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Gestações provenientes de um ou mais ciclos ovulatórios que resultam no desenvolvimento intrauterino de mais de um
zigoto ou na divisão de um mesmo zigoto são consideradas gestações múltiplas, independentemente do número final
de neonatos.
Epidemiologia
A mortalidade neonatal, por exemplo, aumenta entre cinco e seis vezes nas gestações múltiplas em comparação
com as gestações únicas;
O risco de paralisia cerebral, por sua vez, aumenta em oito vezes nas gestações gemelares e, nas gestações
trigemelares, atinge cerca de 47 vezes o observado nas gestações únicas;
As gestações múltiplas respondem ainda por cerca de 10 a 15% da mortalidade perinatal.
Fatores que aumentam a incidência: história familiar materna, aumento da idade materna (até cerca de 37 anos) e
aumento da paridade, uso de medicações para induzir a ovulação e a transferência de múltiplos embriões nos ciclos de
reprodução assistida.
Gestações múltiplas estão associadas ao aumento da morbiletalidade perinatal, notadamente resultado de maior
número de recém-natos prematuros e de baixo peso.
17% dos partos pré-termo (< 37 semanas);
23% dos partos muito pré-termo (< 32 semanas);
24% dos recém-nascidos de baixo peso (< 2.500 g);
26% dos recém-nascidos de muito baixo peso (< 1.500 g);
25% dos óbitos pré-termo.
Diagnóstico da gemelaridade
Anamnese
Pesquisar história familiar ou pessoal de gestação múltipla;
Pesquisar uso recente de indutores da ovulação;
Sensação de útero maior que o esperado para a idade gestacional.
Exame físico
No exame físico deve-se procurar por sinais que levantem a suspeita de uma gestação gemelar.
Aumento exagerado da circunferência abdominal e do fundo uterino;
Individualização de partes de dois fetos;
Palpação da cabeça fetal, pequena para o tamanho do útero;
Ausculta dos batimentos cardíacos de dois ou mais fetos: o sinal é mais específico quando for identificada uma zona
de silêncio entre os focos de ausculta e uma diferença de frequência cardíaca fetal de 10 bpm entre os focos de
ausculta.
Exames complementares
Dosagem Quantitativa de Beta-hCG: a presença de dosagens quantitativas de beta-hCG acima de 50.000 mUI/ml
levanta a suspeita de gestação múltipla;
Ultrassonografia (USG): o emprego rotineiro da USG para datar a gravidez e avaliar a vitabilidade ovular diminuiu a
incidência de gestação gemelar não diagnosticada. Essas gestações podem ser diagnosticadas pela visualização de
dois ou mais sacos gestacionais, em geral entre quatro e cinco semanas de gestação pela USG Transvaginal (USGTV).
Com a evolução da gestação são identificados pela USGTV, dois ou mais embriões (entre cinco e seis semanas) e as
atividades cardioembrionárias (entre seis e sete semanas).
Diagnóstico da zigotia
A USGTV de primeiro trimestre não é confiável para determinação da
zigotia. Em aproximadamente 35% dos casos, a zigotia pode ser definida
como DZ pelo achado de sexo discordante e placenta dicoriônica. Em 20%
dos casos é certa a MZ pelo achado de placenta monocoriônica.
No entanto, em 45% dos gemelares, a zigotia é indeterminada, pois,
embora o sexo seja concordante, a placenta é dicoriônica. Assim, em
outras palavras, às vezes, não é possível determinar a zigotia antes do
parto, sobretudo nos casos de gestações dicoriônicas e diamnióticas.
Neste caso, somente testes genéticos poderão determiná-la. Assim, a
determinação antenatal pediria a realização de um teste invasivo, como a
biópsia de vilo, amniocentese ou cordocentese. Cabe aqui destacar que
esses exames não são realizados de rotina.
Diagnóstico de corionicidade
Saco gestacional
A melhor fase para diagnóstico ultrassonográfico da corionia é entre 6 e 9 semanas, quando o achado de saco gestacional
duplo identifica a placentação dicoriônica. Contrariamente, o diagnóstico de SG único leva ao diagnóstico de
monocorionia.
Na monocorionia, há ainda que se determinar se a variedade é MA ou DA. O âmnio só é visível após oito semanas de
gravidez e o número de Vesículas Vitelinas (VV) só caracteriza a monoamniótica quando é único. A presença de duas VV
corresponde à gestação DA. A gravidez MC/MA apresenta vesícula única e não exibe membrana intergemelar. Dois
embriões vistos em um único saco gestacional, não se visualizando membrana entre eles, confirmam uma gestação
MC/MA. Obviamente, neste caso só pode se tratar de gestação monozigótica.
