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UNIDADE 3 - Responsabilidade Social e Ambiental e Gestão Corporativa

Aula 01: Responsabilidade social corporativa

Introdução

Estudante, é uma alegria tê-lo conosco em uma nova aula da disciplina de Responsabilidade
Social e Ambiental.

A temática que estudaremos é sobre a responsabilidade social corporativa. Trata-se de uma


nova configuração para as empresas que, reconhecendo o seu valor como agente social,
assumem o compromisso ético para o cumprimento das dimensões econômica, social e
ambiental da sustentabilidade. Por meio da responsabilidade social corporativa, a empresa
estabelece um diálogo permanente com a sociedade, conjugando a perspectiva dos seus
negócios com as demandas socioambientais.

Portanto, você, como futuro profissional, a partir dessa aula, compreenderá a importância da
atuação da empresa como um vetor para a construção de valores de uma sociedade
comprometida com a qualidade de vida e a sustentabilidade.

Vamos juntos no estudo dessa temática? Estou te esperando!

O conceito de responsabilidade social corporativa

No que consiste e quais são os propósitos da responsabilidade social corporativa? Qual a sua
importância no contexto empresarial e nas relações com a sociedade? Essas são perguntas que
nos conduzem para uma nova dimensão do papel das empresas no mundo contemporâneo.

Em primeiro lugar, é preciso refletir sobre o significado do termo empresa. A compreensão


usual é que se constitui de uma atividade econômica organizada com a finalidade de obtenção
de lucro. Desde o início do sistema de produção capitalista, o sentido da atividade econômica
por meio de organizações de variados tipos sempre esteve vocacionado para a maximização da
lucratividade a partir da redução de custos e do aumento da produção, ou seja, uma dimensão
de caráter eminentemente econômico.

Todavia, a empresa, enquanto atividade, transformou-se tanto em relação à maneira pela qual
se dá a sua configuração quanto no que se refere à sua importância social. A empresa é um
agente fundamental para o ciclo econômico na medida em que vincula nos processos
produtivos mão de obra e insumos com a geração de renda e as transformações significativas
no ambiente natural e social. Por essa razão e considerando os impactos das suas atividades,
as empresas não estão livres das discussões sobre a sua responsabilidade no quadro do
desenvolvimento, especialmente o sustentável.

Na década de 1950, no cenário norte-americano, Howard Bowen lançou a obra Social


Responsabilities of the Businessman, considerada a primeira reflexão acadêmica a respeito do
tema da responsabilidade social. O autor não se restringiu às questões filantrópicas e pontuou
a importância do compromisso das empresas para a melhoria das condições sociais da
sociedade (JUNCO; FLORENCIO; BUSTELO, 2014).
No Brasil, é a partir da década de 1990 que o tema da responsabilidade social passa a ser
importante para a administração e gestão organizacional. Coube ao Instituto Ethos estimular a
adoção das práticas de Responsabilidade Social Corporativa (também chamada de
Responsabilidade Social Empresarial) no espaço de negócios brasileiro.

As discussões sobre a responsabilidade social contribuíram para que a ciência jurídica


incorporasse um redimensionamento da concepção da atividade empresarial em nossa
sociedade. Nesse sentido, a função social da empresa é um dos aspectos centrais da
Constituição Federal de 1988, em que a atividade econômica é uma conjugação dos interesses
dos proprietários com os da coletividade. No capítulo sobre a ordem econômica, a Carta
Magna disciplina os princípios da livre iniciativa e concorrência à luz da justiça social e de uma
sociedade livre, justa e solidária. As empresas estão vinculadas a conservar e nutrir respeito à
ordem econômica e social por meio da preservação do meio ambiente, da proteção aos
consumidores e aos trabalhadores (BRASIL, 1988). As empresas têm uma função social
destacada e não vinculada exclusivamente à questão econômica.

Em que pese a centralidade da função social da empresa no universo jurídico, ela não se
confunde com a responsabilidade social corporativa. Essa é mais ampla e representa um
compromisso das empresas além do processo econômico e legal para um engajamento social e
ambiental em sociedade. Por essa razão, o desempenho da atividade econômica em
conformidade com a legislação é somente um dos elementos da responsabilidade social
corporativa.

Com esses apontamentos, indaga-se: como conceituar a responsabilidade social corporativa?


No âmbito internacional, uma importante normatização, a ISO 26000:2010, estabelece os
parâmetros para a responsabilidade social, que, por sua vez, apresenta o seguinte conceito:

A responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo propósito das organizações em


incorporarem considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar-
se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. Isso implica
um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável,
que esteja em conformidade com as leis aplicáveis e seja consistente com as normas
internacionais de comportamento. Também implica que a responsabilidade social esteja
integrada em toda a organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os
interesses das partes interessadas. (ABNT, 2010, p. 6)

Para o Instituto Ethos, a responsabilidade social corporativa é definida como:

[...] a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e solidária da empresa
com todos os públicos com os quais ela se relaciona [...] e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, de forma a
preservar recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitar a diversidade e
promover a redução das desigualdades sociais. (EMPRESAS..., 2006, p. 17)

Nota-se, portanto, que a responsabilidade social corporativa expressa uma convenção


empresarial, representativa do novo contexto das empresas que estão eticamente
comprometidas com os processos econômicos, sociais e ambientais.
Os elementos estruturantes da responsabilidade social corporativa

A responsabilidade social corporativa é uma convenção que estabelece compromissos éticos


quanto ao papel e à ponderação das consequências da atividade empresarial. Dessa forma, a
empresa passa a figurar não apenas como um agente econômico, mas como um vetor para a
construção de valores de uma sociedade compromissada com a qualidade de vida e com a
sustentabilidade.

Nesse sentido, como compreender a responsabilidade social corporativa? Há diversos


modelos, mas um dos principais estabelece e articula quatro categorias de responsabilidade
social: (i) econômica; (ii) legal; (iii) ética; (iv) de ação discricionária (CARROL,
1979 apud AMORIM, 2009). As duas primeiras responsabilidades são inerentes às atividades
empresariais, na medida em que o objetivo econômico de uma empresa não pode prescindir
da observância da legislação, seja tributária, trabalhista ou ambiental. A responsabilidade
ética, por sua vez, expressa o compromisso da transparência, da lealdade nas relações,
inclusive intergeracional, ou seja, de garantir os recursos naturais para as gerações futuras. A
responsabilidade discricionária, por fim, é o engajamento voluntário com os projetos
comunitários (sociais, educacionais, recreativos), que contribuem para mudanças na sociedade
(AMORIM, 2009).

Os princípios estruturantes da responsabilidade social corporativa estão estabelecidos na


norma internacional ISO 26000:2010 (ABNT, 2010). O primeiro deles é a accountability, isto é,
a obrigação da empresa em ser responsável por suas ações e decisões, o que implica a
prestação de contas. Accountability deve ser entendida como a

“[...] condição de responsabilizar-se por decisões e atividades e prestar contas destas decisões
e atividades aos órgãos de governança de uma organização, a autoridades legais e, de modo
mais amplo, às partes interessadas da organização” (ABNT, 2010, p. 2).

O segundo princípio é a transparência, que consiste em divulgar de forma clara e objetiva as


consequências dos impactos de suas atividades nas comunidades afetadas. O terceiro princípio
é o comportamento ético, que significa integridade, a organização deve se estabelecer com
base na honestidade e no compromisso com valores em prol da comunidade e do meio
ambiente. O quarto princípio é o respeito pelos interesses das partes interessadas, isto é,
identificar os stakeholders (que são todas as partes envolvidas e interessadas em um negócio),
ouvindo-os ativamente e considerando as suas proposições. O quinto princípio é o respeito
pelo Estado de Direito, ou seja, a organização deve aceitar e respeitar as normas jurídicas
constituintes do Estado. O sexto princípio é o respeito pelas normas internacionais de
comportamento, com a adoção de comportamentos organizacionais responsáveis e
comprometidos com as melhores práticas de governança social e ambiental, mesmo em países
em que as normas sejam mais flexíveis. O sétimo e último princípio é o respeito pelos direitos
humanos em sua compreensão de universalidade, como direitos para todas as pessoas, sem
quaisquer tipos de discriminações, em todos os lugares do planeta. O respeito aos direitos
humanos impõe igualmente a sua promoção, isto é, o engajamento de promovê-los em
conformidade com os preceitos da Carta Internacional dos Direitos Humanos.

A responsabilidade social corporativa equivale a um novo estágio de entendimento do papel


da empresa. Ela conduz a empresa a uma dimensão de cidadania, como uma empresa-cidadã.
Supera-se a ideia de uma empresa como um negócio, de interesse exclusivo dos investidores,
ou mesmo de uma empresa como organização social (MARTINELLI, 1997 apud AMORIM,
2009).
A empresa-cidadã tem

“[...] uma concepção estratégica e um compromisso ético, resultando na satisfação das


expectativas e respeito pelos parceiros” (AMORIM, 2009, p. 134).

