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Publicado em NOVA ESCOLA Edição 248, 01 de Dezembro |


2011

Pense Nisso

Professor(a), sim, com


muita honra
O presente de uma nação pode se medir pelo IDH ou PIB,
mas o futuro se avalia pelo empenho das escolas e pela
confiança dos professores
Luis Carlos de Menezes

Ao fim de mais um ano, acompanho o balanço


de realizações, dívidas e dúvidas nos conselhos
de escola e de classe em que tenho o privilégio
de ser recebido. Faço isso há anos e me chama
a atenção, ultimamente, mais que novos
resultados ou velhos problemas, um crescente
sentido de responsabilidade coletiva.
Preocupam-me as difíceis condições de
trabalho, mas o sentimento que me domina é
de orgulho, em ser parte de algo que é
determinante para a construção de nosso país.
Luis Carlos de Menezes é físico e
educador da Universidade de São Paulo Resolvi falar do que me anima, nesta edição,
(USP) para fazer um lembrete: temos uma função
social importante a desempenhar, tanto os
experientes quanto os que estão começando
na carreira - para esses, NOVA ESCOLA lançou o Guia do Professor Iniciante
(nas bancas por 10,90 reais).

A despeito de tudo o que ainda falta alcançar, asseguro que estamos no


rumo certo quando vejo estudantes tratados como gente, e não como
números, e seus problemas de aprendizagem vistos como questões da
escola, e não da sociedade ou da família. Posso testemunhar isso, por
exemplo, em instituições com mais de mil alunos, em que a coordenadora
pedagógica procura a razão de um rapaz antes assíduo e participativo passar
a faltar ou para algumas garotas estarem tão mal em duas disciplinas se
estão bem nas demais. E, quando observo um experiente professor de
Matemática reservar parte das aulas para suprir defasagens de seus alunos
ou uma jovem da área de humanas se dispor a um diálogo de aproximação
com estudantes que parecem estar na escola a contragosto, percebo que são
de fato educadores. Afinal, não repetem o julgamento de que "esses alunos
não têm condição de estar aqui...".

Este foi um ano difícil, com boas escolas sendo palco de tragédias. Mas elas
não estão em guerra civil. São espaços de resistência e construção social.
Ocorre que para elas confluem todas as questões de seu entorno social e,
quando forem notícia policial, recusemos "soluções" como detectores de
metais e câmeras por toda parte. Também, quando se discutem salário e
condições de trabalho, não aceitemos insinuações que não se pode esperar
nada de professores que atuam sob risco e ganham pouco. Meias verdades,
tão convincentes quanto maléficas, que nos desmerecem. Más condições
devem ser apontadas para serem superadas, e não para desvalorizar a
carreira.

Precisamos compreender a crise da Educação em função do seu crescimento,


pois se, em poucas décadas trouxemos o povo brasileiro para dentro da
escola, agora é preciso saber o que fazer com ele. É disso que resultam
muitas questões por resolver. Por isso, novos recursos materiais serão
insuficientes sem o envolvimento dos milhões de brasileiras e brasileiros que
se dedicam ao Magistério. São eles que acolhem crianças e jovens de todo o
país, em suas esperanças e em seus problemas, que, na realidade, são as
esperanças e os problemas de toda a nação. Escola não é mera agência de
promoção econômica, mas, quando se discute qualificação dos nossos
trabalhadores para desenvolver a economia e superar o desemprego
estrutural, é de Educação que se está falando. Da mesma forma, não é mera
trincheira socioambiental. Quando se analisam questões dessa área, como a
degradação urbana, também é de Educação que se está falando.

Por isso tudo, nós somos fundamentais para que o Brasil tenha um futuro
que valha a pena. Recebemos em nossas aulas todas as potencialidades e
limitações de nossa sociedade e, precisamos admitir, elas demandam nossa
potencialidade e igualmente revelam nossas limitações. Devemos pedir apoio
e exigir condições para cumprir o que de nós se espera, mas não nos
desculpemos pelo que somos e, se questionados, podemos dizer: sou
professor(a), sim, com muita honra!

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