A variedade MC/DA é identificada entre cinco e seis semanas pela presença de duas vesículas vitelinas no mesmo saco
gestacional, e após essa época, pela existência de membrana amniótica fina, separando os gêmeos.
Sinal do T
Este sinal também pode ser surpreendido na determinação da corionia entre 11 e 14 semanas. Na
variedade MC, a inserção do septo na placenta corresponde ao sinal T e a sua espessura é < 1,5 mm.
O twin peak é um sinal de dicorionicidade. Ele é encontrado na placentação DC/DA. O sinal T é um
sinal de monocorionicidade. Ele é encontrado na placentação MC/DA.
Acompanhamento das gestações gemelares
Datação da gestação
O melhor parâmetro para determinar a idade gestacional nas gestações múltiplas é o comprimento cabeça-nádega
(CCN) do maior embrião. Essa medida deve ser feita, preferencialmente, no primeiro trimestre da gestação, por via
transvaginal, até nove semanas, ou, posteriormente, por via abdominal, independentemente do número de embriões
ou da diferença de tamanho entre eles.
A discordância de CCN maior de 10% (CCN feto maior - CCN feto menor/CCN feto maior x 100) está associada ao aumento
de resultados adversos na gravidez, tanto nas gestações MCs quanto nas DCs (aborto, morte fetal superior a 24 semanas,
discrepância de peso no nascimento, parto prematuro e malformações), embora o valor preditivo seja baixo e a utilidade
clínica, limitada.
Quando a idade gestacional é superior a 14 semanas, deve-se usar a maior circunferência cefálica para datar a gestação.
Complicações
CIUR: feto com peso estimado abaixo do percentil 10 ou discordâncias de peso dos fetos ≥20%.
CIUR seletivo
- M.C: - peso fetal < p10; -discordância de peso estimado >25%; -IP da artéria umbilical do feto menor >p95 em um dos
fetos; circunferência abdominal >p10
- D.C: - peso <p10; discordância de peso >25%; -IP da artéria umbilical do feto menor >p95
- Tipo de fluxo diastólico na arteria umbilical para fetos m.c:
Tipo I: pesistentemente positivo;
- sem STFF: conduta expectante e acompanhamento ultrassonográfico com Doppler semanal ou quinzenal.
Resolução: piora do Doppler da AU. Em geral, o parto ocorre com 34 a 36 semanas. A sobrevida de ambos os
gêmeos é de 95%.
- com STFF: ablação endoscópica a laser dos vasos placentários
Tipo II: persistentemente ausente ou reverso;
- sem STFF: deve-se considerar ablação a laser das anastomoses placentárias até 26 semanas a sobrevida do feto
maior é de 70% e do menor, se DV com diástole positiva, é de 40%, e se diástole do DV zero ou reversa, sobrevida
apenas de 10%. O momento do parto depende o ducto venoso semanalmente até 26/28 semanas.
- com STFF: ablação endoscópica a laser dos vasos PLACENTÁRIOS.
Tipo III: peristemente positivo/ausente/reverso;
- de prognóstico intermediário, a idade gestacional média do parto é de 32 semanas. Pela proximidade dos
cordões umbilicais, a cirurgia a laser pode ser impossível. A conduta é acompanhar DV.
Se TPP: Se for necessário fazer tocolise, devido a maior volemia materna, deve-se evitar o uso dos beta-agonistas
(terbutalina), pelo maior risco de edema agudo de pulmão. Dar preferência para o uso da nifedipina ou de atosiban
(quando disponível), prescritos nas mesmas doses das gestações únicas.
Óbito de um dos fetos:
-Dicoriônica: Gestações dicoriônicas: devido às placentas serem separadas e por não haver comunicações vasculares
entre as circulações dos dois fetos, o óbito de um dos fetos não apresenta risco de óbito ou sequelas neurológicas para
o sobrevivente. Há risco maior de parto prematuro. A conduta nesses casos é expectante com indicação de resolução
da gestação no termo
- Gestações monocoriônicas: pela existência de comunicações vasculares entre as circulações fetais nessas gestações, o
óbito de um dos fetos pode levar ao óbito do outro feto ou a sequelas neurológicas que são decorrentes da
exsanguinação do sobrevivente para o feto em óbito, com consequente hipotensão, anemia fetal e dano cerebral do
feto sobrevivente. Devem-se avaliar sinais de anemia por meio do pico de velocidade sistólica máxima da artéria cerebral
média. O acompanhamento fetal é mantido a cada 2 semanas, e o parto é indicado com 36 semanas
Sequencia anemia-policitemia
- Gêmeo receptor torna-se policitêmico e o doador anêmico
- pode gerar Policitemia grave (trombose fetal e placentária) e Anemia grave (hidropsia fetal)
Síndrome da transfusão feto-fetal (STFF)
A STFF é uma complicação específica e exclusiva das gestações monocoriônicas, atingindo entre 10 e 15% delas. É
caracterizada pela transferência não balanceada de sangue entre as circulações dos dois fetos, que ocorre através de
anastomoses vasculares arteriovenosas placentárias.
