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ARISTÓTELES

1
1

ÉTICA A NICÔMACO

~ TRADUÇÃO , TEXTOS ADICIONAIS E NOTAS


1
EDSON BINI

1
11

O livro é a porta que se abre para a realização do homem.


edip/rài
]AIR LOT VIEIRA
1
1094a l TODA ARTE, TODA IN_yESTIGAÇÃO e igualmente toda ação e
projeto previamente deliberado parecem objetivar algum bem. 1
Por isso se tem dito, com razão, ser o bem a finalidade de todas
-
as coisas. (É de se observar, porém, uma certa diversidade, entre as
finalidades; em alguns casos, a atividade é ela mesma a finalidade, 1
1
s enquanto em outros casos a finalidade é algum produto distinto da
ação, sendo que, nas finalidades distintas das ações, tais produtos
são naturalmente superiores às ações ou atividades das quais res1,1l-
tam.) Porém, visto que há múltiplas ações, artes e ciências,2 resulta
que suas finalidades são, igualmente, múltiplas. Se a finalidade da
medicina é a saúde, a da construção de navios é o navio, a da estra-
tégia3 é a vitória, a da economia doméstica 4 é a riqueza. Em casos
10 nos quais essas artes estão subordinadas a alguma capacidade única,
como naquele da confecção de rédeas e das demais artes relativas ao
equipamento dos cavalos5 subordinadas à equitação, e esta e toda ou-
tra ação bélica ao comando militar 6 e, de maneira análoga, outras se
subordinando ainda a outras - em todos esses casos as finalidades
das artes principais são mais elegíveis do que as finalidades das artes
1s que lhes são subordinadas, uma vez que estas últimas finalidades

1. Ilaaa n:xvri Km naaa µi:0oõoç, oµotwç õi: npal;tç TE Km npompi:cnç, aya0ou


n voç i:cjni:a0a t ÕOKE\. .. (Pasa tekhne kai pasa methodos, omoios de praxis te kai proaimis,
agathoy tinos eftesthai dokei) . Ilpompi:atç (proairesis), literalmente: prévia escolha.
2. ... E7rtCTTT]µwv ... (epistemon).
3. ... crrparT]ytKT]Ç ... (strategikes) , ou seja, o comando militar.
4. ...OtKovoµtKT]Ç... (oikonomikes).
5. ...mmKWV opyavrov. (ippikon organon). ·
6. ... aUTT] õi: Km naaa 1toÂ.1:µ1KT] npal;tç uno TT]V cnpatTJY 1KflV,... (ayte de k,ii pru,z
polemike pmxisypo ten stmtegiken) .
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4ó I ÉTICA A NICÔMACO
LI VRO 1 1 47

_ visadas em função das primeiras. (Sendo indiferente se


somente sao , . . 'd d que recebem o maior destaque, asfaculdades ,12 cai·s com o a escrace-
,
·d d ·sadas das ações são as propnas at1v1 a es ou alguma
as fin al I a es v1 ., . . gia, a economia doméstica, a oratória, acham-se subordinadas a ela.
. d. cinta destas, como no caso das czenczas mencionadas.)?
outra c01sa 1s Diante do fato de que as ciências restantes se prestam ao uso desta
5 e, visto que ela, ademais, estabelece leis quanto à conduta (0 que as
pessoas devem e não devem fazer), sua finalidade terá que incluir as
2 finalidades de todas as demais. Determina-se, com isso, ser o bem
humano 13 a sua finalidade, pois a despeito de o bem ser idêntico
8
SE, PORTANTO, UMA de nossas ações for tal que a
FINALIDADE ( para ~ indiví_d uo e para ~ Estado, o do Es_tado é visivelmente maior j
desejamos por si mesma, ao passo que desejamos as outras somente ·\ e mais perfeito, sep a mulo de meta, sep como objeto de preser- l'
20 por causa dessa, e se não elegemos tudo por causa de alguma coi- 10 vação. Assegurar o bem de um indivíduo apenas é algo desejável;
sa mais (o que, decerto, prosseguiria ao infinito 9 , de sorte a torn~r 1; porém, assegurá-lo para uma-nação ou um Estado é uma realização/
, codo desejo fútil~ ~ o), está claro que se impõe ser esta o bem e o l mais nobre e mais divina.
, bem mais excelente. E não será o conhecimento dele muito impor- Sendo essa, portanto, a meta da política, nossa investigação se
-cante do ponto de vista prático para a vida? Não nos tornará ele me- dirige, de um certo modo, ao seu estudo.
lhor capacitados para atingir o que devemos, como arqueiros que
25 têm um alvo no qual mirar? Se assim for, temos que tentar definir,
ao menos num delineamento, o que é esse bem mais excelente e de 3
qual das ciências especulativas ou práticas 10 é ele o objeto.
NOSSA DISCUSSÃO SE MOSTRARÁ ADEQ!!_ADA se atingir a cla-
Pareceria ser ele o objeto da ciência, entre todas, soberana -
reza suficiente pertinente ao seu tema. Não é de se esperar exati-
uma ciência q!,le f9sse, taxativamente, a ciência maior. E_ re~ la-se
dão de forma indiscriminada em todas as discussões, assim como
comosendo_~l4_ a_p.oliJ.iJ:.a.;~1 é ela, de fato, que determina quais ciên-
tampouco nos produtos do artesanato. 14 A ciência política estuda o
cias devem existir nos Estados, qual deve ser aprendida por cada
I094bl 1s nobre e o justo,15 o que, porém, acarreta muitas opiniões diferen-
classe de cidadãos e até que ponto; e constatamos que mesmo as
tes e incerteza, levando-nos a acreditar que não passam de meras
7 convenções que não correspondem aos fatos da natureza. E essa in-
· ...1<aSm1Ep Em teov ÀEX8Etcrrov Erctcrtriµrov . ... (kathaper epi ton lekhtheison episte-
mon).
certeza está contida em coisas boas que têm efeitos nocivos; não é
8. ... TEicoç... (te/os).
de hoje que a riqueza produz a destruição das pessoas e, em outros
9. ...Etç anetpov,... (eis apeiron ).
casos, a destruição é produzida pela coragem. Deveremos, porta~-
10 .... EltlCTTT]µúlV T] OUVQ E ( .
(faculdades). µ úlV.... epzstemon e dynameon) , literalmente ciências ou artes to, nos contentar, ao tratar desses assuntos e partir dessas premis-
II ... rotauTTJ OTJ no,c1n1< $atve
.
20 sas, com a obtenção grosso mo do d e um d e1meamenco
da verdade
. _ '·
.
tranhar que Arist , l d~ , _mt. .. (tozayte d e politikefainetai). O leitor não deve es- considerando que nossos objetos de estudo e nossas premissas ~ao
oce es 1ga polzttca - é. · p
e do bem no âmbic d . d· d
• ]' . O O In IVÍ UO é a
e nao tzca. ara o Estagirita, a ética, tratando da ação
., . , . , . . passam degeneral1·da d es, sera' su fi ciente
. se aportarmos a conclusoes
ª po mca, a ciência p , . . ' penas uma c1encia prattca acessona e subordinada
. ,
1st0 ranca-nia1or· na m d 1'd
e, tem sua essência e .' e ª em que o ser humano é um animal político, 12. ... õovaµi:rov ... (dynameon ), porém o sentido é de artes.
se atua1tza (realiza-s

J
menr ·d [ ) . .
e na v1 a em socied d Es e em ato EVEpyi:ta] exclusiva e necessana-
13 . .. .tav0prorctvov aya0ov ... (tanthropinon agathon).
acabam
_
. ª e no tado [7tOÀv ·] 0 b
por ser objetos da po] ' . _ ., ,
. .
em mais excelente, o nobre e o JUSCO
nao é 1 - • ltlca e nao da ' · O 1 . 14.... Õl']µtoopyooµi:votç ... (demiurgoymenois). ( de kala kai ta
' Mo existe, embora exista b.1 ] ' . ( enca. nto og1camence, o indivíduo isolado
necess1dad d , . 0 og1ca somát' ) • l . ta
e a enca. tca e ps1co og1camente, determinando a 15 .... ta õe KaÀa Kat ta ÕtKata, ni:;pt rov ri n OÀtttKTj crKOJtl:;lt(Xt, ...

