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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO

Identificação
PROCESSO nº 0060500-45.1995.5.04.0301 (AP)
AGRAVANTE: CLAUDEMIR DE NEGRI
AGRAVADO: RAPIDO TRANSPORTE MOREIRA LTDA, IRACY TEREZINHA MOREIRA,
CELSO ROQUE MOREIRA, ISABEL CRISTINA SCHMIDT MOREIRA
RELATOR: JOAO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA

EMENTA

AGRAVO DE PETIÇÃO. REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO. EX-CÔNJUGE. Na

jurisprudência deste Colegiado, entende-se que há presunção de que ambos os cônjuges se beneficiaram
com os resultados financeiros decorrentes do empreendimento do qual um deles foi sócio. É legítima, por
conseguinte, a pretensão de incluir os dois no polo passivo da execução, para que respondam pelo débito
trabalhista contraído na constância do casamento em seu benefício.

Agravo de petição interposto pelo exequente a que se dá provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da Seção Especializada em Execução do Tribunal

Regional do Trabalho da 4ª Região: por maioria, dar provimento ao agravo de petição interposto pelo
exequente para determinar a inclusão no polo passivo, com o redirecionamento da execução em face da
Sra. Isabel Cristina Schmidt Moreira.

Intime-se.

Porto Alegre, 12 de julho de 2023 (quarta-feira).

RELATÓRIO

Assinado eletronicamente por: JOAO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA - 21/07/2023 00:08:50 - 7b9adc7
https://pje.trt4.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=23032314585173300000133604912
Número do processo: 0060500-45.1995.5.04.0301 ID. 7b9adc7 - Pág. 1
Número do documento: 23032314585173300000133604912
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Inconformado com a decisão proferida pelo Juiz Paulo Andre de Franca Cordovil, que julgou
improcedente o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, agrava de petição o exequente.

Busca a revisão da decisão quanto ao redirecionamento da execução.

Há contraminuta.

Processo não sujeito a parecer do Ministério Público do Trabalho.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

AGRAVO DE PETIÇÃO INTERPOSTO PELO EXEQUENTE.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.

Alega o exequente que a Sra. Isabel Cristina Schmidt e Celso Roque Moreira foram casados entre 27-10-
1984 e 15-07-2013, período concomitante com o trabalho prestado por ele junto aos executados, sendo
que entende plenamente possível o redirecionamento da execução, pois o trabalho prestado em favor de
um dos cônjuges reverteu em benefício do casal. Requer a inclusão da Sra. Isabel Cristina Schmidt
Moreira, CPF nº 597.887.550-20, no polo passivo da execução.

Vejamos a decisão de primeiro grau (fls. 587/589 do pdf):

"O Exequente requer a inclusão de ISABEL CRISTINA SCHMIDT MOREIRA no polo

passivo, em decorrência de decisões proferidas em outros processos, em tramitação na 4ª
Vara do Trabalho (0010740-48.1993.5.04.0304 e 0100900-92.1995.4.04.0304). Aduz em
seu requerimento que "constam evidências nos autos físicos de que ISABEL seria sócia
oculta da empresa."

Examina-se.

Da ficha cadastral da Executada obtida junto ao convênio JUCISRS, conforme fl 113 dos
autos físicos, verifica-se que a empresa, massa falida desde 1996, possuiu, como últimos
sócios, CELSO ROQUE MOREIRA e IRACY TEREZINHA MOREIRA. Isabel Cristina
Schmidt Moreira nunca participou como sócia da empresa.

Dos documentos carreados aos autos de fls 154 e seguintes, verifica-se a juntada de
cópias de acordos firmados em processos que tramitam na 4ª Vara do Trabalho desta
Comarca, sendo que, em um deles, ISABEL figura com parte, e em outro, como fiadora.
Também consta dos autos cópia de sentença proferida em sede de Embargos de Terceiro
ajuizados por ISABEL e julgados improcedentes, diante da aquisição de bem imóvel na
constância do casamento com o Executado CELSO ROQUE MOREIRA.

