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er a falecer no curso do procedimento, antes de

DIREITO DA CRIANÇA E DO prolatada a sentença.

ADOLESCENTE
O instituto contraria toda a principiologia da adoção,
1. ADOÇÃO inclusive e principalmente o fato de que a sentença de
adoção é classificada como constitutiva, o que significa
É a forma de colocação em família substituta que mais que apenas produz seus efeitos a partir do seu trânsito
cai na prova da OAB! Portanto, muita atenção a esse em julgado, consoante prevê o art. 47, § 7º, ECA:
instituto, que é irrevogável!
Art. 47. (...)
Para que seja deferida a adoção, a forma mais solene e
§ 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trân-
estável de colocação em família substituta, em primeiro sito em julgado da sentença constitutiva, exceto na
lugar, é imprescindível que a medida apresente reais hipótese prevista no § 6º do art. 42 desta Lei, caso
vantagens ao adotando. Isso em nome do princípio do em que terá força retroativa à data do óbito.
melhor interesse, previsto no art. 6º, ECA.
Em assim sendo, todo o processo de adoção deve ser
Nesse caso, o STJ admite ainda a adoção post mortem
interpretado buscando reais vantagens à criança e ao
de pessoa que morre antes mesmo de ajuizar o proces-
adolescente. Em caso de conflito entre direitos e inte-
so, se, por outros meios, for possível a prova da vontade
resses do adotando e de outras pessoas, inclusive seus
inequívoca de adotar.É o caso, por exemplo, do adotan-
pais biológicos, devem prevalecer os direitos e os inte-
te que, antes mesmo do ingresso efetivo do pedido de
resses do adotando. É exatamente o que está expresso
adoção, já tenha manifestado o convívio socioafetivo de
no art. 39, § 3º, ECA:
longa data, nos termos do seguinte julgado do STJ:
Art. 39. (...)
“AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
§ 3º Em caso de conflito entre direitos e interesses DECLARATÓRIA. RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO
do adotando e de outras pessoas, inclusive seus SOCIOAFETIVA. ADOÇÃO PÓSTUMA. POSSIBILIDA-
pais biológicos, devem prevalecer os direitos e os DE JURÍDICA DO PEDIDO. INEQUÍVOCA MANIFES-
interesses do adotando. TAÇÃO DE VONTADE DO ADOTANTE FALECIDO.
AGRAVO INTERNO PROVIDO PARA DAR PROVI-
MENTO AO RECURSO ESPECIAL.1. Em que pese o
A adoção é medida excepcional e irrevogável, sempre art. 42, § 6º, do ECA estabelecer ser possível a ado-
cabível como último instrumento, após esgotadas todas ção ao adotante que, após inequívoca manifesta-
ção de vontade, vier a falecer no curso do procedi-
as tentativas de permanência da criança e do adolescen-
mento de adoção, a jurisprudência evoluiu pro-
te junto às famílias natural e extensa/ampliada.É o que
gressivamente para, em situações excepcionais, re-
diz expressamente o art. 39, § 1º, ECA: conhecer a possibilidade jurídica do pedido de ado-
Art. 39. (...) ção póstuma, quando, embora não tenha ajuizado
a ação em vida, ficar demonstrado, de forma ine-
§ 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, quívoca, que, diante de longa relação de afetivida-
à qual se deve recorrer apenas quando esgotados de, o falecido pretendia realizar o procedimento. 2.
os recursos de manutenção da criança ou adoles- Segundo os precedentes desta Corte, a comprova-
cente na família natural ou extensa, na forma do ção da inequívoca vontade do falecido em adotar
parágrafo único do art. 25 desta Lei. segue as mesmas regras que comprovam a filiação
socioafetiva: o tratamento do adotando como se fi-
lho fosse e o conhecimento público dessa condição.
A adoção é ato personalíssimo e não pode ser feito por Nesse sentido: REsp 1.663.137/MG, Rel. Ministra
procuração. Vejamos o que diz o art. 39, § 2º, ECA: NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, julgado em
15/08/2017, DJe de 22/08/2017; REsp
Art. 39. (...) 1.500.999/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
§ 2º É vedada a adoção por procuração. CUEVA, Terceira Turma, julgado em 12/04/2016,
DJe de 19/04/2016.3. A posse do estado de filho,
que consiste no desfrute público e contínuo da
Há, no entanto, uma exceção muito importante e que condição de filho legítimo, foi atestada pelo Tribu-
nal de origem diante das inúmeras fotos de família
sempre é cobrada em prova, que é a chamada adoção
e eventos sociais, boletins escolares, convites de
post mortem. Ela está prevista no art. 42, § 6º, ECA: formatura e casamento, além da robusta prova
Art. 42. (...) testemunhal, cujos relatos foram uníssonos em
demonstrar que os adotandos eram reconhecidos
§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante como filhos, tanto no tratamento como no sobre-
que, após inequívoca manifestação de vontade, vi- nome que ostentavam, e assim eram apresentados