dikaia, peri on e politike skopeitai). ,~ , '


48 1 ETICAANiCóMACO LIVRO 1 1 49

· b, - passam de generalidades. Em conformidade com


~
ue tam em na 0 . . .
demos solicitar que seja acolhido cada ponto de vista que
4
ISSO, po ,. · . .
e l s dentro do mesmo espmto, pois constitm a marca de
rormu armo . _
alguém instruído esperar aquele grau de precisao em cada modali- RETOMANDO, DIGAMOS ~E POSTO ~E todo conhecimento e
25
dade que é possível conforme a natureza do assumo em particular. 15 prévia escolha objetivam algum bem, 23 examinemos O que cumpre
É manifestamente quase cão implausível aceitar conclusões mera- declararmos ser a meta da polícica, ou seja, qual o mais elevado en-
mente prováveis de um matemático quanto exigir demonstrações tre rodos os bens cuja obtenção pode ser realizada pela ação. No
rigorosas de um orador. cocante à palavra, é de se afirmar que a maioria esmagadora está de
Cada indivíduo julga corretamente o que conhece, sendo disso um acordo no que tange a isso, pois tanto a ~~ltidão ~uanto as pes- /
bom juiz. 16 Para que possa, portanto, julgar um assunto particu- soas refinadas a ela se referem como aJeltctdade, 24 identificando O J
20 viver bem ou o dar-se bem com o ser feliz, 25 Mas quanto ao que é a
lar, é preciso que o indivíduo renha sido educado nesse sentido;
para ser um bom juiz, em geral, é necessário que tenha recebido felicidade a matéria é polêmica, e o que entende por ela a multidão
1095al uma educação completa. 17 Sendo assim, o jovem não está apto para não corresponde ao entendimento do sábio e sua avaliação. As pes-
o aprendizado 18 da política, porque carece de experiência de vida,19 soas ordinárias a identificam com algum bem claro e visível, como
que é o que supre o objeto de escudo e as teorias; além do que ele o prazer, ou a riqueza ou a honra, fazendo diferentes comentários
é conduzido por suas paixões, de modo que seu escudo será sem entre si; com muita frequência, o mesmo indivíduo refere-se a itens
um propósito ou proveito porquanto a finalidade nesse caso é a distintos quanto a ela: quando fica doente, pensa ser a saúde a feli-
ação, e não o conhecimento. E não importa se é jovem na idade ou 25 cidade; quando é pobre, julga ser a riqueza. ~ando conscientes de

é uma questão de imaturidade. 10 A lacuna não tem cunho cronoló- sua própria ignorância, os [ indivíduos comuns] admiram aqueles
gico; o problema é que sua vida e as várias metas desta são nortea- que propõem algo grandioso que ultrapassa a compreensão deles.
das pela paixão,11 pois para cais indivíduos o conhecimento, como De faro , alguns pensam que ao lado das muitas coisas boas indica~ 1

10 para aqueles destituídos de autocontrole, é inútil. Entretanto, para das há um outro bem, bem em função de si mesmo, que é a causa de !
aqueles que guiam seus desejos e ações pela razão,11 o conhecimen- serem bons todos aqueles bens. 26 _.....J

to dessas matérias poderá ser sumamente valioso. Talvez seja um tanto infrutífero examinar todas as distintas opi-
No que respeita ao discípulo nessa matéria, ao modo no qual niões defendidas a respeito. Será suficiente examinar aquelas que
noss_as lições devem ser acolhidas e ao objetivo a que nos propomos 30 são mais largamente predominantes ou que pareçam conter algu-
que isso baste a título de introdução. ma razão.

16. EKacrroç ÕE Kp!VEI KUÀ


(Ekastosdek·· .k ,. ª
. wç yivwcrKEI, Kat rnurwv Ecrnv aya0oç Kpttl]ç . ...
11ne1 awsagm oskez,· kat· toyton estin agathos krites) . 23 .... rracra yvwcric; Kat rrpompEcrtÇ aya0ou tt voe; opf:YEtat,... (pasa gnosis kai proairesis
_
]/ . .,.llUVllEllatôEUµE (p agathoy tinos oregetai).
voç. ··· an pepaideymenos).
18 . ... aKpOUtl]ç ... (akroates) , literalrnen [ ) . 24. wõmµoviav (eydaimonian), um daqueles termos gregos de dificílima tradução porque
discípulonacii:nci·ap ]'. te para ser ouvinte ou leitor de política, ou seja, o conceito é mais abrangente do que o nosso ; wõmµovta engloba tamb~m as i~eias
omca.
19 .... p1ov rrpa~Ew (b correlatas de bem-estar e prosperidade; importante ressaltar que para Anstoteles nao se
) " v,... ion praxeon ).
-O. ···'1 TO 1]0oç VEU trata de um estado passivo de sentimento, mas de uma forma de atividade.
J poç... (e to ethos nearos) li 1 ,.
-1. ...Kata rra0oç (k ' tera mente: ou e JOvem no caráter. 25 . ...ro õ w Çriv Kat ro w rrpm:tEtV raurnv urroÀaµ~avoucrt 1:w w8mµovEtv. ···
) ··· ata pathos).
-2....Kara Àoyov (k ,. (to d ey zen kai to ey prattein tayton ypolambanoyst to eydaimonein).
··· atawgon).
26. Aristóteles refere-se a Platão, seus seguidores e sucessores.
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E não desconsideremos a distinção entre argumentos que par- e os mais vulgares parecem identificar um e outra co
A • • _ m o prazer e,
27
tem de princípios e os que conduzem aos princípios. Agia Platão em consonancra com Isso, sao aficionados da vida do gozo; de fato
com acerto ao suscitar essa questão e indagar se o procedimento 28 há três tipos de vidas que particularmente se destacam,31 aquela
era partir dos princípios ou se dirigir rumo aos princípios como que acabou de ser indicada, a da política e, em terceiro lugar, a da
numa corrida se pode correr dos juízes rumo ao limite da pista ou especulação. 32 O grosso da espécie humana se revela como sendo in-
J095bl
0 contrário. Ora, não há dúvida de que é preciso partir do conheci-
20 teiramente vil; sua preferência é por uma vida própria do gado, ha-
do, 0 qual encerra dois significados, nomeadamente, aquilo que o é vendo alguma razão em seu ponto de vista, porque muitas pessoas
para nós, que é uma coisa, e aquilo que o é simplesmente, que é uma eminentes compartilham das paixões de Sardanápalo. 33
outra coisa. Talvez, então, para nós, seja preciso .partir daquilo que Pessoas refinadas e de ação pensam que o bem é a honra, 34 pois
nos é conhecido, razão pela qual, a fim de ser um bom discípulo pode-se dizer ser essa a finalidade da vida política. Mas a honra,7
do correto 29 e do justo e, em suma, dos tópicos da política em geral, afinal, se afigura demasiado superficial para ser o que buscamos,
o discípulo tenha que ser educado nos bons hábitos. O ponto de uma vez que parece ela depender mais dos que a proporcionam do
partida é o fato; uma vez esteja isso claro [ao discípulo], não haverá 25 que daquele ao qual é proporcionada; ora, adivinhamos [por assim
para ele a necessidade adicional de saber porque. E o indivíduo que dizer] que o bem deva ser algo próprio ao seu possuidor e difícil dej
recebeu boa educação já possui os princípios ou pode obtê-los com ser dele suprimido. Ademais, o que motiva os homens a buscar a
facilidade. Ao indivíduo que não os possui e é incapaz de obtê-los honra parece ser garantir a si mesmos o seu próprio mérito. Ao me-
só resta ouvir as palavras de Hesíodo: nos, procuram ser honrados por homens de discernimento e que
10 Melhor é aquele que tudo sabe por si; os conhecem, ou seja, ser honrados na esfera da virtude, do que se
Bom aquele que ouve o discurso dos sábios; evidencia que em rodos os casos, segundo o parecer dos homens
Mas aquele que, sem saber ele próprio, não aprende 30 de ação, a virtude supera na qualidade de um bem a honra, poden-
do-se, talvez, diante disso, supor ser a virtude, 35 e não a honra, a
A sabedoria de outrem, é, defato, um homem inútil. 30
finalidade da vida política. Mas, mesmo a virtude se revela demasia-
damente incompleta para ser esse bem, uma vez que parece possível
5
31. Ideia já presente no pensamento pitagórico.
32 . ... o n: vuv elpT)~leVOÇ Kat o 7tOÀtnKOÇ Kat ,pt-roc; o 0eCúpf]TIKOÇ.... (o te nyn eire-
~ -A·S VOLTEMOS AO NOSSO DISCURSO a partir do ponto em que menos kai o politikos kai tritos o theoretikos), ou seja, a vida do ser humano vulgar (quanti-
miciamos nossa digressão. A julgar pelas vidas [dos seres huma- tativamente a grande maioria), a vida daqueles que se ocupam da política e a vida dos que
15 nos], no que respeita ao bem ou a'fi'
eaa• 'dade, os m
. d'JVI'duos em gera l se dedicam ao pensar e ao saber (filósofos e sábios).
27 33. Sardanápalo, monarca assírio sem consistência histórica, de caráter mítico que representa
···ªPXúlV... (arkhon)· o conceito .d
ce1tos encerrado · I conri O neste vocábulo abarca também os nossos con- o primeiro tipo de vida apontado por Aristóteles: a vida devorada ao prazer.
s nas pa avras onuem efi d
tafís1ca, que é O p 6' un amento, que são acepções do domínio da me- 34 .... ot Õe xaptEVTEÇ Km rrpaKnKOt nµriv ... (oi de kharientes kai praktikoi timen): c!pica
. resente contexto Na P0 1' . .• . ' .
significados, quais se am· . · mca, ctenc1a pranca, ªPXYJ (arkhe) tem outros . , l ln d · os O conceito bem por coerencta
28 oõ ( J . aucondade, poder, governo.
firase extremamente compacta d e Anstote es. tro uz1m
,] • · . as poderia perfeitamente ser
. ... os, ... odos), literalmente: caminho com ,aya0ov (tagathon) que surgira ogo na sequencia, m . . ·d d ,
• . d nte quer dizer, a fehc1 a e e o
29.... Ka/,úJv... (kalon) , . . felicidade (i:uõatµovta), em consonanc1a com o ancece e ,
zes d·r. . e conJuncamentc reto b I b b
' 1 erenc1adas em fun ãO d ' e o, om, no re, admirável em doses, por ve- bem superior visado pela humanidade.
do moral ç O contexto Aqui A · ' J , , . ''h . . • xcelente. Mui cos tradutores he-
mente reco, correto. · nstote es parece privilegiar a nossa ideia 35 .... apETT) ... (arete)aquiloemquealguemeome,, o,,omarse _ . _
. , . . . clusive em fonçao da enorme vanaçao
30. Hesíodo, Os Trab Ih . lenistas preferem, assim, o subscannvo exce,encza, m . .. _ I .
. a os eos Dias, 293 e ss. . d . d • 5 auração da c1v1hzaçao arma.
semântica sofrida pelo termo virttt e a pamr a m r
0:-

