Você está na página 1de 6

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL

DEFINIÇÃO

Eliminação de fezes endurecidas acompanhadas de:

• Dor (ou não)


• Dificuldade ou esforço excessivo nas evacuações
• Aumento no intervalo entre as evacuações (<3 por semana)
• Comportamento de retenção: manobras realizadas pela criança pela contração, até a
exaustão do esfíncter anal externo e da musculatura glútea (cruzar as pernas) p/ evitar a
evacuação.
• Incontinência fecal por retenção: perda involuntária de conteúdo retal fecaloide pela
presença de fezes impactadas no reto e/ou colo.

Não confundir com:

• Incontinência fecal não retentiva: evacuações em locais inapropriados com o contexto


social, pelo menos 1x ao mês, em crianças > 4 anos, decorrente de anormalidade neurológicas
ou musculares.
• Disquezia do lactente: ocorrência de pelo menos 10 minutos de esforço e choro
antecedendo a eliminação de fezes macias → não requer tratamento, pois é transitória.

EPIDEMIOLOGIA

• 90-95% de natureza funcional e pode ocorrer em qualquer faixa etária


o 15% em lactentes → possui fatores de risco que interferem no prognóstico
• Em 2011: mediana de 12% de crianças em 19 artigos.
• Brasil: estudos ainda não publicados sugerem prevalência de 15-20% dos escolares e
adolescentes em amostras da população geral.

ETIOLOGIA

Resulta da interação de fatores biopsicossociais:

• Eventos traumáticos
• Fatores psicossociais
• Alterações na fisiologia e microbiota intestinal
• Alimentação
• Fatores genéticos e hereditários

CICLO VICIOSO DE DOR

Dor à evacuação provoca comportamento de


retenção, fazendo com que as fezes fiquem mais
endurecidas e volumosas, aumentando ainda mais a
dor nas evacuações.

Algumas complicações podem surgir como:

1 Giovana Melo Faria


• Fecaloma.
• Dificuldade para o desenvolvimento do controle esfincteriano (quando no primeiro ano de
vida).
• Incontinência fecal por retenção no pré-escolar.
• Dor abdominal crônica no escolar.

QUADRO CLÍNICO
RESUMO – SLIDE
LACTENTES NATÁLIA

• Fezes endurecidas em cíbalos Mediana de idade da 1ª


• Dor, esforço e dificuldade à evacuação consulta: 5 a 7 anos.
• Nem sempre aumenta-se o intervalo entre evacuações
Idade de início: 50% no
• Fissuras anais são comuns
primeiro ano e 25%
• Diagnósticos diferenciais:
durante o treinamento
o Doença de Hirchsprung (megacolo congênito): retardo na
esfincteriano.
eliminação de mecônio, eliminação explosiva de fezes ao toque
retal, distensão abdominal e massa abdominal volumosa, bem Formato das fezes: desde
como eliminação de fezes em fita e ampola retal vazia. cíbalos até as que
o Alergia à proteína do leite de vaca: constipação iniciada após entopem o vaso.
inserção da PLV na dieta, com fissura anal persistente,
antecedente de perda de sangue nas fezes e falta de resposta à Exame físico: fecaloma na
terapêutica convencional. palpação abdominal ou no
toque retal, fissura anal e
A PARTIR DO SEGUNDO ANO DE VIDA plicoma.

• Comportamento de retenção Comportamento de


• Ampliação do intervalo entre evacuações retenção e escape fecal.
• Fezes de maior calibre e consistência, com grande esforço e dor

PRÉ-ESCOLA E ESCOLAR

• Podem apresentar incontinência fecal por retenção = conteúdo fecalóide na cueca/calcinha =


DISCRIMINAÇÃO por parte dos colegas e pais

OUTRAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

• Dor abdominal crônica reversível com o controle da constipação


• Enurese noturna
• Falta de apetite/anorexia
• Sintomas de infecção urinária atual ou pregressa

CONDIÇÕES ASSOCIADAS À CLÍNICA

• Tratamentos prévios inadequados: médicos e psicólogos.


• Famílias desiludidas e pacientes sofrendo: segregação na própria família e no convívio
social.
• Não são bem acolhidos no serviço de saúde
• Vagas para internação são difíceis

2 Giovana Melo Faria


DIAGNÓSTICO – ESSENCIALMENTE CLÍNICO

• Anamnese detalhada: características das fezes (escala de Bristol – até o tipo 3 é ressecada),
alimentação, evolução e tempo de início, sintomas associados e terapêutica + avaliar critérios
de Roma IV.
• Exame físico: determinar se existe ou não fecaloma (palpação e toque retal), distensão
abdominal e fissura anal.

