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Introdução
Estudante, é uma alegria tê-lo conosco em uma nova aula da disciplina de Responsabilidade
Social e Ambiental.
Portanto, você, como futuro profissional, a partir dessa aula, compreenderá a importância da
atuação da empresa como um vetor para a construção de valores de uma sociedade
comprometida com a qualidade de vida e a sustentabilidade.
No que consiste e quais são os propósitos da responsabilidade social corporativa? Qual a sua
importância no contexto empresarial e nas relações com a sociedade? Essas são perguntas que
nos conduzem para uma nova dimensão do papel das empresas no mundo contemporâneo.
Todavia, a empresa, enquanto atividade, transformou-se tanto em relação à maneira pela qual
se dá a sua configuração quanto no que se refere à sua importância social. A empresa é um
agente fundamental para o ciclo econômico na medida em que vincula nos processos
produtivos mão de obra e insumos com a geração de renda e as transformações significativas
no ambiente natural e social. Por essa razão e considerando os impactos das suas atividades,
as empresas não estão livres das discussões sobre a sua responsabilidade no quadro do
desenvolvimento, especialmente o sustentável.
Em que pese a centralidade da função social da empresa no universo jurídico, ela não se
confunde com a responsabilidade social corporativa. Essa é mais ampla e representa um
compromisso das empresas além do processo econômico e legal para um engajamento social e
ambiental em sociedade. Por essa razão, o desempenho da atividade econômica em
conformidade com a legislação é somente um dos elementos da responsabilidade social
corporativa.
[...] a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e solidária da empresa
com todos os públicos com os quais ela se relaciona [...] e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, de forma a
preservar recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitar a diversidade e
promover a redução das desigualdades sociais. (EMPRESAS..., 2006, p. 17)
“[...] condição de responsabilizar-se por decisões e atividades e prestar contas destas decisões
e atividades aos órgãos de governança de uma organização, a autoridades legais e, de modo
mais amplo, às partes interessadas da organização” (ABNT, 2010, p. 2).
A empresa olha para si mesma, e a sociedade e o mercado a olham também para avaliar a sua
contribuição e participação no processo de redução dos problemas socioambientais. Neste
cenário, a empresa articula ações a partir de objetivos que não consistem em práticas
comerciais ou em resultados econômicos imediatos; ela passa a atuar como um agente social
(AMORIM, 2009). Nota-se, destarte, que a responsabilidade social corporativa contém um
núcleo de cidadania empresarial, com ganhos e resultados tanto internamente quanto
externamente que, em última análise, são representativos dos compromissos com a
sociedade.
No plano interno, ainda há de se pontuar ações no campo do respeito aos direitos humanos,
principalmente para promover a igualdade de gênero, evitando práticas discriminatórios de
quaisquer tipos, bem como integração e acessibilidade de pessoas com deficiência.
Enumeram-se, ainda, programas de ética corporativa, com especial atenção à prevenção de
assédio sexual e moral, programas de relacionamento interno, para promover uma política de
recursos humanos pautada na conciliação e no respeito mútuo das diferenças e singularidades,
programas de capacitação em responsabilidade social corporativa com enfoque na integração
da empresa junto à comunidade local, bem como o estabelecimento de códigos de conduta no
relacionamento com clientes, fornecedores e parceiros comerciais.
Neste vídeo, estudaremos um tema central para compreender o papel das empresas no
contexto da sustentabilidade: a responsabilidade social corporativa. Você conhecerá os
aspectos conceituais e os elementos estruturantes para uma atuação empresarial socialmente
responsável. Ao final, conhecerá também algumas possibilidades de aplicação da
responsabilidade social no contexto das organizações. Vamos juntos? Estou te aguardando
para essa aula!
Aula 02: Indicadores de sustentabilidade
Introdução
Querido aluno, é uma alegria tê-lo conosco nesta aula em que discutiremos os indicadores de
sustentabilidade, que são as práticas e os procedimentos para que uma empresa se apresente
como responsável ecologicamente perante o mercado e os seus consumidores.