A empresa olha para si mesma, e a sociedade e o mercado a olham também para avaliar a sua
contribuição e participação no processo de redução dos problemas socioambientais. Neste
cenário, a empresa articula ações a partir de objetivos que não consistem em práticas
comerciais ou em resultados econômicos imediatos; ela passa a atuar como um agente social
(AMORIM, 2009). Nota-se, destarte, que a responsabilidade social corporativa contém um
núcleo de cidadania empresarial, com ganhos e resultados tanto internamente quanto
externamente que, em última análise, são representativos dos compromissos com a
sociedade.

A aplicação da responsabilidade social corporativa

A responsabilidade social corporativa, como já destacado, é de implementação voluntária. Por


essa razão, há diversas estratégias para torná-la efetiva no contexto empresarial, de acordo
com o setor econômico e o tamanho da empresa. Todavia, o aspecto fundamental é que toda
e qualquer empresa pode adotar os preceitos da responsabilidade social corporativa.

A norma ISO 26000:2010 fornece algumas diretrizes de campos temáticos e de reconhecido


interesse e relevância social. As empresas podem, ao dialogar com as expectativas e
necessidades das partes interessadas, articular ações concretas. As diretrizes funcionam como
temas centrais, a partir dos quais a organização poderá identificar questões peculiares,
relevantes, estabelecendo suas prioridades de ação. Então, como áreas centrais, tem-se:
governança organizacional; direitos humanos; práticas de trabalho; meio ambiente; práticas
leais de operação; questões relativas ao consumidor; envolvimento e desenvolvimento da
comunidade (ABNT, 2010).

É preciso destacar que a responsabilidade social corporativa demanda o cumprimento de


deveres, isto é, ações reais. Por este motivo, é primordial enxergar a responsabilidade social
corporativa no sentido de ações a serem desempenhadas. Não se trata de algo teórico, mas de
medidas reais, efetivas, na expectativa de transformação.

A compreensão da responsabilidade social corporativa impõe a conjugação de duas


perspectivas. Na primeira, a responsabilidade social corporativa está relacionada com as
condutas internas (JONES, 1997 apud AMORIM, 2009), que dizem respeito às dinâmicas
operacionais da empresa. Neste caso, estão incluídas as ações no contexto de programas de
relação com os empregados, sobretudo no que tange ao respeito aos direitos sociais do
trabalho, assim como na geração de uma percepção interna de satisfação e de mútua
colaboração, num ambiente laboral que proporcione o crescimento profissional e a igualdade
de oportunidades. No mesmo sentido, a responsabilidade social perpassa pela estruturação de
um programa de integridade e governança corporativa que esteja imbuído do máximo respeito
aos direitos dos colaboradores, permitindo-lhes o desenvolvimento integral e o engajamento
nas ações empresariais.

No plano interno, ainda há de se pontuar ações no campo do respeito aos direitos humanos,
principalmente para promover a igualdade de gênero, evitando práticas discriminatórios de
quaisquer tipos, bem como integração e acessibilidade de pessoas com deficiência.
Enumeram-se, ainda, programas de ética corporativa, com especial atenção à prevenção de
assédio sexual e moral, programas de relacionamento interno, para promover uma política de
recursos humanos pautada na conciliação e no respeito mútuo das diferenças e singularidades,
programas de capacitação em responsabilidade social corporativa com enfoque na integração
da empresa junto à comunidade local, bem como o estabelecimento de códigos de conduta no
relacionamento com clientes, fornecedores e parceiros comerciais.

A segunda perspectiva da responsabilidade social corporativa é voltada ao plano externo, com


a participação da corporação em ações fora dos seus interesses diretos e imediatos (AMORIM,
2009), por meio de investimento e destinação de recursos a programas sociais, de proteção
ambiental, de conscientização sanitária etc., criados e mantidos pela própria empresa, ou em
parceria com organizações não governamentais ou mesmo com as entidades do Poder Público.
Como destaque, há o desenvolvimento de projetos socioeducacionais junto às comunidades,
atendimento de grupos de risco e pessoas em situação de vulnerabilidade e projetos para a
conservação e recuperação de áreas degradadas pelas próprias atividades empresariais. O
plano externo é estabelecido entre a empresa em suas relações com o entorno, seja a
comunidade ou meio ambiente.

Como se pode notar, a responsabilidade social corporativa contempla inúmeras possibilidades


de atuação para a empresa, a qual caberá definir o conjunto de ações pertinentes ao seu
modelo de negócios ou à dimensão que pretende conferir ênfase em sua atuação.

Videoaula: Responsabilidade social corporativa

Neste vídeo, estudaremos um tema central para compreender o papel das empresas no
contexto da sustentabilidade: a responsabilidade social corporativa. Você conhecerá os
aspectos conceituais e os elementos estruturantes para uma atuação empresarial socialmente
responsável. Ao final, conhecerá também algumas possibilidades de aplicação da
responsabilidade social no contexto das organizações. Vamos juntos? Estou te aguardando
para essa aula!
Aula 02: Indicadores de sustentabilidade

Introdução

Querido aluno, é uma alegria tê-lo conosco nesta aula em que discutiremos os indicadores de
sustentabilidade, que são as práticas e os procedimentos para que uma empresa se apresente
como responsável ecologicamente perante o mercado e os seus consumidores.

Para que uma empresa seja considerada como sustentável, é necessário mais do que o
cumprimento das obrigações legais. Exige-se que ela adote processos e procedimentos que
reduzam os seus impactos no meio ambiente. Uma das principais iniciativas nesse sentido é a
adoção de um sistema de gestão ambiental, com a adoção de uma política empresarial que
conjugue o planejamento e o gerenciamento dos impactos de suas atividades. Por isso,
estudaremos a implantação da ISO 14001:2015, que é uma das principais normas
internacionais para a implementação de um sistema de gestão ambiental.

Vamos juntos no estudo dessa instigante temática!

A importância dos indicadores de sustentabilidade

Atualmente, o discurso sobre a sustentabilidade é dominante em todos os setores, público ou


privado. Trata-se de uma demanda que conjuga o compromisso com o planeta e o ambiente
de negócios. No entanto, a sustentabilidade não pode estar restrita à articulação de seus
pressupostos em um plano meramente retórico, são necessários critérios para aferir se, de
fato, uma organização adota processos, procedimentos e práticas sustentáveis. E ainda que
uma empresa respalde um conjunto de práticas sustentáveis, elas nem sempre são suficientes
para que essa se atribua a prerrogativa de ser sustentável. Diante disso, como caracterizar uma
empresa comprometida com a sustentabilidade?

Em um primeiro momento, o compromisso básico com a sustentabilidade está no


cumprimento das disposições legais, em especial das políticas públicas ambientais. Nelas
temos as normas jurídicas de comando e controle, ou seja, aquelas que estabelecem
imposições para as empresas para, em seguida, serem fiscalizadas pelas autoridades
competentes pelo cumprimento. O licenciamento ambiental é um exemplo na medida em que,
após a empresa cumprir com os procedimentos legais (comando) e obter a licença de
operação, então, ela passa a ser fiscalizada pelos órgãos ambientais (controle).

Mas, para que uma organização seja considerada sustentável, é preciso mais que a submissão
à legislação ambiental, a qual, apesar de obrigatória, se encontra no nível elementar.

Para ser sustentável, a empresa precisa conferir outros aspectos estruturais em seus negócios,
como a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, conjugando as exigências legais com
a definição de uma política ambiental empresarial, que tenha como referência o planejamento
e o gerenciamento ambiental de suas atividades (SEIFFERT, 2007). Nesse sentido, em um
Sistema de Gestão Ambiental, a política empresarial traduz o propósito da empresa com os
seus compromissos para a proteção do meio ambiente. O nível de planejamento envolve a
adequação do uso dos recursos naturais, isto é, a conjugação do cumprimento dos objetivos
das políticas públicas com as aspirações da sociedade no que se refere aos impactos
ambientais da empresa. Já o gerenciamento ambiental está no caráter mais tático,
operacional, com o

“[...] conjunto de ações destinado a regular o uso, controle, proteção e conservação do meio
ambiente [...]” (SEIFFERT, 2007, p. 54).

Mas, qual a importância de um Sistema de Gestão Ambiental? Além de lidar com as pressões
dos agentes públicos e privados, há o compromisso de minimizar ao máximo os efeitos
prejudiciais de suas atividades econômicas sobre o meio ambiente. Por isso, um Sistema de
Gestão Ambiental inclui a estrutura organizacional e o conjunto de elementos de
planejamento, procedimentos, processos e práticas para implementar e manter uma política
ambiental na organização (ABNT, 2015).

