Você está na página 1de 4

Regulação hormonal da oogénese

Ao contrário do aparelho reprodutor masculino, o aparelho reprodutor feminino funciona em ciclos com
duração média de cerca de 28 dias, que se repetem desde a puberdade até à menopausa. Cada ciclo,
designado por reprodutivo, menstrual ou éstrico, corresponde ao intervalo de tempo entre o primeiro dia da
menstruação e o dia anterior à menstruação seguinte, manifestando-se tanto ao nível dos ovários -ciclo
ovárico- como ao nível do útero -ciclo uterino-, órgãos onde ocorre um conjunto de alterações relacionadas
entre si.

O ciclo ovárico é controlado diretamente pelo eixo hipotálamo-hipófise-ovários, que, assim, regula a
oogénese. Nos primeiros dias do ciclo ovárico, os baixos níveis de estrogénios e progesterona no sangue
estimulam a libertação da hormona GnRH pelo hipotálamo. Esta hormona, atuando sobre a hipófise anterior,
leva à produção e libertação de gonadotrofinas LH e FSH, que atuam sobre os folículos ováricos, dando início
ao amadurecimento de alguns deles. As camadas celulares dos folículos em desenvolvimento iniciam a
produção de estrogénios, cuja concentração vai aumentando, atingindo níveis elevados no sangue a partir do
10.º dia do ciclo menstrual.

O aumento do estrogénio provoca um aumento dos pulsos de produção de GnRH, no único episódio de
retroação positiva do ciclo, levando a um pico de produção de FSH e LH pela hipófise, no 13.º dia. Este pico
de concentração de gonadotrofinas provoca a ovulação por volta do 14.ºdia. após a ovulação, as células
foliculares que permanecem no ovário dão origem ao corpo lúteo ou corpo amarelo, cujas células passam a
produzir estrogénios e, sobretudo, progesterona. O aumento destas hormonas provoca a inibição na
produção de GnRH e, consequentemente, de FSH e de LH, o que conduz à atrofia progressiva do corpo
amarelo, na fase final do ciclo, e ao decréscimo dos teores de estrogénio e progesterona no sangue. Este
mecanismo de retroação negativa conduz ao início de um novo ciclo menstrual.

No decurso do ciclo ovárico é possível distinguir três fases:

 Fase folicular- decorre desde o primeiro dia do ciclo até à ovulação. Caracteriza-se pelo
desenvolvimento de vários folículos, dos quais apenas um atinge a plena maturação, sofrendo os
restantes atresia.
 Fase ovulatória- dura de um a três dias e culmina por volta do 14.º dia do ciclo, com a ovulação,
momento em que ocorre a rotura do folículo e a libertação do oócito II para as trompas de Falópio.
 Fase luteínica- também chamada fase do corpo amarelo, decorre desde a ovulação até ao final do
ciclo.

Durante o ciclo reprodutivo, ou ciclo menstrual, o útero passa também por transformações cíclicas que
constituem o ciclo uterino. Este ciclo, intimamente dependente dos níveis de hormonas ováricas no sangue,
caracteriza-se, sobretudo, pelas mudanças que ocorrem no endométrio, a camada mais interna do útero, que
reveste a cavidade uterina.

O ciclo uterino compreende três fases:

 Fase menstrual- a diminuição de estrogénio e progesterona, resultante da atrofia do corpo lúteo,


reduz a estimulação do endométrio, provocando a desagregação deste tecido e dos seus capilares
sanguíneos, que se tinham desenvolvido no ciclo anterior. Desta forma, origina-se um corrimento
designado por fluxo menstrual ou menstruação.
 Fase proliferativa- ocorre a proliferação do endométrio, com crescimento rápido das suas camadas
celulares e vasos sanguíneos. Este crescimento é devido à ação estimulante dos estrogénios
resultantes do desenvolvimento de novos folículos ováricos.
 Fase secretora- após a ovulação, o corpo lúteo produz estrogénio e progesterona em grandes
quantidades. Enquanto os estrogénios favorecem o crescimento adicional do endométrio, a
progesterona promove o desenvolvimento das glândulas secretoras, transformando o endométrio
num órgão secretor capaz de nutrir o embrião e de permitir a sua fixação nas etapas iniciais do seu
desenvolvimento.
Fecundação