Para que uma empresa seja considerada como sustentável, é necessário mais do que o
cumprimento das obrigações legais. Exige-se que ela adote processos e procedimentos que
reduzam os seus impactos no meio ambiente. Uma das principais iniciativas nesse sentido é a
adoção de um sistema de gestão ambiental, com a adoção de uma política empresarial que
conjugue o planejamento e o gerenciamento dos impactos de suas atividades. Por isso,
estudaremos a implantação da ISO 14001:2015, que é uma das principais normas
internacionais para a implementação de um sistema de gestão ambiental.
Mas, para que uma organização seja considerada sustentável, é preciso mais que a submissão
à legislação ambiental, a qual, apesar de obrigatória, se encontra no nível elementar.
Para ser sustentável, a empresa precisa conferir outros aspectos estruturais em seus negócios,
como a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, conjugando as exigências legais com
a definição de uma política ambiental empresarial, que tenha como referência o planejamento
e o gerenciamento ambiental de suas atividades (SEIFFERT, 2007). Nesse sentido, em um
Sistema de Gestão Ambiental, a política empresarial traduz o propósito da empresa com os
seus compromissos para a proteção do meio ambiente. O nível de planejamento envolve a
adequação do uso dos recursos naturais, isto é, a conjugação do cumprimento dos objetivos
das políticas públicas com as aspirações da sociedade no que se refere aos impactos
ambientais da empresa. Já o gerenciamento ambiental está no caráter mais tático,
operacional, com o
“[...] conjunto de ações destinado a regular o uso, controle, proteção e conservação do meio
ambiente [...]” (SEIFFERT, 2007, p. 54).
Mas, qual a importância de um Sistema de Gestão Ambiental? Além de lidar com as pressões
dos agentes públicos e privados, há o compromisso de minimizar ao máximo os efeitos
prejudiciais de suas atividades econômicas sobre o meio ambiente. Por isso, um Sistema de
Gestão Ambiental inclui a estrutura organizacional e o conjunto de elementos de
planejamento, procedimentos, processos e práticas para implementar e manter uma política
ambiental na organização (ABNT, 2015).
Nesse contexto, o gerenciamento ambiental assume relevância na medida em que busca o que
foi prometido no plano discursivo, ou seja, a coerência exigida entre os compromissos
assumidos e a realidade das práticas com efeitos na redução dos impactos deletérios de uma
determinada organização. Entendendo o gerenciamento como o nível operacional da
sustentabilidade, é por meio dele que verificamos se os aspectos legais e de planejamento são
observados; se, de fato, o Sistema de Gestão Ambiental é eficiente para a proteção do meio
ambiente.
“[...] descreve uma visão para a produção de bens e serviços que possuam valor econômico
enquanto reduzem os impactos ecológicos da produção” (CAMARA, 2009, p. 237).
Ou seja, processos produtivos que reduzam a intensidade de materiais e energia, assim como
adotem processos de reciclagem e tratamentos de resíduos sólidos. A ecoeficiência também
está prevista na Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, como
Esse conceito da legislação brasileira destaca que a satisfação das necessidades da presente
geração deve ser de forma a não comprometer a capacidade de sustentação dos recursos
naturais planetários para as futuras gerações, consignando uma concepção de ética
intergeracional. Com a ecoeficiência, temos reciprocamente a melhoria econômica e da
imagem da empresa perante as autoridades governamentais e a sociedade, na medida que
assume o valor de gerar negócios levando em consideração a capacidade de suporte do
planeta, tanto na extração de recursos naturais quanto no que se refere à capacidade em
receber resíduos e rejeitos (CAMARA, 2009).
Por fim, a rotulagem verde ou ambiental, que são selos, marcas ou símbolos utilizados para
conferir orientação aos consumidores finais sobre a origem e observância de padrões
ambientais para determinados produtos ou serviços disponíveis no mercado (SEIFFERT, 2007).
Assim, nos rótulos de embalagens de um produto, temos a rotulagem ou selo verde.
