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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


PROJETO A VEZ DO MESTRE

A importância da Psicomotricidade no
desenvolvimento da criança na Educação
Infantil

Por: Fernanda de Almeida Ferreira

Orientador
Prof. Celso Sanchez

Rio de Janeiro
2007
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE

A importância da Psicomotricidade no
desenvolvimento da criança na Educação
Infantil

Apresentação de monografia à Universidade


Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicomotricidade.
Por: Fernanda de Almeida Ferreira.
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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, que com seu


carinho, sua dedicação sem limites, me fez prosseguir,
mesmo por caminhos difíceis. Ao orientador professor
Celso Sanchez, à professora Cristie Campello, aos
colegas de turma e meus alunos que me ensinam muito
mais do eu os ensino.
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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos os meus alunos, que a


cada dia me ensinam e a todas as crianças da Educação
Infantil.
Fernanda de Almeida Ferreira
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RESUMO

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema:

“A importância da Psicomotricidade no desenvolvimento da criança na

Educação Infantil”. Procura esclarecer o que é Psicomotricidade e a sua

importância para o desenvolvimento global da criança na Educação Infantil.

A justificativa que norteia o trabalho proposto é a necessidade de

fundamentação e de subsídios teórico-científicos sobre a relação da

Psicomotricidade com o desenvolvimento harmonioso da criança na Educação

Infantil, visando favorecer o desenvolvimento integrado dos domínios cognitivo,

afetivo-social e psicomotor e procurando mostrar que através do jogo e

atividades lúdicas pode-se proporcionar um processo de ensino-aprendizagem

significativo e contextualizado, numa visão ampla e fundamentado da criança.

Apresenta a evolução do desenvolvimento psicomotor da criança, como

também atitudes que o educador deve ter enquanto observador deste

desenvolvimento e facilitador do processo de aprendizagem. Tem também a

intenção de esclarecer os profissionais da Educação Infantil sobre a questão do

lúdico, enfatizando a sua importância na vida da criança, estando a mesma,

portanto, na faixa etária de quatro a seis anos e no estágio pré-operatório de

desenvolvimento.
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SUMÁRIO

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO...........................................................................08

CAPÍTULO II – PSICOMOTRICIDADE.............................................................15

CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA............20

3.1. Elementos básicos da psicomotricidade.....................................................20

- Esquema Corporal...........................................................................................21
- Lateralidade.....................................................................................................24
- Orientação Espaço-temporal...........................................................................26

3.2. A Educação Infantil.....................................................................................30

- Corpo, Movimento e Ludicidade na Educação Infantil....................................30


- Estágios do Desenvolvimento Infantil..............................................................34

3.5. A Psicomotricidade e o desenvolvimento infantil........................................35

CAPÍTULO IV – A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL............37

4.1. Exercício Global de Motricidade.................................................................38

4.2. Condições Materiais e Organização das Atividades de Expressão Livre e


dos Jogos Organizados.....................................................................................40

4.3. Educação Infantil: Espaço de Criação, Construção e Conhecimento........42

CONCLUSÃO....................................................................................................45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................47
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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Tendo em vista os primeiros anos de vida ser de fundamental

importância para o desenvolvimento subseqüente da criança, fica mais do que

evidente a relevância e o papel da educação infantil na formação integral do

indivíduo, para uma sociedade em contínua mudança.

O conhecimento do mundo da criança nesse período depende das

relações que ela vai estabelecendo com os outros e com as coisas. O que

conhece de si e das coisas é insuficiente para estabelecer relações de grupo e

por isso, centra seu brinquedo em sua própria atividade, em seus interesses. O

egocentrismo é, portanto, a marca da criança na educação infantil.

Esse é o aspecto que vai sendo modificado pouco a pouco e se o

espaço da escola permite que a criança aja em liberdade, ela vai

gradativamente se socializando e estabelecendo relação de troca com outras

crianças.

A criança na educação infantil necessita de desenvolvimento e

ajustamento da Psicomotricidade, que é responsável pelo desenvolvimento do

acervo motor da criança, ou seja, novas estruturas psicomotoras devem ser

incorporadas e experiências motoras adquiridas e ajustadas. A criança precisa


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de aptidões perceptivas e estruturação espaço-temporal para melhorar o

esquema corporal.

Reconhecer a pré-escola como um espaço de construção e de produção

de conhecimento ainda é um desafio para muitos pais e educadores, pelo fato

de prevalecer a idéia de que as crianças pequenas vão para escola só para

brincar e não para aprender.

O ato de brincar, o brinquedo e o jogo têm sido temas recorrentes no

que tange as questões da educação. Discutir este tema significa reconhecer a

importância do mesmo nos espaços pedagógicos da Educação Infantil; já que

se encontra, no brincar e nas práticas sociais que lhe são próprios, farto

material que se descortina, aos olhos da professora como sedutor equipamento

metodológico tal como são os brinquedos da vitrine aos olhos das crianças.

Foi o fato de pensar diferente, de acreditar que a criança tem muito a

aprender e de que é no ambiente da pré-escola que ela vai conseguir isso de

forma mais ampla e significativa, que me levou à escolha do tema.

É verdade que a criança em idade pré-escolar gosta muito de brincar, e

de maneira alguma ela dever ser privada disso. O que queremos deixar claro é

que a brincadeira que ocorre na pré-escola não deve ser isolada e sem

significado, pois enquanto brinca a criança está fazendo descobertas. É

brincando que ela estabelece as relações com os outros, consigo mesma e


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com o mundo. São essas relações que vão permitir o seu desenvolvimento

afetivo, social, cognitivo, corporal e motor.

Enquanto brinca, a criança utiliza o seu corpo e a sua mente e é aí que

entra a educação psicomotora, pois é fazendo uso dela que poderemos

contribuir de forma prazerosa para o processo de “construção” e

desenvolvimento da criança.

É necessário ressaltar que a educação infantil deve vir de encontro às

necessidades básicas da criança. Segundo FREIRE (1989), “A infância é um

período muito intenso de atividades: as fantasias e os movimentos corporais

ocupam quase todo o tempo da criança.” (p.16). Desta forma deve-se partir

daquilo que a criança conhece – o movimento – para chegar às aprendizagens

subseqüentes.

A pré-escola deve favorecer a criança que está em fase de intenso

crescimento atividades adequadas e prazerosas, respeitando sempre suas

características individuais e visando um equilíbrio global da criança.

