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Álvaro de Campos 1/1

ÁLVARO DE CAMPOS
Álvaro de Campos é o poeta futurista, que exprime a faceta moderna de Pessoa.
Tem três fases: na fase decadentista compõe o Opiário (data fictícia de Março de 1914),
em homenagem a Sá-Carneiro, pretensamente elaborado durante uma viagem ao
Oriente; na segunda fase sofre influência do futurismo de Walt Whitman, patente em
Ode Triunfal, Dois Excertos de Odes, Ode Marítima, Saudação a Wa/t Whitman e
Passagem das Horas; por fim, a fase independente, liberta de int1uências marcantes,
que abrange o período de 1916 a 1935.
O Opiário foi escrito por Pessoa para ilustrar a fase decadentista de Álvaro de
Campos; imita a nostalgia do Além, os sonhos de um Oriente que não existe, o
inebriamento do ópio, e o horror à vida, recorrendo a um vocabulário semelhante ao de
Sá-Carneiro ( imagens e símbolos idênticos ).
Na exuberante fase futurista canta a máquina, a energia mecânica, a indústria, o
vertiginoso progresso técnico, sentindo-se solidário com a humanidade em cuja força
confiava. O estilo torrencial, desenvolvendo-se em longos versos que, à maneira de
Caeiro, repudiam a rima. Usa com abundância as exclamações, as onomatopeias, as
apóstrofes, as enumerações extensíssimas, com uma fantasia lexical inesgotável.
Mas este delírio implica uma luta do sujeito consigo próprio, contra o tédio e a
inércia que o acompanham desde a fase do Opiário: « Eu tão contíguo à inércia, tão
facilmente cheio de tédio (...) Sim – eu, franzino e civilizado, meto dentro as portas, /
porque neste momento não sou franzino nem civilizado, / sou EU, um universo pensante
de carne e osso, querendo passar, / e que há-de passar por força, porque quando quero
passar sou Deus! » (Saudação a Walt Whitman).
A euforia futurista é uma forma de fugir a este tédio avassalador, de o suprimir
pela embriaguês, de evitar ret1ectir sobre o mistério do mundo, a precaridade da vida,
de sentir as saudades da infância ou qualquer outra coisa irreal, preocupações que o
sujeito expressa no longo parênteses que interrompe a contemplação extasiada da
humanidade, na Ode Triunfal: “ Na nora do quintal da minha casa / o burro anda à
roda, anda à roda, / e o mistério do mundo é do tamanho disto. / Limpa a suor com o
braço, trabalhador descontente. A luz do sol abafa o silêncio das esferas / e havemos
todos de morrer, / ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, / pinheirais onde a minha
infância era outra coisa / do que eu sou hoje... “.
Álvaro de Campos partilha com Pessoa ortónimo o cepticismo, a dor do pensar,
o desejo de algo irreal e perfeito, que desenvolve na última fase, a partir de 1916, em
que surge corno um poeta cansado, abúlico, inquieto e nauseado. A divergência com
Pessoa é mais de natureza, e consequentemente, de estilo do que de ideias, apesar de lhe
ter contestado algumas opiniões.

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