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ao meio social.4. Afastada a impossibilidade jurídi- 1.1 REQUISITOS PARA A ADOÇÃO
ca do pedido, na situação concreta o pedido de a-
doção post mortem deve ser apreciado, mesmo na O ECA apresenta uma série de requisitos para que a
ausência de expresso início de formalização do adoção seja deferida:
processo em vida, já que é possível extrair dos au-
tos, dentro do contexto de uma sólida relação so-  IDADE
cioafetiva construída, que a real intenção do de cu-
jus era assumir os adotandos como filhos.5. Agravo
O adotado deve ter, no máximo, 18 anos à data do
interno provido para dar provimento ao recurso pedido, bem como o adotantedeve ser, pelo menos, 16
especial.”AgInt no REsp 1520454 / RS; j. em anos mais velho do que o adotando. É o que menciona
22/03/2018. o art. 42, caput e § 3º, ECA:
Art. 42.Podem adotar os maiores de 18 (dezoito)
anos, independentemente do estado civil.
A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com
os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, anos mais velho do que o adotando.
salvo os impedimentos matrimoniais. Sendo assim, a
adoção é um ato pleno. Além disso, a adoção deve ser
 PARENTESCO
constituída por sentença judicial e somente produz
efeitos a partir do trânsito em julgado. Essa caracterís- Há vedações também com relação ao parentesco, não
tica impossibilita a adoção por escritura pública. podendo adotar os ascendentes e os irmãos do adotan-
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sen-
do:
tença judicial, que será inscrita no registro civil Art. 42. (...)
mediante mandado do qual não se fornecerá cer-
tidão. § 1º Não podem adotar os ascendentes e os ir-
mãos do adotando.

Quanto ao reconhecimento dos seus antepassados,


oECA concede ao adotado o direito de conhecer sua Caso a adoção se dê de forma conjunta, inclusive para
origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito não criar maiores traumas no adotando, é indispensável
ao processo no qual a medida foi aplicada e seus even- que os adotantes sejam casados civilmente ou mante-
tuais incidentes, após completar 18 anos. Caso seja nham união estável, comprovada a estabilidade da
menor de 18 anos, o acesso ao processo de adoção família:
poderá ser também deferido ao adotado, a seu pedido, Art. 42. (...)
assegurada orientação e assistência jurídica e psicológi-
§ 2ºPara adoção conjunta, é indispensável que os
ca. adotantes sejam casados civilmente ou mante-
Os judicialmente separados e os ex-companheiros nham união estável, comprovada a estabilidade da
poderão adotar conjuntamente, desde que acordem família.
acerca do regime de visitas e guarda, bem como que o
estágio de convivência se tenha iniciado ainda no perí-
No entanto, levando-se em conta o princípio do melhor
odo em que conviviam É o que dispõe o art.42, § 4º,
interesse, o STJ,excepcionalmente, tem deferido pedi-
ECA – cuidado, esse tema cai muito em prova!
dos de adoção formulados por avós em relação aos
Art. 42.Os divorciados, os judicialmente separados netos:
e os ex-companheiros podem adotar conjunta-
mente, contanto que acordem sobre a guarda e o “CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. ESTATUTO DA
regime de visitas e desde que o estágio de convi- CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ADOÇÃO POR AVÓS.
vência tenha sido iniciado na constância do perío- POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE
do de convivência e que seja comprovada a exis- DO MENOR. PADRÃO HERMENÊUTICO DO ECA. 01
tência de vínculos de afinidade e afetividade com - Pedido de adoção deduzido por avós que criaram
aquele não detentor da guarda, que justifiquem a o neto desde o seu nascimento, por impossibilidade
excepcionalidade da concessão. psicológica da mãe biológica, vítima de agressão
sexual. 02 - O princípio do melhor interesse da cri-
ança é o critério primário para a interpretação de
toda a legislação atinente a menores, sendo capaz,
inclusive, de retirar a peremptoriedade de qualquer
texto legal atinente aos interesses da criança ou do
adolescente, submetendo-o a um crivo objetivo de
apreciação judicial da situação específica que é
analisada. 03. Os elementos usualmente elencados