Nesse contexto, o gerenciamento ambiental assume relevância na medida em que busca o que
foi prometido no plano discursivo, ou seja, a coerência exigida entre os compromissos
assumidos e a realidade das práticas com efeitos na redução dos impactos deletérios de uma
determinada organização. Entendendo o gerenciamento como o nível operacional da
sustentabilidade, é por meio dele que verificamos se os aspectos legais e de planejamento são
observados; se, de fato, o Sistema de Gestão Ambiental é eficiente para a proteção do meio
ambiente.

Por essa razão, o próprio ambiente de negócios estabeleceu um conjunto de parâmetros,


instrumentos e certificações para a sustentabilidade. Eles são responsáveis por verificar e
atestar se uma organização adota em sua estrutura organizacional, de fato, normas e
procedimentos que articulam os pilares da sustentabilidade.

Principais indicadores de sustentabilidade empresarial

Há um conjunto de processos, procedimentos e práticas que são balizadores dos indicadores


de desempenho para a sustentabilidade ambiental em nível corporativo. Em comum, eles
procuram minimizar os impactos negativos de uma atividade ou de um empreendimento sobre
o meio ambiente.

Um dos mais importantes parâmetros para a sustentabilidade empresarial é a exigência de


avaliar o ciclo de vida de produtos, que consiste nos

“[...] estágios consecutivos e encadeados de um sistema de produto (ou serviço), desde a


aquisição da matéria-prima ou de sua geração, a partir de recursos naturais até a disposição
final” (ABNT, 2015, p. 5).

Essa avaliação é uma abordagem do berço ao túmulo, ou seja, desde a matéria-prima,


passando pelo processo produtivo, o consumo, até a disposição final ambientalmente
adequada, que é a distribuição desse produto enquanto resíduo sólido que se transformou em
rejeito, considerado aquele que não pode mais ser tratado ou que o tratamento é inviável
economicamente.

A legislação brasileira, a propósito, na Lei nº 12.305/2010, que definiu a Política Nacional de


Resíduos Sólidos, estabelece entre os seus objetivos a implementação do ciclo de vida dos
produtos, inclusive instituindo uma responsabilidade compartilhada para todos os envolvidos,
como fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos
serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos (BRASIL, 2010). Desde a
fabricação até a disposição final dos rejeitos em aterros, todos possuem uma responsabilidade
individualizada e encadeada, inclusive os consumidores, que, por exemplo, devem entregar os
resíduos de seu consumo nos sistemas de coleta seletiva. No âmbito empresarial, é preciso
avaliar todos os riscos de um produto, da extração enquanto recurso natural aos impactos do
seu processo produtivo e de sua disposição final, tudo com vistas a proteger a saúde humana e
o meio ambiente.

De igual perspectiva, é necessário destacar a ecoeficiência, que é um conceito que

“[...] descreve uma visão para a produção de bens e serviços que possuam valor econômico
enquanto reduzem os impactos ecológicos da produção” (CAMARA, 2009, p. 237).

Ou seja, processos produtivos que reduzam a intensidade de materiais e energia, assim como
adotem processos de reciclagem e tratamentos de resíduos sólidos. A ecoeficiência também
está prevista na Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, como

a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços


qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução
do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à
capacidade de sustentação estimada do planeta. (BRASIL, 2010, [s. p.])

Esse conceito da legislação brasileira destaca que a satisfação das necessidades da presente
geração deve ser de forma a não comprometer a capacidade de sustentação dos recursos
naturais planetários para as futuras gerações, consignando uma concepção de ética
intergeracional. Com a ecoeficiência, temos reciprocamente a melhoria econômica e da
imagem da empresa perante as autoridades governamentais e a sociedade, na medida que
assume o valor de gerar negócios levando em consideração a capacidade de suporte do
planeta, tanto na extração de recursos naturais quanto no que se refere à capacidade em
receber resíduos e rejeitos (CAMARA, 2009).

Outro importante indicador de desempenho é o método da Produção mais Limpa (P + L),


criado pelas Nações Unidas. Trata-se de uma estratégia preventiva e estratégica para otimizar
a eficiência no uso de matérias-primas e minimizar os resíduos gerados no processo produtivo,
exigindo um processo de inovação permanente nas empresas. O P + L atua por níveis
operacionais. O primeiro nível de P + L é que a empresa deve minimizar a geração de resíduos
de sua atividade, na própria origem ou fonte, seja com a mudança de matéria-prima, seja com
o uso de tecnologias limpas. O segundo nível é a reciclagem interna de seus produtos, que
consiste em serem usados no próprio processo produtivo da empresa. Por fim, em um terceiro
nível, adotar a reciclagem externa, isto é, quando o resíduo de uma empresa é aproveitado por
outra empresa, minimizando, assim, os impactos na geração de resíduos.

Por fim, a rotulagem verde ou ambiental, que são selos, marcas ou símbolos utilizados para
conferir orientação aos consumidores finais sobre a origem e observância de padrões
ambientais para determinados produtos ou serviços disponíveis no mercado (SEIFFERT, 2007).
Assim, nos rótulos de embalagens de um produto, temos a rotulagem ou selo verde.
Normalmente, a rotulagem é feita por entidades independentes, de forma a garantir a
confiabilidade e seriedade das etapas de verificação da conformidade ambiental de um
produto. A rotulagem verde contribui reciprocamente com a empresa e com os consumidores,
ao incentivar o consumo ambiental consciente. Em conjunto com a rotulagem, temos a
certificação ambiental, que se relaciona com os métodos e processos de produção de uma
atividade econômica. Enquanto a rotulagem é destinada para os consumidores finais, a
certificação é direcionada para as indústrias que usam os recursos, como no caso da
certificação florestal no Brasil, que atesta a origem legal da madeira manejada de forma
adequada e poderá ser usada em outros setores econômicos com a garantia de sua origem.

Aplicação dos indicadores de sustentabilidade no contexto empresarial

Um dos principais programas internacionais para a sustentabilidade corporativa é a norma ISO


14001:2015, que articula um conjunto de preceitos e requisitos para a implementação de um
sistema de gestão que melhore o desempenho ambiental de uma organização. No Brasil, essa
norma é de responsabilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e tem como
objetivo

“[...] prover às organizações uma estrutura para a proteção do meio ambiente e possibilitar
uma resposta às mudanças das condições ambientais em equilíbrio com as necessidades
socioeconômicas” (ABNT, 2015, p. viii).

Ao adotar a ISO 14001:2015, a empresa deve se comprometer com uma abordagem chamada
de Plan-Do-Check-Act (PDCA), que traduzido para o português seria: planejar, fazer, checar e
agir. Cada verbo representa um ciclo da abordagem para um Sistema de Gestão Ambiental,
isoladamente ou em conjunto (ABNT, 2015).

O primeiro ciclo é planejar, com o estabelecimento dos objetivos e processos necessários para
o Sistema de Gestão Ambiental da empresa. O segundo ciclo é fazer, que consiste na execução
do que foi planejado. O terceiro ciclo é checar, que consiste em

“[...] monitorar e medir os processos em relação à política ambiental, incluindo seus


compromissos, objetivos ambientais e critérios operacionais, e reportar os resultados” (ABNT,
2015, p. ix).

Por fim, o quarto ciclo é agir e refere-se à tomada de ações para a melhoria contínua do
sistema de gestão ambiental.

A figura a seguir é representativa do PDCA:


Figu
ra 1 | Relação entre o ciclo PDCA e a estrutura da Norma ISO 14.001:2015. Fonte: ABNT (2015,
p. x).

Com o Sistema de Gestão Ambiental da ISO 14001:2015, a organização deverá definir o seu
propósito e os objetivos ambientais que pretende assumir e/ou melhorar. No que se refere ao
conteúdo, um Sistema de Gestão Ambiental deve contemplar alguns pontos norteadores, a
saber: (i) o papel da liderança; (ii) planejamento; (iii) apoio; (iv) operação; (v) avaliação de
desempenho; (vi) melhoria (ABNT, 2015).

Em primeiro plano, a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental passa pelas


lideranças da organização, com o comprometimento e a definição de política ambiental
compatível com as exigências da empresa. Em seguida, o planejamento, que se dá por meio de
ações para abordar os riscos e as oportunidades de um sistema de gestão ambiental. Nisso, a
empresa deve

“[....] determinar os aspectos ambientais de suas atividades, produtos e serviços os quais ela
possa controlar e aqueles que ela possa influenciar, e seus impactos ambientais associados
[...]” (ABNT, 2015, p. 10).
A referência para o planejamento é a avaliação para o ciclo de vida do produto, como
abordamos no tópico anterior. O terceiro ciclo é o apoio, com a comunicação e
conscientização sobre o Sistema de Gestão Ambiental pelos colaboradores de todos os níveis
da organização, que, de acordo com suas funções, possam receber capacitações e
treinamentos correspondentes ao programa. O quarto ciclo é o de operação, com os critérios
operacionais do seu processo produtivo, sendo que

“a organização deve controlar mudanças planejadas e analisar criticamente as consequências


de mudanças não intencionais, tomando ações para mitigar quaisquer efeitos adversos [...]”
(ABNT, 2015, p. 15).

