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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

03/08/2023

Número: 5000482-13.2021.8.13.0704
Classe: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 1ª Vara Cível da Comarca de Unaí
Última distribuição : 12/02/2021
Valor da causa: R$ 70.595,77
Assuntos: Indenização por Dano Moral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
LEANDRO MOREIRA ALVIM (AUTOR)
ORLANDO DOMINGOS RODRIGUES (ADVOGADO)
ANTONIO CARLOS DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
PAULO HENRIQUE PEREIRA (RÉU/RÉ)
JORGE HENRIQUE XAVIER GUIMARAES (ADVOGADO)
RICARDO VAZ VALADARES (ADVOGADO)
SILVIO PEREIRA CARDOSO (RÉU/RÉ)
JORGE HENRIQUE XAVIER GUIMARAES (ADVOGADO)
RICARDO VAZ VALADARES (ADVOGADO)
EDNILSON PEREIRA VIANA (RÉU/RÉ)
JORGE HENRIQUE XAVIER GUIMARAES (ADVOGADO)
RICARDO VAZ VALADARES (ADVOGADO)
ROGÉRIO BARBOSA DA SILVA (RÉU/RÉ)
JORGE HENRIQUE XAVIER GUIMARAES (ADVOGADO)
RICARDO VAZ VALADARES (ADVOGADO)
ESTADO DE MINAS GERAIS (RÉU/RÉ)

Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
9851498212 03/08/2023 16:34 Sentença Sentença
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Justiça de Primeira Instância

Comarca de UNAÍ / 1ª Vara Cível da Comarca de Unaí

PROCESSO Nº: 5000482-13.2021.8.13.0704

CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)

ASSUNTO: [Indenização por Dano Moral]

AUTOR: LEANDRO MOREIRA ALVIM

RÉU/RÉ: ROGÉRIO BARBOSA DA SILVA e outros (4)

SENTENÇA

Vistos,

Trata-se de Ação Ordinária de indenização por danos morais, decorrente de um suposto assédio moral c/c
pedido de tutela de urgência, proposta por LEANDRO MOREIRA ALVIM em face de ROGÉRIO
BARBOSA DA SILVA, EDNILSON PEREIRA VIANA, PAULO HENRIQUE PEREIRA, SÍLVIO
PEREIRA CARDOSO e do ESTADO DE MINAS GERAIS, todos devidamente qualificados nos
autos.

O requerente aduz, em síntese, que: trabalha no sistema penitenciário e sempre exerceu sua atividade com
as devidas responsabilidades, com respeito aos seus superiores e colegas, sempre contribuindo para que o
ambiente de trabalho seja agradável a todos; que a partir do início do ano de 2018 começou a perceber
que havia um tratamento desigual entre os colegas de trabalho; que precisou se ausentar do trabalho e
estava plenamente de acordo com o lançamento da falta, contudo, ao conversar com outros agentes, que
também faltaram e que, em alguns casos, não avisaram com antecedência, como fez o requerente, foi
informado que aconteceram decisões diferentes por parte da direção, às vezes era descontado a falta no
banco de horas dos servidores, às vezes o servidor trabalhava um plantão extra para completar a sua carga
horária; que quando foi solicitada a folga pelo requerente, possuía 105hs no seu banco de horas, e mesmo
assim foi-lhe negada; que ao deparar com o desconto do valor R$ 595,77 do seu salário, referente à falta,
o requerente ligou para o Diretor de Segurança, questionando o motivo do valor ter sido descontado do

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seu pagamento e em outros casos semelhantes os agentes tiveram opções que não envolviam o desconto
do salário para compensar sua frequência; que existem fortes razões para acreditar numa possível
perseguição dentro do ambiente de trabalho por parte da direção; que em uma conversa junto ao Diretor
Geral, ele mostrou nas legislações e resoluções da secretaria que o motivo da falta não se enquadrava no
rol de motivos que permitiriam a justificativa da falta; que indagado sobre o porque então da mesma
rigidez não ter sido aplicada aos outros servidores e somente a si, recebeu a resposta de que deveria ver
então com o Diretor de Segurança, pois foi ele quem havia sugerido a aplicação da falta; que esse
tratamento desigual do Requerente com os demais servidores já é, por si só, uma demonstração de
assédio, não sabendo qual o motivo, eis que jamais teve qualquer conduta que pudesse ser menosprezado.