Para LE BOULCH (1986), a Psicomotricidade é hoje concebida pela

integração superior da motricidade, produto de uma relação entre a criança e o

meio e instrumento através do qual a consciência se forma e se materializa.

A Psicomotricidade, por meio de atividades corporais e de expressão

artística procura atender às necessidades de indivíduos que anseiam ser


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completos, além de poder oferecer espaço lúdico, amplo e estimulante à

criatividade num perfeito inter-relacionamento da criança entre o mundo

exterior e o mundo interior. Especialmente no que diz respeito à educação

infantil, defende-se a construção do intelecto pela relação entre o pensamento,

ação e emoção, através da atuação de todo o corpo, de forma lúdica e

prazerosa.

Na educação infantil, onde a maioria das vezes os trabalhos se realizam

sob formas lúdicas e espontâneas, a disciplina brota naturalmente, pois há

ainda formas perturbadoras do relacionamento aluno-professor, que nas

brincadeiras do grupo social, a criança é a preservadora dos traços culturais do

seu grupo.

Pretende-se com a Psicomotricidade que os alunos desenvolvam de

forma integral e harmoniosa as três áreas inerentes aos comportamentos da

natureza humana (cognitiva, afetivo-social e psicomotora), respeitando as

individualidades e realidades da criança.

O objetivo deste trabalho é mostrar como a psicomotricidade, se usada

na pré-escola, pode contribuir para o desenvolvimento global da criança

através das diversas brincadeiras e atividades. Além disso, espera-se levar os

educadores a refletirem sobre a prática, a fim de que possam elaborar

atividades que atinjam às necessidades e interesses das crianças, e

contribuam para o desenvolvimento das habilidades psicomotoras, tão

importantes para a vida da criança.


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Este estudo justifica-se pela necessidade de embasamento teórico-

científico dos aspectos que norteiam a Psicomotricidade para que se constate

uma melhora na conduta motora, psicológica e social da criança na educação

infantil, proporcionando a dinamização do potencial e constituindo-se em

recurso para o desenvolvimento completo e harmonioso destes indivíduos, de

forma lúdica e prazerosa.

Verifica-se a necessidade de se oferecer subsídios teóricos e práticos

aos professores da Educação Infantil, que são a base do sistema educacional,

sobre o conceito de Psicomotricidade no processo de desenvolvimento normal

de crianças na faixa etária de quatro a seis anos.

O estudo dos benefícios da Psicomotricidade na Educação Infantil tem

uma considerável relevância teórica, pois a partir da investigação,

conhecimento e aprofundamento do assunto e consequentemente análise

crítica, os profissionais da área poderão possivelmente gerar estímulo para o

surgimento de uma nova mentalidade de pesquisa e atuação, e dessa forma

enfatizar a necessidade de se conhecer a criança em seu processo de

desenvolvimento, em relação ao contexto sociocultural em que está inserida, a

fim de que as atividades propostas e a metodologia a ser utilizada estejam de

acordo com as características infantis, atendendo suas necessidades e

interesses, respeitando suas limitações e individualidades.

O ato de brincar é um momento de auto-expressão, através do qual a

criança externaliza seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os


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por meio da ação. Brincando a criança experimenta, descobre, inventa,

aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a

autoconfiança e a autonomia, proporcionando o desenvolvimento da linguagem

do pensamento, da concentração e da atenção.

“O ato de brincar é a melhor metodologia para dar à criança


condições de desenvolver suas potencialidades e caminhar, de
descoberta em descoberta, criando soluções e aprendendo a viver e a
conviver com as demais. De descoberta em descoberta, a criança
aguça sua curiosidade, passando a manifestar, através das formas
mais variadas de expressão (brincadeiras, desenhos, moldagens e
músicas), as bases de sua personalidade em desenvolvimento”.
(MARINHO, 1993. p.33)

A Psicomotricidade estabelece um roteiro educativo de maturação global

(motora, afetiva e cognitiva). Seu objetivo fundamental é colocar a criança em

uma situação que lhe permita viver emocionalmente o espaço, os objetos e a

relação com os outros.

O estudo limita-se à verificação da influência da Psicomotricidade no

desenvolvimento global da criança na etapa pré-escolar da educação infantil,

estando a mesma, portanto, na faixa etária de quatro a seis anos e no estágio

pré-operatório de desenvolvimento, segundo Piaget. O estudo leva em

consideração a relação corporal, principal meio de comunicação nesse período,

como eficaz instrumento de aprendizagem.

O trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica, a fim de

levantar fontes que abordassem elementos presentes na educação

psicomotora e no desenvolvimento global da criança na pré-escola, na visão de


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autores como FONSECA (1998), LE BOULCH (1992), entre outros. A partir da

leitura bibliográfica levantada, construiu-se o referencial teórico necessário para

uma visão geral do tema.

Para tanto, o presente estudo foi organizado em 4 capítulos, sendo este

o primeiro, composto pela Introdução. No segundo, é abordado o tema

Psicomotricidade e suas estruturas. O terceiro capítulo mostra a evolução do

desenvolvimento psicomotor em relação a algumas das mais importantes

estruturas. No quarto capítulo é abordado o tema Psicomotricidade na

Educação Infantil, como ela pode ser aplicada e destaca algumas atitudes que

o educador deve ter diante da criança, enquanto observador e facilitador do

seu desenvolvimento psicomotor.


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CAPÍTULO II

A PSICOMOTRICIDADE

No indivíduo psiquismo e motricidade estão interligados, não podendo

ser dissociados inclusive no processo educacional. O desenvolvimento global

da criança se dá através do movimento, da sua experiência e criatividade e é

isso que a psicomotricidade busca proporcionar na criança, contribuindo para o

bom desenvolvimento da mesma.

O objetivo geral e principal dos estudos da psicomotricidade é

desenvolver o aspecto comunicativo do corpo dando ao indivíduo condições de

dominá-lo, economizar energia, pensar os seus gestos, aumentando assim a

eficácia de suas ações e aperfeiçoando o seu equilíbrio. Isto é conseguido

através da concretização de objetivos específicos das áreas psicomotoras que

embora ajam vinculadas umas às outras são divididas para facilitar o estudo e

o entendimento.