Essa etapa também deve assegurar respostas para prevenir e mitigar impactos ambientais
adversos, assim como para os casos de emergências. O quinto ciclo é sobre a avaliação de
desempenho, em que a empresa deve monitorar, analisar e avaliar o seu desempenho
ambiental. Isso inclui a realização de auditorias internas, de forma a avaliar o sistema de
gestão ambiental, com as ações necessárias, corretivas ou de mudança dos procedimentos
ambientais. Por fim, o ciclo de melhoria, que consiste na melhoria contínua da adequação e
eficácia do seu Sistema de Gestão Ambiental.

Ao adotar todas essas etapas, a empresa recebe a certificação ISO 14001:2015, que traduz o
seu compromisso com a sustentabilidade e a melhoria ambiental contínua em seus negócios,
reduzindo os seus impactos no ambiente e contribuindo na melhoria da sua imagem e das suas
relações com o mercado e os consumidores.

Videoaula: Indicadores de sustentabilidade

Neste vídeo, faremos uma abordagem sobre os indicadores de sustentabilidade ambiental.


Você conhecerá as etapas e como se implementa um sistema de gestão ambiental. Além disso,
estudará alguns dos principais parâmetros para a sustentabilidade empresarial, como a
avaliação do ciclo de vida dos produtos, a ecoeficiência, o programa produção mais limpa e o
selo verde. Vamos juntos? Estou te aguardando para essa aula!

Saiba mais

Conhecer os projetos e as práticas empresariais para a sustentabilidade é uma forma de


diversificar as alternativas e respostas aos problemas enfrentados no cotidiano profissional.
Uma das iniciativas que conjuga as inovações e orientações do setor empresarial brasileiro
para a sustentabilidade é o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), uma associação civil sem fins lucrativos. O CEBDS é integrado por
algumas das maiores empresas, que representam quase metade do PIB brasileiro, e é
responsável por estudos e publicações para a construção de um país mais justo e sustentável.
Como destaque, sugerimos conhecer o documento Visão Brasil 2050, em que o CEBDS destaca
os elementos para uma agenda sustentável para as empresas brasileiras até o ano de
2050. Bons estudos!
Aula 03: Agenda 2030

Introdução

Estudante, atualmente, a Agenda 2030 é a principal referência para a sustentabilidade em


nível global. Trata-se de um documento firmado por todos os países que integram a
Organização das Nações Unidas, que assumiram o compromisso de implementar até o ano de
2030 um conjunto de 17 objetivos e 169 metas para o desenvolvimento sustentável.

A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, as organizações e o planeta. Por sua
relevância, estudaremos cada um dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Eles, de
forma fundamental, propugnam a erradicação da pobreza em todas as suas formas e
dimensões como um requisito fundamental para um planeta que conjugue o respeito à
dignidade da pessoa humana e a proteção à natureza.

Conhecer os objetivos e as metas da Agenda 2030 são requisitos importantes para uma
atuação profissional em diálogo com a sustentabilidade.

Venha conosco!

O surgimento da agenda 2030

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é, atualmente, o mais importante


documento das prioridades globais para a sustentabilidade. Firmada em setembro 2015 e com
vigência a partir de 1º de janeiro de 2016, ela traduz o compromisso comum dos 193 países da
Organização das Nações Unidas (ONU) para atender aos objetivos e às metas para o
desenvolvimento sustentável até o ano de 2030. Ela articula, em essência, as três dimensões
do desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental.

O conteúdo da Agenda 2030 contém uma declaração formal e um plano de ação para o
cumprimento dos 17 (dezessete) Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (conhecidos pela
sigla ODS), com 169 metas associadas. Os objetivos e as metas da Agenda 2030 baseiam-se nas
principais declarações e convenções do sistema global de direitos humanos e nas conferências
ambientais no âmbito da ONU. Por isso, os preceitos da Agenda 2030 assentam-se na
afirmação da concepção universal dos direitos humanos, com os seus valores de dignidade da
pessoa humana e de igualdade e não discriminação. Isto é, uma concepção integral, indivisível
e interdependente de direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais.

O plano de ação da Agenda 2030 estrutura-se nos chamados 5 Ps: Pessoas, Planeta,
Prosperidade, Paz e Parcerias. Trata-se do compromisso de que os seres humanos possam
viver com prosperidade e paz em um mundo ambientalmente saudável e, para que isso seja
possível, as parcerias entre atores internacionais e nacionais são fundamentais.

Em seu preâmbulo, o documento reconhece que

“a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema,


é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável”
(ONU, 2015, p. 1).
Por isso, erradicar a pobreza extrema é condição para que a sustentabilidade seja uma
possibilidade para os objetivos da Agenda 2030. A partir desse ponto crucial, temos os demais
compromissos dos signatários da Agenda 2030, dos quais destacamos (ONU, 2015):

1. Comprometimento com a educação de qualidade em todos os níveis.

2. Promoção da saúde física e mental e cobertura universal da saúde de qualidade.

3. Compromisso com a mudança nos padrões de produção e consumo, de forma a


garantir a sustentabilidade.

4. Reconhecimento da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima


como o fórum intergovernamental para negociar a resposta global à mudança
climática, diante do caráter transfronteiriço das mudanças do clima, que exige a
cooperação de todos os países.

5. Reconhecimento que o desenvolvimento depende da gestão sustentável dos recursos


naturais do planeta.

6. Reconhecimento da importância do desenvolvimento e da gestão urbana sustentáveis


como condição da qualidade de vida.

7. O reconhecimento que a paz e a segurança são essenciais para o desenvolvimento


sustentável, com sociedades justas e pacíficas, assentadas no Estado de Direito e no
respeito aos direitos humanos.

8. O compromisso na promoção da diversidade cultural, da tolerância e do respeito


mútuo para uma ética de cidadania global em um mundo de responsabilidades
compartilhadas. Refere-se ao reconhecimento que todas as culturas podem contribuir
para o desenvolvimento sustentável.

Em constatação ao momento histórico e aos riscos subjacentes, a Agenda 2030 para o


Desenvolvimento Sustentável traz, em suas linhas finais, um chamado à ação para mudar o
mundo, por meio de uma articulação em todas as escalas e níveis de atuação no planeta, do
global ao local, do público ao privado, em um engajamento com o planeta, a nossa casa
comum.

Para a Agenda 2030,

“o futuro da humanidade e do nosso planeta está em nossas mãos” (ONU, 2015, p. 16).

E conclui:

“temos mapeado o caminho para o desenvolvimento sustentável; será para todos nós, para
garantir que a jornada seja bem-sucedida e seus ganhos irreversíveis” (ONU, 2015, p. 16).

O conteúdo da agenda 2030

O cerne da Agenda 2030 são os 17 (dezessete) Objetivos de Desenvolvimento sustentável


(ODS). Cada um deles representa um propósito a ser implementado em todos os países do
mundo. Os ODS devem ser compreendidos como integrados e indivisíveis, mas a aplicação de
cada qual deve levar em consideração as singularidades e realidades de cada país, de acordo
com o seu estágio face aos desafios do desenvolvimento.

Nesse sentido, para compreender a Agenda 2030, é necessário relacionar o conteúdo de cada
um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Figura 1 | Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Fonte: Nações Unidas Brasil (c2013, [s.
p.]).

O Objetivo 1 é “acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares” (ONU,
2015, p. 19). O combate à pobreza extrema é o pressuposto para que seja possível o
cumprimento dos demais objetivos. Afinal, um cenário de pobreza não permite o exercício dos
mais elementares direitos da pessoa humana.

O Objetivo 2 é “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e


promover a agricultura sustentável” (ONU, 2015, p. 19). Esse é um objetivo múltiplo, mas que
estabelece os sistemas sustentáveis de produção de alimentos como meio para reduzir as
vulnerabilidades nutricionais e a fome em todo o planeta.

O Objetivo 3 é “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as
idades” (ONU, 2015, p. 19). Esse compromisso procura reduzir a mortalidade em todos os
estágios da vida, do nascimento à velhice. Ademais, que todos possam ter acesso a um sistema
de saúde universal, cujo financiamento deve ser uma prioridade.

O Objetivo 4 é “assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover


oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ONU, 2015, p. 19). Temos aqui
a educação de meninos e meninas, em todos os estágios, como uma condição para uma vida
digna. De igual forma, erradicar o analfabetismo em todas as idades. Esse objetivo estabelece
o investimento adequado tanto em infraestrutura quanto na formação de professores,
inclusive para o ensino das técnicas e habilidades para o desenvolvimento sustentável.

O Objetivo 5 é “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”


(ONU, 2015, p. 19). Trata-se reciprocamente de um objetivo e de um pressuposto para um
mundo plural e dialógico, em que mulheres e meninas possam exercer plenamente os seus
direitos e liberdades em igualdade de condições, sem discriminações e violências.