Requereu a antecipação de tutela de urgência para determinar ao Estado de Minas Gerais o pagamento da
importância de R$ 595,77 (quinhentos e noventa e cinco reais e setenta e sete centavos). Requereu, ainda,
a condenação dos requeridos ao pagamento de danos morais no valor de R$ 70.000,00 (setenta mil reais),
e a confirmação da tutela de urgência.

Decisão que indeferiu a antecipação da tutela de urgência ao ID 4185183029.

O Estado de Minas Gerais apresentou contestação ao ID 6305123171, relatando, em suma, que: a


distribuição dos postos de serviços no complexo penitenciário, é pautado pela conveniência e
oportunidade da administração pública, agindo a direção do presídio de acordo com as normas vigentes,
não passando de mero descontentamento do autor; que não houve ilegalidade do desconto na folha de
pagamento do autor, devido a ausência no serviço; que o autor agiu ilegalmente ao ingressar no
estabelecimento prisional com aparelho eletrônico; que inexiste a configuração de assédio moral por parte
dos demais servidores e superiores hierárquicos do autor; que estão ausentes os pressupostos da
responsabilidade civil objetiva e, consequentemente, inexiste obrigação do Estado de indenizar o
requerente por danos morais e materiais; que em caso de condenação em indenização por danos morais, o
valor deve ser reduzido, pautando-se pela moderação, vedando o enriquecimento ilícito da parte.

Ao final, pugnou pela improcedência dos pedidos iniciais.

Os demais requeridos, Rogério Barbosa da Silva, Ednilson Pereira Viana, Paulo Henrique Pereira e Sílvio
Pereira Cardoso Junior, apresentaram contestação ao ID 8629768081, aduzindo, em suma, que: são
infundadas as alegações da parte autora, no que diz respeito ao tratamento diferente, todavia, o desconto
realmente ocorreu pela falta; que o autor faltou ao plantão do dia 10/03/2018 e que teve o desconto em
seu pagamento, o que gerou seu descontentamento com a Direção da PAOJ, chegando a ponto de acionar
o Judiciário para tentar justificar uma falta, requerendo que não fossem realizados descontos em seu
pagamento; que o requerente recebe tratamento de modo igualitário aos demais, pois traz à baila
questionamentos de ordem interna da administração; que cabe à direção da unidade, observada a
necessidade e adequação do serviço público a ser executado, pelos critérios de conveniência e
oportunidade, designar os servidores nos postos de serviços, natureza e especificidade de cada serviço,
atendendo às normas e determinações da Sejusp, visando a prestação efetiva do serviço público; que em
relação ao requerido Ednilson (coordenador à época), este apenas relatou que a ausência do servidor
provocou prejuízo nos trabalhos realizados, deixando a unidade prisional fragilizada e vulnerável; que foi
encaminhado o requerimento para a Coordenação Adjunta de Análise e Admissibilidade Correcional do
Nucad, que orientou a abertura de IP, por sua vez, o diretor geral expediu portaria que ensejou na
Investigação Preliminar 2019.959.0019, encaminhada ao NUCAD em 05/08/2019. No entanto, o
comunicado não teve caráter punitivo, apenas informativo, conquanto o que é dever do coordenador de
segurança para com a direção da unidade, informar qualquer alteração ou anormalidade à direção; que não
houve qualquer conduta ilícita por parte dos requeridos; que o requerente ao acionar o judiciário para
reaver desconto em seu salário, mesmo confessando ter faltado ao serviço e para se justificar cria fantasias
de perseguição, incorre no abuso do direito litigando intencionalmente com deslealdade, devendo ser-lhe
aplicada multa por litigância de má-fé; que os documentos acostados, demonstram que o requerente
confabulou com os colegas e descumpriu regras em seu desejo desenfreado de buscar uma voz que lhe
acalentasse e lhe desse razão para que não descontasse de seu salário com a falta “programada”.

Requereram, ao final, a improcedência dos pedidos iniciais, condenando o autor em litigância de má-fé e
em custas e honorários sucumbenciais.

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A parte autora apresentou impugnação à contestação ao ID 8707718010.

Em fase de especificação de provas, o autor pugnou pela produção de prova testemunhal (ID
8730603082). Os requeridos, por sua vez, pugnaram pela produção de prova testemunhal e documental
(ID 8848228023). O Estado de Minas Gerais, requereu o julgamento antecipado da lide (ID 8921302997).