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Número do processo: 0060500-45.1995.5.04.0301 ID. 7b9adc7 - Pág. 2
Número do documento: 23032314585173300000133604912
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Em sua defesa, ISABEL informa que nunca participou da sociedade Executada e que até
2012 era sócia da empresa Eusébio Participações e Empreendimentos Ltda. Aduz ainda
que somente firmou acordo para pagamento de valores nos autos do processo nº
0100900-92.1995.5.04.0304 por conta da meação de Celso Roque Moreira nos imóveis
de matrícula 32926, 32927 e 32941.

Diante da não comprovação pela parte Exequente de que ISABEL participou

efetivamente da gerência ou administração da sociedade Executada, julga-se
improcedente o incidente instaurado. O simples fato de figurar em processo diverso como
fiadora ou de ter sido casada com o Executado não presume a existência de confusão
patrimonial ou desvio de finalidade a ensejar o redirecionamento da execução em face de
terceiro, nos termos do art. 50 do Código Civil.

Nesse sentido:

EMENTA AGRAVO DE PETIÇÃO DA EXEQUENTE. REDIRECIONAMENTO DA

EXECUÇÃO CONTRA SÓCIO OCULTO. Não comprovada a participação de pessoa
interposta com amplos poderes na administração da empresa executada e nem mesmo
quanto à movimentação financeira, não é autorizado o redirecionamento da execução
contra ela por supostamente se tratar de sócio oculto. (TRT da 4ª Região, Seção
Especializada em Execução, 0021457-84.2016.5.04.0101 AP, em 09/06/2022,
Desembargadora Lucia Ehrenbrink)

EMENTA REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO. SÓCIO OCULTO. Não há provas

capazes de configurar a condição de sócio oculto ou outro tipo de vinculação com os
executados a fim de ensejar confusão patrimonial, sendo inviável manter o
redirecionamento da execução a terceiro estranho ao feito como responsável pela
obrigação objeto da presente demanda.(TRT da 4ª Região, Seção Especializada em
Execução, 0087000-95.2002.5.04.0304 AP, em 26/05/2022, Desembargador Marcelo
Goncalves de Oliveira)

ANTE O EXPOSTO, julga-se improcedente o Incidente de Desconsideração da

Personalidade Jurídica de RAPIDO TRANSPORTE MOREIRA LTDA em face de ISABEL
CRISTINA SCHMIDT MOREIRA, devendo ser excluída do polo passivo, nos termos da
fundamentação."

É entendimento desta Seção Especializada que a meação de companheira do sócio executado, em tese,
também responde pelos débitos trabalhistas apurados, pois presume-se que a dívida trabalhista foi
contraída em benefício dos cônjuges, contribuindo para o crescimento do patrimônio do casal.

Neste sentido, por exemplo, o decidido no processo nº 0000017-03.2017.5.04.0261 (AP), julgado em 08-
10-2018, em acórdão de lavra do desembargador João Batista de Matos Danda; processo nº 0169500-
76.2001.5.04.0201 (AP), julgado em 08-10-2018, em acórdão de lavra da desembargadora Maria da
Graça Ribeiro Centeno; processo nº 0058200-39.2002.5.04.0601 (AP), julgado em 01-03-2019, em
acórdão de lavra da desembargadora Cleusa Regina Halfen; processo nº 0000833-87.2012.5.04.0122
(AP), julgado em 18-07-2018, em acórdão de lavra da desembargadora Ana Rosa Pereira Zago Sagrilo.

Verifica-se que a execução tem por objeto o pagamento de verbas trabalhistas decorrentes de contrato de
trabalho firmado entre o exequente e a executada Rápido Transportes Moreira Ltda, relativas ao período

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de 07-04-1993 a 10-08-1995 (fls. 67/69 do pdf). A empresa executada possui como titular o executado
Celso Roque Moreira e Iracy Terezinha Moreira incluídos no polo passivo à fl. 309 do pdf e a existência
de dívida no valor de R$ 24.577,88 (fl. 560 do pdf).

Após frustradas as tentativas de satisfação do crédito em face da empresa executada e dos seus titulares, o
exequente pugnou pelo redirecionamento da execução à ex-companheira do executado Celso Roque
Moreira.