As atividades psicomotoras visam propiciar a ativação dos seguintes

processos:

- Vivenciar estímulos sensoriais pra discriminar as partes do próprio corpo e

exercer um controle sobre elas. Isto implica na aquisição da percepção e

controle do corpo, equilíbrio, lateralidade, independência dos membros,

controle muscular e controle da respiração;


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- Vivenciar através da relação do próprio corpo com os objetos, a organização

espacial e temporal a partir da percepção, noções de espaço e de tempo;

- Vivenciar situações que possam facilitar o processo de aquisição da leitura e

da escrita por meio de atividades que trabalhem a coordenação viso-manual.

Também no que diz respeito ao conhecimento do corpo estão os

conceitos de imagem do corpo, conceito do corpo e esquema corporal.

A imagem do corpo é a impressão que a pessoa tem de si mesma. É a

representação visual do corpo que se revela frequentemente no desenho que a

criança faz de si.

O conceito de corpo é o conhecimento intelectual que o individuo tem do

seu corpo, cada parte e suas respectivas funções. É adquirido como produto do

ambiente sócio-cultural.

Já o esquema corporal é o aspecto mais importante do conhecimento do

corpo, pois é ele quem regula a posição dos músculos e das partes do corpo

em relação umas às outras. É o resultado das experiências táteis e das

diversas sensações que provém do corpo. Dele dependem o equilíbrio e a

coordenação motora. O esquema corporal é a organização das sensações

relativas ao próprio corpo em relação aos dados do mundo exterior. Isto

abrange duas orientações da atividade motora: a tônica, dirigida para si mesmo

e a cinética voltada para o mundo exterior. Estas orientações correspondem a


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dois aspectos essenciais da função muscular que deve assegurar a relação

com o mundo exterior através da motricidade. A construção do esquema

corporal acontece progressivamente com o desenvolvimento do sistema

nervoso e essa elaboração realiza-se numa relação contínua que inclui eu/

mundo dos objetos/mundo dos outros.

A educação do esquema corporal é então o princípio de toda ação

educativa. Dos dois aos cinco anos toda educação é psicomotora. Dos cinco

aos sete anos a psicomotricidade passa a ser apenas a base sobre a qual se

constroem as primeiras relações lógicas e a conseqüente aprendizagem

escolar. Dos sete aos doze anos, quando já estão presentes as várias

diferenciações das atividades educativas, é ainda a educação psicomotora que

vai constituir o elo entre as atividades que contribuem para o desenvolvimento

global de todos os aspectos da personalidade.

As abordagens ao conceito de Psicomotricidade têm sido numerosas,

sobretudo do ponto de vista da Psicologia, da Neurologia e da Psiquiatria

Infantil. Devido à diversidade dos modos de abordagem, a Psicomotricidade

toma significados diferentes. Assim FONSECA (1995) a divide em três campos:

campo educacional, campo terapêutico e campo de educação psicomotora.

O propósito da educação psicomotora é educar sistematicamente as

diferentes condutas motoras e psicomotoras, com a finalidade de facilitar a

ação das diversas técnicas educativas e permitir assim uma melhor integração

escolar e social.
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Na visão de PIAGET, segundo LA TAILLE et al. (1992), as crianças são

capazes de reconhecer e, especialmente de representar, somente aquelas

formas que possam reconstruir efetivamente a partir de suas próprias ações.

Segundo ele a motricidade desempenha papel vital na inteligência antes da

aquisição da linguagem, o que distingue a sua posição das afirmações de

WALLON.

Para WALLON (apud LA TAILLE et al., 1992), desde o nascimento há

uma fusão afetiva que se expressa através de fenômenos motores,

organizando-se posteriormente o que ele vem chamar de diálogo tônico,

representando tanto um investimento corporal, quanto afetivo. A diferença para

Piaget é estrutural, onde qualquer ação qualifica-se como estrutura afetiva,

enquanto que o esquema como organização sensório-motora constitui uma

estrutura cognitiva.

Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do

homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo

interno e externo, pode ser vista como um processo ensino-aprendizagem e,

como tal, apresenta técnicas que se propõem a auxiliar o educando no

aproveitamento e desenvolvimento das potencialidades existentes, respeitando

as individualidades.

Várias pesquisas na área da Psicomotricidade visam demonstrar a

importância de se trabalhar o desenvolvimento integral da criança em seus


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aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais, pois verifica-se um grau de

interdependência entre os domínios do comportamento.


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CAPÍTULO III

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA

A princípio a atividade da criança é elementar, descontínua e

indiferenciada, destituída de objetivos. Suas primeiras manifestações de

comportamento são essencialmente de ordem motora e só mais tarde passam

a ser de ordem mental.

“A criança faz-se entender por gestos nos primeiros dias de sua vida,
e até o momento da linguagem o movimento constitui quase que a
expressão global de suas necessidades.” (FONSECA, 1998, p.216)

Já que a psicomotricidade é a relação da criança com o próprio corpo a

partir do movimento, é certo dizer que ela está presente na vida da criança

desde o nascimento. Seu estabelecimento se dá a partir da elaboração de

algumas estruturas que vão se desenvolvendo junto com a criança até que esta

atinja a sua maturação completa.

3.1. Elementos Básicos da Psicomotricidade

O desenvolvimento motor é indispensável para toda a obra da

Psicomotricidade e abrange três estruturas, que são elementos básicos ou pré-

requisitos favoráveis ao processo de ensino-aprendizagem: o esquema

corporal, a dominância lateral (lateralidade) e a orientação espaço-temporal.


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3.1.1. Esquema Corporal

Partindo-se do princípio que o intelecto se constrói da relação com a

atividade motora faz-se necessário antes de tudo, que a criança tenha

conhecimento adequado do seu corpo.

Esquema corporal é a consciência do próprio corpo, de suas partes, dos

movimentos corporais, das posturas e das atitudes, tanto em repouso como em

movimento.

O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a

formação da personalidade, pois a mesma se desenvolverá em função de uma

progressiva tomada de consciência de seu corpo, de suas possibilidades de

agir e transformar o mundo à sua volta. É a representação relativamente global

e diferenciada que a criança tem do seu próprio corpo. Na medida em que o

individuo controla seu corpo e seus sentimentos, gradativamente ele irá

conduzir-se com mais segurança no meio em que vive.

