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Os clubes de accionistas remontam ao início dos anos 90 e apesar de terem mais de uma
década, são ainda pouco divulgados. Têm expressão sobretudo em França e traduzem
uma evolução do Governo das Sociedades que concretiza a vontade das empresas em
melhorarem a comunicação com o accionista individual, no sentido de o fidelizarem.
Em Portugal, o primeiro círculo de accionistas foi implementado apenas em 2008.
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1. Introdução
A crise que atravessamos e que teve como epicentro o crédito de alto risco dos EUA, o
designado subprime, veio trazer um conjunto de novas questões e a voltar a colocar de
novo em cima da mesa outras relacionadas com o governo das sociedades, a supervisão,
a protecção e a educação financeira do investidor, com especial enfoque no investidor
particular.
Importa aqui centrar a nossa atenção naqueles que são os mais desprotegidos e que mais
vezes vêem ameaçados os seus legítimos interesses; falamos do investidor particular.
Um dos principais propósitos da regulamentação produzida pelas entidades reguladores
e de supervisão ao nível do governo das sociedades, em termos internacionais e em
particular na Europa, orienta-se no sentido de reduzir as assimetrias, nomeadamente no
que respeita ao acesso à informação entre os investidores institucionais e os particulares,
entre os grandes e os pequenos accionistas.
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poder ter algum privilégio face aos demais. Só que, na realidade, os investidores
institucionais, pelos meios que dispõem, têm naturalmente um acesso à informação e
uma capacidade de a digerir completamente diferente do investidor particular. Da
mesma forma, e em função das estruturas do capital, os accionistas representados nos
órgãos sociais das empresas, acabam, por esta via, por ter acesso à informação em
primeira-mão. Pelo que, nestes casos, não se trata só de equidade da informação mas
também da quebra do princípio da simultaneidade no acesso à informação por parte de
todos os accionistas.
Interessa assim, criar mecanismos que minorem estas situações e conduzam a uma
redução efectiva das assimetrias entre os accionistas, no que respeita ao seu
conhecimento sobre a vida das sociedades.
Os mercados bolsistas são mercados de antecipação, pelo que a percepção por parte dos
investidores, corresponde em termos do seu comportamento, a uma equivalência entre
percepção e realidade.
Segundo Quintela (2006:56) «se a imagem de uma empresa é já por si um factor que
condiciona, em qualquer actividade, o relacionamento de uma empresa como os seus
públicos, no domínio dos mercados financeiros assume uma expressão ainda mais
acentuada. Esta imagem tem aqui especial relevância, por se tratarem de mercados de
antecipação (Schwebig,1988), em que todas as representações, neste caso da empresa,
são fundamentais para um investidor quando este avalia uma decisão de investimento».
Uma das máximas popularizada nas bolsas é que se deve comprar no rumor e vender na
notícia. Pois bem, a imagem é um reflexo de um conjunto de sinais que a empresa emite
em interacção com o seu meio ambiente. A identidade é um conceito de emissão
enquanto a imagem é um conceito de recepção. Para Kapferer (2000:33), «trata-se de
especificar o sentido, o projecto a concepção de si da marca. A imagem é um resultado,
uma descodificação. Num plano de gestão, a identidade precede a imagem. Antes de ser
recebido, é preciso saber emitir».
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comunicação visual. Implica também outros processos, como o pensamento, a
percepção, a memória e, em suma, a conduta».
As relações com os investidores são «uma área especializada das relações publicas
institucionais» (Cutlip et al., 1999:6-21), sendo as relações publicas, segundo os
mesmos autores, «uma função de gestão que visa estabelecer uma relação mutuamente
benéfica entre a organização e os seus públicos de cujo sucesso ou fracasso dependem».
Os programas de comunicação com investidores por parte das empresas cotadas visam
fundamentalmente o investidor institucional. Esta realidade deve-se ao facto de serem
estes que dispõem dos activos mais elevados, aqueles que mais investem. Um “tiro
certeiro” num investidor institucional pode equivaler, em termos de valor absoluto, a
centenas de investidores particulares. O trabalho dos responsáveis pelas relações com os
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investidores vai assim, no sentido de que as empresas sejam cobertas pelo maior
número de casas de aconselhamento, para estarem no radar de investimento dos gestores
de carteiras e analistas.
Regulador
Empresa
Analistas buy-side
Analistas sell-side •Instituções
•Brokerage Firms
Gestores de Carteiras
•Bancos
Retail Registered • Seguradores
Representatives •Mutual Funds
•Investment Advisors European/Asian
Institucional
Money
Managers
Investidores
Individuais
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A comunicação com o investidor particular, é assim secundarizada, ou mesmo
esquecida, por parte de muitas empresas. Esta situação vem de alguma forma contribuir
para que as assimetrias de informação entre institucionais e particulares se mantenham.
Numa altura em que se procura restabelecer a confiança, torna-se imperativo criar um
conjunto de mecanismos que favoreçam a proximidade entre investidores e aqueles que
procuram captar investimentos. Neste sentido, não se pode desperdiçar uma fatia tão
significativa ao nível de recursos, como é o caso dos investidores particulares. Importa
portanto criar um conjunto de mecanismos que possam promover essa proximidade e
contribuir para a normalidade dos mercados.
4 Os clubes de accionistas
O combate à assimetria de informação, a uma melhor educação financeira por parte dos
investidores particulares, passa pela necessidade de criar uma maior proximidade entre
estes e a empresa e de lhes disponibilizar um conjunto de ferramentas e informação que
lhes possibilitem um melhor conhecimento dos mercados e das empresas dando-lhes
uma maior capacidade para avaliarem o risco associado aos seus investimentos.