O Objetivo 6 é “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para


todos” (ONU, 2015, p. 19). Para tanto, garantir o acesso equitativo à água potável, segura e
acessível para todos, assim como saneamento como condição de saúde.

O Objetivo 7 é “assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à


energia para todos” (ONU, 2015, p. 19). Energia como elemento de dignidade de comunidades
e pessoas, assim como a sua geração por meio de energias renováveis.

O Objetivo 8 é “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável,


emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos” (ONU, 2015, p. 19). Esse é um
objetivo econômico, com incentivos às políticas de desenvolvimento e de eficiência dos
processos de produção e consumo. Também, de emprego decente em um sistema de proteção
trabalhista a homens e mulheres.

O Objetivo 9 é “construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e


sustentável e fomentar a inovação” (ONU, 2015, p. 19). Nele, comtemplam-se infraestruturas
resilientes e confiáveis; modernização para tornar as indústrias sustentáveis; investimentos em
pesquisas tecnológicas para as inovações necessárias.

O Objetivo 10 é “reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles” (ONU, 2015, p. 20). A
redução das desigualdades e a promoção da inclusão social, política e econômica são
imperativas no mundo contemporâneo. Isso passa por políticas de proteção social para todos.

O Objetivo 11 é “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes


e sustentáveis” (ONU, 2015, p. 20). Em um planeta que a maior parte da população vive em
cidades, cabe a exigência de uma urbanização inclusiva e sustentável, com garantia de
habitação, serviços públicos de qualidade, redução da poluição e proteção ao patrimônio
histórico. Também, tornar as cidades resilientes para os desafios da mudança do clima.

O Objetivo 12 é “assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis” (ONU, 2015, p.


20), ou seja, a gestão eficiente dos recursos naturais, por meio de políticas públicas
sustentáveis, tais como a redução do desperdício de alimentos, redução de resíduos etc. E o
fundamental: a conscientização e reflexão dos padrões de consumo em sociedade.

O Objetivo 13 é “tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus


impactos” (ONU, 2015, p. 20). Trata-se do imperativo de reforçar a resiliência e a capacidade
de adaptação face às mudanças climáticas.

O Objetivo 14 é a “conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos
marinhos para o desenvolvimento sustentável” (ONU, 2015, p. 20). Significa reduzir a poluição
marinha e a acidificação dos oceanos, que são riscos para a sustentabilidade global.

O Objetivo 15 é “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas


terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter
a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade” (ONU, 2015, p. 20). Traduz a
necessidade de proteção das florestas do mundo e da biodiversidade, que são constitutivos do
suporte da vida humana na terra.

O Objetivo 16 é “promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento


sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes,
responsáveis e inclusivas em todos os níveis” (ONU, 2015, p. 20). Para tanto, reduzir a violência
em todas as suas formas, proteger as liberdades fundamentais e fortalecer o Estado de
Direito.

Por fim, o Objetivo 17, que é “fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável (ONU, 2015, p. 20)”. Esse último objetivo conjuga
finanças, tecnologia, parcerias, enfim, cooperação nacional e internacional, para que os países
possam executar, de fato, os objetivos de desenvolvimento sustentável.

A aplicação da agenda 2030 nas organizações

A implementação dos ODS demanda o engajamento de governos, organizações e sociedade


civil. Apesar de facultativo, esses objetivos conjugam um compromisso comum para a
promoção dos direitos humanos e da sustentabilidade planetária. No entanto, as ênfases nos
objetivos e nas metas são uma decisão das respectivas organizações.

No que se refere ao Brasil, por meio do Decreto nº 8.892/2016, foi criada a Comissão Nacional
para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com a finalidade de internalizar, difundir e
dar transparência ao processo de implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável da ONU. De início, o Brasil assumiu formalmente a promessa de observar e
concretizar os ODS, contudo, com a mudança de governos, o Decreto nº 10.179/2019 revogou
a norma que criou a Comissão brasileira. Atualmente, não há qualquer dispositivo legal que
estabeleça as incumbências do Estado brasileiro quanto ao cumprimento dos objetivos e das
metas da Agenda 2030. Essa é uma situação que coloca o Brasil em dissonância com as
exigências comuns do tabuleiro das relações internacionais, em que o cumprimento da Agenda
2030 é uma delas. Até mesmo porque o Brasil é um país central para o enfrentamento das
mudanças climáticas e para a estabilidade dos sistemas de sustentação da vida no planeta.

No que se refere às organizações empresariais, há em nível internacional um compromisso


para a realização da Agenda 2030. Trata-se do Pacto Global da ONU, uma iniciativa voluntária
que reflete a preocupação de líderes e corporações com a sustentabilidade. O Pacto Global
conjuga os princípios fundamentais para os negócios no contexto do desenvolvimento
sustentável, estabelecidos a partir de documentos do Sistema Global de Direitos Humanos,
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos; a Declaração da Organização
Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho; a Declaração
do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; a Convenção das Nações Unidas Contra a
Corrupção. Esses documentos são estruturantes das quatro responsabilidades do Pacto Global,
a saber: (i) direitos humanos, (ii) trabalho, (iii) meio ambiente e (iii) combate à corrupção
(ONU, 2022). Essas responsabilidades são representativas dos princípios e valores universais
que devem ser incorporados no ambiente de negócios em nível global.
Por sua vez, essas responsabilidades são estruturantes dos 10 (dez) princípios do Pacto Global,
que as empresas se comprometem a seguir (ONU, 2022). Em matéria de direitos humanos, as
empresas se comprometem a respeitá-los conforme os documentos do sistema internacional
(Princípio 01). Além disso, comprometem-se a não participar de violações de direitos humanos
(Princípio 02). No que se refere ao aspecto de trabalho, as empresas devem a liberdade de
associação dos trabalhadores e reconhecer a negociação coletiva (Princípio 03); eliminar o
trabalho forçado (Princípio 04); abolir o trabalho infantil (Princípio 05) e eliminar a
discriminação no emprego (Princípio 06). Quanto à proteção do meio ambiente, as empresas
devem apoiar a prevenção aos danos ambientais (Princípio 07); promover a responsabilidade
ambiental (Princípio 08) e estimular o desenvolvimento e a difusão de tecnologias
ecologicamente corretas (Princípio 09). Por fim, no que tange à corrupção, as empresas devem
se comprometer a combatê-la em todas as suas formas (Princípio 10).

Na edição 2020 do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, foi lançado o Programa
Ambição pelos ODS, uma iniciativa do Pacto Global com metas para auxiliar as empresas que
desejam atuar pelos objetivos e pelas metas da Agenda 2030. A figura a seguir relaciona as
principais referências (chamadas de benchmarks) do programa.

Figura 2 | Principais referências (benchmarks) do Programa Ambição pelos ODS. Fonte: ONU
([s. d.], p. 5).
A empresa poderá, de acordo com a sua área de atuação, escolher uma ou mais referências
para os seus negócios. Conforme o Pacto Global (ONU, 2022), os critérios de sucesso
empresarial e os modelos econômicos estão mudando, e isso significa que as empresas podem
assumir um protagonismo diante dos desafios para a vida das pessoas e para o planeta.

Por fim, diante da inércia do governo brasileiro na implantação dos ODS, o setor empresarial
tem se articulado para conferir a sua contribuição no cenário do Pacto Global e do Programa
Ambição pelos ODS, até mesmo porque uma das condições para o recebimento de
investimentos oriundos de fundos internacionais é a observância da Agenda 2030. Portanto, os
ODS são uma necessidade no ambiente corporativo, como também uma oportunidade de
negócios baseados em valores e compromissos para um futuro comum.

Videoaula: Agenda 2030

Neste vídeo, estudaremos uma das principais iniciativas globais para a sustentabilidade: a
Agenda 2030. Trata-se de um documento firmado em 2015 por todos os países da ONU com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o ano de 2030. A Agenda 2030 preocupa-se
com a prosperidade e a paz global, com compromissos que governos, corporações e pessoas
devem assumir para a sustentabilidade. Estudaremos, assim, os principais aspectos da Agenda
2030. Estou te aguardando!

Saiba mais

A Agenda 2030 conjuga 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas


associadas. Como se pode notar, trata-se de um extenso programa para direcionar o mundo
para a sustentabilidade. Portanto, é importante que você conheça o detalhamento de uma
cada um dos ODS, articulando a correspondência com a sua atuação profissional. Nesse
sentido, recomendamos acessar o endereço eletrônico do escritório da ONU no Brasil.

Além disso, há várias iniciativas nos órgãos governamentais brasileiros para a implementação
da Agenda 2030, como no caso do Conselho Nacional de Justiça, do Supremo Tribunal
Federal e do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada. Bons estudos!
Aula 04: ESG

Introdução

Estudante, uma das mais importantes discussões no universo empresarial é o paradigma ESG.
Mas, você sabe o que significa ESG?