Normalmente, a rotulagem é feita por entidades independentes, de forma a garantir a
confiabilidade e seriedade das etapas de verificação da conformidade ambiental de um
produto. A rotulagem verde contribui reciprocamente com a empresa e com os consumidores,
ao incentivar o consumo ambiental consciente. Em conjunto com a rotulagem, temos a
certificação ambiental, que se relaciona com os métodos e processos de produção de uma
atividade econômica. Enquanto a rotulagem é destinada para os consumidores finais, a
certificação é direcionada para as indústrias que usam os recursos, como no caso da
certificação florestal no Brasil, que atesta a origem legal da madeira manejada de forma
adequada e poderá ser usada em outros setores econômicos com a garantia de sua origem.
“[...] prover às organizações uma estrutura para a proteção do meio ambiente e possibilitar
uma resposta às mudanças das condições ambientais em equilíbrio com as necessidades
socioeconômicas” (ABNT, 2015, p. viii).
Ao adotar a ISO 14001:2015, a empresa deve se comprometer com uma abordagem chamada
de Plan-Do-Check-Act (PDCA), que traduzido para o português seria: planejar, fazer, checar e
agir. Cada verbo representa um ciclo da abordagem para um Sistema de Gestão Ambiental,
isoladamente ou em conjunto (ABNT, 2015).
O primeiro ciclo é planejar, com o estabelecimento dos objetivos e processos necessários para
o Sistema de Gestão Ambiental da empresa. O segundo ciclo é fazer, que consiste na execução
do que foi planejado. O terceiro ciclo é checar, que consiste em
Por fim, o quarto ciclo é agir e refere-se à tomada de ações para a melhoria contínua do
sistema de gestão ambiental.
Com o Sistema de Gestão Ambiental da ISO 14001:2015, a organização deverá definir o seu
propósito e os objetivos ambientais que pretende assumir e/ou melhorar. No que se refere ao
conteúdo, um Sistema de Gestão Ambiental deve contemplar alguns pontos norteadores, a
saber: (i) o papel da liderança; (ii) planejamento; (iii) apoio; (iv) operação; (v) avaliação de
desempenho; (vi) melhoria (ABNT, 2015).
“[....] determinar os aspectos ambientais de suas atividades, produtos e serviços os quais ela
possa controlar e aqueles que ela possa influenciar, e seus impactos ambientais associados
[...]” (ABNT, 2015, p. 10).
A referência para o planejamento é a avaliação para o ciclo de vida do produto, como
abordamos no tópico anterior. O terceiro ciclo é o apoio, com a comunicação e
conscientização sobre o Sistema de Gestão Ambiental pelos colaboradores de todos os níveis
da organização, que, de acordo com suas funções, possam receber capacitações e
treinamentos correspondentes ao programa. O quarto ciclo é o de operação, com os critérios
operacionais do seu processo produtivo, sendo que
Essa etapa também deve assegurar respostas para prevenir e mitigar impactos ambientais
adversos, assim como para os casos de emergências. O quinto ciclo é sobre a avaliação de
desempenho, em que a empresa deve monitorar, analisar e avaliar o seu desempenho
ambiental. Isso inclui a realização de auditorias internas, de forma a avaliar o sistema de
gestão ambiental, com as ações necessárias, corretivas ou de mudança dos procedimentos
ambientais. Por fim, o ciclo de melhoria, que consiste na melhoria contínua da adequação e
eficácia do seu Sistema de Gestão Ambiental.
Ao adotar todas essas etapas, a empresa recebe a certificação ISO 14001:2015, que traduz o
seu compromisso com a sustentabilidade e a melhoria ambiental contínua em seus negócios,
reduzindo os seus impactos no ambiente e contribuindo na melhoria da sua imagem e das suas
relações com o mercado e os consumidores.
Saiba mais
Introdução
A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, as organizações e o planeta. Por sua
relevância, estudaremos cada um dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Eles, de
forma fundamental, propugnam a erradicação da pobreza em todas as suas formas e
dimensões como um requisito fundamental para um planeta que conjugue o respeito à
dignidade da pessoa humana e a proteção à natureza.
Conhecer os objetivos e as metas da Agenda 2030 são requisitos importantes para uma
atuação profissional em diálogo com a sustentabilidade.
Venha conosco!