FTICA A NICÓ~IACO LIVRO 1 1 53


52 1
, lon sono, ou mesmo com uma vida inteira e, com efeito, obrigatório, especialm fi ,
•d rifica-la com um gO . •, • . e , . ente a um losofo .fi
1 en b, padecer as ma10res m1senas e mrortumos 15 mesmo os seus vínculos pessoais mai . ' sacn car
'ricá-la, e ram em - s estreitos para preservar a
J096al sem pra . , sideraria que quem vivesse assim fosse feliz, verd ad e. Am bos nos sao caros, contudo , d
uando nmguem con - A • e nosso ever honrar d
-q [ • · t"sse em pagar] o preço da manutençao de uma preferenc1a, a verdade. ' e
a menos que ms1s I . e . fi .
. - 36 M sobre isso nos deteremos, visto que ro1 su c1en- Nota-se que os introdutores dessa teoria na·o postulavam Ideias .
conrradiçao. as . , . 37
ado nas discussões ordinarias. de classes de coisas nas quais reconhecessem anteri ·d d
remente abord . . _ on a e e poste-
A vida especulativa é o terceiro tipo, o qual consideraremos na nondade (~azao pela qual não conceberam uma Ideia [que abran-
20 gesse] os numeros em geral). Mas o bem é predicado igualmente nas
sequência. . . _ . .
~anto à vida [caractenzada] pela acumulaçao de .dinheiro~
38 [categorias 42] de substância, de qualidade ede relação. 43 Oabsoluto, ou
trata-se de um tipo forçado 39 de vida e fica claro que a nqueza nao substância, 44 é anterior naturalmente à relação, o que parece ser uma
é O bem objeto de nossa busca, porque não passa de uma coisa útil; ramificação ou acidente do ser, de maneira que não é possível haver
é um meio para algo mais, de sorte que seria melhor nos atermos uma Ideia comum correspondente aos bens, [absoluto e relativo].
ao que anteriormente indicamos como finalidades, visto que são Ademais, observa-se o uso da palavra bom em tantos sentidos
amadas por si mesmas. Entretanto, mesmo essas não parecem ser quanto a palavra é, pois podemos predicar bom na categoria da
aquele bem, ainda que muitos argumentos tenham sido formula- 25 substância, por exemplo com referência a Deus ou ainteligência; 45
10
dos a favor delas; isso nos autoriza a descartá-las. naquela da qualidade: as excelências .(virtudes); naquela da quanti-
dade: o moderado; naquela da relação: o útil; naquela do tempo: uma
oportunidade favorável; naquela do lugar: uma adequada habitação,
6 e assim por diante. Está claro que não é possível que o bem seja algo
comum, uno e sua predicação universal, pois nesse caso não seria
MAS TALVEZ SEJA PREFERÍVEL EXAMINARMOS a noção de um predicável em todas as categorias, restringindo-se a uma apenas.
40
bem universal e repassar os embaraços que ela acarreta, embora Além disso, coisas que se enquadram numa Ideia única deveriam
tal investigação seja penosa devido à amizade pelos homens que in- ser tratadas por uma única ciência, o que determinaria haver uma
troduziram as Ideias. 41 E ainda assim talvez se afigurasse preferível 30 única ciência de todos os bens. Ora, o fato é que há muitas mesmo
36 .... TOV õ OUTúl ÇúlVTU OUÕELÇ av EUÕatµOVLC:YELEV, El µri 0ECHV õta~uÀanov.... (ton para os bens presentes em uma categoria - por exemplo, a oportuni-
duto um~a udeis an eydaimoniseien, ei me thesin diafylatton ). Uma tradução mais próxima
da literalidade seria·· ··· n,·ng uem · que aJguem
' cons1'derana ' v1ven
· do assim
· f,asse f,eJ·1z, a me- (inicial maiúscula) é devido ao fato de se tratar da acepção platônica em particular ~o
nos que defendesse zelosamente uma tese ... desenvolvimento da teoria em pauta. Ideia aqui é ELôOÇ (farma, aspecto, conftguraçao)
37. ...Ev rote- E"'fKUK),1ov·.,... (en 1ozs· eg.kJ'kL·101s·), dº1scussões rotineiras. Aristóteles provave j- · 1'd eia
e nao · no senn·d o genenco · por isso,
' · de conceito. · e' pe efeitamente cabível também a
mente alude aos seus escritos exotéricos que não chegaram a nós. expressão teoria das Formas. Ver Parmênides, Platão. .
3S. ·--XPT]µancm1c ~\ator (kh . b. . . . ó I resente em Clássicos Ed1pro.
rendem dinhcir~. .,... rematz stes wos) , ou SeJa, a vida dedicada aos negócios que 42. Ver Categorias, primeiro tratado do Órganon de Anst te es, P . .
to ti esti kai en to pozo kaz en to
39 Forçado 'd 43 .... EV T(ü n EO"Tl Kat EV T(ü 7COL(ü Kat EV rro npoç Tl.. . (en
40. num semi o misto entre não natural e compulsivo.
pros ti). , •
· ... Ka8oÀou ... (katholoy). k h o kai e usia). O abso1uto e aqui uma 1