Essa transferência de sangue provoca anemia no gêmeo doador, com restrição do crescimento grave acompanhada de
oligúria e oligoâmnio, enquanto o feto receptor recebe uma sob recarga circulatória e apresenta policitemia, que pode
levar ao desenvolvimento de complicações cardíacas e hidropsia. A cavidade amniótica do gêmeo receptor pode sofrer
polidrâmnio grave, que acarreta o aumento da pressão intrauterina e pode prejudicar ainda mais a circulação
placentária.
Observa-se polidrâmnio agudo nos casos graves, sendo possível detectar sua ocorrência entre 16 e 24 semanas de
gestação. Sua ocorrência está associada a altas taxas de óbito fetal espontâneo de um ou ambos os fetos, abortamento,
RPMO e parto prematuro. A taxa de mortalidade nos casos não tratados chega a 80 a 100%.
A presença de discordância de TN ≥ 20%, ducto venoso com onda A reversa ou refluxo tricúspide em qualquer um dos
fetos no primeiro trimestre, bem como a existência de discordância precoce na quantidade de líquidos amnióticos, são
sinais preditivos de risco aumentado de STFF e podem ajudar a identificar pacientes de maior risco. Porém, o diagnóstico
é feito na presença da sequência oligo-polidrâmnio, quando atende aos seguintes critérios:
- Receptor com maior bolsão vertical > 8 cm (≤ 20 semanas)/>10 cm(> 20 semanas).
- Doador com maior bolsão vertical < 2 cm (oligo)
Com o objetivo de melhorar a sobrevida dos fetos, diversas técnicas foram propostas para o tratamento dessa síndrome.
Podem ser ciadas a amniodrenagem, a cirurgia endoscópica com laser, a septostomia e o feticídio seletivo.
O tratamento de eleição é a ablação a laser das anastomoses vasculares e dicorionização equatorial (técnica de Solomon)
para os estágios 2 e superiores entre 17 e 28 semanas gestacionais. No estágio 1, o acompanhamento é conservador com
ultrassonografia e Doppler semanalmente ou duas vezes por semana. No estágio 1, a presença de polidrâmnio
acentuado que causa desconforto materno e colo uterino menor que 25 mm podem ser considerados indicação para
realização de laser.
Prematuridade
A prematuridade ocorre em 30 a 50% das gestações múltiplas. Por conta dessa frequência elevada, o parto prematuro
é o principal fator determinante de morbidade e mortalidade nessas gestações.
Para essa finalidade, os testes que demonstraram melhor desempenho foram a avaliação cervical ultrassonográfica e a
determinação da fibronectina fetal em conteúdo cervicovaginal.
Preconiza-se redução das atividades físicas, da jornada e da carga de trabalho, com dispensa precoce nos casos
necessários.
Os agentes uterolíticos são capazes de prolongar a gestação por um período de 24 a 48 horas quando administrados
durante o trabalho de parto prematuro. Gestantes gemelares que recebem essas medicações devem ser monitorizadas
em razão do risco aumentado de edema pulmonar.
Corticosteroides devem ser administrados apenas em gestações viáveis, porém abaixo de 34 semanas, que apresentem
fortes indícios de risco de parto nas próximas 48 horas.
Há evidências de benefícios com a suplementação com progesterona para prevenir a prematuridade em gestações com
antecedente de parto pré-termo; no entanto, não se observou redução nas taxas de parto prematuro com seu uso em
gestações gemelares em estudos prospectivos.
Óbito fetal
Gestação gemelar é um fator de risco para óbito fetal. Nas gestações em que ocorre óbito de um dos fetos, há risco
aumentado para óbito do outro gemelar, sequelas neurológicas e parto pré-termo. Quanto mais precoce for o óbito
fetal, menores serão essas chances. Essa correlação é mais clara nos casos em que os fetos são de sexos concordantes.
Além da idade gestacional em que ocorre o óbito, fatores como a corionicidade, a causa específica e o intervalo de
tempo do óbito fetal até o nascimento do outro gemelar influenciam o prognóstico do(s) gemelar(es) remanescente(s).