NÃO CONFUNDIR COM CRITÉRIOS DE ROMA IV PARA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL:

Pelo menos 4 episódios/mês de dor abdominal relacionada com


um dos seguintes:

1. Dor à evacuação
2. Mudança na frequência de evacuações
3. Mudança no aspecto das fezes

3 Giovana Melo Faria


OBS.: Em pacientes com constipação intestinal, se a dor desaparece com o tratamento, descarta-se o
diagnóstico de SII.

EXAMES

RX simples de abdome: caracteriza fecaloma quando a palpação é


difícil (excesso de peso) e o toque retal não pode ser realizado
(recusa do paciente/pais ou suspeita de abuso sexual).

DÚVIDA: Qual a relação entre


medula presa e constipação?

Manometria anorretal: pesquisa do erflexo inibitório retoanal, que,


quando presente, permite descartar megacólon congênito.

RNM da coluna: serve para pesquisa de medula presa.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Devem ser excluídas causas secundárias (anormalidades anatômicas, inflamação, infecção ou


processos neoplásicos):

• Malformação anorretal
• Estenose anal
• Medicamentos
• Hipotireoidismo
• Doença celíaca
• Megacólon congênito
• APLV
• Lesões medulares

SINAIS DE ALARME

• Retardo na eliminação de mecônio


• Constipação desde o nascimento
• Eliminação explosiva de fezes ao toque retal
• Distensão abdominal e fecaloma com ampola retal espástica e vazia
• Antecedente familiar de megacolo congênito
• Febre
• Vomitos biliosos
• Lesões perianais
• Alterações de coluna vertebral/MMII
• Medo excessivo ao exame retal

4 Giovana Melo Faria


TRATAMENTO

EDUCAÇÃO E MEDIDAS SUPORTE


DESIMPACTAÇÃO MANUTENÇÃO
ORIENTAÇÃO PROMOTORAS PSICOLÓGICO

1. Desimpactação: se houver fecaloma ou impactação fecal.


a. Enemas por via retal (clássico) ou oral (mais recomendado) com polietilenoglicol
(PEG).
b. No geral, são necessários 3 a 5 dias para se obter plena desimpactação.
c. Enemas com solução fosfatada só > 2 anos de idade.
d. Em lactentes, usar minienemas com sorbitol
2. Educação e orientação: informações sobre a necessidade de atender o desejo de evacuar,
aproveitando o reflexo gastrocólico (permanecer no vaso de 5 a 10 min após grande refeição).
3. Medidas promotoras da saúde geral: aumento na ingestão de fibras, líquidos e atv. física.
4. Suporte psicológico.
5. Tratamento de manutenção: prevenção de fecaloma por pelo menos 2 meses, sendo a
retirada gradual.
a. Laxante por via oral, diariamente, em dose individualizada.
b. PEG é mais eficaz que outro em termos de eficácia e aceitação.
i. 3350: para > 6 meses; 4000 pode ser manipulado em farmácia.
c. Óleo mineral só > 2 anos e sem comprometimento neurológico: risco de aspiração e
desenvolvimento de pneumonia lipoídica.

5 Giovana Melo Faria


OBS.: Se a criança ainda estiver na idade do treinamento esfincteriano, manter o laxante por cerca de 2
meses após o controle da constipação pelo risco de desenvolver novamente.

PROGNÓSTICO

Quanto mais tardio o diagnóstico (em relação ao início da sintomatologia), pior o prognóstico.

• Tratamento precoce: 80% apresentaram recuperação e ficam livres de laxantes após 6 meses.
• Tratamento tardio: 30% apresentaram recuperação e ficam livres de laxantes após 6 meses.

Em ambulatórios de gastroenterologia pediátrica:

• 50%: recuperação clínica e sem laxantes após 6-12 meses de tratamento


• 10%: controlados com laxantes
• 40%: constipação intestinal não controlada apesar do tratamento

Estima-se que, no prazo de 5 anos, metade dos pacientes apresentem uma recidiva de constipação.

ANEXOS – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E SINAL DE ALARME (TRATADO DE PED.)

6 Giovana Melo Faria

Você também pode gostar