Em 28-06-2022 o juízo de origem julgou improcedente o incidente de desconsideração da personalidade

jurídica em face da Sra. Isabel Cristina Schmidt Moreira, conforme decisão acima referida.

Incontroverso nos autos que a executada Isabel Cristina Schmidt Moreira e o executado Celso Roque
Moreira foram casados em regime de comunhão parcial de bens durante o período de 27-10-1984 a 15-
07-2013 (certidão de casamento de fl. 606 do pdf).

Assim, presume-se que desde o início do casamento a companheira se beneficiou dos ganhos do
executado.

Consoante o já referido, na jurisprudência desta Corte, entende-se que há presunção de que ambos os
cônjuges se locupletaram com os resultados financeiros decorrentes do empreendimento do qual um
deles foi sócio, em razão de união marital com a adoção do regime de comunhão parcial de bens na
constância do casamento.

Cabível, portanto, autorizar o redirecionamento da execução contra a ex-cônjuge, pois há presunção, não
afastada por qualquer prova, de que o trabalho prestado pelo exequente reverteu em favor do ex-casal,
pois as dívidas contraídas no exercício da administração obrigam os bens comuns e particulares da
companheira que os administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido, conforme § 1º do
art. 1.663 do Código Civil.

É possível, assim, a inclusão da Sra. Isabel Cristina Schmidt Moreira no polo passivo da presente
execução com consequente redirecionamento da execução.

Ante o exposto, dá-se provimento ao agravo de petição do exequente para reformar a decisão de origem e
determinar a inclusão no polo passivo, com o redirecionamento da execução em face da Sra. Isabel
Cristina Schmidt Moreira.

JOAO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA

Relator

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VOTOS

DESEMBARGADORA LUCIA EHRENBRINK:

AGRAVO DE PETIÇÃO INTERPOSTO PELO EXEQUENTE.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DIVERGÊNCIA.

Com a devida vênia, divirjo parcialmente do voto condutor no que tange ao redirecionamento da
execução à ex-cônjuge do executado Celso Roque Moreira.

Ocorre que não há necessidade de que a ex-cônjuge do sócio executado integre o polo passivo da
execução, uma vez que não figurou como sócia do executado e tampouco integrou a ação de
conhecimento.

Logo, no caso dos autos, o correto é que a ex-cônjuge (certidão de casamento do ID. d7741ee - período
de 27-10-1984 a 15-07-2013) responda com a sua meação em razão do regime da comunhão parcial de
bens adotado na união do casal (metade dos bens adquiridos pelo casal na constância da união).

Ou seja, comprovado o regime de casamento de comunhão universal ou comunhão parcial de bens (caso
dos autos), a ex-cônjuge responde pela dívida indiretamente, porque apenas os seus bens devidamente
indicados serão atingidos, podendo participar da relação processual apenas na condição de terceiro, e não
de executada.

Dessa forma, não se trata de redirecionamento da execução, mas de responsabilidade da ex-cônjuge pela
dívida por meio de seu patrimônio, considerando o presumível proveito auferido do trabalho do
empregado quando da vigência do contrato de trabalho.

Pelo exposto, dá-se parcial provimento ao agravo de petição do exequente para determinar a
responsabilização da Sra. Isabel Cristina Schmidt Moreira tão somente com o seu patrimônio, sem a sua
inclusão no polo passivo do presente processo.

DEMAIS MAGISTRADOS:

Acompanham o voto do(a) Relator(a).

PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:

DESEMBARGADOR JOÃO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA (RELATOR)

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Número do processo: 0060500-45.1995.5.04.0301 ID. 7b9adc7 - Pág. 5
Número do documento: 23032314585173300000133604912
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DESEMBARGADORA MARIA DA GRAÇA RIBEIRO CENTENO (REVISORA)

DESEMBARGADORA CLEUSA REGINA HALFEN (NÃO VOTA)

DESEMBARGADOR MARCELO GONÇALVES DE OLIVEIRA

DESEMBARGADORA LUCIA EHRENBRINK

DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA DE MATOS DANDA

DESEMBARGADOR ROSIUL DE FREITAS AZAMBUJA

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Número do processo: 0060500-45.1995.5.04.0301 ID. 7b9adc7 - Pág. 6
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