplo, fazer de conta que um bloco de
madeira é um telefone) ou criando propriedades que estão ausentes (por exemplo, “esfriar”
o café, a comidinha). É fundamental que o avaliador saiba diferenciar, com clareza,
brincadeira funcional (por exemplo, mexer a colher dentro da xícara) da brincadeira
simbólica, isto é, representacional (por exemplo, mexer a colher dentro da xícara e assoprar
para “esfriar” o chá), o que reforça a importância da estimulação e da identificação das
propriedades ausentes da brincadeira.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": A criança faz de conta que a tampa da caixa é um escudo e/ou faz o barulho do
motor do carro enquanto o movimenta e/ou assopra a xícara para esfriar o chá que está
quente e/ou experimenta a comidinha e vocaliza "humm". As brincadeiras da criança são
espontâneas e envolvem diferentes objetos.

Código "B": As ações da criança são semelhantes àquelas descritas no Código A, porém ela
precisa ser estimulada pelo avaliador e utiliza poucos brinquedos no seu faz de conta.

Código "C": A criança apresenta indícios de faz de conta, brincando simbolicamente sempre
da mesma forma (por exemplo, movimenta o carrinho enquanto faz o som do mesmo), mas
não apresenta esses comportamentos em outros contextos, mesmo após estimulação do
avaliador.

14. Sequência da Brincadeira Simbólica (SBS) (apenas se assinalado A, B ou C no


item 13)

Esse item tem por objetivo avaliar a evolução e conexão dos episódios durante a
BS. Observar se ocorre em uma sequência estruturada, com início, meio e fim de uma
“historinha” (por exemplo, o “médico” examina o paciente, chama a ambulância, opera o
paciente); se os episódios aparecem com alguma conexão, embora a sequência não seja
tão clara ou seja muito breve (por exemplo, fazer de conta que coloca açúcar e que
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

“mistura/mexe” o leite); ou, por fim, se foi identificada BS, porém sem sequência entre as
ações (brincadeira “desconexa”).
Atenção: para crianças com idade inferior a 24 meses deve ser pontuado o código “E” nesse
item (“Não se aplica”).

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B e C)

Código "A": Após sentar os bonecos à mesa, a criança coloca os pratos e dá comida aos
bonecos, enquanto faz o som “Hmmm”, e depois coloca-os para dormir. Em outra cena, ela
faz de conta que os carrinhos estão participando de uma corrida, deixando claro quando
esta se inicia e elegendo um ganhador que, ao final, ganha um prêmio no pódio. Em ambas
as situações, a brincadeira tem início, meio e fim e ocorre de forma espontânea.

Código "B": A criança coloca comida no prato e dá aos bonecos e, em outra cena, ela faz de
conta que os carrinhos estão participando de uma corrida, demarcando seu início (“Um,
dois, três e já!”). Embora haja associação entre os episódios, esta não é tão elaborada
conforme aquela descrita no Código A.

Código "C": A criança coloca comida no prato e, em seguida, passa a brincar de corrida com
os carrinhos, empurrando-os simultaneamente. Tratam-se, portanto, de episódios sem
conexão entre si, não sendo possível identificar uma sequência na brincadeira.

ÁREA 3 – “MOVIMENTOS REPETITIVOS E ESTEREOTIPADOS DO CORPO”

15) Movimentos Repetitivos das Mãos (MRM)

Esse item tem por objetivo avaliar movimentos rápidos dos dedos e mãos, de forma
repetitiva e aparentemente não funcional, que geralmente ocorrem dentro do campo visual
da criança ou na linha média do corpo (por exemplo, retorcer e/ou tremular os dedos,
movimentar as duas ou uma das mãos de um lado para outro, esfregar, torcer, apertar as
mãos). Se o comportamento de MRM estiver presente, observar os contextos em que
ocorrem (identificar motivo desencadeador) e a reação da criança perante a tentativa de
interrupção pelo avaliador. Salienta-se que MRM são considerados intensos quando a
criança permanece realizando a ação, mesmo após tentativas do avaliador de direcionar sua
atenção para estímulos externos.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B, C e D)


PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

Código A: Em nenhum momento ao longo da sessão a criança apresenta movimentos


repetitivos de dedos e/ou mãos.

Código B: A criança apresenta movimentos repetitivos de dedos e/ou mãos (por exemplo,
tremular os dedos, chacoalhar as mãos), mas quando o avaliador a convida para brincar,
tocando o piano, a criança cessa esses movimentos imediatamente, mudando prontamente
seu foco para o novo objeto apresentado.

Código C: A criança apresenta movimentos repetitivos de dedos e/ou mãos intensos (por
exemplo, tremular os dedos, chacoalhar as mãos) quando o avaliador interrompe alguma
atividade ou guarda um brinquedo de seu interesse, sendo difícil distraí-la para outros
estímulos.

Código D: Em diferentes situações ao longo da sessão a criança apresenta movimentos


repetitivos de dedos e/ou mãos intensos (por exemplo, tremular os dedos, chacoalhar as
mãos), sendo difícil distraí-la para outros estímulos.