O desenvolvimento de esquema corporal tem por objetivos levar o

individuo ao conhecimento de seu próprio corpo, utilizando-o através de um

autodomínio e adaptando-se a necessidade de deslocamento em posição

ereta; possibilitar a inibição dos movimentos e consequentemente, o controle

do eu corporal.
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Para elaboração do esquema corporal, a criança atravessa níveis de

desenvolvimento e experiências constantes desde o nascimento. Inicialmente

através da boca; sucessivamente através de sensações táteis onde descobre

as mãos como parte integrante de seu corpo; posteriormente descobre os pés

e incorpora da mesma maneira que a as mãos. A integração do tronco ocorre

depois, quando começa a se locomover, sentindo seu corpo. Ocorre a

configuração total do individuo; a diferenciação entre interior e exterior.

Finalmente partindo do seu corpo e do que está ao seu redor, a criança

estabelece a organização do espaço e conquista do mesmo.

Conforme LE BOULCH (1986), o esquema corporal apresenta quatro

etapas: O Corpo Vivido; O Conhecimento das Partes do Corpo; A Orientação

Espaço-Temporal e a Organização Espaço-Corporal.

A etapa do corpo vivido se dá pela experiência vivida do movimento

global, ou seja, é a percepção global do corpo.

Para LE BOULCH (1986, p.71), “no estágio do ‘corpo vivido’, a

experiência emocional do corpo e do espaço termina com a aquisição de

numerosas praxias, que permitem a criança sentir seu corpo como um objeto

total no mecanismo da relação”.

O conhecimento das partes do corpo é a tomada de consciência de cada

segmento corporal, de forma proprioceptiva e externoceptiva. A criança deve

ser capaz de unificar todas as partes do corpo de forma a encontrar a imagem


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corporal, que é a percepção e sentimento em relação a seu próprio corpo.

Nessa etapa aprende nomes e funções de cada parte do corpo.

A orientação espaço-corporal é a consciência de que o corpo pode

tomar diferentes posições, mesmo não estando em movimento.

Na organização espaço-corporal a criança poderá exercitar todas as

possibilidades corporais, conhece as partes do corpo, a disposição e as

posições. Portanto vai se movimentar de forma analítica, chegando a um

domínio corporal através de exercícios de coordenação, equilíbrio, inibição e

destreza; e de forma sintética, prevendo e adaptando seus movimentos ao

objetivo a ser alcançado, ou expressando por intermédio de seu corpo uma

ação, um sentimento, uma emoção.

A evolução do gesto e da linguagem é aspecto importante na formação

do esquema corporal, que se realiza numa relação continua que inclui o “eu” e

o mundo dos outros e dos objetos.

Portanto, durante a educação infantil, os níveis de esquema corporal a

serem alcançados seriam: nomear e apontar partes do corpo; movimentar

partes do corpo de todas as maneiras e descrever o movimento; localizar

sensações, identificando-as; representar graficamente o corpo; expressar-se

corporalmente e dominar o diálogo corporal.


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3.1.2. Lateralidade

Durante o crescimento defini-se a dominância lateral de uma criança.

Essa dominância é baseada em fatores neurológicos, mas também, é

influenciada por hábitos sociais.

O bebê ao nascer não tem opção por nenhum dos lados do corpo, ou

seja, a posição reflexa é assimétrica; os membros do corpo ficam esticados

para o lado que a cabeça está virada.

No 3º mês de vida, a criança entra num período de simetria, quando

deitada de costas movimenta igualmente os lados. Aproximadamente com um

ano e meio já expressa sua preferência por um dos lados do corpo, notando-se

isso quando ela passa a usar sempre a mesma mão para realizar determinadas

tarefas, mas nem sempre essa preferência se mantém, os dois lados são ainda

utilizados. Aos três anos já se utiliza exclusivamente a mão dominante. É

importante então não forçá-la a usar só a mão direita se a predominância for a

mão esquerda.

A lateralidade pode ser homogênea (implica que todas as respostas são

desenvolvidas num único lado (lateralidade definida), cruzada (implica em

respostas desenvolvidas em lados diferentes) ou ambidestra (implica em

respostas dos dois lados que atendem simultaneamente a uma ação motora

(mesma eficiência mecânica dos dois lados).


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Remete a idéia de que a criança tem dela mesma, na formação do

esquema corporal, na percepção da simetria de seu corpo. Contribui para

determinar a estruturação espacial ao perceber o eixo do seu corpo e o

ambiente em relação a esse eixo.

A lateralidade pode ser de quatro tipos:

̇ Ocular: diz respeito à movimentação dos olhos. Um dos olhos se

conecta, mais com a atenção, concentração, e o outro é mais dispersivo.

̇ Manual: relaciona-se com a movimentação da mão e dos dedos. É mais

simples, tem a ver com a destreza da mão, com a escrita...

̇ Pedal: relaciona-se com movimentos específicos dos pés, quando chuta

uma bola, um pé faz o apoio e o outro executa a ação.

̇ Auditiva: relaciona-se com a capacidade de ouvir. Quando se atende

um telefone; quando alguém chama, sempre se olha para o mesmo lado: o

lado dominante.

LE BOULCH (1987), afirma que: “É ao redor dos 04 anos, que a

preferência lateral da criança se afirma. Alguns têm, já nesta idade, a

predominância do lado esquerdo, que se reforça progressivamente, outras a

tem do lado direito, que também vai se reforçando” (p.61).

A boa e correta definição da lateralidade caminha junto com uma boa

escrita, envolvendo a orientação espacial e temporal. Assim não se deve


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modificar na criança uma preferência já estabelecida, e sim trabalhar exercícios

que venham reforçar o seu lado dominante, melhorando seu desenvolvimento.

Assim não se deve modificar na criança uma preferência manual já

estabelecida, e sim trabalhar exercícios que venham a reforçar o seu lado

dominante, melhorando seu desenvolvimento.

3.1.3. Orientação Espaço-temporal

Estruturação espacial é a orientação e a construção do mundo exterior

referindo-se primeiro ao próprio referencial, depois a outros, em posição

estática ou em movimento. É a tomada de consciência do corpo em meio ao

ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas

e as coisas.

O desenvolvimento da orientação espacial está intimamente ligado ao

desenvolvimento motor e ao esquema corporal. Esta orientação se faz

necessária à medida que a criança começa a movimentar-se mais livremente.

O espaço se estrutura a princípio, em referência ao próprio corpo e se

organiza, através de dados proporcionados pelo esquema corporal e pela

experiência pessoal.