O conteúdo da Agenda 2030 contém uma declaração formal e um plano de ação para o
cumprimento dos 17 (dezessete) Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (conhecidos pela
sigla ODS), com 169 metas associadas. Os objetivos e as metas da Agenda 2030 baseiam-se nas
principais declarações e convenções do sistema global de direitos humanos e nas conferências
ambientais no âmbito da ONU. Por isso, os preceitos da Agenda 2030 assentam-se na
afirmação da concepção universal dos direitos humanos, com os seus valores de dignidade da
pessoa humana e de igualdade e não discriminação. Isto é, uma concepção integral, indivisível
e interdependente de direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais.
O plano de ação da Agenda 2030 estrutura-se nos chamados 5 Ps: Pessoas, Planeta,
Prosperidade, Paz e Parcerias. Trata-se do compromisso de que os seres humanos possam
viver com prosperidade e paz em um mundo ambientalmente saudável e, para que isso seja
possível, as parcerias entre atores internacionais e nacionais são fundamentais.
“o futuro da humanidade e do nosso planeta está em nossas mãos” (ONU, 2015, p. 16).
E conclui:
“temos mapeado o caminho para o desenvolvimento sustentável; será para todos nós, para
garantir que a jornada seja bem-sucedida e seus ganhos irreversíveis” (ONU, 2015, p. 16).
Nesse sentido, para compreender a Agenda 2030, é necessário relacionar o conteúdo de cada
um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Figura 1 | Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Fonte: Nações Unidas Brasil (c2013, [s.
p.]).
O Objetivo 1 é “acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares” (ONU,
2015, p. 19). O combate à pobreza extrema é o pressuposto para que seja possível o
cumprimento dos demais objetivos. Afinal, um cenário de pobreza não permite o exercício dos
mais elementares direitos da pessoa humana.
O Objetivo 3 é “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as
idades” (ONU, 2015, p. 19). Esse compromisso procura reduzir a mortalidade em todos os
estágios da vida, do nascimento à velhice. Ademais, que todos possam ter acesso a um sistema
de saúde universal, cujo financiamento deve ser uma prioridade.
O Objetivo 10 é “reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles” (ONU, 2015, p. 20). A
redução das desigualdades e a promoção da inclusão social, política e econômica são
imperativas no mundo contemporâneo. Isso passa por políticas de proteção social para todos.
O Objetivo 14 é a “conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos
marinhos para o desenvolvimento sustentável” (ONU, 2015, p. 20). Significa reduzir a poluição
marinha e a acidificação dos oceanos, que são riscos para a sustentabilidade global.
Por fim, o Objetivo 17, que é “fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável (ONU, 2015, p. 20)”. Esse último objetivo conjuga
finanças, tecnologia, parcerias, enfim, cooperação nacional e internacional, para que os países
possam executar, de fato, os objetivos de desenvolvimento sustentável.
No que se refere ao Brasil, por meio do Decreto nº 8.892/2016, foi criada a Comissão Nacional
para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com a finalidade de internalizar, difundir e
dar transparência ao processo de implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável da ONU. De início, o Brasil assumiu formalmente a promessa de observar e
concretizar os ODS, contudo, com a mudança de governos, o Decreto nº 10.179/2019 revogou
a norma que criou a Comissão brasileira. Atualmente, não há qualquer dispositivo legal que
estabeleça as incumbências do Estado brasileiro quanto ao cumprimento dos objetivos e das
metas da Agenda 2030. Essa é uma situação que coloca o Brasil em dissonância com as
exigências comuns do tabuleiro das relações internacionais, em que o cumprimento da Agenda
2030 é uma delas. Até mesmo porque o Brasil é um país central para o enfrentamento das
mudanças climáticas e para a estabilidade dos sistemas de sustentação da vida no planeta.
Na edição 2020 do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, foi lançado o Programa
Ambição pelos ODS, uma iniciativa do Pacto Global com metas para auxiliar as empresas que
desejam atuar pelos objetivos e pelas metas da Agenda 2030. A figura a seguir relaciona as
principais referências (chamadas de benchmarks) do programa.