16. Movimentos Repetitivos de outras partes do Corpo (MRC)*

Esse item tem por objetivo avaliar movimentos rápidos de outras partes do corpo, de
forma repetitiva e aparentemente não funcional. Se o comportamento de MRC estiver
presente, observar os contextos em que ocorrem (identificar motivo desencadeador) e a
reação da criança perante a tentativa de interrupção pelo avaliador. Salienta-se que MRC
são considerados intensos quando a criança permanece realizando a ação, mesmo após
tentativas do avaliador de direcionar sua atenção para estímulos externos.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B, C e D)

Código A: Em nenhum momento ao longo da sessão a criança apresenta movimentos


repetitivos de outras partes do corpo.

Código B: A criança apresenta movimentos repetitivos de outras partes do corpo (por


exemplo, balança-se para frente e para trás, caminha na ponta dos pés), mas quando o
avaliador a convida para brincar, fazendo bolhas de sabão, a criança cessa esses
movimentos imediatamente.
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

Código C: A criança apresenta movimentos repetitivos intensos de outras partes do corpo


(por exemplo, balança-se para frente e para trás, caminha na ponta dos pés) quando o
avaliador interrompe alguma atividade ou guarda um brinquedo de seu interesse, sendo
difícil distraí-la para outros estímulos.

Código D: Em diferentes situações ao longo da sessão a criança apresenta movimentos


repetitivos de outras partes do corpo (por exemplo, balança-se para frente e para trás,
caminha na ponta dos pés), sendo difícil distraí-la para outros estímulos.

17. Comportamentos Autolesivos (CA)

Esse item tem por objetivo avaliar comportamentos potencialmente lesivos,


direcionados a si mesmo (ex. morder a mão/braço, bater a cabeça em superfícies duras,
arrancar cabelos, bater em si próprio com ou sem objetos). Se os CA estiverem presentes,
observar a intensidade, os contextos em que ocorrem (identificar motivo desencadeador) e a
reação da criança perante a tentativa de interrupção pelo avaliador. Salienta-se que CA são
considerados intensos quando a criança permanece realizando a ação, mesmo após
tentativas do avaliador de direcionar sua atenção para estímulos externos.

Exemplos de comportamento que ilustram os códigos da Escala de Qualidade (A, B, C e D)

Código A: Em nenhum momento ao longo da sessão a criança apresenta comportamentos


autolesivos.

Código B: A criança apresenta comportamentos autolesivos (por exemplo, morde seu braço,
bate na cabeça com as mãos), mas quando o avaliador a convida para brincar, fazendo
bolhas de sabão, a criança cessa esses movimentos imediatamente.

Código C: A criança apresenta comportamentos autolesivos (por exemplo, morde seu braço,
bate na cabeça com as mãos) quando o avaliador interrompe alguma atividade ou guarda
um brinquedo de seu interesse, sendo difícil distraí-la para outros estímulos.

Código D: Em diferentes situações ao longo da sessão a criança apresenta comportamentos


autolesivos (por exemplo, morde seu braço, bate na cabeça com as mãos), sendo difícil
distraí-la para outros estímulos.
PARTE I - O Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

Considerações finais

No presente capítulo a versão atual do Sistema PROTEA-R de Avaliação do


Transtorno do Espectro Autista foi apresentada, visando, em especial, orientar o clínico para
a administração do PROTEA-R-NV. Para tanto, foram expostos os cuidados necessários no
planejamento e organização da sessão de observação do comportamento infantil. Atentar
para a organização do espaço físico, para a seleção apropriada dos brinquedos e para a
estruturação da sessão respeitando os settings propostos, bem como conhecer algumas das
estratégias que facilitam a interação avaliador-criança nos diferentes contextos de avaliação
(livre e dirigido), são aspectos fundamentais para a aplicação e codificação adequada do
instrumento. Isto porque muitos dos comportamentos a serem avaliados podem ser
influenciados pela maneira como o clínico apresenta algum objeto ou organiza a sala de
atendimento, por exemplo. Do mesmo modo, ressalta-se a relevância da apropriação teórica
e operacional de todos os conceitos/itens que compõe o PROTEA-R-NV, pois é somente a
partir dela que o clínico conseguirá manejar as situações durante a sessão visando criar
condições favoráveis para que os comportamentos-alvo possam emergir dentro do período
estipulado para a sessão. Por tal razão, a leitura desse capítulo faz-se indispensável à todos
profissionais que pretendem administrar o PROTEA-R-NV, se tratando também de uma
introdução a assuntos abordados de forma mais detalhada nos capítulos subsequentes
deste manual. A partir deste momento, o leitor será instruído especificamente sobre as
normas para administração (Capítulo 4) e codificação (Capítulo 5) do protocolo
PROTEA-R-NV. Por fim, o leitor será conduzido para a parte III deste manual, referente às
entrevistas de anamnese e devolução.

Referência

American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental


disorders (5th ed.). Washington, DC: American Psychiatric Association.

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