44. ... to Ka0 auto Kat l] oucrta... (to de at ayt


ôE d traduzir analiticamente
41. ... To ~1Àouç avõpaç El<JayayE1v ta EtÕ . . . 8 0 auro) que po emos
absoluta certeza, Aristótel f, . l]. ··· (to filoys andms magagem ta ezde). Com expressão composta em grego (-ro E K~. . V. 18 lOZZaZS; quanto à suhstância
d . fi , esse re ere aqui ao se PI - , por o em função de si mesmo. Ver Metafisica, Livro ' '
os ema1s losofos idealistas u me st re, atao. E, todavia, difícil nomear
ou s . d . , que esposaram a eco . d Id . . (ouaia) , idem,8, 1017610. , . . XII 1072b25.
eia, os p1tagoricos. O leic d fi . na as e1as, onunda da escola itálica,
or cve icar c1cnce de . ) Vc r Meta/}szca, Livro • 7'
que nosso cuidado de grafar Ideias 45 . ... 0wç Kat o vouç, ... (theos ka1 o noys • e ':J'
5~ 1 FTICA A N rcóMACO
I.IVRO I i 55

, tratada na estratégia (comando militar), na doença boas em si mesmas? Talvez aquelas que são b d
dade na guerra e _ . _ usca as mesmo sem
edicina e a moderaçao na alunentaçao se acha no do- o acompanhamento de outras, tais como a sab d · ,
d
é rrata a na m , . , . - e ona, o espetaculo
, . dam edi·c1·na, enquanto e tratada na gmasttca no tocante aos
mimo
1
contempLa d o p ews olhos)2 e certos prazeres e honra , · .
. , s. -v1stoque am-
exercícios físicos. da que
. busquemos
. . essas coisas a titulo de meios para alcançar a1go
~estinável também o que querem d,iz~r pr~ci.sa~1enre com a 20 m~1s, senam cla~s1ficadas ,entre bens em si mesmos. Ou tudo que
expressão coisa em si,46 uma vez que uma umca e 1dent1ca definição existe bom em s1 mesmo e a Ideia? Nesse caso, a Ideia será inúcil.53
109661 de ser humano serve para ser humano em st· e ser h umano, 47 pois na Se, ao contrário, a classe de coisas boas em si mesmas incluir essas
medida em que são ser humano, não diferirão em nada e, se assim coisas, a mesma noção de bom54 deverá se revelar em todas elas tal
for, tampouco haverá mais diferença entre eles na medida em que como a mesma noção de branco se revela na neve e no alvaiade. O
ambos são bons. Tampouco será o bem em si em nada melhor por- problema é que as noções de honra, sabedoria e prazer, enquanto
que é eterno, uma vez que uma coisa [branca} que dura muito tempo 25 bens, são outras e diferentes e, portanto, bom não é algo comum
não é mais branca do que a que dura apenas um dia. 48 correspondente a uma Ideia única.
Parece que os pitagóricos apresentam uma doutrina mais plau- Nesse caso em qual sentido, afinal, são as coisas chamadas de
sível em corno do bem quando colocam a unidade na mesma classe boas? - com efeito, não parece que ostentam nome idêntico por
dos bens e, com efeito, Espeusipo49 parece tê-los seguido [adotan- mero acaso. É um bem que lhes confere a qualidade de boas? Ou
do tal doutrina]. Mas releguemos a discussão desse tópico para ou- porque contribuem todas para um bem? Ou é por meio de analo-
tra oportunidade. gia? De fato, é no corpo que a visão é boa como a inteligência o é
Uma objeção pode ser levantada contra n~ssos argumentos com 30 na alma e, uma outra coisa em alguma coisa mais.
10 o fundamento de que a teoria em pauta não tem como objeto todo Contudo, talvez convenha descartar esse assunto agora, uma
1. vez que sua minuciosa investigação diz respeito mais propriamen-
tipo de bem e que somente coisas buscadas e apreciadas por si mes-
mas são declaradas boas tendo como referencial uma única Ideia50, te a um outro ramo da filosofia, 55 e igualmente no que respeita a
enquanto coisas produtoras ou preservadoras daquelas de algum Ideia.56 M esmo se existisse um bem enquanto unidade predicado
modo, ou que barram seus opostos, são consideradas boas tendo de várias coisas em comum ou algo de existência independente e
elas como referencial e num sentido distinto. E, assim, claramente por si, claramente não seria praticável ou atingível pelo ser huma-
dir-se-ia bens em dois sentidos, a saber, bens em si mesmos e bens no. Ora o que buscamos é atingível.
15 em função desses primeiros. Devemos, portanto, separar as coisas 57
Mas é possível que alguém pense que conhecer esse bem va-
boas em si mesmas das coisas úteis, e examinar se as primeiras são · I097al lha a pena como um auxílio para a consecução dos bens praticáveis
cham_adas de boas porque se enquadram numa única Ideia. 51 M as e atingíveis; tendo esse Bem como um padrão, saberemos mel~~r
que tipo de coisas é este no qual as coisas são classificadas como discernir quais coisas são boas para nós, saber que nos penmn-
46- ...autoEKacrrov
,... (aytoekaston).
47. ...auroav0pw71w Kat ove
52. ...opav... (omn) , lireralmenre, visão.
48 · Púlllúl. ··· (11yto1111thropo kai anthropo). 53 ....Cü<HE ~tatatov E<Hat to i:tõoç.... (oste mataion estai to eidos).
. ...El7!Ep µT"jÕE1--EUKOtEpov TO 7roÀ.
to po6•khronion 10 .r: ) uxpoviov tou E$T]µEpou .... (eiper mede leykoteron 54. ...taya0ou Ã.oyov... (tagathoy logon). ,.
'.)'(_Jemeroy.
. fil .r; •meira isco é a meraftstca.
49. Discípulo e sobrinho de Platão f, . 55. Aristóteles se refere ao que ele denomma t osol'a pn • '
50....E1Õoç... (eidos). • oi seu sucessor na direção da Academia. s: ( · de kai peri tes ideas).
56. ... oµotwç ÕE Kat 1tEpl tT]Ç tui:aç... omows . !d / ou a
51. ...tõeav... (idean). I . lacônica o Bem em si, o Bem e11
57. Ou seja, o bem uno e universal: na fraseo ogia P
Ideia do Bem.
56 1
ÉTICA A NiCÔ,IIA(O

, b , las Temos que


admitir que esse argumento possui uma ~onquistou o mesmo resultado anterior, ainda que por outra via.
I.IVRO 1 1 57 1
ra o te- ·.. 'd d . trecanto, parece chocar-se com a postu- E necessário, contudo, que isso seja expresso com maior precisão.
laus161li a e, en · 1
certa P ., . . d f to embora rodas elas visem a a gum bem e Realmente parece evidente que nossas ações visam mais de um1
·
das Cienc1as, e a ' . h .
ra rir suas lacunas, omitem o con ecimento do fi~alidade; entret~nto, ao elegermos algumas delas, por exemplo f
are ain buscar sup .. · ,.
P ç . E' tente a improbabilidade do poder desse auxilio riqueza, flautas e instrumentos em geral 62
- como um meio para
[Bem] em s1. Pª .
cessares das artes o ignoram e tampouco procu- algo mais -, fica claro que nem todas elas são finalidades comple-
·a que to dOS OS prº II . ' . -
J d b · [ Ademais é d1fiol perceber como um tecelao ou tas. Ora, é evidente que o bem m::iis excelente (o bem supremo) 63
ram esco n- o. '
· · extrairá um benefício do conhecimento desse bem é completo. Se houver, assim, alguma coisa que, por si só, seja a fi-
Í um carpmteir0 , . , ,
\ em si na prática de seu próprio oficio, ou como alguem sera melhor 30 nalidade completa, será o que buscamos; se houver mais de uma