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como justificadores da vedação à adoção por as- retratado até 10 dias após a prolação da sentença de
cendentes são: I) a possível confusão na estrutura extinção do poder familiar:
familiar; II) problemas decorrentes de questões he-
reditárias; III) fraudes previdenciárias e, IV) a ino- Art. 165. (...)
cuidade da medida em termos de transferência de § 5ºO consentimento é retratável até a data da re-
amor/afeto para o adotando. 04. Tangenciando à alização da audiência especificada no § 1º deste ar-
questão previdenciária e às questões hereditárias, tigo, e os pais podem exercer o arrependimento no
diante das circunstâncias fática presentes - idade prazo de 10 (dez) dias, contado da data de prola-
do adotando e anuência dos demais herdeiros com ção da sentença de extinção do poder familiar.
a adoção, circunscreve-se a questão posta a desate
em dizer se a adoção conspira contra a proteção do
menor, ou ao revés, vai ao encontro de seus inte-
resses. 05. Tirado do substrato fático disponível,
 ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA
que a família resultante desse singular arranjo, Para verificar se a criança ou o adolescente que serão
contempla, hoje, como filho e irmão, a pessoa do adotados irão se adaptar ao novo lar, imprescindível é o
adotante, a aplicação simplista da norma prevista
chamado estágio de convivência.
no art. 42, § 1º, do ECA, sem as ponderações do
“prumo hermenêutico” do art. 6º do ECA, criaria a Quando no território nacional, o estágio de convivência
extravagante situação da própria lei estar ratifi- tem prazo máximo de 90 dias, que pode ser prorrogável
cando a ruptura de uma família socioafetiva, cons- por igual período. Dependendo do caso concreto, o juiz
truída ao longo de quase duas décadas com o ado-
poderá dispensá-lo, caso o adotado esteja sob tutela ou
tante vivendo, plenamente, esses papéis intrafami-
guarda legal dos adotantes ou se verificado o vínculo de
liares. 06. Recurso especial conhecido e provi-
do.”REsp 1635649/SP; j. em 27/02/2018. afinidade ou de afetividade constituído entre eles.
A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dis-
pensa da realização do estágio de convivência.
Tutores ou curadores não podem adotar o pupilo ou o
curatelado enquanto não derem conta de sua adminis- Em caso de adoção internacional, que é a última das
tração. É o que diz o art. 44, ECA: formas de adoção que deve ser buscada e deferida,
tendo preferência a adoção nacional, o estágio de con-
Art. 44.Enquanto não der conta de sua administra-
vivência será de, no mínimo, 30 dias e, no máximo, 45
ção e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o
dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
curador adotar o pupilo ou o curatelado.
depois do qual será apresentado laudo da equipe inter-
disciplinar, que recomendará, ou não, o deferimento da
 CONSENTIMENTO DOS PAIS adoção.

É imprescindível, ainda, o consentimento dos pais, salvo


se forem desconhecidos ou o tiverem sido destituídos  PRÉVIO CADASTRAMENTO
do poder familiar:
Para a adoção, exige-se um procedimento prévio de
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos habilitação dos pretendentes à adoção, expressamente
pais ou do representante legal do adotando.
disciplinado no ECA, no art. 50 e seus parágrafos:
§ 1º O consentimento será dispensado em relação
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada
à criança ou adolescente cujos pais sejam desco-
comarca ou foro regional, um registro de crianças
nhecidos ou tenham sido destituídos do poder fa-
e adolescentes em condições de serem adotados e
miliar.
outro de pessoas interessadas na adoção.