Figura 2 | Principais referências (benchmarks) do Programa Ambição pelos ODS. Fonte: ONU
([s. d.], p. 5).
A empresa poderá, de acordo com a sua área de atuação, escolher uma ou mais referências
para os seus negócios. Conforme o Pacto Global (ONU, 2022), os critérios de sucesso
empresarial e os modelos econômicos estão mudando, e isso significa que as empresas podem
assumir um protagonismo diante dos desafios para a vida das pessoas e para o planeta.
Por fim, diante da inércia do governo brasileiro na implantação dos ODS, o setor empresarial
tem se articulado para conferir a sua contribuição no cenário do Pacto Global e do Programa
Ambição pelos ODS, até mesmo porque uma das condições para o recebimento de
investimentos oriundos de fundos internacionais é a observância da Agenda 2030. Portanto, os
ODS são uma necessidade no ambiente corporativo, como também uma oportunidade de
negócios baseados em valores e compromissos para um futuro comum.
Neste vídeo, estudaremos uma das principais iniciativas globais para a sustentabilidade: a
Agenda 2030. Trata-se de um documento firmado em 2015 por todos os países da ONU com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o ano de 2030. A Agenda 2030 preocupa-se
com a prosperidade e a paz global, com compromissos que governos, corporações e pessoas
devem assumir para a sustentabilidade. Estudaremos, assim, os principais aspectos da Agenda
2030. Estou te aguardando!
Saiba mais
Além disso, há várias iniciativas nos órgãos governamentais brasileiros para a implementação
da Agenda 2030, como no caso do Conselho Nacional de Justiça, do Supremo Tribunal
Federal e do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada. Bons estudos!
Aula 04: ESG
Introdução
Estudante, uma das mais importantes discussões no universo empresarial é o paradigma ESG.
Mas, você sabe o que significa ESG?
A sigla ESG é a conjugação de três palavras da língua inglesa que estabelecem os parâmetros
para a sustentabilidade corporativa, que em português significam: o ambiental, o social e a
governança. O ESG tem origem no mercado de investimentos, como um parâmetro norteador
para a alocação de recursos financeiros em empresas que se comprometem com as práticas de
sustentabilidade. Hoje, adotar o paradigma ESG é tanto um compromisso com o planeta
quanto uma garantia de manutenção da empresa no tabuleiro das relações econômicas. Afinal,
para uma empresa expandir, precisa de investimentos e, hoje, eles são alocados
principalmente naquelas que adotam as práticas ESG.
O conceito de ESG
Mas, o que é ESG? Qual a sua origem? E como as diretrizes e os programas de ESG estão
impactando o mundo corporativo? Essas são perguntas fundamentais para que possamos
compreender como o ESG é, hoje, o principal referencial para os investimentos de fundos do
mercado financeiro e para outros setores empresariais.
A sigla ESG surgiu em uma publicação do Pacto Global das Nações Unidas (ONU) em parceria
com o Banco Mundial denominada Who Cares Wins (Quem se Importa Ganha), de 2004,
vinculado ao setor do mercado de capitais. No ano seguinte, a Iniciativa Financeira do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma; a sigla em inglês é UNEP-FI)
lançou o Relatório Freshfield, elaborado pelo escritório de advocacia Freshfields Bruckhaus
Deringer, sobre a importância, a legalidade e a responsabilidade fiduciária das estratégias ESG
para o mercado de investimentos (ONU, 2009). Fala-se em responsabilidade fiduciária porque
essa é a relação estabelecida entre o investidor e o gestor, ou seja, os gestores de fundos
devem alocar os recursos financeiros dos investidores para empresas que estejam alinhadas
com os princípios de ESG. Nota-se que o conceito de ESG surgiu diretamente da preocupação
do setor de finanças ao perceber a relação entre as questões ambientais e o desempenho
financeiro das organizações a médio e longo prazo (LEMME, 2018). Investimentos, portanto,
devem ser destinados a empresas que compreendem e implementam as questões de ESG
como estruturantes do seu modelo de negócios.