Decisão de saneamento (ID 9592789101).

Realizada a audiência de instrução e julgamento (ID 9812242152).

As partes apresentaram alegações finais aos IDs. 9840813893 e 9824477211.

Vieram-me os autos conclusos para julgamento.

É o relatório. Fundamento e decido.

Do pedido de justiça gratuita

Para concessão dos benefícios da justiça gratuita, é necessário o preenchimento de requisitos consistentes
na verificação de ocorrência de prejuízo patrimonial à parte e nítida condição de pessoa hipossuficiente, o
que não restou comprovado nos autos. Portanto, o indeferimento do benefício é medida que se impõe.

Diante do exposto, INDEFIRO O PEDIDO DE GRATUIDADE JUDICIÁRIA aos requeridos Rogério


Barbosa da Silva, Ednilson Pereira Viana, Paulo Henrique Pereira e Sílvio Pereira Cardoso Junior.

Estão presentes os pressupostos processuais de constituição e validade do processo. Ademais, as partes


são legítimas e há interesse processual.

Logo, passo à análise do mérito.

Extrai-se dos autos que o autor é servidor público estadual ocupante do cargo de Policial Penal nesta
Comarca. Aponta, em síntese, que é vítima de assédio moral no ambiente de trabalho, por meio de
perseguições. Como exemplo, cita, principalmente, o desconto realizado em seu pagamento por não
comparecer ao plantão no dia 10/03/2018, pois, segundo este, foi indeferido o pedido verbal de folga ou
abatimento do saldo de horas, de modo abusivo e arbitrário.

Assim, observa-se que a controvérsia inicial dos autos cinge-se em verificar a regularidade do desconto de
sua remuneração, no valor de R$ 595,77 (quinhentos e noventa e cinco reais e setenta e sete centavos),
bem como verificar se a conduta dos requeridos consubstanciam assédio moral.

No que concerne ao desconto em sua remuneração pelo Estado de Minas Gerais, observa-se que o autor
não compareceu para prestação do serviço público em 10/03/2018, sob o fundamento de que precisava
levar sua irmã para realizar uma cesariana na cidade de Goiânia/GO.

Diante da ausência, realizou-se a comunicação de ID 2315536436, noticiando a falta do servidor, ocasião


em que o Diretor de Segurança, o requerido Rogério Barbosa da Silva, decidiu por lançar a falta para o
servidor, ora autor, para futuro desconto de sua remuneração. Na ocasião, o Diretor Geral do
estabelecimento prisional, o requerido Paulo Henrique Pereira, ratificou a manifestação.

O contracheque juntado ao ID 2315536439 comprova o referido desconto.

Diante da análise pormenorizada de todo o conjunto probatório presente nos autos, entendo ser devido o
desconto na remuneração do autor, pelo não comparecimento ao estabelecimento prisional no dia do seu
plantão.

Isso porque, o desconto da falta em seu salário, decorreu da omissão do próprio servidor, pois a

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justificativa para a sua falta não encontra previsão legal, não podendo ser fundamento para se ausentar do
trabalho, sem recair-lhe as devidas sanções; destacando o fato de que o autor faltou para acompanhar a
sua irmã no parto de seu sobrinho, assim, não tratava-se pois de situação de saúde de urgência de algum
familiar, em que não existia qualquer outro para substituí-lo, essa magistrada, inclusive, questionou o
autor da razão de seu cunhado não ter acompanhado a própria esposa no dia,recebendo uma resposta não
muito convincente. Portanto, os requeridos e a Administração Pública agiram de acordo com o princípio
da legalidade, em estrito exercício regular do direito ao procederem com o desconto à época, de acordo
com os arts. 98 a 101, do Estatuto dos Servidores Públicos do Estado de Minas Gerais (Lei Estadual 869,
de 1952).

Pontua-se que o desconto correspondente ao dia da falta, não tem a finalidade de penalizar o servidor ou
reduzir sua remuneração, mas tão somente registrar, com fidelidade, sua assiduidade durante o período de
referência e lhe deferir a devida contrapartida pecuniária.

Dessa forma, diante da injustificada falta do autor ao serviço, tem-se que o desconto em seu contracheque,
em verdade, mostra-se legítimo, já que não houve a contraprestação do serviço.

Ato contínuo, passo à analise do pedido de indenização por danos morais, pautado, no suposto assedio
moral sofrido por parte de seus superiores hierárquicos.