Essa estruturação do espaço é segundo LE BOULCH (1987), uma

tomada de consciência da situação das coisas entre si; é a possibilidade do

individuo organizar as coisas que estão a sua volta, movimentando-as. Está


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dividida em quatro etapas: o conhecimento das noções, a orientação espacial,

a organização espacial e a compreensão das relações espaciais.

No conhecimento das noções a criança deverá perceber as diversas

formas, grandezas e quantidades, para poder escolher o material e saber

manipulá-lo. Na etapa de orientação espacial a criança quando já domina os

termos espaciais, pode movimentar seu corpo de acordo com as noções de

espaço (frente, trás, para direita, para a esquerda, ao lado, ao redor, em cima,

dentro, de costa, ao contrario, em fila, em coluna...). Durante a fase de

organização espacial a criança disporá os objetos ocupando um espaço

delimitado para atingir um objetivo. A compreensão das relações espaciais

baseia-se no raciocínio a partir de situações espaciais bem precisas.

Não existindo a noção espacial, dificilmente a criança terá um

comportamento de adaptação ao meio ambiente e percepção das coisas.

Os distúrbios encontrados nesta área estão estreitamente ligados aos

distúrbios da imagem corporal (dificuldade em relacionar com o mundo

espacial). O primeiro passo no desenvolvimento desta área é fazer com que a

criança se torne ciente dos dois lados de seu corpo e o relacione à direção no

espaço. Daí a importância do desenvolvimento da lateralidade.

É extremamente difícil separa os três elementos fundamentais da

Psicomotricidade: corpo-espaço-tempo. Portanto, quando se deseja que a

criança adquira uma noção espacial não pode-se deixar de levar em


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consideração suas possibilidades e conhecimentos corporais, sua emotividade

e seu próprio ritmo. Há, pois uma relação entre pensamento e ação,

envolvendo a emoção.

Orientar-se no tempo é situar-se em função da sucessão dos

acontecimentos; da duração dos intervalos; da renovação cíclica de certos

períodos; e do caráter irreversível do tempo. Estas seriam as etapas da

orientação temporal, que é uma noção que se forma juntamente com as

noções espaciais.

A percepção do tempo é mais complexa que a do espaço e se manifesta

mais tarde, através de momentos concretos de experiências. A dificuldade de

orientação temporal será mais ligada ao saber ouvir, enquanto que a espacial

ao saber ver.

Nas etapas de desenvolvimento da orientação temporal, inclui-se

também o ritmo, que abrange a noção de ordem, de sucessão, de duração e

alternância. Para CLAUDE COSTE (1992, p.62), “o ritmo é o fator de

estruturação temporal que sustenta a adaptação ao tempo”.

O ritmo traduz uma organização dos fenômenos sucessivos, tanto no

plano da motricidade quanto no plano da percepção dos sons emitidos no

curso da linguagem. Logo, a orientação temporal se situa tanto no nível

perceptivo como ao nível de execução motora.


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Orientar-se temporalmente é avaliar o movimento no tempo. A criança

na educação infantil, geralmente avalia o tempo em termos de distância, a

distância em termos de velocidade e a velocidade em termos de tempo. Para

elas o tempo é intuitivo, ou seja, o tempo fixo é encerrado como lugar fixo. O

tempo é simultaneamente, duração, ordem e sucessão. A integração desses

três é necessária à estruturação temporal do indivíduo.

Deve-se estimular a criança que mostra seu próprio ritmo

espontaneamente, para depois lentamente, fazê-la perceber a estrutura do

ritmo que lhe é solicitado.

Assim, podemos dizer que orientação temporal é a capacidade de

apreensão da duração, da colocação no tempo, da velocidade, do principio e

do fim. É fator importante para uma adaptação favorável a criança ao meio em

que vive.

A estruturação espaço-temporal permite não só movimento e

reconhecimento do próprio corpo no espaço, mas também, dá seqüência aos

gestos, permite localizar as partes do corpo e situá-los no espaço. Durante as

aulas, os movimentos devem ser apresentados de forma que a consciência do

próprio corpo, do espaço, do tempo e do corpo em relação aos objetos, seja

enfatizados sistematicamente.

Os domínios dos gestos, da estrutura espacial e da orientação temporal

são três fundamentos da escrita.


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3.2. A Educação Infantil

A Educação Infantil deve visar desenvolver harmoniosamente os

aspectos físicos, emocionais, sociais e intelectuais, mediante a proposição de

atividades lúdicas que promovam a curiosidade e a espontaneidade,

estimulando novas descobertas e o estabelecimento de novas relações a partir

do que já se conhece.

Na Educação Infantil, mais que em qualquer período, o brinquedo e o

jogo serão fundamentais para as crianças. Deve-se predominar nessa fase o

jogo educativo, isto é, o jogo como recurso pedagógico, vinculado a um projeto

pedagógico.

FREIRE (1989) atentou para o fato de que “descaracterizar a

importância pedagógica do brinquedo é negar a própria criança; é talvez,

violentá-la naquilo que ela tem de mais precioso”. (p.75)

3.2.1. Corpo, movimento e ludicidade na Educação Infantil

Quando o trabalho na educação infantil visa buscar uma escola que

atenda às necessidades da realidade social, os projetos pedagógicos centram

seus objetivos nas crianças, entendendo que elas são seres em pleno

processo de desenvolvimento, respeitando suas potencialidades e as suas

limitações dentro do seu contexto social de vida.


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Para respeitar a realidade da criança deve-se considerar o movimento e

a ludicidade como atividade integrante do cotidiano infantil, pois estes são um

canal de comunicação que permitem à criança a apropriação do mundo, que a

principio, pertence somente aos adultos.

O ato de brincar é a melhor metodologia para dar à criança condições de

desenvolver suas potencialidades e aprender a viver e conviver com os

demais. Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é

necessário que haja riqueza e diversidade nas experiências e que sejam elas

mais voltadas às brincadeiras. O brincar deve se constituir em atividade

permanente lúdica e dependerá dos interesses que as crianças apresentam

nas diferentes faixas etárias.

No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e

significam outra coisa daquilo que aparente ser, pois as crianças recriam e

repensam os acontecimentos, favorecendo a auto-estima. Propiciando a

brincadeira cria-se um espaço no qual as crianças podem internalizar uma

compreensão sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos.

Por meio das brincadeiras o professor pode observar e constituir uma visão dos

processos de desenvolvimento da criança em conjunto e em particular.