A importância dessa concepção levou a iniciativa financeira do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma) a elaborar, em atenção à solicitação do Secretário-Geral das
Nações Unidas, um documento específico, os Princípios para o Investimento
Responsável (ONU, 2019), com os compromissos para a incorporação do ESG nas decisões de
investimentos. São seis os princípios para o investimento sustentável. O primeiro é incorporar
os temas de ESG às análises de investimento e aos processos de tomada de decisão. Os fundos
e as carteiras de investimentos internacionais devem considerar as questões de ESG na
alocação de seus recursos. O segundo princípio é incorporar os temas de ESG às políticas e
práticas de propriedade de ativos das organizações de investimentos. O terceiro princípio é
fazer com que as entidades que recebem investimentos façam a divulgação de suas ações
relacionadas aos temas de ESG. Empresas que recebem investimentos devem declarar que
incorporaram os padrões de ESG. O quarto princípio é promover a aceitação e implementação
dos quatro princípios anteriores dentro do setor do investimento. O quinto princípio é a
articulação dos fundos para trabalharem unidos para ampliar a eficácia na implementação dos
princípios. Por fim, o sexto princípio estabelece que os signatários do documento se
comprometam a divulgar relatórios sobre atividades e progresso da implementação dos
princípios para o investimento responsável (ONU, 2019).
Mas, qual a importância das questões de ESG? Estabelecer o paradigma de ESG é uma decisão
sobre o futuro sustentável de uma empresa. Como vimos, os parâmetros de ESG são decisivos
para que fundos de investimentos internacionais escolham as empresas em que pretendem
alocar os recursos sob sua custódia, isto é, a destinação de investimentos internacionais e
nacionais, atualmente, é orientada para empresas alinhadas e focadas nos pilares de ESG.
Afinal, em uma economia de mercado, os agentes financeiros influenciam diretamente as
decisões de setores, empresas e empreendedores (LEMME, 2018). Uma empresa que não
esteja atenta a essas questões não terá os investimentos ou financiamentos necessários para a
expansão dos seus negócios. Para exemplificar: as atividades produtivas em geral precisam de
empréstimos para os seus negócios, que são obtidos em instituições financeiras, como é o caso
dos bancos. As diretrizes socioambientais, nos dias atuais, são norteadoras para a concessão
desses financiamentos, até mesmo porque nenhuma instituição quer ser associada ou
responsabilizada por danos ambientais.
Outro aspecto a ser considerado é que as empresas que adotam as questões de ESG articulam
ativos intangíveis como valor e reputação, que são importantes nas relações de mercado e
com o consumidor. Ora, uma empresa não fará negócios com uma outra empresa que não
tenha compromisso com os parâmetros ambientais, que se beneficia do desmatamento ilegal
ou que adota processos produtivos que estão em dissonância com os padrões globais de
redução da emissão dos gases de efeito estufa. Da mesma forma, qual o valor de uma empresa
que adota políticas discriminatórias quanto a gênero e raça e que tem condutas que são
atentatórias aos direitos humanos? Ou ainda, usa relatórios de governança incompletos ou
enganosos para maquiar as suas finanças e situação financeira. Por esse conjunto de razões, os
valores de ESG são fundamentais para a sustentabilidade corporativa, razão pela qual vão
assumindo um papel de centralidade nas discussões econômicas em todo o planeta.
Os elementos estruturantes do ESG
A letra “E” significa Environmental ou, em português, Ambiental. Trata-se do parâmetro que
traz uma constatação imediata: sem um planeta habitável, sustentável, não há como se falar
ou mensurar o social e a governança. O Ambiental preocupa-se com os impactos das
atividades humanas sobre o meio ambiente, em especial, os efeitos da mudança do clima
sobre os sistemas de sustentação da vida. Com as transformações climáticas cada vez mais
intensas, esse parâmetro traz a importância do compromisso corporativo com a redução da
emissão de gases de efeito estufa. Por isso, um aspecto fundamental está na substituição da
matriz energética, de uma economia baseada na queima dos combustíveis fósseis, para uma
economia de baixo carbono. Além disso, no Ambiental, temos a gestão de recursos naturais,
como os hídricos, cuja disponibilidade encontra-se comprometida pela escassez e pela
poluição. Por isso, a necessidade de apoiar empresas que façam uso eficiente desse recurso.
