Você está na página 1de 64

Universidade Federal do ABC

Cognição e emoção
O que são emoções?

Sentimento

Expressão

Reações fisiológicas
Emoção, humor e afeto

Afeto

Emoção Humor
Duração curta Duração prolongada
Intensidade alta Intensidade baixa
Causa identificável Causa nem sempre identificável
Sentimento vs. Emoção

Os termos emoção e sentimento são geralmente usados


como sinônimos, mas eu tenho sugerido que eles não
deveriam ser. Da perspectiva da pesquisa, é vantajoso
separar os termos para designar componentes
separados deste processo em cadeia.

Antonio Damásio
Sentimento vs. Emoção

O termo emoção deveria ser corretamente usado para


designar uma coleção de respostas iniciadas por partes do
cérebro para o corpo, e de partes do cérebro para outras
partes do cérebro, utilizando tanto rotas neurais quanto de
humor. O resultado final desta coleção de respostas é um
estado emocional, definido por mudanças no próprio corpo
(…)

O termo sentimento deveria ser utilizado para descrever o


complexo estado mental que resulta de um estado
emocional.
Teorias da Emoção

Você chora porque está triste ou está triste


porque chora?
Teorias da Emoção

JAMES-LANGE
X
CANNON-BARD
James-Lange

Experiência
Emocional

Expressão
Comportamental
Reações
Corporais
William James
James-Lange: uma crítica

Se apaixonar vs. saltar de paraquedas


Cannon-Bard

Experiência
Emocional

Expressão
Comportamental
Reações
Corporais
Walter
Cannon
Top-down vs. bottom-up
Ochsner et al. (2009)


Bottom-up: Imagens repulsivas –
reajam normalmente

Top-down: Imagens neutras –
reajam como se fossem
repulsivas
Top-down vs. bottom-up
Ochsner et al. (2009)


Bottom-up: Imagens repulsivas –
reajam normalmente

Top-down: Imagens neutras –
reajam como se fossem
repulsivas

Bottom-up: lobos occipital, temporal


e parietal

Top-down: córtex pré-frontal

Ambos: Amígdala
Córtex (pré-)frontal: Phineas Gage
Córtex (pré-)frontal: Phineas Gage

➢ Exemplo: Phineas Gage

➢ Contra todas as expectativas, sobreviveu ao acidente

➢ Tornou-se emocionalmente instável, irritadiço, grosseiro

➢ Desenvolveu compulsões; falta de controle inibitório

➢ Região frontal do cérebro e personalidade, afeto, interação social


Schachter & Singer (1960)
Teoria da emoção de dois fatores


Fator fisiológico: arousal


Fator cognitivo (rótulo): avaliação da situação

De acordo com Schachter and Singer, ambos são


necessários – a atribuição da ativação (arousal) determinará
a natureza da emoção
Schachter & Singer (1960)

Experimento:


Grupo controle: injeção de salina


Grupo experimental: injeção de adrenalina


No grupo experimental, três condições experimentais:

(1) sem informação sobre os efeitos colaterais (ignorantes)

(2) informação errada sobre os efeitos da adrenalina
(desinformados)

(3) informação correta sobre os efeitos da adrenalina (informados)


2 condições de manipulação social:

Com (pseudo-) participantes eufóricos

Com (pseudo-) participantes bravos, chatos
Schachter & Singer (1960)

Medidas de observação e autoavaliação


Resultados:

Condição eufóricos: desinformados e ignorantes mais felizes

Condição bravos: ignorantes mais bravos

Interpretação:

Emoção vivenciada depende da explicação (assignment) dada
pelo participante à ativação (arousal) causada pela
adrenalina.


Àqueles informados, a explicação foi a injeção. Aos ignorantes, foi a situação.
Dutton & Aron (1974)
Dutton & Aron (1974)

Homens (mulheres) que atravessavam uma ponte:

3 metros e fixa ou;

70 metros e suspensa


Uma mulher (homem) atraente entrevistou o(a) participante imediatamente
depois

Thematic Apperception test (inventar histórias a partir das fotos)

Número de telefone caso tivessem dúvidas


Variáveis dependentes

Conteúdo sexual nas histórias inventadas

Porcentagem de participantes que telefonaram para o(a)
entrevistador(a), o(a) convidando para sair
Dutton & Aron (1974)
Thematic Apperception Test
Dutton & Aron (1974)
Resultados: Conteúdo sexual no Thematic Apperception Test

Entrevistadora mulher Entrevistador homem

t(36) = 3.19, p < 0.01 t(38) = 0.36, ns


Dutton & Aron (1974)
Resultados: Ligações telefônicas

Entrevistadora mulher Entrevistador homem


Dutton & Aron (1974)

Conclusão:


Quando um evento externo é identificado como a causa
da reação fisiológica, não há necessidade de uma
avaliação cognitiva


Quando a causa da ativação fisiológica não pode ser
explicada por um fator externo, cognição é usada para
interpretar e rotular as reações fisiológicas
Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

- Intensidade emocional aumenta com o passar do tempo

- Estratégias de regulação podem ser usadas em vários pontos no tempo


Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Escolha da situação: indivíduos com ansiedade social podem evitar


certas situações
Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Modificação da situação: indivíduos com ansiedade social podem pedir


a um amigo para acompanhá-los
Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Desenvolvimento da atenção: é possível se concentrar ou se distrair de


seus pensamentos (direcionamento da atenção)
Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Alteração cognitiva: indivíduos socialmente ansiosos podem dizer a si


mesmos que as pessoas na situação são amigáveis, não irão julgá-los etc.
Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Modulação da resposta: devemos “colocar pra fora” nossos sentimentos?


Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Modulação da resposta: expressar a raiva a aumenta – ajuda a relembrar


os pensamentos raivosos (Bushman, 2002)
Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Distração: Menos exigente em termos cognitivos e “corta o mal pela raiz”


– utilizada em situações de intensidade emocional intensa
Regulação da emoção
Modelo baseado no processo

Avaliação: Mais exigente em termos cognitivos, mas leva a benefícios


mais duradouros – utilizada em situações emocionais que podem ocorrer
mais vezes
Regulação da emoção
Pacientes com transtorno de ansiedade ou depressão maior

Maiores dificuldades na regulação da emoção

Aldao e cols. (2010) - metanálise: Aceitação, resolução de problemas e


reavaliação – efeitos benéficos em sintomas de ansiedade e depressão;
Ruminação e evitação – aumento de sintomas de ansiedade e depressão
Pequeno parêntesis
Algumas (outras) definições

Afeto: variedade extensa de experiências como emoções,
humores, preferências


Emoção: experiências razoavelmente curtas
(momentâneas), mas intensas


Humor: experiências de baixa intensidade mas prolongadas


A cognição é necessária para o afeto?

Demonstração no próximo slide…


Afeto e Cognição
Afeto e Cognição

Você precisou processar cognitivamente este estímulo para que a mudança


afetiva ocorresse?
Afeto e Cognição – Zajonc


Zajonc (1980,1984): “afeto e cognição são sistemas
separados e parcialmente independentes e (...) apesar
de funcionarem em conjunto, afeto pode ser gerado
sem um processamento cognitivo anterior.”
Afeto e Cognição – Zajonc


Sua visão é baseada em diversos experimentos nos quais
estímulos são apresentados muito rapidamente, abaixo
do nível de consciência, ou enquanto o participante
está envolvido em alguma outra tarefa.


Quando estes estímulos são apresentados posteriormente,
os participantes não conseguem reconhecê-los, mas
ainda os preferem em comparação a estímulos novos.
Afeto e Cognição – Zajonc


Murphy & Zajonc (1993) –

Participantes tinham que
avaliar ideógrafos chineses

Priming com faces alegres ou
raivosas por 4 ms ou 1 s.
Afeto e Cognição – Zajonc


O processamento afetivo às vezes pode ocorrer mais
rápido que o processamento cognitivo.


O processamento afetivo inicial de um estímulo é muito
diferente do processamento cognitivo posterior.
Processamento emocional inconsciente

Wilkielman et al. (2005) – Faces alegres vs. Raivosas apresentadas de forma


subliminar (abaixo do nível de consciência) a pessoas com sede.
Afeto e Cognição – Lazarus


Avaliação cognitiva tem um papel crucial na experiência emocional e
pode ser dividida em:

• Avaliação primária: uma situação no ambiente é tida como positiva,


estressante ou irrelevante ao bem-estar.

• Avaliação secundária: são levados em consideração os recursos que o


indivíduo tem para lidar com a situação.

• Reavaliação: a situação e as estratégias de enfrentamento são


monitoradas, com a avaliação primária e secundária sendo
modificadas, se necessário.
Afeto e Cognição – Lazarus


Experimentos com filmes que geram ansiedade


Resultados mostraram que os participantes
encontraram diferentes estratégias para
reduzir o estresse, como negação e
intelectualização.
Afeto e Cognição – Teorias multi-níveis


Dois circuitos emocionais diferentes em
ansiedade:

1. Um circuito de ação lenta tálamo-


córtex-amígdala envolvendo
uma análise detalhada da
informação sensorial.

Um circuito de ação rápida tálamo-


Joseph LeDoux
2.

amígdala baseado em
características simples do
estímulo (e.g., intensidade);
não passa pelo córtex.
Afeto e Cognição – Teorias multi-níveis
Afeto e Cognição – Teorias multi-níveis

LeDoux (1992, p. 275) relacionou sua teoria ao debate Zajonc-Lazarus:

“The activation of the amygdala by inputs from the neocortex is...consistent


with the classic notion that emotional processing is postcognitive, whereas
the activation of the amygdala by thalamic inputs is consistent with the
hypothesis, advanced by Zajonc (1980), that emotional processing can be
preconscious and precognitive.”
Emoção e Cognição

Como a emoção modula outras funções cognitivas?
Emoção e Memória

Memória dependente do estado de humor


Aprendizagem de duas listas de palavras.


Aprendizagem ocorre em um estado (e.g., feliz ou triste),
e evocação ocorre no mesmo estado ou em um estado
diferente.
Emoção e Memória

Based on Kenealy, 1997


Emoção, Atenção e Percepção

Luiz Pessoa
Emoção, Atenção e Percepção

Tarefa: comparar faces


ou comparar casas

Vuilleumier et al, 2001


Emoção, Atenção e Percepção

Vuilleumier et al, 2001


Emoção, Atenção e Percepção


Tarefa: Durante a condição “unattended”,
participantes indicaram se as barras periféricas
estavam na mesma orientação.

Pessoa et al, 2001


Emoção, Atenção e Percepção

Pessoa et al, 2001


Emoção, Atenção e Percepção


Quando a carga cognitiva é baixa, a capacidade “de
transbordamento” está disponível para o processamento de
estímulos emocionais irrelevantes à tarefa.


Conforme a carga cognitiva aumenta, no entanto, menos
recursos estarão disponíveis e, no limite, a percepção
emocional será eliminada.
Emoção e tempo

Taumatrópio
Emoção e tempo
Emoção e tempo

Estimativas de duração
aumentaram durante uma situação
de risco, contudo não houve
melhora no desempenho perceptivo
Fechamento

- Certificação

- Slides

- Super Fernanda

- Comentários e sugestões: marcelo.caetano@ufabc.edu.br

Você também pode gostar