A propósito… Durante a relação sexual, a ejaculação masculina liberta na vagina esperma que
contém milhões de espermatozoides. Uma quantidade apreciável destas células fica
Uma mulher produz, em regra, um
em contacto com o muco cervical produzido pelas glândulas presentes no colo do
oócito II de 28 em 28 dias. Esta célula
apenas se mantém viável durante 12 útero.
a 24 horas após a ovulação. Por outro
As características desta secreção variam ciclicamente, funcionando ora como
lado, os espermatozoides ejaculados
barreira à passagem dos espermatozoides para o útero, quando a sua consistência é
podem permanecer viáveis até cinco
dias no interior do sistema reprodutor
mais espessa, ora como meio facilitador da progressão dos espermatozoides
feminino. Considerando que a durante o período fértil do ciclo menstrual, quando apresenta maior fluidez.
ovulação ocorre ao 14.º dia do ciclo e
Apenas uma percentagem pequena dos espermatozoides chega ao útero, onde o
considerando o tempo de vida do
muco que recobre o endométrio lhes proporciona uma maior mobilidade em
oócito II e dos espermatozoides, é
possível concluir que o período fértil
direção às trompas de Falópio.
da mulher decorre entre o 10.º e o Caso tenha ocorrido ovulação, o oócito II encontra-se nas trompas, na região
16.º dias do ciclo menstrual. Apenas
próxima dos ovários. As células foliculares que envolvem o oócito libertam, então,
nesse período ocorrerá a fecundação
compostos químicos que acabam por atrair centenas de espermatozoides para a
e uma possível gravidez.
sua vizinhança. Para atingir a membrana do oócito II, os espermatozoides necessitam de
penetrar através das células foliculares e da zona pelúcida, uma camada glicoproteica que A propósito…
envolve o oócito.
Na fecundação o conteúdo
Ao atingir a zona pelúcida, os recetores membranares do espermatozoide ligam-se a do espermatozoide entra
proteínas existentes nessa zona, desencadeando a reação acrossómica, que consiste na totalmente no oócito II,
exocitose de enzimas hidrolíticas, presentes no acrossoma do espermatozoide. Essas após fusão das duas
enzimas degradam as glicoproteínas da zona pelúcida do oócito II tornando possível a membranas celulares. As
progressão do espermatozoide e a fusão da sua membrana com a do oócito. A fusão dos mitocôndrias do
espermatozoide, bem
dois citoplasmas e a formação de uma única célula com doi núcleos (plasmogamia).
como outras estruturas
Na zona periférica do citoplasma do oócito II existem grânulos corticais carregados de celulares são reconhecidas
enzimas digestivas. O contacto entre as membranas dos dois gâmetas provoca a chamada como estranhas e estruídas
reação cortical, que consiste na exocitose do conteúdo desses grânulos para a zona dentro do oócito. Por esta
razão, o DNA mitocondrial
pelúcida. Essas enzimas degradam os recetores da zona pelúcida, impedindo, assim, a
existente dentro do ovo
poliespermia, ou seja, a fusão do oócito com mais do que um espermatozoide. Em
terá apenas origem
consequência da plasmogamia, o oócito II conclui a segunda divisão da meiose, daí materna. Nos raros casos
resultando o pronúcleo feminino do óvulo e o segundo glóbulo polar. O núcleo do em que essa destruição
espermatozoide sofre descondensação, dando origem ao pronúcleo masculino, que se não ocorra, haverá
funde com o pronúcleo feminino (cariogamia). Desta fusão resulta um núcleo diploide também herança
com cromossomas de origem paterna e de origem materna. Terminada a fecundação, o mitocondrial paterna.
ovo inicia uma série de divisões celulares mitóticas e de processos de diferenciação
celular que originarão um novo organismo, que, normalmente, ao fim de 40 semanas,
está apto à vida fora do útero.
Manipulação da fertilidade

O conhecimento dos processos fisiológicos envolvidos na produção de gâmetas e na fecundação permitiu o


controlo da conceção, tanto no sentido de a impedir como de a promover.

Métodos contracetivos

Os métodos contracetivos correspondem a técnicas e procedimentos com vista a evitar a procriação. Apesar
de todos os métodos, hormonais ou não hormonais, poderem ser prescritos a todos os indivíduos saudáveis,
a segurança e a eficácia de cada método são determinadas por situações e condições médicas especiais.
Assim, é importante o recurso a aconselhamento médico, para que possa fazer uma opção esclarecida que vá
ao encontro das necessidades e expetativas individuais.

Você também pode gostar