A responsabilidade civil, consubstanciada no dever de indenizar o dano sofrido por outrem, advém do ato
ilícito, resultante da violação, intencional, da ordem jurídica com ofensa ao direito alheio e lesão ao
respectivo titular, bem como a caracterização do nexo de causalidade entre a conduta culposa e o dano
suportado pela vítima, conforme a regra expressa dos artigos 186 e 927 do Código Civil, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou


imprudência, violar direito, e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

O aludido instituto tem como pressupostos básicos a conjugação de três elementos fundamentais: a culpa,
de forma que só o fato lesivo intencional ou imputável ao agente por omissão de dever autoriza a
responsabilidade civil; o dano, como lesão provocada no patrimônio da vítima e o nexo de causalidade
entre o dano e efetivamente o comportamento censurável do agente.

O pedido indenizatório exige a caracterização da ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente, além do
nexo causal entre o comportamento danoso e a alegada lesão, elementos esses que se assentam na teoria
subjetiva da culpa, adotada pelo ordenamento jurídico pátrio.

No caso em apreço, o pleito autoral constitui em indenização por dano moral referente ao alegado assédio
moral sofrido pelo seus superiores hierárquicos, ora requeridos, em razão da ausência de critérios
objetivos e de motivação para com a organização administrativa dos policiais penais.

O assédio moral pode ser conceituado como a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e
constrangedoras, de forma repetitiva e prolongada durante a jornada de trabalho e no exercício de suas
funções.

Em relação à prática do assédio moral, podemos reconhecer três formas: o assédio moral vertical
descendente, praticado pelo empregador contra o empregado; o assédio moral vertical ascendente
praticado pelos empregados contra o empregador e o assédio moral horizontal, cometido entre
empregados do mesmo nível hierárquico.

O primeiro é o tipo mais comum de assédio e caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de
trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação aos seus subordinados.

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No caso em apreço, creio que não restou configurada a prática de assédio moral vertical descendente, uma
vez que, compulsando detidamente as provas juntadas aos autos, não se infere a prática de violência
psicológica por qualquer superior hierárquico em relação ao autor.

De todas as testemunhas ouvidas em Juízo, nenhuma delas conseguiram relatar, de forma clara e objetiva,
situações de humilhação que tenha a parte autora como vítima, tampouco outros policiais penais.

Além disso, não restou demonstrado nos autos que os policiais penais da “equipe do cadeado” eram
designados para a função como forma de punição ou castigo dos superiores. Ao que percebo, o que
emerge dos autos, especificamente dos depoimentos dos policiais penais ouvidos em juízo, trazidos por
ambas as partes, tal afirmação não ultrapassa a esfera de especulações entre os servidores, visto que a
carga horária da equipe era, de fato, mais pesada e estressante que as demais, mas não ao ponto de
configurar um castigo, humilhação ou ofensa à integridade física dos agentes. Além do mais, no momento
em que os policiais decidiram ingressar na carreira tinham pleno conhecimento do estresse básico e
inerente da profissão de agente de segurança penitenciário, sofrendo com o contato intenso e diário com
os presos.

Cabe ressaltar também, que a referida equipe do cadeado foi extinta há mais de dois anos, após pedido
dos servidores, integrando hoje a equipe interna, com melhor carga horária e rodízio dos agentes.

Quanto às alegações do autor e dos depoentes de que não havia critério objetivo de merecimento para
recebimento de benefícios internos, como mudança de equipe, postos, plantões e afins, tenho que tais
critérios são abarcados pela discricionariedade e conveniência dos administradores da penitenciária, não
sendo demonstrado, à princípio, qualquer ilegalidade ou desvio de finalidade que demande o controle de
legalidade jurisdicional.

Ressalta-se, por oportuno, que a testemunha Wellington Ferreira de Souza Silva ao ser indagada por esta
magistrada acerca de eventual avaliação funcional desabonadora, este respondeu que desconhece qualquer
colega de trabalho que tenha sido prejudicado pelos requeridos, principalmente financeiramente, com uma
avaliação de desempenho pautada com abuso de poder.

Pelo exposto, considero que as situações ocorridas no estabelecimento prisional tratam-se de meros
dissabores da vida contemporânea, principalmente nas relações interpessoais de trabalho, ausentes fatos
efetivamente suscetíveis de efetivo abalo psíquico em relação ao autor.