Na brincadeira a criança recria aquilo que sabem sobre as mais diversas

coisas. O brincar apresenta-se por meio de varias categorias que são

diferenciadas pelo uso material ou dos recursos: o movimento e a mudança de


31

percepção; a relação com os objetos; a linguagem oral e gestual; os conteúdos

sociais e os limites definidos pela regra.

Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos as crianças se

aproximam do repertorio da cultura corporal na qual estão inseridas. O brincar

para a criança significa muito mais do que mexer partes do corpo ou se

deslocar no espaço. A criança se expressa e se comunica por meio de gestos e

das mímicas.

As atividades lúdicas não estão simplesmente ligadas ao prazer. A

imaginação e as regras são características definidoras da brincadeira. Brincar é

uma realidade da vida da criança e para isso não se deve impedir sua

imaginação, pois a imaginação é uma atividade mental que permite a elas,

relacionarem seus interesses e necessidades com a realidade de mundo que

pouco conhecem, podendo interagir com o mundo dos adultos. É na

brincadeira que se expressa à forma como a criança reflete e reconstrói o

mundo à sua maneira, é um momento de investigação e construção de

conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo num contexto de “faz de

conta”, é também um espaço e um tempo onde a criança pode expressar de

modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos e sentimentos.

Jogos, fantasias, sonhos sempre tiveram associados a coisas sem

importância, entretanto as brincadeiras, enquanto promotoras da capacidade e

potencialidade dos alunos, devem estar inseridos na pratica pedagógica. O

brincar tem uma contribuição muito grande no desenvolvimento da criança,


32

facilitando o desenvolvimento das habilidades motoras, a socialização e a

integração entre elas.

O jogo é uma forma de expressar-se e desenvolver fisicamente e

mentalmente, é uma atividade que enriquece a aprendizagem, servindo para

avaliar o conhecimento e melhorar o relacionamento social.

O lúdico propicia à criança a interpretação do seu meio ambiente visto

que essas experiências aumentam a função cognitiva. A criança através do

jogo adquire novas experiências, que podem ser internas ou externas, além

disso, o jogo proporciona momentos de prazer e a criança aprende a lidar com

seus sentimentos.

As atividades lúdicas na proposta da Psicomotricidade podem contribuir

significativamente para a construção do conhecimento das crianças,

principalmente se elas participarem efetivamente de todo o processo.

Entretanto, não se deve fundamentar-se apenas num trabalho do lúdico, nem

numa pedagogia espontânea de aprendizagem. O lúdico consiste em uma

atividade didático-pedagógica que tem muito a contribuir com o

desenvolvimento de qualquer aula.

Para que os movimentos lúdicos na Psicomotricidade auxiliem o

processo de construção do conhecimento da criança, é preciso criar situações

para o desenvolvimento da autonomia, possibilitar ações que favoreçam a troca

de opiniões e sugestões em questões surgidas durante as atividades.


33

FREIRE (1989, p.13-14), “diz que pessoas ligadas à área educacional e,

principalmente, professores das classes iniciais não podem esquecer que pelo

menos ate a 4ª série do ensino fundamental a escola conta com alunos cuja

maior especialidade é brincar”.

O jogo e brincadeira devem invadir o espaço escolar a fim de

transformá-lo num espaço de descobertas, de imaginação e de criatividade.

3.2.2. Estágios do desenvolvimento infantil

O desenvolvimento infantil foi estruturado por PIAGET (1978), em quatro

períodos: sensório-motor; pré-operatório; operações concretas e operações

formais.

O período sensório-motor do ponto de vista da inteligência vai do

nascimento ate o surgimento da linguagem. O estágio seguinte é o pré-

operatório, intuitivo ou simbólico, que se inicia a partir do surgimento da

linguagem, incorporando o período anterior e acrescentando às atividades da

criança, os símbolos e a representação mental. O operatório-concreto é

marcado pelo inicio da cooperação e do raciocínio lógico, ou seja, a criança

passará de um estado em que se coloca como centro de todas as coisas para

um estado onde não é mais o centro. O último dos períodos de

desenvolvimento da inteligência descrita por PIAGET (1978) começa na

adolescência e introduz o individuo no mundo dos sistemas e teorias. É

denominado com o operatório-formal ou hipotético-dedutivo.


34

3.2.3. A psicomotricidade e o desenvolvimento infantil

Na aprendizagem, vista como aquisição acadêmica de conhecimentos,

dirigida assim para os aspectos educacionais, encontram-se quase sempre

referencias quanto aos domínios do comportamento humano, representados

pelo desenvolvimento cognitivo, afetivo-social e psicomotor. Esses domínios

têm servido de base para avaliações progressivas dos alunos nas varias fases

de escolaridade e para o próprio estabelecimento dos objetivos dos conteúdos

na escola.

Por domínio cognitivo, devem entender-se as atividades intelectuais.

Tais atividades podem se caracterizar como tudo aquilo que o organismo faz

com a informação de que dispõe.

No domínio afetivo-social, encontra-se os sentimentos e as emoções. É

um comportamento aprendido, representado pelas situações de receber,

responder, valorizar, organizar e caracterizar um valor, ou complexo de valores,

que se inscrevam nos aspectos motivacionais, incluindo comportamentos

sociais.

No domínio psicomotor, tem-se por base o movimento corporal.

Entende-se que há um envolvimento pessoal, compreendendo um componente

mental ou cognitivo, na maioria dessas habilidades. Na área psicomotora,

pode-se também seguir uma classificação que irá do comportamento do tocar,

manipular e/ou mover um objeto, ao ato de controlar o corpo de objetos,


35

quando mantidos em equilíbrio, ate atingir condutas que envolvam a condição

de mover e/ou controlar o próprio corpo, ou partes do corpo no espaço, com

duração curta ou prolongada, envolvendo um intervalo de tempo, situações

previsíveis ou não.

Estas três categorias servem como forma de organização, assinalando

uma síntese importante para este estudo em que aprendizagem significam,

qualquer que seja o domínio, a ação, entendendo-se que os movimento estará

sempre presente em qualquer situação que envolve mudanças.

Em Psicomotricidade, a ação esta representada por ser total, possuidor

de um corpo e de uma mente que se conectam com o mundo exterior, através

de ações motoras e de ações psíquicas. Corpo e psiquismo constituem

entidades diferentes, mas de atuação indissociável. Semelhantemente, a

aprendizagem é ação que só se processa através deste corpo e deste

psiquismo.