Na mesma perspectiva, o uso racional e adequado do solo, evitando os desmatamentos e as
queimadas, assim como é fundamental a proteção de espaços ambientais, como as áreas de
preservação permanente e as reservas legais.
Outro ponto está na gestão e no gerenciamento dos resíduos sólidos. Em uma sociedade de
consumo, é preciso pensar em procedimentos que articulem a avaliação pelo ciclo de vida dos
produtos, desde o desenvolvimento, a obtenção de matérias-primas, o consumo até a
disposição final. É necessário avaliar o impacto de um produto, de sua concepção até o
momento final, quando se torna rejeito – que é o resíduo sólido que não pode ser mais tratado
ou não é mais viável economicamente – e será destinado a um aterro. Essa avaliação
empresarial é de suma importância para reduzir a produção de resíduos sólidos e, por
evidente, os riscos para a saúde humana e o meio ambiente.
A letra “S”, por sua vez, significa Social, e indica as questões sociais, de como a empresa se
relaciona com o cumprimento e a promoção dos direitos humanos, assim como suas relações
com os stakeholders – tais como funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade do
entorno. No contexto empresarial, fala-se, hoje, em um capitalismo de stakeholders, ou seja,
que além do lucro busque criar valor para todas as partes que se relacionam com a empresa.
A letra “G”, por fim, é para Governance, ou em português Governança Corporativa. Trata-se da
base estrutural do paradigma de ESG, porque é por meio dela que temos a cultura
organizacional da empresa e o seu alinhamento com a sustentabilidade. Uma governança
estabelece de forma objetiva a articulação do seu propósito com os objetivos do negócio. Ela
impõe a transparência nas informações, com
“[...] políticas corporativas transparentes que protejam seus clientes, seu modelo de negócios
e preservem a credibilidade e reputação” (MOTA FILHO, 2022, p. 650).
E por que isso ocorre? Possivelmente, porque não há uma regulamentação das dinâmicas de
ESG. Apesar dos relatórios de sustentabilidade sobre ESG em determinados setores da
economia mundial, não há no Brasil regulamento sobre a questão. Por isso, para evitar
situações como greenwashing, as estratégias de ESG exigem ações concretas, um
engajamento efetivo da organização com a sustentabilidade.
“[...] um alinhamento entre a parte formal (das políticas, regimentos e códigos) e a parte
informal (que é esse dia a dia) da empresa e sua cultura” (DONAGGIO, 2022, p. 417).
Segundo Halla (2022), a governança em aderência ao ESG está ligada aos fatores como
definição de propósito da empresa, com declaração pública de seus valores e objetivos, assim
como estabelecer em seu corpo de governança uma composição que respeite a diversidade de
gênero e social. Da mesma forma, os relatórios de sustentabilidade da empresa (também
chamados de relatórios corporativos socioambientais) devem ser elaborados de forma a
contemplar
Uma das principais instâncias para o cumprimento dos princípios de ESG e que tem sido
adotada pelas grandes corporações são os programas de compliance, que contribuem para
minimizar os riscos e orientar a empresa na observância dos padrões legais e éticos nos
negócios. Sobre a importância e abrangência de compliance ambiental, Marchezini destaca
que ele
A partir dos elementos delineados, temos a estruturação do paradigma de ESG, que será
presente na cultura organizacional e no fluxo operacional e produtivo da empresa.
Videoaula: ESG
Esse vídeo tem como conteúdo o estudo de uma das mais importantes iniciativas para a
sustentabilidade no universo empresarial: o paradigma ESG. Trata-se do tema do momento no
contexto de negócios em nível global. Conheceremos os parâmetros e as práticas ESG e como
impactam diretamente nos principais aspectos das corporações. Essa é uma discussão
fundamental para o seu futuro profissional. Vamos juntos? Estou te aguardando!
Aula 05: Revisão da unidade
A empresa deve ser compreendida, hoje, como um agente social diante dos impactos de suas
atividades na sociedade e no meio ambiente. Tanto que a Constituição Federal instituiu a
função social da empresa, princípio que procura compatibilizar as suas prerrogativas
econômicas com as exigências sociais, dos consumidores e de proteção ao meio ambiente.