1
J, médico ou melhor general por ter contemplado a Ideia em si. 58 Aliás, finalidade completa, o que buscamos será, entre elas, a mais comple-
não parece que o médico sequer escude a saúde desse prisma; ele ta. 64 ~eremos dizer que uma coisa buscada em função de si mes-' rti;...
considera a saúde do ser humano - ou mais provavelmente a de ma é mais completa65 do que uma buscada como meio para alguma '~
algum ser humano em particular, porque cabe a ele curar indiví- coisa mais e que uma coisa jamais eleita na qualidade de meio para
1
duos.59 E encerremos aqui a discussão desse tópico. qualquer coisa mais é mais completa do que as eleitas tanto em fun-
ção de si mesmas quanto como meios para aquela coisa; isso nos
leva a chamar de absolutamente completa66 uma coisa sempre eleita
7 çm função de si mesma e nunca como um meio. ~ . a felicidade,
1,..
109761 acima de tudo o mais, nos ocorre como cal, uma vei que sempre a
60
15 RETORNEMOS AO BEM f(gE BUSCAMOS e tentemos descobrir o escolhemos por ela mesma e jamais como um meio para algo mais, 1

que possa ser ele; de fato, o bem revela-se uma coisa numa ação ou enquanto a honra, o prazer, a inteligência e todas as virtudes, em-
arte e outra coisa numa outra ação ou arte. Difere em medicina do bora as escolhamos por elas mesmas (visto que deveríamos estar
que é em comando militar, o mesmo ocorrendo nas demais artes. contentes por possuirmos cada uma delas, ainda que nada delas de-
~ai é, afinal, o bem em cada uma? Não será aquilo que determina s corresse) , também as escolhemos em vista da felicidade na crença
20 a criação de tudo o mais? A saúde no caso da medicina, a vitória na- de que contribuirão para sermos felizes. Mas ninguém opta pela
quele do comando militar, a casa na arte da construção e algo mais felicidade em função daquelas coisas67, nem tampouco como algo
em _cada uma das outras; mas em cada ação ou projeto previamente que contribua para a aquisição de qualquer outra coisa que seja,
deliberado a finalidade destes, visto que em todas elas é em função salvo ela mesma.
dafinalidadequet udo o mais . e, ena
. d o. C onsequentemente, se h ou-
ver uma finalidad d 62 . ... otov TIÀ.OUTOV, auÀ.ouç Kat 011.roç ,a opyava,... (oion pluton, ayloys kai olos ta org 11
-
25 16,
ve -,ousemaisdeu
e para to as nossas ações, esta será o bem praticá-
- b
O
Alguns helenistas, como Zell, excluem ... auÀ.ouc;... , entendendo calvez que senti·
1111 ... ) .
.;;--- - - - - - ma, estas serao o em. E, assim, o argumento d o aqui· d e ... opyava ... (·mscrumencos ) e' amp Jo e nao
- o senn·d o restrito de instrumentos
)8....1atptKffiti;poç n
• ,._ •1 crtpa,11ytKültEpor musicais.
(
Mtrili()teros estrate"ikot . .., Ecrtai o Tr]V tôEav au,riv rn0EaµEvoç ....
_ o· eros es/111 0 ten id h 63. ... TO ô aptcnov... (to d ariston).
)9. Está claro q . A. . ean ayten tet eamenos).
uc nstote] • ·
do Bc cs esta o tempo tod 0 . . d 64.... TO TEÀ.EtOTaTOV ... (to teleiotaton).
_m_e a própria concepção d . cnncan o a concepção platônica da Ideia
PI atao e um , 0
mundo mtelig'iveI• do qua l o mun d o sens1vel,
,
' a mera copia. scgun d o 65 .... TEÀEtO,Epov ... (teleioteron).
60. ...e1n to rn lesrnence completa .
.,.,,ouµevovayae . 1 · ) ·
6 6 .... anÃ.roç OT] TEÀEtoV... (aplos de teteton : pura e Simp .
6!. ... to rrpainov ayaSov ov,... (epr to zetoymenon agathon). v a ETll v ... (timen de ka1 edone11
,... (to prakron agathon ). 67. Ou seja, ...n~LT]V OE Kat rJôOVT]V Kat vouv Kat nacra P . d
• 1· ência e todas as vzrtu cs.
kai noyn kai pasan areten): a honra, o prazer, a mce ig
58 I ETICA A NICó MACO

Uma conelusao 1
- ·dênric~ parece resultar de uma consideração da
.
,!: . , . 6s [da felicidade] , pois sente-se que o bem completo
side nessa função; é o que parece quanto ao ser hum
de ele ter uma função.
' ano, no caso
LIVRO I i 59
l
autos.Ht;,ctencta - ,I: .
Á cossuficiente. A expressao autoss1.1y.ciente, entretan-
deva ser a1go au • .. , , . Estaríamos nós autorizados a supor que enquanto O carpinteiro
_
to, nao a con cebemos com referencia a
• . alguem so,
. vivendo uma e o sapateiro têm determinadas funções ou ocupações, 0 ser huma-
·d . 1 d mas também com referencia aos pais, aos filhos e à
10 VI a ISO a a, 30 no como tal não tem nenhuma e não está, por natureza, destinado
esposa desse alguém, bem como aos amigos e concidadãos em geralG9 a desempenhar qualquer função? Não devemos, nós, ao contrário,
que se relacionam com esse alguén:1, posto que o ser _hu_mano é, por supor que, como o olho, a mão, o pé e cada um dos membros têm
natureza, social.7º Por outro lado, e de se supor um limite para isso, conspicuamente uma função própria, do mesmo modo o ser hu-
·á que se O elenco for estendido aos ancestrais, descendentes e ami- mano tem, igualmente, uma função que supera todas as funções de
~os dos amigos desse alguém, prosseguiria ao infinito. Esse ponto, seus membros? Mas qual precisamente seria essa função? Mesmo
15 ;orém, deve ser reservado para outra oportunidade. Entendemos I098a l as plantas revelam-se partícipes da vida, enquanto buscamos a fun-
por aurossuficienre aquil~ que p})r si só_torna a vida desejiv<l e des- ção peculiar [do ser humano]. Diante disso, devemos pôr de lado a
tituída de qualquer carência~e j_ulgam9~ e!: isso a ~_!Lcidade. Além vida do prisma da nutrição e do crescimento. A seguir temos a vida
disso~consideramos ã fellcidade a mais desejável de todas as coisas sensitiva, porém esta, igualmente, parece ser compartilhada por ca-
sem que seja ela mesma estimada como uma entre as demais, pois valos, bois e todos os animais. 74 Resta, assim, a vida ativa da razão
se agíssemos desse modo, está claro que deveríamos considerá-la 5 ( esta apresenta duas partes: uma submetida à razão, outra detentora
mais desejável quando mesmo o mais ínfimo dos outros bens a ela desse princípio racional e que exerce a inteligência); ademais, isso
fosse agregado; de faro, essa adição resultaria numa soma superior pode ser encarado duplamente. Admitamos estar interessados [no
de bem, e dos bens o maior é invariavelmente o mais desejável. exercício ativo) dessa faculdade, porquanto parece ser este o sen-
20 \' A felicidade, portanto, mostra-se como alguma coisa completa e tido mais próprio do termo. Se, então, a função do ser humano é 07·
'. autossuficiente, afinalidade de todas as ações. 71 • exercício das faculdades da alma em conformidade com a razão ou
A afirmação, todavia, de que o bem mais excelente 72 é a felici- não dissociativamente da razão,75 e se reconhecemos a função de
--3> Idade, pelo que parece é provavelmente um truísmo. 73 Aindã" ca- 10 um indivíduo e de um bom indivíduo da mesma classe (por exem-
r_ecemos de uma avaliação mais clara do que constitui a felicidade. plo, um harpista e um bom harpista76 e assim, simplesmente para
25
E possível que possamos obtê-la se determinarmos a função do ser todas as classes) como genericamente a mesma, a qualificação da
h_umano, do mesmo modo que pensamos que o bem ou a excelên- superioridade do último em excelência sendo acrescida à funç~o
cia de um flautista, escultor, ou de um artesão de qualquer tipo e, (a função do harpista é tocar harpa, ao passo que a do bom harpis-
em geral, de quem quer que tenha alguma função ou ocupação, re- ta é tocá-la bem), se assim for {e se afirmamos que a função do ser
68· ... aurapKEtaç... (aytarkeias). 1 humano e, uma certa erorma d e viver
· consti·t ll1'd a como o exercício
69 · ... t-:at o),wç TOtr- $tí OlÇ K das faculdades e atividades da alma em consonância com a razão e
) .
70 N R L' . . ", • at no ,naiç,... (kaz ofos fois fllois kai pofitais).
. a Anstotelcs aprimor , ,
o itJca, .
Çwov no.i.mKov [ . t . ara esse conceico, dando-lhe feição acabada e definitiva :
71 zoon po thkon (animal político)].
· ..:rú.e wv õn n "a 74.... trrrrw Km po1 Kat rra vn Çww . ... (ippo kai boi kai panti zoo).
., 'f lVETat Kat aura ~
TE),oç. ... (teleion de 1 - r . . ,. . PKE<; ri EtJuatµovta, TWV rrpaKTWV oucra Kam Ãoyov ri µri avw Ãoyou, ...
,1ame1az Ka1 aytarkes d . . k 75 . ...Et 8ri i:crnv i:pyov av0pwnou lflUXYJS i:vi:pyi:ta , ) Ver O tratado inri-
72....To a picrro ( . e ey amzoma, ton pra ·ton usa tefos).
V ••• toanston). (ei de estin ergon anthropoy psykh es energeza a ª ó e me aney ,ogoy ·
· k t fouon
73· ...oµo À.oyouµ Evo , (
rulado Da Alma.
\ ··· omologoymenon).
76. ..:0rrou8mov Kt8ap10wu, ... (spoydaion kitharistoy).