Além disso, como maior interessado, caso o adotando


Trata-se da inscrição dos pretendentes num cadastro
conte com mais de 12 anos, também deverá consentir,
de pessoas interessadas na adoção, desde que preen-
pois é o maior interessado. É o que diz o art. 45, § 2º, chidos determinados requisitos.
ECA:
A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48
Art. 42. (...)
horas, a inscrição das crianças e adolescentes em con-
§ 2ºEm se tratando de adotando maior de doze dições de serem adotados que não tiveram colocação
anos de idade, será também necessário o seu con- familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais
sentimento. que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos
cadastros estadual e nacional, sob pena de responsabi-
lidade. Compete à Autoridade Central Estadual zelar
No que diz respeito ao direito de arrependimento dos
pela manutenção e correta alimentação dos cadastros,
pais, de quem se exige o consentimento, poderá ser

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com posterior comunicação à Autoridade Central Fede- Em regra, é vedada a adoção intuito personae, sendo
ral Brasileira. admitida excepcionalmente nas situações em que o
vínculo afetivo já estiver estabelecido, sempre em prol
Art. 50. (...)
do superior interesse da criança.
§ 8ºA autoridade judiciária providenciará, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das cri-
anças e adolescentes em condições de serem ado-
tados que não tiveram colocação familiar na co- ADOÇÃO
marca de origem, e das pessoas ou casais que tive-
ram deferida sua habilitação à adoção nos cadas-
• É irrevogável. Não pode ser feita por procuração
tros estadual e nacional referidos no § 5º deste ar-
tigo, sob pena de responsabilidade. • Restrições à idade e ao parentesco
• Estágio de convivência
• Consentimento e prévio cadastramento
O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consul-
ta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério • Não pode ser intuito personae
Público.Além disso, a alimentação do cadastro e a con- • Tutores e curadores não podem adotar enquanto
vocação criteriosa dos postulantes à adoção serão fisca- não derem conta de sua administração
lizadas pelo Ministério Público.
A inscrição de postulantes à adoção será precedida de
um período de preparação psicossocial e jurídica, ori- 1.2 ADOÇÃO INTERNACIONAL
entado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos A adoção internacional caracteriza-se pelo lugar de
responsáveis pela execução da política municipal de residência do postulante à adoção, seja ele de naciona-
garantia do direito à convivência familiar. Sempre que lidade brasileira ou estrangeira. Em resumo, trata-se de
possível e recomendável, a preparação incluirá o conta- adoção internacional quando o pedido é feito por quem
to com crianças e adolescentes em acolhimento famili- reside fora do território nacional.
ar ou institucional em condições de serem adotados, a Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela
ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da na qual o pretendente possui residência habitual
equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à
acolhimento e pela execução da política municipal de Cooperação em Matéria de Adoção Internacional,
garantia do direito à convivência familiar. promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 de junho
de 1999, e deseja adotar criança em outro país-
Para determinação da adoção, observa-se a ordem parte da Convenção.
cronológica de inscrição no cadastro de adoção, com a
finalidade de moralizar a adoção, sem preferências
entre os habilitados. 1.2.1 REQUISITOS
Não difere em nada em relação à adoção nacional, se-
 ATENÇÃO! guindo os seus padrões:
Há, contudo, hipóteses nas quais a ordem cronológica
- não há mais condições de reintegração da criança
não será observada, conforme art. 50, § 13, I, II e III,
ou do adolescente à sua família natural ou exten-
ECA:
sa/ampliada, sendo indicada a colocação, então, em
- Pedido de adoção unilateral; família substituta;

- Adoção por parente com o qual a criança ou adoles- - foram esgotadas todas as possibilidades de coloca-
cente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; ção da criança ou adolescente em família adotiva
brasileira, com perfil compatível;
- Adoção por pedido de quem detém a tutela ou
guarda legal de criança maior de 3 anos ou adolescen- Preenchidos os requisitos para a adoção, será confec-
te, desde que o lapso de tempo de convivência com- cionado laudo de habilitação que, por sua vez, é requi-
prove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e sito à petição inicial de adoção. A fase judicial inicia-se
não seja constatada a ocorrência de má-fé com a apresentação dessa petição inicial que deve,
necessariamente, conter o laudo de habilitação.
Além disso, é assegurada prioridade no cadastro a pes-
soas interessadas em adotar criança ou adolescente Importante deixar claro que o adotado não perde a
com deficiência, com doença crônica ou com necessi- condição de brasileiro, essa modalidade de adoção não
dades específicas de saúde, além de grupo de irmãos. causa de perda da nacionalidade.

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