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ASFIXIA PERINATAL
Etiopatogenia
De forma geral, a asfixia pode ser desencadeada por quatro mecanismos:
1. Interrupção do fluxo sanguíneo através do cordão umbilical.
2. Alteração da troca gasosa a nível placentário por descolamento da placenta.
3. Alteração da perfusão placentária.
4. Falha na expansão pulmonar imediatamente após o nascimento.
Fatores de risco
Com base nos mecanismos que desencadeiam a hipóxia no feto, são
considerados fatores de risco para asfixia perinatal:
Durante a gestação: Ausência de pré-natal, tabagismo, alcoolismo e uso de
drogas ilícitas materna, diabetes melito, cardiopatia, hipertensão arterial
crônica, pré-eclâmpsia e anemias.
No período periparto, trabalho de parto e parto: Placenta prévia,
descolamento prematuro de placenta, prolapso, nó e circular de cordão
umbilical, gestação múltipla, trabalho de parto prematuro, trabalho de parto
prolongado, apresentações anômalas, macrossomia fetal, tocotraumatismos,
líquido amniótico meconial, amniorrexe prolongada, anestesia geral e/ou
analgésicos/sedativos, infecções materna e/ou fetal.
Imediatamente após o nascimento: Depressão respiratória no feto,
malformações ou obstruções de vias aéreas.
Fisiopatologia
A asfixia é desencadeada por hipóxia progressiva que leva à hipercapnia e
acidose, desencadeando o metabolismo anaeróbico e produzindo ácidos que são
inicialmente tamponados pelo bicarbonato. Quando o bicarbonato se esgota, se
instala a acidose metabólica. Inicialmente, a acidose e a hipoxemia desencadeiam
mecanismos compensatórios, com taquicardia, vasoconstrição periférica, elevação
da pressão arterial e manutenção da perfusão de órgãos nobres. Com o progredir da
hipoxemia, tal mecanismo entra em falência e ocorre a lesão de múltiplos órgãos.
Distúrbios metabólicos
Com a hipoxemia e má perfusão tecidual, o metabolismo anaeróbico torna-se
preponderante, com diminuição da produção de energia e formação de acido lático e
ocorrência de acidose metabólica.
Além da acidose metabólica, outros distúrbios metabólicos, como a
hipoglicemia, a hipocalcemia, a hiponatremia e a hiperpotassemia podem ser
encontradas na asfixia perinatal.
Comprometimento pulmonar
Na asfixia perinatal, pode haver comprometimento do sistema respiratório
devido a síndrome de aspiração de mecônio, síndrome de escape de ar, hipertensão
pulmonar, síndrome do desconforto respiratório, edema e hemorragia pulmonar.
Comprometimento cardíaco
A acidose reduz a contratilidade miocárdica e diminui a resposta a
catecolaminas, provocando a hipotensão arterial. Além disso, na asfixia grave,
também ocorre a disfunção cardíaca devido à sobrecarga hemodinâmica decorrente,
sobretudo, da hipertensão pulmonar, acometendo predominantemente o coração
direito com insuficiência tricúspide e insuficiência cardíaca.
A ocorrência de arritmia cardíaca pode ser observada na presença de
hiperpotassemia.
Comprometimento gastrointestinal
A redistribuição de fluxo sanguíneo pode provocar diminuição da perfusão dos
intestinos com risco de enterocolite necrosante.
Comprometimento neurológico
O quadro neurológico da asfixia perinatal é representado classicamente pela
encefalopatia hipóxico-isquêmica. O edema cerebral também pode ocorrer com
certa frequência, mas a hemorragia intracraniana é ocasional. A encefalopatia
hipóxico-isquêmica será discutida em capítulo especifico.
Diagnóstico
Alguns parâmetros podem dar uma idéia do grau de comprometimento na
asfixia perinatal, mas nenhum deles apresenta sensibilidade e especificidade
desejáveis. A cardiotocografia, a gasometria fetal e umbilical, o índice de Apgar,
assim como os sinais clínicos e neurológicos podem ser considerados em conjunto
para avaliação do recém-nascido com asfixia.
Cardiotocografia: A ausência ou pequena variabilidade na frequência cardíaca por
1 hora ou mais, desaceleração tardia recorrente, taquicardia persistente ou
bradicardia inferior a 80 bpm parecem se associam à acidemia no feto. A
cardiotocografia tem baixo valor preditivo positivo, mas o padrão normal se associa à
ausência de acidemia no feto.
Gasometria de cordão umbilical: A gasometria de cordão umbilical pode ser usada
como indicador de oxigenação fetal, imediatamente após o nascimento. Para definir
acidemia, tem sido utilizado, pH de artéria umbilical menor que 7,20, entretanto, tem
sido observado maior morbidade apenas em recém-nascidos que apresentam pH <
7,0 ao nascer.
Boletim de Apgar: O índice de Apgar no 5o minuto < 3 tem se mostrado um bom
preditor de óbito neonatal, entretanto, o índice de Apgar do 1 o e 5o minuto baixos em
neonatos com asfixia que sobrevivem tem sido um fraco preditor de sequelas
neurológicas em longo prazo.