/
TICA A NJC(l~t ACO LI VRO 1 1 C,]
60 1 l
bom77 é executá-las bem e corretamente, e dos princípios e o fato é primário - ou princípio. [Acresça-se que]
e - de um /;Jomem
a nmça~ _ , b ecutada quando o é de acordo com sua pró - entre os princípios alguns são especulados por indução, outros pela
t nçao e em ex
1s se uma u . e caso}?s se conclui que o bem humano79 é a percepção sensível, outros por certa habituação82 e outros, ainda,
. ·celênoa - ness - - - -:e
pna_ ex d e Idades da alma em conformidade com a virtude, de outras maneiras. Precisamos buscar os princípios de cada tipo
' atividade as racu e .d d lh
se houver mais• de uma ' em conrorm1
. a- -e -com
- a me- or e mais~ s segundo sua maneira natural e nos empenharmos no sentido de
1 ou l d
comp eta e as.I Ademais, por uma vida completa;
. pois uma . andori- defini-los corretamente, por serem sumamente importantes para a
'\ nha nao-fiaz vera-0, nem um belo dia; e, igualmente, um dia ou um
80
etapa subsequente. Parece que o começo 83 é mais do que a metade
· e,
20 eremero pen
'odo não torna alo-uém,
t>
tampouco, abençoado ,
e feliz . do todo, além de projetar luz ao mesmo tempo sobre muitas das
~e essa avaliação sirva de delineamento do bem. E provável questões que estão sendo investigadas.
que O procedimento apropriado consista em começar por um es-
boço aproximado para preenchê-lo posteriormente. Esta_n do um
trabalho bem delineado, é de se esperar que baste a capacidade de 8
ualquer pessoa para realizá-lo e completá-lo nas suas minúcias, no
:ue O tempo revela-se como sendo um bom descobridor ou cola- EM COERÊNCIA COM ISSO, devemos examiná-lo não apenas a par-
25 borador. Isso explica os avanços nas artes que realmente ocorrem
10 tir de uma conclusão silogística e de certas premissas, como também
porque os brancos podem ser preenchidos por qualquer pessoa. a partir do que se diz correntemente a respeito. De fato, uma pro-
Convém não esquecer, também, o que foi dito antecipadamente, posição verdadeira se harmonizará com os fatos, ao passo uma falsa
não devendo nós pretender uma exatidão igual em todos os casos, entrará em conflito com eles.
mas somente aquela que concerne à matéria de cada um e que se
Os bens foram divididos em três classes, a saber, bens externos
ajuste à investigação em particular. O carpinteiro e o geômetra
e bens da alma e do corpo; dessas três classes de bens, considera- \
30 se empenham ambos na procura de um ângulo reto, mas o fazem
15 mos como bens no sentido soberano e no mais elevado aqueles da
diferentemente. O primeiro se contenta com algo útil capaz desa-
alma. Jvlas são as ações e as atividades que propomos ~cerca da alma. ~4
tisfazer o propósito de seu trabalho ; o segundo, pois é contemplador
81 Nossa definição é correta, ao menos em harmonia com essa opi-
da verdade, procura sua essência ou qualidade. Devemos, portan-
nião antiga e que conta com a aprovação daqueles que se dedicam
to, agir do mesmo modo nos demais assuntos. ~estões secundá-
à filosofia.
rias não devem interferir em nossa tarefa principal.
Também a revela correta por declararmos que certas ações e ati-
Nem tampouco devemos nós em todos os casos exigir igual-
vidades constirnem a finalidade, que assim é incluída entre os bens
109861 mente uma razão; em alguns casos, será suficiente que o fato de
20 da alma 85 e não entre os externos.
elas serem o qu e sao
- estep
· satisiatonamente
·e · esta b elec1·do. E' o caso
77. ... cnrouoaiou o avo (
poç... spoydaiu d andros).
78. {) Todo esse período entre chav 82 .... at 8 e0tcrµw nvt,... (ai d ethismo tini). . , _ ,
79 es con sta em Bekker, mas é desconsiderado por Bywater. , . .
83. ···T\ apX,T] ... (e arkhe) : Aristoteles parece msmuar o senti •d O duplo da palavra, 1srode, nao so
· · ...w av 0poimvov aya0 ( , •
80 . 10
ov... anthropinon agathon ). o da ciência especulativa (pmwpw . , . ) , como aque1e senti.do físico ou matemanco e ponto
. ... µia yap Xd1ooiv Eap ou 11011;1 o . . .
1111
ª emera). Traduzin 1. ' uõi; µta 'í]µEpa ... (m1agarkhelidon ear u potet, ude de partida. . ,. . .
. ios ivremenre confi Ih d, .
rosa sena: ...pois uma só d . h _ orme O ve o a ag10. Mas a tradução mais ngo-
. .
84 ... :me; ôE npa/;etc; Kat me; EVEpyeiac; me; nEpt \JfUXll Vn0EµEV ... (tas de pm:ms ,:ai ta,
8J an onn a nao pr d ·
· ...0Ean1çyap ra,, 00 ° uzpnmavera (Eap [ear]), nem um só dia .... energeias tas peri psykhen tithemen).
11 uç .... (theates gar talethoys ).
85 .... \JIUXT]V aya0wv ... (psykhen agathon).
I [TICAA NJCó MACO LIVRO 1 1 63
62