A sigla ESG é a conjugação de três palavras da língua inglesa que estabelecem os parâmetros
para a sustentabilidade corporativa, que em português significam: o ambiental, o social e a
governança. O ESG tem origem no mercado de investimentos, como um parâmetro norteador
para a alocação de recursos financeiros em empresas que se comprometem com as práticas de
sustentabilidade. Hoje, adotar o paradigma ESG é tanto um compromisso com o planeta
quanto uma garantia de manutenção da empresa no tabuleiro das relações econômicas. Afinal,
para uma empresa expandir, precisa de investimentos e, hoje, eles são alocados
principalmente naquelas que adotam as práticas ESG.

Vamos conhecer um pouco mais sobre ESG?

Tenho certeza de que você vai gostar desse conteúdo!

O conceito de ESG

A complexidade dos desafios ambientais contemporâneos assume destaque na agenda das


organizações e corporações. Elas reconhecem que o engajamento para a superação dos
problemas impõe uma avaliação permanente das relações econômicas com o entorno,
incluindo pessoas, meio ambiente e o próprio mercado. À medida que surgem questões no
tabuleiro das relações globais, novos paradigmas são estabelecidos. É nessa perspectiva que o
ESG é uma tendência presente em todas as discussões corporativas internacionais.

Mas, o que é ESG? Qual a sua origem? E como as diretrizes e os programas de ESG estão
impactando o mundo corporativo? Essas são perguntas fundamentais para que possamos
compreender como o ESG é, hoje, o principal referencial para os investimentos de fundos do
mercado financeiro e para outros setores empresariais.

ESG é a sigla para três expressões da língua inglesa: environmental (meio


ambiente), social (com o mesmo sentido em português) e governance (governança). Essas
palavras representam o conjunto de programas e práticas de uma organização em sua atuação
no mercado, isto é, empresas que atuam diretamente em observância aos parâmetros
ambientais, que conjugam o compromisso social com os seus colaboradores e a comunidade
do entorno do empreendimento e adotam procedimentos de governança corporativa em
conformidade com os aspectos legais e éticos nos negócios.

A sigla ESG surgiu em uma publicação do Pacto Global das Nações Unidas (ONU) em parceria
com o Banco Mundial denominada Who Cares Wins (Quem se Importa Ganha), de 2004,
vinculado ao setor do mercado de capitais. No ano seguinte, a Iniciativa Financeira do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma; a sigla em inglês é UNEP-FI)
lançou o Relatório Freshfield, elaborado pelo escritório de advocacia Freshfields Bruckhaus
Deringer, sobre a importância, a legalidade e a responsabilidade fiduciária das estratégias ESG
para o mercado de investimentos (ONU, 2009). Fala-se em responsabilidade fiduciária porque
essa é a relação estabelecida entre o investidor e o gestor, ou seja, os gestores de fundos
devem alocar os recursos financeiros dos investidores para empresas que estejam alinhadas
com os princípios de ESG. Nota-se que o conceito de ESG surgiu diretamente da preocupação
do setor de finanças ao perceber a relação entre as questões ambientais e o desempenho
financeiro das organizações a médio e longo prazo (LEMME, 2018). Investimentos, portanto,
devem ser destinados a empresas que compreendem e implementam as questões de ESG
como estruturantes do seu modelo de negócios.

A importância dessa concepção levou a iniciativa financeira do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma) a elaborar, em atenção à solicitação do Secretário-Geral das
Nações Unidas, um documento específico, os Princípios para o Investimento
Responsável (ONU, 2019), com os compromissos para a incorporação do ESG nas decisões de
investimentos. São seis os princípios para o investimento sustentável. O primeiro é incorporar
os temas de ESG às análises de investimento e aos processos de tomada de decisão. Os fundos
e as carteiras de investimentos internacionais devem considerar as questões de ESG na
alocação de seus recursos. O segundo princípio é incorporar os temas de ESG às políticas e
práticas de propriedade de ativos das organizações de investimentos. O terceiro princípio é
fazer com que as entidades que recebem investimentos façam a divulgação de suas ações
relacionadas aos temas de ESG. Empresas que recebem investimentos devem declarar que
incorporaram os padrões de ESG. O quarto princípio é promover a aceitação e implementação
dos quatro princípios anteriores dentro do setor do investimento. O quinto princípio é a
articulação dos fundos para trabalharem unidos para ampliar a eficácia na implementação dos
princípios. Por fim, o sexto princípio estabelece que os signatários do documento se
comprometam a divulgar relatórios sobre atividades e progresso da implementação dos
princípios para o investimento responsável (ONU, 2019).

Mas, qual a importância das questões de ESG? Estabelecer o paradigma de ESG é uma decisão
sobre o futuro sustentável de uma empresa. Como vimos, os parâmetros de ESG são decisivos
para que fundos de investimentos internacionais escolham as empresas em que pretendem
alocar os recursos sob sua custódia, isto é, a destinação de investimentos internacionais e
nacionais, atualmente, é orientada para empresas alinhadas e focadas nos pilares de ESG.
Afinal, em uma economia de mercado, os agentes financeiros influenciam diretamente as
decisões de setores, empresas e empreendedores (LEMME, 2018). Uma empresa que não
esteja atenta a essas questões não terá os investimentos ou financiamentos necessários para a
expansão dos seus negócios. Para exemplificar: as atividades produtivas em geral precisam de
empréstimos para os seus negócios, que são obtidos em instituições financeiras, como é o caso
dos bancos. As diretrizes socioambientais, nos dias atuais, são norteadoras para a concessão
desses financiamentos, até mesmo porque nenhuma instituição quer ser associada ou
responsabilizada por danos ambientais.

Outro aspecto a ser considerado é que as empresas que adotam as questões de ESG articulam
ativos intangíveis como valor e reputação, que são importantes nas relações de mercado e
com o consumidor. Ora, uma empresa não fará negócios com uma outra empresa que não
tenha compromisso com os parâmetros ambientais, que se beneficia do desmatamento ilegal
ou que adota processos produtivos que estão em dissonância com os padrões globais de
redução da emissão dos gases de efeito estufa. Da mesma forma, qual o valor de uma empresa
que adota políticas discriminatórias quanto a gênero e raça e que tem condutas que são
atentatórias aos direitos humanos? Ou ainda, usa relatórios de governança incompletos ou
enganosos para maquiar as suas finanças e situação financeira. Por esse conjunto de razões, os
valores de ESG são fundamentais para a sustentabilidade corporativa, razão pela qual vão
assumindo um papel de centralidade nas discussões econômicas em todo o planeta.
Os elementos estruturantes do ESG

Agora que você conhece a origem e a importância do paradigma de ESG, aprofundaremos a


discussão sobre os seus elementos estruturantes, em especial, o sentido de cada uma de suas
letras.

A letra “E” significa Environmental ou, em português, Ambiental. Trata-se do parâmetro que
traz uma constatação imediata: sem um planeta habitável, sustentável, não há como se falar
ou mensurar o social e a governança. O Ambiental preocupa-se com os impactos das
atividades humanas sobre o meio ambiente, em especial, os efeitos da mudança do clima
sobre os sistemas de sustentação da vida. Com as transformações climáticas cada vez mais
intensas, esse parâmetro traz a importância do compromisso corporativo com a redução da
emissão de gases de efeito estufa. Por isso, um aspecto fundamental está na substituição da
matriz energética, de uma economia baseada na queima dos combustíveis fósseis, para uma
economia de baixo carbono. Além disso, no Ambiental, temos a gestão de recursos naturais,
como os hídricos, cuja disponibilidade encontra-se comprometida pela escassez e pela
poluição. Por isso, a necessidade de apoiar empresas que façam uso eficiente desse recurso.
Na mesma perspectiva, o uso racional e adequado do solo, evitando os desmatamentos e as
queimadas, assim como é fundamental a proteção de espaços ambientais, como as áreas de
preservação permanente e as reservas legais.

Outro ponto está na gestão e no gerenciamento dos resíduos sólidos. Em uma sociedade de
consumo, é preciso pensar em procedimentos que articulem a avaliação pelo ciclo de vida dos
produtos, desde o desenvolvimento, a obtenção de matérias-primas, o consumo até a
disposição final. É necessário avaliar o impacto de um produto, de sua concepção até o
momento final, quando se torna rejeito – que é o resíduo sólido que não pode ser mais tratado
ou não é mais viável economicamente – e será destinado a um aterro. Essa avaliação
empresarial é de suma importância para reduzir a produção de resíduos sólidos e, por
evidente, os riscos para a saúde humana e o meio ambiente.