Neste contexto os clubes ou círculos de accionistas afiguram-se como uma resposta que
pode contribuir para esse desígnio.
Os clubes de accionistas remontam ao início dos anos 90 e apesar de terem mais de uma
década, são curiosamente ainda pouco divulgados. Na Europa, têm expressão sobretudo
em França e traduzem uma evolução do Governo das Sociedades que concretiza a
vontade das empresas de melhorarem a comunicação com o accionista individual, no
sentido de promoveram uma maior proximidade e fidelização.
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Cada clube define os seus próprios objectivos, pelo que podemos encontrar empresas
que se centram na informação e formação, outras que pretendem tornar o accionista em
consumidor ou em embaixador das suas marcas, produtos e serviços. Apesar desta
diversidade, há no entanto um objectivo comum a todos eles: reforçar a ligação aos
accionistas particulares.
Um estudo da Euro RSCG Omnium de Outubro de 2001, citado por Léger (2003:196)
junto das empresas que integravam o CAC 40, índice que representa as 40 principais
sociedades cotadas francesas, apresentava 15 sociedades que afirmavam ter um clube,
sendo que a Société Générale (1992) era a que apresentava maior antiguidade, seguida
da LVMH (1994) e do BNP Paribas e Renault (ambos em 1995).
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Partimos desta informação e fomos analisar algumas das empresas cotadas na
NYSE/Eurnext, em Paris, com clube ou círculo de accionistas de forma a percebermos
como funcionam. A nossa análise incidiu sobre documentação produzida pelas próprias
empresas e disponibilizada na Accionaria, feira destinada a investidores particulares e
com forte presença de clube de accionistas que teve lugar em Novembro de 2008, no
Pavilhão dos Congressos em Paris. Paralelamente consultámos também a informação
disponibilizada por estas empresas nos seus sites na Internet. Este estudo, procurou
perceber como funcionam estes clubes, quais são os seus objectivos, quais os seus
critérios de adesão, como se organizam, que informação disponibilizam, quais as
principiais mensagens que veiculam e que tipo de programas desenvolvem. As
empresas analisadas foram: AXA, Arkema, Accor, Compagnie dês Alpes, EuroDisney,
LVHM, CNP, Club Med, EuroDisney, BNP Paribas, Sociré General; Lafarge, Groupe
Carrefour, Veolia; EDF; Crédit Agricole e Sait- Gobain.
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• Fomento à participação na Assembleia Geral;
Comités de Accionistas
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No que respeita à informação disponibilizada, esta passa essencialmente por:
Outros casos, como as empresas LVHM e a seguradora CNP permitem através do clube
aos seus accionistas particulares acederem às suas características mais marcantes –
acesso ao know-how de gestão de crise e de gestão de patrimónios, esta, no caso da
CNP Assurance.
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No que concerne aos critérios de adesão, os Clubes ou Círculos de Accionistas são
normalmente reservados a pessoas físicas com acções da empresa. A existência de
acções nominativas e ao portador em França faz com que quase todas as empresas
requeiram um mínimo de acções nominativas (uma a cinco geralmente). Muitas
empresas não diferenciam o número de acções detidas, não diferenciando assim os
accionistas particulares na adesão. No entanto, alguns programas para membros de
clubes de accionistas exigem um número mínimo de acções, privilegiando quem tem
mais acções, como é o caso da Compagnie des Alpes, ou então aplicam uma franquia
para aceder aos programas, de um mês, no caso do Club Med.
Para a grande maioria dos Clubes de Accionistas a adesão é gratuita para todos os
accionistas. Mas há algumas excepções, com a EuroDisney que exige um pagamento de
EUR 30 a quem tiver menos de 2.000 acções.
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contemplam, no caso da Arkema os seguinte pontos: Missão, Condições de adesão,
Formalidades de adesão, Duração, Serviços do Clube, Utilização da Informação. Os
estatutos do Clube de Accionistas do ClubMed são bastante conservadores, e incluem
além dos pontos mencionados acima, referência à anuição dos direitos de imagem dos
membros e a comprovação de titularidade para usufruir das ofertas. O tratamento da
informação relativa aos seus membros está sujeita ao enquadramento legal aplicável.
Existem no entanto, algumas empresas cujas suas ofertas são baseadas em outros
critérios, como são os caso da: Arkema, cursos de primeiros socorros e da AXA, com
produtos vinícolas de empresas do grupo.
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O Caso Português
5. Conclusões
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possibilitam um melhor conhecimento sobre a empresa e um desenvolvimento de
relações mais estreitas.
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iniciativas como o clube/circulo de accionistas, assumem actualmente um papel
essencial.
Bibliografia
CUTLIP, Scott M., CENTER, Allen H., e BROOM, Glen M. (1999), Effective Public
Relations, New Jersey, Prentice Hall International, Inc. 8ª edição
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WESTPHALEN, M.-H.(1989), A Comunicação na Empresa, Lisboa, Rés
Sites consultados:
www.inapa.pt
www.carrefour.com
www.lafarge.com
www.compagnidesalpes.com
www.edf.fr
www.credit-agricole-sa.fr
www.total.com
www.bnpparibas.fr
www.arkema.com
www.axa.fr
www.credit-agricole-sa.fr
www.airliquide.com
www.socgen.com
www.lvhm.com
www.accor.com
www.clubmed.com
www.eurodisney.com
www.cnp.fr
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