Nas gestações monocoriônicas, há 15% de chance de óbito do outro gemelar quando ocorre óbito de um dos fetos.
Sequelas neurológicas no gemelar sobrevivente, decorrentes de encefalomalácia multicística, ocorrem em 26% dos
casos. Com o óbito de um gemelar, a volemia do feto sobrevivente é transferida para o território vascular do gemelar
morto, causando hipotensão e isquemia abruptas no feto sobrevivente. A expansão volêmica do gemelar sobrevivente
de gestação monocoriônica pode ser realizada por cordocentese ou transfusão intrauterina. Os resultados decorrentes
desses procedimentos ainda são controversos, mas há relatos recentes de sua adoção.
Em gestações dicoriônicas, como não há anastomoses vasculares entre as placentas, o risco de desequilíbrio
hemodinâmico para o gemelar remanescente é mínimo. Nesses casos, o feto que morre pode ser reabsorvido ou
permanecer envolto pelas membranas e ser comprimido contra a parede uterina materna (feto papiráceo). Desde que
a causa específica do óbito fetal não contribua com o aumento do risco para o gemelar remanescente, a conduta pode
ser expectante. Quando há prejuízo potencial, a conduta deve ser adequada para minimizar os riscos para o outro feto.
Nas gestações dicoriônicas, pode ocorrer a reabsorção do feto que morre. Caso ele permaneça no útero, envolto pelas
membranas, será comprimido contra a parede uterina materna (feto papiráceo). Como não há anastomoses vasculares
entre as placentas, o risco de desequilíbrio hemodinâmico para o gemelar remanescente é mínimo. A conduta nesses
casos dependerá da causa do óbito fetal. Quando há risco potencial para o feto remanescente, a conduta deve ser
adequada para minimizar esse risco. Por outro lado, se não houver risco aumentado para o gemelar remanescente, a
conduta pode ser expectante.
A ocorrência de coagulação intravascular disseminada (CIVD) em gestações gemelares com um feto morto é baixa.
Caso ocorra o óbito de ambos os fetos, a via de parto preferencial é a vaginal. As condições maternas devem ser
acompanhadas com exames laboratoriais durante o período de latência do parto.
Quando a maturidade fetal já foi atingida, caso sejam detectados sinais iminentes de óbito de um dos fetos, o profissional
pode recomendar a resolução da gestação com o objetivo de salvaguardar as chances do feto comprometido. Por outro
lado, se esses sinais forem detectados antes de se atingir a maturidade fetal, a decisão a ser tomada é um dilema. A
conduta deve ser individualizada. O objetivo deve ser maximizar as chances de sobrevivência de ambos os fetos ou, pelo
menos, do feto normal. A resolução prematura da gestação poderá expor o feto normal aos riscos de sequela e óbito.
As seguintes alterações ultrassonográficas, presentes em um ou nos dois fetos, necessitam de avaliação especializada:
Líquido amniótico anormal (maior bolsão 8 cm).
Peso fetal estimado menor do que o percentil 10.
Discordância de peso dos fetos ≥20%.
Presença de malformação.
Doppler de artéria umbilical anormal ou PSVmax da ACM aumentado.
Na gestação dicoriônica:
as consultas podem ser mensais até a 28ª semana de gestação e,
posteriormente, a cada 15 dias até 34 semanas, seguindo-se
semanalmente até o parto.
Realizar exame de Streptococcus com 32 semanas
USG:
- Realizar entre 11 a 13s6d;
- Morfológica entra 20 a 23s6d e após mensal de 24 a 38 semanas
Parto:
- deve acontecer até 38 semanas
Monocorionica:
as consultas devem ser realizadas a cada 15 dias, após a 16ª semana
de gestação, até 34 semanas, e depois semanal até o parto.
Realizar exame de Streptococcus com 30 semanas
USG:
-Realizar entre 11 a 13s6d;
-Quinzenal de 16 semanas a 36 semanas.
Risco de síndrome da transfusão feto-fetal (STFF)
Condições para tentativa de parto vaginal - Pode ser tentado de maneira segura nas gestações dicoriônicas e nas
monocoriônicas diamnióticas nas seguintes condições:
Primeiro gemelar em apresentação cefálica.
Peso dos fetos entre 1.500 g e 4.000 g.
Segundo gemelar com peso estimado menor, ou com peso no máximo de 20% maior, do que o primeiro gemelar
em exame ultrassonográfico recente.
Possibilidade de monitorização contínua da frequência cardíaca fetal dos dois fetos.
Analgesia com cateter permitindo a complementação de anestésico, de acordo com eventuais necessidades de
manobras, parto instrumentalizado ou mesmo conversão para cesárea.