Para o diagnóstico da asfixia perinatal pode ser necessária a análise conjunta
de vários indicadores. Segundo a Academia Americana de Pediatria e o Colégio
Americano de Obstetrícia e Ginecologia, para definir asfixia é necessário que haja
Conduta
Na asfixia perinatal, é importante reverter a hipóxia e isquemia, impedindo
que a lesão necrótica se estenda e, ao mesmo tempo, evitando que a zona de
penumbra de células neuronais apoptóticas se transforme em nova zona de
necrose. Com esses objetivos, realiza-se imediatamente a reanimação na sala de
parto, seguida de monitoração e controle das complicações clínicas e neurológicas.
Cuidados pós-reanimação
As lesões hipóxico-isquêmicas decorrentes da asfixia perinatal podem ser
agravadas após o nascimento. Por essa razão, recém-nascidos com asfixia perinatal
devem ter os seus sinais vitais monitorados, sistematicamente, após reanimação em
sala de parto, de preferência, em unidades de cuidados intensivos neonatais.
Devem ser monitorados os neonatos que se enquadrem em qualquer dos
seguintes critérios:
Recém-nascido submetido à ventilação com pressão positiva na sala
de parto acompanhada ou não de outros procedimentos.
Tempo para início da respiração espontânea superior a um minuto.
Boletim de Apgar no 5o minuto menor ou igual a 5.
Qualquer alteração clínica, sistêmica ou neurológica, sugestiva de
lesão hipóxico-isquêmica.
para níveis entre 125 e 130 mEq/L, através da seguinte fórmula: mEq de Na =
Peso (kg) x 0,60 x (130 - Na observado). Deve-se lembrar que a correção da
natremia deve ser realizada lentamente, mantendo uma infusão máxima de
sódio de 1 mEq/kg/hora. O sódio pode ser infundido sob forma de NaCl ou
NaHCO3, sendo o último melhor tolerado pelos túbulos renais do recém-
nascido.
Suporte renal: O quadro da insuficiência renal pode ser transitório com períodos de
oligúria (diurese < 1 mL/kg/hora) ou poliúria. Quando o quadro persiste por mais de
24 horas está, em geral, associada a lesões de múltiplos órgãos. Monitorar a função
renal com controle rigoroso do débito urinário e balanço hídrico a cada 6 horas. Além
disso, avaliar os níveis de uréia, creatinina e eletrólitos séricos e urinários a cada 24
horas. Em casos de anúria persistente (> 24 horas) realizar ultrassom com
dopplerfluxometria para afastar anomalias congênitas e trombose de veia renal e
considerar diálise peritonial.
Suporte nutricional: Nos pacientes instáveis do ponto de vista clínico e laboratorial,
manter jejum oral até a estabilização hemodinâmica, respiratória, metabólica e do
equilíbrio ácido-básico e resolução do íleo paralítico. Eventualmente pode ser
necessária a introdução de alimentação parenteral. Ao iniciar a alimentação enteral,
dar preferência ao leite humano da própria mãe, iniciando-se com pequenas
alíquotas (10 a 20 mL/kg/dia).
Repercussões neurológicas: Os neonatos com asfixia perinatal grave podem
evoluir com manifestações neurológicas como alteração da consciência, do tonus
muscular e dos reflexos ou presença de crises convulsivas. Esse quadro pode se
apresentar logo após o nascimento ou desenvolver após algumas horas. Em geral,
os sinais de acometimento neurológico estão acompanhados de outras
manifestações clínicas, podendo, no entanto, aparecerem isoladamente. É
importante salientar que, após o nascimento, as lesões neurológicas podem ser
agravadas por distúrbios metabólicos, hemodinâmicos e ventilatórios, sendo
necessário o controle dessas situações em todo recém-nascido com asfixia
perinatal. Em relação aos cuidados específicos, destacam-se as medidas para o
controle das convulsões e prevenção ou diminuição do edema cerebral.
Controle das convulsões: As convulsões estão presentes em cerca de 70% dos
casos de encefalopatia moderada. Entretanto, as convulsões podem aparecer
devido a distúrbios metabólicos que devem ser sempre descartados. Qualquer que
seja a etiologia, as crises convulsivas devem ser prontamente controladas porque
podem agravar as lesões cerebrais. As drogas utilizadas no controle das convulsões
são:
- Fenobarbital Sódico
o Dose de ataque: 20 mg/kg, EV em 10 minutos. Caso as crises convulsivas
persistam administrar mais 5 mg/kg de fenobarbital, a cada 5 minutos, até
a dose total de 40 mg/kg.
o Dose de manutenção: 3 a 4 mg/kg/dia, EV lento ou IM, iniciar com intervalo
de 12 horas após a dose de ataque, dividida em duas tomadas. Ajustar a
dose para manter o nível sérico do fenobarbital entre 20 a 40 mcg/mL.
Verificar o nível sérico 72 horas após a dose de ataque, colhendo a
amostra sanguínea para análise imediatamente antes da administração da
dose da manhã.
Prognóstico
O prognóstico do recém-nascido a termo asfixiado depende da intensidade e
duração da hipóxia e isquemia antenatal somada às complicações clínicas que
ocorrem após a reanimação. O melhor parâmetro disponível no momento é a
evolução da síndrome neurológica apresentada pelo recém-nascido. Dessa maneira,
quanto mais prolongada a síndrome neurológica, quanto mais precoces forem o
início das convulsões e mais intensa as alterações eletroencefalográficas pior será o
prognóstico. A presença de alterações na tomografia computadorizada ou na
ressonância magnética também pode se associar a casos de pior prognóstico
neurológico.