Para ocorrer a ação necessita-se não só de estímulos externos, como de

experiências anteriores integradas que servirão de suporte à ação. A

organização do ato somente se processa quando o conjunto mente-corpo entra

em acordo, atingindo a consciência corporal, que implicará numa apreensão do

espaço.
36

CAPÍTULO IV

A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A prioridade na pré-escola deve ser a atividade motora lúdica que, sendo

fonte de prazer, vai permitir à criança continuar a organização de sua imagem

corporal.

A educação psicomotora deve ser antes de tudo, uma experiência ativa

de confrontação com o meio, contando com a ajuda dos pais e do meio escolar

para permitir à criança, por meio do jogo, exercer sua função de ajustamento,

sozinho ou junto a outras crianças.

A educação infantil, através das relações que proporciona e das

atividades que realiza, deve propiciar à criança a oportunidade de desenvolver

ao máximo as suas potencialidades, pois é no seu ambiente que ela será

beneficiada pelo contato com crianças da mesma idade e com adultos de

diferentes funções e pela possibilidade de interagir e de crescer junto a eles.

“Neste estágio a atividade motora, em relação com o adulto ou com


outras crianças traduz a expressão de uma necessidade fundamental
do movimento de investigação e de expressão que deve ser
satisfeita.” (Le Boulch 1992, p. 130)

É preciso que na educação infantil a criança vivencie plenamente tanto a

atividade corporal, como a atividade de exploração do ambiente, pois estas


37

contribuirão para ao exercício de uma motricidade espontânea e para o

equilíbrio da criança.

3.3. Exercício Global de motricidade

As atividades na educação infantil tomam a forma de jogos funcionais ou

de jogos de imaginação os quais exercem a função de ajustamento ou

permitem a confrontação da fantasia com a realidade.

“Permitir brincar às crianças é uma tarefa essencial do educador.” (Le Boulch,


op. Cit., p.139)

A criança em idade pré-escolar dedica grande parte do seu tempo à

brincadeira do “faz-de-conta”. É enquanto brinca que ela se expressa com o

corpo no tempo e no espaço, construindo-se e aprendendo através de suas

ações.

Através dos jogos livres, a experiência vivida com o corpo em relação ao

ambiente dos objetos garante a aquisição do bem-estar global do corpo. É

antes de tudo o meio que fornece à criança material para sua atividade de

exploração; depois ela sozinha, ou com um grupo, poderá criar suas próprias

experiências durante os jogos espontâneos. Há a possibilidade, porém, da

criança se conformar com um tipo de atividade, evitando confrontar-se com

certo tipo de problemas. No entanto, é importante que o adulto, às vezes, fixe a

atenção da criança sobre os problemas motores, ajudando-a a descobrir

ajustamentos diversos.
38

A confrontação com as situações-problemas consiste em colocar a

criança à frente de uma tarefa bem definida, em relação à qual ela deverá

encontrar uma resposta através de ajustamentos progressivos, permitindo-lhe

assim a descoberta de novas praxias.

É importante ver na atividade lúdica da criança desta fase, o tipo de

atividade criadora necessária para a expressão da personalidade e a evolução

da imagem do corpo.

Neste período, o desenvolvimento global da coordenação viso-manual

se dará durante as atividades práxicas escolhidas para desenvolver a

habilidade e a coordenação fina; através da pratica da expressão gráfica e do

desenho se desenvolve, ao mesmo tempo, a função simbólica.

O exercício do jogo espontâneo da criança traduz-se por uma

motricidade harmoniosa e rítmica. É através do ritmo dos movimentos

registrados no seu corpo que a criança tem acesso à organização temporal.

Durante as atividades de exploração a criança ajusta-se ao espaço de

forma global e organiza este espaço em relação aos objetos que ela descobre

e sobre os quais ela exerce sua ação.


39

3.4. Condições materiais e organização das atividades de

expressão livre e dos jogos organizados

Para brincar sozinho ou com outras crianças, de forma espontânea ou

organizada, é preciso espaço. A primeira necessidade que se impõe é criar

espaços mais numerosos para os jogos das crianças.

Deve-se ter cuidado para que a disposição dos espaços livres das

escolas não perturbe o aprendizado, nem a circulação fácil entre esses

espaços e as salas de aula.

A professora pode organizar nesse espaço os cantos de atividades,

onde um certo número de variado material móvel agrupado permita a atividade

livre de pequenos grupos de crianças.

A programação das atividades deve ser feita de acordo com cada turma,

visto que as necessidades e gostos das crianças são diferentes.

No caso dos jogos organizados, a professora deverá aproveitar as

situações ocorridas em sala de aula ao escolher as atividades, para que estas

possam atender as necessidades especificas das crianças de sua turma.

Entre os 4 e 6 anos, em geral, as crianças brincam em pequenos grupos

de dois, três ou quatro e muitas vezes a estabilidade do grupo é pouco

duradoura. A liberdade de pesquisar deve conciliar-se com a organização do


40

trabalho dos minigrupos. Este aspecto constitui o papel fundamental do

educador, que está mais centrado nas modalidades de funcionamento que na

intervenção das atividades.

“A expressão livre corporal só é possível na medida em que o educador cria uma


atmosfera de confiança, de compreensão, já que o bloqueio afetivo acarreta um
bloqueio físico e como conseqüência, inibe toda expressão gestual normal, natural.”
(Le Boulch, op. Cit. P. 142)

É fundamental propiciar um clima de segurança e de confiança no

decorrer do trabalho. A criança deve viver esta experiência de forma positiva na

área afetiva. O objetivo é dar a criança situações nas quais ela tenha confiança

em seu corpo e em seu desempenho motor, e não fazê-la viver situações sem

valor.

É preciso levar em conta as possibilidades da criança e avaliar as

aquisições anteriores. Não se deve propor nem atividades muito complexas,

nem atividades muito fáceis, pois ambos os tipos causam o desinteresse da

criança.

O papel do educador será, pois, o de imaginar essas situações

privilegiadas com as quais as crianças gostam de se confrontar.

A apresentação da situação e a definição do fim a alcançar podem trazer

algumas dificuldades, sobretudo a quando se trata de crianças menores. Com

freqüência é necessário utilizar a imitação para fazer a criança compreender a

natureza do problema que ela deve resolver atentando para a forma gestual
41

utilizada. Deve-se fazer a imitação do fim a ser alcançado, e não dos meios.