Ademais, nossa definição coincide com o perfil do homem fe- E que se acresça que sua vida é essencialmente prazerosa. eom
. bem ou se d'b
liz como alguém que vive
86
a em, uma vez que é qua- efeito, o prazer é uma experiência da alma, e algo proporciona · -f
se uma definição da felicidade como uma forma de viver bem ou pr~zer a cad~ um na medida em que se diz que aquilo de que al-
dar-se bem. guem gosta e prazeroso; exemplificando, um cavalo proporciona
Acrescente-se a isso que se constata que todas as várias caracte- prazer a alguém aficionado a cavalos,93 uma peça, a quem gosta de
94
rísticas buscadas na felicidade concernem ao que definimos. Há os 10 teatro e, de maneira semelhante, ações justas a quem ama a justi-
87
que pensam ser a felicidade a virtude; outros, a prudência;ss ou- ça, e virtuosas, geralmente, aquele que ama a virtude.95 O grosso da
tros, asabedoria; 89 outros, ainda, afirmam que é todas, ou uma delas humanidade extrai prazer de coisas que entram em conflito mútuo,
25 somada ao prazer, ou sem ele; outros incluem a prosperidade exter- porque não são prazerosas por sua própria natureza; as coisas na-
na. Muitas pessoas desde a antiguidade defendem algumas dessas turalmente prazerosas, porém, são prazerosas aos amantes do que
concepções; outras são defendidas por apenas alguns homens e, é é nobre 96 e, assim, mantêm-se como ações conforme à virtude, de
provável, que nenhum deles esteja inteiramente errado. ~e aquilo modo que são prazerosas essencialmente e prazerosas aos amantes
em que creem seja, ao menos, parcialmente, ou mesmo em muitos 15 do que é nobre. Consequentemente, a vida destes últimos dispen-

aspectos, correto é, com efeito, provável. sa o prazer naquela qualidade específica de amuleto, uma vez que
contém o prazer em si mesma. ~e se considere adicionalmente
30 Relativamente aos que declaram ser a felicidade a virtude, ou al- ~
que a pessoa que não experimenta prazer na prática de ações no-
guma delas, disso vai de encontro nossa definição, pois a atividade
bres não é uma boa pessoa. Ninguém classificaria de justo alguém que
não gostasse de agir com justiça, nem de generoso alguém que não
2-( mente faz uma grande diferença se concebemos o bem mais excelen-
20 gostasse de praticar ações generosas e, do mesmo modo, no que se
te na posse ou uso 9°, na disposição [virtuosa] ou no exercício ativo
refere às demais virtudes. E se é assim, conclui-se serem as ações
[da virtude]; de fato, alguém pode estar nesse estado (disposição) ,
virtu~as essencialmente prazerosas.
I099aI sem que ~roduza qualquer bom efeito, como quando se encontraj
Acrescente-se que são boas e nobres, e tada uma maxirpamente,
ado~mec1do, ou suas funções estejam suspensas por algum outro
se a pessoa boa as julgar corretamente - e seu julgamento é como
~onvo. ,Entretanto, [a virtude] no exercício ativo não é inopera-
dissemos que é. Conclusão: a felicidade é ao mesmo tempo a me-
nva; sera, com efeito, necessariamente atuante e atuará bem. 91 E tal
como nos J'10o·~0s Ol'tmpicos
· nao
- sao
- coroados os mais belos e maisfor- lhor, a mais nobre e a mais prazerosa das coisas, qualidades que não
t 92 25 estão separadas, como ocorre na inscrição em Delos, ou seja...
es, mas aqueles que participam das competições (é, de faro, destes
- aguel es que agem corretamen-
que surgirão alguns venced ores) , sao O maisjusto é o mais nobre, enquanto a saúde é o melhor,
te que abiscoitam o que há de nobre e bom na vida. Porém, o desejo daquilo que se ama é o mais prazeroso (..)

86, ... TO €\J ÇI]\' Kat TO EU 7t at ' .


g~ P t EI\ ... (toeyzenkartoeyprattein). 93 . ...<j>1Àm 1tw,... (filippo ).
t . ...apEtl],... (ame).
88- ...$povl]cnç (fi 94 ....8eaµa 8e ,w <j>t"A.o8ewpw,... (theama de tofilotheoro ). Ou, numa tradução menos res-
,... ronesis).
tritiva: ...espet áculo a quem gosta de espetáculos ... O significado p rimordial e genérico do
89....crn$1a ... (soj,a).
substantivo 8eaµa (theama), correspondente ao verbo 8eaoµm (theaomai), contem-
90....E\I Ktl]CJCJ I] • plar (pelo sentido da visão ou pela inteligência), é aquilo que se contempla.
XPl]crc1... (en ktere1· e 11, 1
91 n ~ · mrese1'). _ , w J.tÀ.apETúl (ta dikaia to
. ... pa.,i:1 yap E/; ª"ªYKl]Ç, Kat EU . 9) . ...Ta ÔIKata Tú) <j>tÀOÕIKatCO Kat 0/1.úlÇ ,a KUT apETfjV T 't' ...
92....mcrni:p OO} rrpaé,Et .... (pmxezgar ex 111111oke, kai evpraxei)
,u~1macr1v 0 · ., · " · filodikaio kai olos ta kat ,ll'eten to filareto ).
(osper d 0) , . . oux Ot Ka}, }-tcrtot -
..;mp1t1S11111/.:I, oi k 1/t · . ,. . . Kat tcrx_upo,a,01 cr,e<j>avouv,m ...
' · tStor K111 1skh'Jl'OtfltOÍ Stepmoynt,zi),
.I' 96. ...<j>1ÀoKaÀ01c;... (filokalois).
'
y u :®rl *

t, 4 / fr!CA A N!CÓMACO
r LIVRO 1 1 65

uma vez que as melhores atividades são detentoras de todas, e são 1 todas. Entretanto, esse assunto talvez diga respeito mais propria-
~~ melhores atividades, ou uma atividade que é a melhor de rodas,
30 mente a uma outra investigação. 101 De rodo modo, mesmo que a
que, para nós é a felicidade.
15 felicidade não nos seja enviada pelos deuses, mas sim produto da
Contudo, é evidente que ela também requer bens externos adicio-
97
virtude e de alguma espécie de estudo ou treinamento, parece ser
nais, como dissemos; com efeito, é impossível, ou difícil, praticar ações entre as coisas existentes uma das maiores detentoras de caráter
98
nobres sem estar munido de recursos, isto porque muitas ações no- divino; de faro, aquilo que constitui a recompensa e o propósito
109961 bres não prescindem para sua execução de amigos, ou riqueza ou da virtude se afigura como sendo o mais excelente, além de algo
poder político; 99 na qualidade de instrumentos há, ademais, cerras divino e abençoado. 102 Nesse nosso ponto de vista ela oferece ace~O)
coisas externas cuja falta embora a bem-aventurança, tais como 0 a rodos, visto que pode ser alcançada mediante algu~a forma de es-
bom nascimento, filhos bons e beleza, quer dizer, alguém de péssima tudo, ou pelo esforço por rodos aqueles que não hajam sofrido uma
aparência ou de nascimento vil, ou sem filhos e sozinho certamen- 20 mutifação de sua capacidade para a virtude. E se é melhor ser feliz
te não participa da felicidade, e talvez participe menos ainda aque- nesses termos do que pela sorte, é razoável supor ser essa a forma
le que tem filhos ou amigos todos indignos, ou aquele que os teve correta, porque segundo a natureza as coisas tendem rumo à me-
bons, mas que a morre arrebatou. Assim, como dissemos, parece que lhor disposição; é o mesmo no que concerne aos produtos da arte
a felicidade exige o acréscimo da prosperidade material, sendo esta a e de todas as causas, e especialmente da mais excelente. ~e a mais
razão de alguns indivíduos identificá-la com a boa sorte'ºº (a despeito grandiosa e mais nobre de todas as coisas devesse ficar por conta dj
de alguns a identificarem com a virtude). sorte constituiria uma falha extrema na disposição das coisas.
25 A solução da questão que investigamos também é iluminada
por nossa definição [de felicidade]. Com efeito, dissemos ser esta
9 uma espécie de atividade da alma, 103 enquanto os bens restantes são
indispensáveis à felicidade ou meios naturalmente auxiliares e ins-
Disso ORIGINA-SE A ~ESTÃO de se ela pode ser aprendida ou trumentalmente úteis. Isso, 104 ademais, se harmoniza com o que de-
10 30 claramos no início, a saber, que o bem mais excelente era a finalidade
adquirida por força do hábito, ou mediante outra forma de exer-
cício, ou se é conferida por algum favor divino ou então pela sor- da ciência política, enquanto o cuidado maior dela era produzir um
te. Ora, se é uma dádiva dos deuses qualquer coisa possuída pela ((certo caráter moral noscrdaClaos, ou sei a, torna-los bons_e -capazes '>.,
huma111ºdade, e' razoave
' l conceber a felicidade como uma conces- ~ de ações nobres.