Em casos análogos, assim decidiu o Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PARCIALIDADE DO


JUIZ. NÃO COMPROVAÇÃO. AGENTE DE SEGURANÇA
PENITENCIÁRIO. CONDUTA DO DIRETOR DO PRESÍDIO. ASSÉDIO
MORAL. NÃO COMPROVAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. A prolação de
sentença desfavorável à pretensão autoral, por si só, não caracteriza a
parcialidade do Julgador. Nos termos do artigo 37, §6º, da Constituição da
República, a responsabilidade do Estado é objetiva, sob a modalidade do risco
administrativo respondendo a Administração Pública pelos danos que seus
agentes, nessa condição, causarem a terceiros. Para configuração do assédio
moral, faz-se necessário que a parte autora demonstre que, no exercício de
suas funções laborais, era submetida de forma repetitiva e prolongada a
situações humilhantes, capazes de violar seus direitos de personalidade, sendo
certo que um ato isolado não caracteriza o assédio moral. Alegando o autor
ter sido vítima de assédio moral no ambiente de trabalho, competia ao mesmo
fazer prova dos fatos constitutivos de seu direito, nos termos do artigo 373, I,
do Código de Processo Civil, o que, no entanto, não ocorreu, devendo ser
mantida a sentença que julgou improcedente o pedido indenizatório.
(Apelação Cível n. 1.0209.12.007743-0/001, Relator: Des. Moacyr Lobato, 5ª
Câmara Cível, julgamento em 26.10.2018, publicação da súmula em
31.10.2018).

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APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA C/C
INDENIZAÇÃO - IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO - AGENTE DE
SEGURANÇA PENITENCIÁRIO - CONTRATO TEMPORÁRIO VÁLIDO
- 13º SALÁRIO, FÉRIAS E HORAS EXTRAS - PREVISÃO
CONTRATUAL - ÔNUS DA PROVA - ASSÉDIO MORAL -
INDENIZAÇÃO INDEVIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Impossível
estender ao servidor regularmente contratado os benefícios não contemplados
no contrato administrativo e na lei, aplicando-se o disposto no artigo 39, §3º
da CR/88, na hipótese, por expressa previsão contratual, não obstante,
deixando a parte autora de fazer prova constitutiva de seu direito (artigo 333,
I do CPC/1973), atinente ao recebimento de 13º salário, férias e horas extras
eventualmente em atraso, deve ser mantida a sentença de improcedência. 2.
Consiste o assédio moral afronta ao princípio fundamental da dignidade da
pessoa humana, consagrado no artigo 1º, inciso III da Constituição da
República, violando, por conseguinte, a integridade física, psíquica e moral
do trabalhador, que é exposto a situações humilhantes e constrangedoras por
superiores ou colegas de trabalho, de forma reiterada. 3. Todavia, não se
indenizam dissabores da vida contemporânea, devendo-se averiguar, com
atenção, os fatos efetivamente susceptíveis de efetivo abalo psíquico e
alteração do ânimo da pessoa afetada, de modo a se evitarem abusos e
condenações despropositadas do ente público. 4. Recurso não provido.
(Apelação Cível n. 1.0024.14.053667-3/001, Relatora: Desª. Teresa Cristina
da Cunha Peixoto, 8ª Câmara Cível, julgamento em 01.03.2018, publicação
da súmula em 12.03.2018).

Assim, não há que se falar em prática de assédio moral vertical descendente, e, consequentemente, em
responsabilidade indenizatória pelos requeridos.

Sendo assim, não se desincumbindo o requerente de comprovar o assédio moral praticado pelos
requeridos, ônus que lhe competia, a teor do disposto no art. 373, I, do CPC, tenho que os pedidos devem
ser julgados improcedentes.

Ante o exposto, com fulcro no artigo 487, I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos iniciais.

CONDENO, ainda, o autor ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos honorários
advocatícios que fixo em 10% do valor atualizado da causa.

Transitada em julgado a sentença e cumpridas as formalidades exigidas, ARQUIVEM-SE.

P.R.I.C.

UNAÍ, data da assinatura eletrônica.

ALISSANDRA RAMOS MACHADO DE MATOS

Juíza de Direito

1ª Vara Cível da Comarca de Unaí

Rua Virgílio Justiniano Ribeiro, 555, Centro, UNAÍ - MG - CEP: 38610-001

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