A letra “S”, por sua vez, significa Social, e indica as questões sociais, de como a empresa se
relaciona com o cumprimento e a promoção dos direitos humanos, assim como suas relações
com os stakeholders – tais como funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade do
entorno. No contexto empresarial, fala-se, hoje, em um capitalismo de stakeholders, ou seja,
que além do lucro busque criar valor para todas as partes que se relacionam com a empresa.

No Social, a organização deve se comprometer com a promoção do trabalho digno e decente


para os seus colaboradores. Trata-se de conjugar a observância necessária à legislação
trabalhista com aspectos como a proteção social, a promoção de expedientes de
reconhecimento da diversidade e de eliminação da discriminação nas relações de trabalho. Por
proteção social entende-se: garantir aos colaboradores a redução de riscos e incertezas em
suas atividades, respeitando a saúde física e mental. De igual forma, a empresa deve garantir o
acesso equitativo de grupos vulneráveis e minorias às relações de trabalho, em respeito à
diversidade. E isso passa por processos admissionais e de convivência laboral sem
discriminações. Como exemplo temos a questão de gênero, o respeito e o reconhecimento das
mulheres no mercado de trabalho, inclusive em cargos de chefia e direção. No que se refere às
pessoas com deficiência, a garantia do trabalho em igualdade de condições com as demais
pessoas e sem discriminações. Apesar da ênfase nas questões laborais, o “S” inclui o respeito
amplo aos direitos humanos, em todas a suas dimensões: como direitos civis e políticos
(primeira dimensão); direitos econômicos, sociais e culturais (segunda dimensão); direitos de
solidariedade (terceira dimensão). Essa conjugação expressa a leitura de universalidade,
indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, ou seja, são direitos para todas as
pessoas, sem discriminações, em que essas dimensões de direitos formam um núcleo
fundamental, pois são recíprocos entre si. Afinal, como falar em direitos sociais e econômicos
sem um meio ambiente sadio? Isso mostra como esses direitos se relacionam e são
fundamentais para uma sociedade dialógica e democrática.

A letra “G”, por fim, é para Governance, ou em português Governança Corporativa. Trata-se da
base estrutural do paradigma de ESG, porque é por meio dela que temos a cultura
organizacional da empresa e o seu alinhamento com a sustentabilidade. Uma governança
estabelece de forma objetiva a articulação do seu propósito com os objetivos do negócio. Ela
impõe a transparência nas informações, com

“[...] políticas corporativas transparentes que protejam seus clientes, seu modelo de negócios
e preservem a credibilidade e reputação” (MOTA FILHO, 2022, p. 650).

Por isso, a governança corporativa conjuga o combate à corrupção e de todas as formas de


favorecimentos por meios ilícitos e antiéticos, porque essas condutas reduzem recursos
destinados à sociedade e solapam a confiança da empresa.

A aplicação dos programas de ESG

A implementação de um programa de ESG em uma organização é facultativa, mas revela um


compromisso com os stakeholders, a comunidade, o planeta e, por evidente, a sua própria
permanência no sistema de relações econômicas. Adotar o processo de ESG, contudo, não é
uma decisão retórica de supostamente afirmar valores ecológicos e de proteção ambiental.
Isso porque temos casos de empresas que proclamam a adoção de padrões de
sustentabilidade, mas que estiveram envolvidas em acidentes ambientais e outros
procedimentos incompatíveis.

Trata-se do denominado greenwashing (em português, lavagem verde), que consiste na


prática de utilizar o marketing verde, com propagandas e retóricas de alinhamento ambiental,
mas que, na prática, é uma cortiça de fumaça para iludir os consumidores. Ou ainda, de forma
mais sensível, a desconexão entre a publicidade ecológica e a realidade da empresa, que
continua a manter processos produtivos com impactos prejudiciais ao meio ambiente.

E por que isso ocorre? Possivelmente, porque não há uma regulamentação das dinâmicas de
ESG. Apesar dos relatórios de sustentabilidade sobre ESG em determinados setores da
economia mundial, não há no Brasil regulamento sobre a questão. Por isso, para evitar
situações como greenwashing, as estratégias de ESG exigem ações concretas, um
engajamento efetivo da organização com a sustentabilidade.

O primeiro passo para a implementação de ESG está na governança corporativa, isto é,

“[...] um alinhamento entre a parte formal (das políticas, regimentos e códigos) e a parte
informal (que é esse dia a dia) da empresa e sua cultura” (DONAGGIO, 2022, p. 417).

Apesar de ser um elemento importante em empresas multinacionais e de grande porte, a


governança é possível naquelas empresas de médio e pequeno porte; para tanto, basta existir
uma estrutura mínima de controle e monitoramento interno dos riscos de suas atividades.
Algumas estratégias são fundamentais para se verificar a governança corporativa, entre elas:
as práticas de gestão alinhadas ao ESG; o diálogo e a publicidade sobre os seus processos e
procedimentos; o combate à corrupção e a adoção de programas de compliance.

Segundo Halla (2022), a governança em aderência ao ESG está ligada aos fatores como
definição de propósito da empresa, com declaração pública de seus valores e objetivos, assim
como estabelecer em seu corpo de governança uma composição que respeite a diversidade de
gênero e social. Da mesma forma, os relatórios de sustentabilidade da empresa (também
chamados de relatórios corporativos socioambientais) devem ser elaborados de forma a
contemplar

“[...] os temas que os stakeholders ou partes interessadas têm de dúvidas em relação à


empresa” (HALLA, 2022, p. 589)

inclusive no que se refere às questões de riscos do empreendimento, saúde financeira e fiscal


etc. Em todos os níveis empresariais, deve haver o compromisso com o combate às condutas
que se configuram como corrupção por meio de orientação e treinamentos internos e pela
assunção de políticas semelhantes em relação aos parceiros do negócio, ou seja, não comprar
ou transacionar com empresas envolvidas em casos de corrupção.

Uma das principais instâncias para o cumprimento dos princípios de ESG e que tem sido
adotada pelas grandes corporações são os programas de compliance, que contribuem para
minimizar os riscos e orientar a empresa na observância dos padrões legais e éticos nos
negócios. Sobre a importância e abrangência de compliance ambiental, Marchezini destaca
que ele

[...] vai além da mera obediência à normas e regulamentos administrativos ou de políticas


voluntárias de responsabilidade socioambiental. Contribui para uma redução significativa dos
riscos de desastres e escândalos ambientais com proteção da imagem, para o aprimoramento
de processos voltando-se à racionalização do uso de recursos naturais e do barateamento dos
custos de produção; viabiliza maior acessibilidade a processos seletivos e licitações e, agora,
investimentos; reduz custos processuais, com controle preventivo de responsabilização.
(MARCHEZINI, 2022, p. 102)

Nota-se, portanto, que o compliance ambiental é um programa multidimensional, conjugando


a sustentabilidade a partir das variáveis econômica, social, legal, ética e ambiental
(MARCHEZINI, 2022) de forma contínua. O monitoramento e a revisão de processos e
procedimentos quando necessários são elementos que garantem a integridade e a
confiabilidade sobre a adoção das práticas de ESG. Ademais, essa conjugação de fatores
contribui para o ganho de imagem da empresa perante a sociedade e o mercado.

A partir dos elementos delineados, temos a estruturação do paradigma de ESG, que será
presente na cultura organizacional e no fluxo operacional e produtivo da empresa.

Videoaula: ESG

Esse vídeo tem como conteúdo o estudo de uma das mais importantes iniciativas para a
sustentabilidade no universo empresarial: o paradigma ESG. Trata-se do tema do momento no
contexto de negócios em nível global. Conheceremos os parâmetros e as práticas ESG e como
impactam diretamente nos principais aspectos das corporações. Essa é uma discussão
fundamental para o seu futuro profissional. Vamos juntos? Estou te aguardando!
Aula 05: Revisão da unidade

Governança para a sustentabilidade

Se, em um primeiro momento, as empresas foram vistas como empreendimentos organizados


para a produção de bens e serviços em busca da lucratividade, atualmente essa concepção é
insuficiente para conjugar as determinações e expectativas que elas assumem no mundo
contemporâneo. Afinal, em um cenário de desafios sistêmicos, com mudanças climáticas e
pressões sobre os recursos naturais, a garantia da sustentabilidade perpassa o
redimensionamento dos processos e procedimentos das corporações.

A empresa deve ser compreendida, hoje, como um agente social diante dos impactos de suas
atividades na sociedade e no meio ambiente. Tanto que a Constituição Federal instituiu a
função social da empresa, princípio que procura compatibilizar as suas prerrogativas
econômicas com as exigências sociais, dos consumidores e de proteção ao meio ambiente.

Esse redirecionamento da atuação das empresas é expresso por meio da responsabilidade


social corporativa, uma estratégia que estabelece compromissos éticos como estruturantes
das relações empresariais com a sociedade e o meio ambiente. A responsabilidade social
corporativa efetiva-se pela articulação dos deveres legais com a gestão ética e transparente
das operações internas e externas, efetuadas em diálogo com as partes envolvidas direta ou
indiretamente com os negócios da empresa.