são divina - com efeito, de todas as posses humanas é a que maior Assim, é com razão que não nos referirmos a um boi ou a um ca-
probabilidade apresenta de o ser, porquanto é a mais excelente de 11ooa I valo, ou a qualquer outro animal como sendofeliz, porque nenhum

JO1. Ou seja, a teológica. Essa questão, contudo, não é tratada por Aristóteles no seu rrarado
97. ...aõuvarnvyap 11 ou õ pertinente, a lvleta.flsica, ou em quaisquer de suas outras obras que chegaram a nós.
pa IOV... (adynaton gare II mdio11 ).
98
· ···ªX0 P11Yl"J"t0v... (akhoreueton) A · , l f: 102. ... 0Etov n Kat µaKaptov.... (theion ti kai makarion): a ideia de abençoado deve ser en-
se trarc pro . d " · ristotc es az uma analogia com o teatro, embora n:io
pnamcme e tuna m , f, O . tendida como intimamente associada àquela de hem-aventurado. Este tópico realmente é
etc., cm grego xo eta ora. eqwpamento do teatro ( vestimentas, máscaras
PT]yta - khorel7i ) . d da alçada da teologia e não da ética ou da política.
sendo considerado d , 0 ·ª era custea o em Atenas pelos cidadãos abaseados,
um cvcr publico J 03. ...e1p11tm yap ljlUXllÇ evE:pyEta 11OIa nc;... (eiretai gar psykhes energeia poia tis),_ Bur-
99. ·--~l/,(J)V Kat rr) 0 .
' UTOY Kat 7rOÀ.lTtK Ô nct e alguns outros helenistas acrescem: ...KaT apE:,TJV... (kat areten), em confornudade
nameos). TJÇ uvaµewc; ... (fi/011 k,ú pfuton kai politikes d_y-
com a virtude.
l OO .... Tl]V tUTUl._t (1
• av... <'11 <)'tykhi,w).
104. Ou seja, a felicidade não depender da sorte.

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TI CA A NICciMACO

deles é capaz e
d participar dessas atividades. Devido à mesm
- - . e . . a cau-
LIVRO 1 1 67
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, •anças nao sao felizes; com ereito, sua idade - males e dos infortúnios, isto também dará margem a uma certa dis-
sa ram bem cri nao as
' . alizar esses atos. ~ando nos referimos a elas cussão, pois se acredita que mal e bem 108 existem também para os
capacita a re . _ corno
. l
fe 11zes, a u dimos às expectanvas em relaçao a elas. A [felicid ad e, ] mortos, tanto quanto para os vivos sem que estejam cientes disso
mos requer virtude completa e vida comnleta 10s E' d - aguisa de exemplo, honras e desonras, sucessos e infortúnios de seus
5 como a6 rfia ' r · e 20

se notar que todo tipo de golpes se alternam no curso da vi·d a e e, filhos e seus descendentes em geral. 109 Isso igualmente enseja uma di-
possível que O mais próspero dos homens possa se defrontar com ficuldade. Suponhamos alguém que viveu e alcançou a velhice em
grandes desventuras na velhice'. como ~e narra de ~rí~mo no épico; 106 bem-aventurança e findasse seus dias em idêntica condição: apesar
mas ninguém aponta como feliz alguem que se ve diante de reveses disso, muitas reviravoltas poderiam, decerto, acontecer aos seus
da sorte como esses e acaba padecendo um fim miserável. descendentes - alguns deles podendo ser bons e terem a sorte que
25 merecem, ocorrendo com outros, o oposto; e, claramente poderia
haver uma variação multiforme nos graus de parentesco entre eles e
10 seus ancestrais. Seria algo estranho o morto ser obrigado a compar-
tilhar essas mudanças e alternar no tempo felicidade e infelicidade;
30 e, por outro lado, seria também estranho se a sorte dos descenden-
JO DEVEREMOS, ENTÃO, não considerar nenhum outro ser humano
tes não produzisse, mesmo por um período limitado, algum efeito
como feliz enquanto viver e acatar a advertência de Sólon e "obser-
sobre a felicidade de seus ancestrais.
var o fim"? 107 Se nos dispusermos a formular essa regra, não estare-
Mas voltemos à nossa primeira dificuldade, pois talvez através
mos transferindo a felicidade para o pós-morte? Mas não incorre
d~ seu exa~e possamos esclarecer o problema que temos agora
isso num completo absurdo, particularmente para nós que defini-
diante de nos. Se devêssemos ter nosso olhar fixado no fim e jul-
mos a felicidade como uma certa atividade? Se, ao contrário, nos
gar um homem [morto] não como realmente sendo abençoado e
15 negarmos a considerar o morto como feliz, o que não é o que quer
bem-aventurado, mas porque foi abençoado e bem-aventurado no
dizer Sólon, mas que somente o morto poderá com segurança ser
passado, cer~a~ente ~eria estranho se, no momento em que experi-
tido como abençoado, já que se acha agora além do alcance dos
110061 mentasse fehcida~e, isto não pudesse ser verdadeiramente predica-
do ~ele forque nao estamos dispostos a qualificar os vivos de felizes110
105 .... apETT]Ç TEÀEtaÇ Kat pwu tEÀEtoU ... (aretes teleias kai biu teleiu) A ideia é de uma devido as reviravoltas da sorte e devido a concebermos a felicidade
virtude acabada, consumada e uma vida de experiência que somente a marnridade pode
possibilitar.
c~mo algo permanente e de modo algum sujeito a mudança, i 11 con-
106 . ...Ka0armp ev -rote; T]pWtKotc; rrep1 TTpta~lOU µu0EUEtat ... (kathaper en tois eroikois sider_ando que~ roda ~.ª fortuna se mantém girando por com leto
peri Priamoy mytheyetai). Príamo, o desgraçado rei de Troia, que perdeu filhos queridos rel~ttvlamente a expenencia do indivíduo [humano]. Com e~eito
e a própria vida por ocasião do assédio e invasão dos gregos a Troia, que culminou comª 5 esta caro que se tivermos q d .d ,
fi , . ue ser con uzi os pela sorte, teremos
destruição de seu reino. O épico é a Ilíada de Homero. com requencia que classificar a mesma pessoa como primeiramen-
º
1 7 · no,epov ouv ou8 a..U01, ovÓéva av0pwnwv cuomµovtcr,wv EWÇ av Çri, Kat_a 108 . ... Kat KaKov Kat aya0ov (k . k k k .
,... ai a on ai agathon ).
LoÀcova Õi; XPEWV "tEÀOÇ opav" ; (Poteron rm ud allon udena anthropon eydaimoms- 109 . ... otov ,tµat Kat a,tµtat Kat
teon eos '111 z.e, kata Solona de khreon "telos oran";). O nenhum outro ser humano parece s: tEKVCOV Kat OÀwc; anoy ,:
uucr-ruxtat. ... (oion timai kai atimiai k . . ovwv i:urrpa-.,tat Te Kat
fazer rcfcrênc·1ª a p namo
· e a to d os que so freram mrortumos
. e , . como e1e, ou sei·a' todos , .os tykhiai). ai teknon km olos apogonon eypraxiai te kai dys-
seres huma ,. p , • tação e d1s-
. 'nos exceto namo e aqueles que de representa. Mas essa mterpre . ,.
cunvd · 1es esteia
. pura e simplesmente fazcn d o uma genera1·iz ação ' isco .e.l 110....µri PouÀ.i;cr0m ,ouc; Çwv-raç; i:uoa.t .
. · Talvez An·st ote nizein). , µovtÇEtv ... (me bu!esthm toys zontas eydaimo-
Sera que é possív •l · 1 1 , e . , , · -o referencia
. . e JU gar aguem re 11z durante sua existência? Sera que o um<.:
para avaliar se roi feliz não é sua morte? 111 . ...µrioaµwc; EUµE-rapoÀ.ov, ... (medamos eymetabolon ).

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