Em nível global, a Organização das Nações Unidas (ONU) concebeu a Agenda 2030 como o
documento que sintetiza os compromissos da humanidade com um planeta sustentável. Por
meio da Agenda 2030, foram definidos 17 objetivos e 169 metas para que todos – governos,
corporações e pessoas – se engajem para a sustentabilidade em todas as dimensões, nas
escalas global, nacional, regional e local. O cumprimento da Agenda 2030 foi assumido pelo
universo empresarial, que estabeleceu, por meio da ONU, o Pacto Global, uma iniciativa com
as responsabilidades e os princípios que devem ser seguidos pelas empresas em busca da
sustentabilidade corporativa.
No contexto dos fundos de investimentos, surgiu o paradigma ESG, que se apresenta como a
principal articulação para a sustentabilidade corporativa no âmbito internacional. As práticas
de ESG, com os seus parâmetros ambientais, sociais e de governança corporativa, condicionam
os investimentos das instituições financeiras mundiais. Isso significa que o ESG é
reciprocamente um mecanismo para efetivar as dimensões da sustentabilidade e um
garantidor de investimentos para uma empresa. Portanto, adotar os princípios de ESG é
condição de permanência a longo prazo da corporação no tabuleiro das relações econômicas
em conformidade com os padrões mundiais de desenvolvimento sustentável.
Videoaula: Revisão da unidade
Estudo de caso
Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha como consultor na área
corporativa e foi contratado por uma empresa que enfrenta problemas de relacionamento
com a comunidade do entorno, especificamente a acusação de haver incompatibilidade entre
o marketing verde de seus produtos e as dinâmicas que adota em suas operações
empresariais.
Em que pese essas iniciativas, uma organização não governamental (ONG) que atua na
comunidade onde a empresa está localizada tem efetuado uma série de questionamentos.
Segundo a ONG, ainda que a empresa detenha selo verde para os seus produtos e certificação
ambiental dos componentes do seu processo produtivo, essas métricas são insuficientes para
considerá-la como ambientalmente responsável. Isso porque a empresa não tem adotado os
procedimentos necessários para o gerenciamento dos seus resíduos sólidos, com o descarte
em locais inapropriados e mesmo efetuando lançamento direto de seus efluentes em um
corpo d’água que atravessa a cidade mais próxima, gerando poluição.
Nesse cenário, a situação se agravou com a divulgação dos questionamentos da ONG nos
principais meios de comunicação da região, que atribuíram à empresa a prática
de greenwashing (lavagem verde), de propagação de um marketing verde oportunista e
enganoso.
Preocupada com essa situação, você foi contratado pela empresa em questão para elaborar
uma estratégia ambiental efetiva, de forma a suplantar os problemas apresentados e conferir
a credibilidade necessária.
Reflita
Procure refletir sobre a importância da ética e da transparência nas relações empresariais com
o mercado e os consumidores finais. Note como procedimentos e práticas em sentido
contrário causam desgastes e prejuízos a uma empresa, comprometendo a imagem e a
credibilidade, além dos prejuízos de ordem financeira.
Como você foi contratado para elaborar uma estratégia socioambiental, essa será a discussão.
Em que pese a empresa possuir selo verde para os seus produtos e adquirir matéria-prima
certificada, esses instrumentos, apesar de importantes, são insuficientes para que a empresa
seja considerada sustentável, considerando as informações prestadas. Devem ser mantidos,
mas conjugados com outras medidas a serem consideradas pela empresa.
Nessa perspectiva, como consultor, você poderá propor à empresa a implementação das
práticas ESG nos seus negócios, de modo a inseri-la no principal paradigma da sustentabilidade
corporativa global. Para tanto, a empresa deverá definir claramente a atuação ambiental e
social pretendida, por meio de uma decisão de governança corporativa, com a definição dos
propósitos e objetivos. Trata-se de assumir um claro compromisso que procure superar o
plano retórico e as medidas pontuais.
Resumo visual