Mostrar o fim a alcançar não deve suprimir a verbalização, à qual a criança de

quatro anos é muito sensível. Esta permite treinar a função simbólica, na

medida em que se faz a ligação entre a palavra e o objeto e a palavra e a

designação da ação a cumprir.

3.5. Educação Infantil: Espaço de criação, construção e

conhecimento

A criança passa a metade do dia na escola, por isso é tão importante a

pedagogia do movimento e a urgência em considerar as primeiras

necessidades vitais da criança; necessidades estas que na maioria das vezes

são contrariadas, sob o pretexto de causarem desordem e barulho.

A criança precisa caminhar, correr, pular e nós comprovamos isto

quando as deixamos livres em um pátio, pequeno ou grande. Primeiro elas

correm, e logo começam a pular e a “galopar”. É o momento de distensão que

envolve a situação de liberação então a alegria as invade e começam a sorrir.

É o prazer de descobrir suas possibilidades, de se adaptar a elas e de

desenvolvê-las.

Entretanto, é fundamental que na educação infantil, alem de

proporcionar à criança a possibilidade de conhecimento de si mesma, do seu

corpo e suas possibilidades, seja trabalhado o conceito de grupo. É no grupo

que aprendemos o difícil processo de conviver com as diferenças e os conflitos.


42

Isto tudo envolve e significa o processo de construção de conhecimento,

significa o processo de apropriação do saber de cada um para descobrir o que

ainda não se sabe.

Para se construir um grupo é necessário em educador presente, que

constrói intervenções no processo de desenvolvimento, possibilitando a

construção. Para construir é essencial levar em conta os desejos do educador

e do educando. O educador aqui é tido como o leitor da necessidade, da falta,

do que não se conhece, para que na sua prática possa possibilitar a construção

do conhecimento.

Para tanto o educador deve fazer um planejamento flexível das

atividades que pretende desenvolver, fazendo a seleção de acordo com os

objetivos que deseja alcançar e com o tipo de criança com que se trabalha.

Estas atividades deverão trabalhar com os elementos fundamentais para

uma boa elaboração do esquema corporal, alguns dos quais já foram tratados

no capítulo anterior.

Para que a criança se envolva realmente nas atividades, o educador

deve lançar mão do estimulo, que é tudo aquilo que se pode dizer, fazer e

mostrar. A finalidade é provocar na criança o desejo de entrar em ação e assim

facilitar a expressão da sua capacidade criadora. O estímulo, então, tem o

sentido de uma motivação que vai alem da simples informação, com o

propósito de mobilizar as áreas mais sensíveis das crianças.


43

Portanto, terão grande influência a quantidade e a seleção das palavras

empregadas pelo educador, como também o timbre, o tom e o calor de sua

voz, além do momento em que se oferece cada imagem estimuladora.


44

CONCLUSÃO

Durante muito tempo a ciência viveu dominada pela alma de um lado e

pelo corpo do outro. O pensamento tradicionalmente dualista alma-corpo

evoluiu para mente-corpo e, por fim para a Psicomotricidade, quando o homem

passou a entender que o movimento e vida mental não são duas realidades.

É na relação consigo mesmo e com os outros, através da ação que

exerce sobre o meio, que o individuo constrói o seu conhecimento. Por isso é

importante proporcionar à criança um ambiente propício ao desenvolvimento de

suas potencialidades e recursos sensório-motores, de maneira saudável e

harmoniosa, através de programações especificas de atividades psicomotoras

na pré-escola.

É no processo educacional que as atividades psicomotoras, que não são

meras repetições de movimentos, serão aplicadas no sentido de contribuir para

o desenvolvimento da criança através do seu próprio corpo e de seu

movimento. É por meio de sua ação e de experiências que a criança alcançará

o desenvolvimento global pleno.

É necessário, então, que ela vivencie situações diversas, a fim de buscar

soluções para o cotidiano. Neste sentido o lúdico aparece como fundamental,

pois é brincando que a criança vai se descobrir. Correndo, pulando, subindo e

descendo escadas, jogando, que ela vai experimentar, tentar, medir as suas

capacidades e conhecer os seus limites.


45

O trabalho na Educação Infantil deve, então, favorecer o

desenvolvimento da criança e a aquisição de conhecimentos. É no seu

ambiente que as inúmeras descobertas acontecem. Por isso ela deve

apresentar-se como um lugar agradável de estar, rico em estímulos. Ela é o

lugar de brincar e de aprender, pois é brincando que a criança aprende. No

seu cotidiano deverão estar presentes atividades de livre expressão que

garantam a liberdade de criação, mas também são necessárias atividades

organizadas específicas para a estruturação das áreas psicomotoras.

As atividades específicas deverão ser selecionadas de acordo com os

objetivos a alcançar a fim de contribuir para o desenvolvimento global da

criança. Nas suas realizações deverão ser respeitados os ritmos individuais de

cada criança, pois é um grave erro querer acelerar o processo de

aprendizagem visto que se pode causar o desinteresse da criança.

Recomenda-se uma reflexão por parte dos profissionais envolvidos com

a educação infantil, a fim de que analisem sua prática pedagógica, pois não

basta ter apenas conhecimento, é preciso apesar de todas as adversidades,

criar no interior da escola um ambiente de prazer, de alegria, de busca, de

troca e principalmente, amar e respeitar as crianças. O educador deve

repensar o seu papel ao assumir um trabalho pedagógico com crianças, pois o

sucesso pedagógico de qualquer trabalho vai depender da postura do

professor durante as atividades didático-pedagógicas. Assim, seu papel como

mediado do processo ensino-aprendizagem vai contribuir ou não para uma

aprendizagem rica e significativa.


46

Buscamos assim, o pleno uso da educação psicomotora, pois propicia à

criança o desenvolvimento dos quatro pilares básicos da educação: aprender a

conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. A

Psicomotricidade deve ser suporte do processo educacional, a fim de garantir à

criança a possibilidade de movimentar-se por si mesma, descobrindo o espaço

físico e as relações à sua volta e para que não seja necessário recorrer a

reeducação psicomotora.

Assim, estaremos contribuindo para a criação de escolas mais

agradáveis e, principalmente, para a formação de crianças criativas, críticas e

felizes.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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