O engajamento das empresas com a sustentabilidade desdobra-se em uma série de


parâmetros que são norteadores do universo de negócios. Instrumentos regulatórios e
econômicos são utilizados para que uma corporação esteja alinhada com as exigências sociais
e ambientais. Para exemplificar: empresas buscam adotar métricas internacionais de
sustentabilidade, como é o caso da norma ISO 140001:2015, que dispõe sobre as diretrizes e
os critérios de um sistema de gestão para a melhoria ambiental de suas atividades.

Em nível global, a Organização das Nações Unidas (ONU) concebeu a Agenda 2030 como o
documento que sintetiza os compromissos da humanidade com um planeta sustentável. Por
meio da Agenda 2030, foram definidos 17 objetivos e 169 metas para que todos – governos,
corporações e pessoas – se engajem para a sustentabilidade em todas as dimensões, nas
escalas global, nacional, regional e local. O cumprimento da Agenda 2030 foi assumido pelo
universo empresarial, que estabeleceu, por meio da ONU, o Pacto Global, uma iniciativa com
as responsabilidades e os princípios que devem ser seguidos pelas empresas em busca da
sustentabilidade corporativa.

No contexto dos fundos de investimentos, surgiu o paradigma ESG, que se apresenta como a
principal articulação para a sustentabilidade corporativa no âmbito internacional. As práticas
de ESG, com os seus parâmetros ambientais, sociais e de governança corporativa, condicionam
os investimentos das instituições financeiras mundiais. Isso significa que o ESG é
reciprocamente um mecanismo para efetivar as dimensões da sustentabilidade e um
garantidor de investimentos para uma empresa. Portanto, adotar os princípios de ESG é
condição de permanência a longo prazo da corporação no tabuleiro das relações econômicas
em conformidade com os padrões mundiais de desenvolvimento sustentável.
Videoaula: Revisão da unidade

Neste vídeo, faremos uma abordagem sobre as principais perspectivas da responsabilidade


social corporativa. Identificaremos as principais dinâmicas da sustentabilidade empresarial e
seus elementos estruturantes. Destacaremos a importância da Agenda 2030
e, especialmente, o principal instrumento de sustentabilidade global: o paradigma ESG, com os
seus parâmetros ambiental, social e de governança. Quero convidá-lo para dialogarmos sobre
as perspectivas e possibilidades da sustentabilidade. Vamos juntos?

Estudo de caso

Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha como consultor na área
corporativa e foi contratado por uma empresa que enfrenta problemas de relacionamento
com a comunidade do entorno, especificamente a acusação de haver incompatibilidade entre
o marketing verde de seus produtos e as dinâmicas que adota em suas operações
empresariais.

Nesse sentido, a contratante é considerada pelo mercado como uma empresa


ambientalmente responsável, pelo fato de possuir processo produtivo com o uso de matéria-
prima com certificação ambiental e de seus produtos possuírem rotulagem verde. Esses
instrumentos norteiam a narrativa da empresa junto aos seus consumidores finais ao declarar-
se alinhada com o desenvolvimento sustentável. Ademais, anualmente, a empresa efetua a
publicação de um relatório corporativo socioambiental, em que destaca as suas políticas
verdes e exterioriza os dados e as informações sobre os impactos dos seus produtos no meio
ambiente.

Em que pese essas iniciativas, uma organização não governamental (ONG) que atua na
comunidade onde a empresa está localizada tem efetuado uma série de questionamentos.
Segundo a ONG, ainda que a empresa detenha selo verde para os seus produtos e certificação
ambiental dos componentes do seu processo produtivo, essas métricas são insuficientes para
considerá-la como ambientalmente responsável. Isso porque a empresa não tem adotado os
procedimentos necessários para o gerenciamento dos seus resíduos sólidos, com o descarte
em locais inapropriados e mesmo efetuando lançamento direto de seus efluentes em um
corpo d’água que atravessa a cidade mais próxima, gerando poluição.

A ONG, ainda, acusa a empresa de manipular as informações constantes do seu relatório


corporativo socioambiental, com a divulgação seletiva dos pontos positivos e a omissão dos
impactos ambientais negativos das suas atividades. Ademais, a empresa confere ênfase
oportunista em projetos sociais na comunidade, de forma a causar boa impressão no mercado
e nos consumidores, mas que são iniciativas oriundas de obrigações firmadas em processos
judiciais, não de forma espontânea. Por fim, a empresa é conhecida pelos seus problemas nas
relações laborais, com condutas discriminatórias quanto à paridade de gênero e pessoas com
deficiência.

Nesse cenário, a situação se agravou com a divulgação dos questionamentos da ONG nos
principais meios de comunicação da região, que atribuíram à empresa a prática
de greenwashing (lavagem verde), de propagação de um marketing verde oportunista e
enganoso.
Preocupada com essa situação, você foi contratado pela empresa em questão para elaborar
uma estratégia ambiental efetiva, de forma a suplantar os problemas apresentados e conferir
a credibilidade necessária.

Reflita

Procure refletir sobre a importância da ética e da transparência nas relações empresariais com
o mercado e os consumidores finais. Note como procedimentos e práticas em sentido
contrário causam desgastes e prejuízos a uma empresa, comprometendo a imagem e a
credibilidade, além dos prejuízos de ordem financeira.

Videoaula: Resolução do estudo de caso

Juntos, articularemos os principais aspectos para a resolução do nosso estudo de caso.

Em primeiro lugar, na qualidade de consultor, é necessário verificar a procedência ou não das


denúncias apresentadas pela ONG. Esse é o ponto de partida, porque, em caso de
confirmação, a empresa deverá, de imediato, empenhar providências para minimizar os
impactos no meio ambiente, em especial, quando ao gerenciamento dos resíduos sólidos, sob
pena de possível responsabilidade ambiental civil, penal e administrativa.

Como você foi contratado para elaborar uma estratégia socioambiental, essa será a discussão.
Em que pese a empresa possuir selo verde para os seus produtos e adquirir matéria-prima
certificada, esses instrumentos, apesar de importantes, são insuficientes para que a empresa
seja considerada sustentável, considerando as informações prestadas. Devem ser mantidos,
mas conjugados com outras medidas a serem consideradas pela empresa.

Nessa perspectiva, como consultor, você poderá propor à empresa a implementação das
práticas ESG nos seus negócios, de modo a inseri-la no principal paradigma da sustentabilidade
corporativa global. Para tanto, a empresa deverá definir claramente a atuação ambiental e
social pretendida, por meio de uma decisão de governança corporativa, com a definição dos
propósitos e objetivos. Trata-se de assumir um claro compromisso que procure superar o
plano retórico e as medidas pontuais.

No âmbito interno, a empresa poderá estabelecer um programa de compliance, de modo a


minimizar os riscos e orientar a observância dos padrões legais e éticos nos negócios. Esse
programa poderá balizar, inclusive, o relatório corporativo socioambiental, de modo a avaliá-lo
criticamente e evitar a inserção de informações distorcidas ou que omitam os impactos
ambientais das suas atividades. A transparência e a ética são elementos para conferir
credibilidade ao relatório em questão, inclusive com a possibilidade de revisão pelos parceiros
de negócios e mesmo de receber os complementos e as críticas das entidades ambientalistas
que atuam na área da empresa.

Em conjunto, o programa de compliance deverá estabelecer os parâmetros de contratações de


pessoal pela empresa, com processos admissionais que contemplem o acesso equitativo de
gênero e outros grupos vulneráveis e minorias nos seus quadros, em respeito à diversidade.
Além disso, garantir que o dia a dia das relações laborais ocorra sem discriminações, em
medidas além das prescrições legais.

Ademais, o programa de compliance deve estabelecer regras e procedimentos para que as


compras sejam efetuadas em empresas que conjuguem os preceitos e valores da
sustentabilidade e que não aceitem condutas dissonantes à ética e probidade em seus
negócios.

Quantos aos projetos comunitários, que a empresa os estabeleça em uma perspectiva


voluntária, seja diretamente ou estabelecendo parcerias com outras entidades que promovam
atividades sociais, culturais ou ambientais. Esses projetos auxiliam nas transformações sociais
no entorno e com ganhos de valor à empresa.

No que se refere às dinâmicas ambientais, os selos e as certificações devem ser mantidos,


entretanto é preciso adotar um sistema de gestão ambiental que traga melhorias efetivas para
a empresa. Nesse ponto, a implementação da norma ISO 140001:2015 seria uma possibilidade.
Há de se conferir atenção ao gerenciamento de resíduos e rejeitos de suas atividades
produtivas, que deverão ser destinados corretamente e não serem lançados de forma
inadequada. Até mesmo porque há uma responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos, conforme define a legislação brasileira. Essas são, em síntese, algumas medidas para
orientar a sua atuação como consultor profissional.

Resumo visual

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