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Atuação ativa do Banco Central

Prof.a Dr.a Roseli Silva

Objetivos desta aula: Entender como a resposta ativa do BC pode contribuir para
minimizar as flutuações, tanto da inflação quanto do produto.

Qual é o comprometimento de um governo, via seu banco central, com a gestão da


política monetária? Não é exatamente manter a estabilidade da inflação no longo prazo? Então,
este equilíbrio de médio prazo final expressa a taxa de inflação maior do que inicialmente, antes
do choque positivo de demanda agregada.
Isso significa que, se a situação se concretiza nesse sentido, de a economia ter o seu
produto mais ou menos próximo do que ele era anteriormente, certo emprego e desemprego
também na mesma circunstância, porém com uma taxa de inflação mais alta, isso significa que
o governo, pelo lado da política monetária, não cumpriu seu compromisso com a estabilidade
de preços. Portanto, esse governo vai perder credibilidade, e pode tomar um das duas decisões:

• ou ele eleva a meta de inflação e faz a meta de inflação convergir para nova taxa de
inflação, que será alcançada depois de todos os ajustes realizados pelos agentes na eco-
nomia, o que também não é muito bom, porque mudar a meta para cima em resposta a
um choque de demanda agregada coloca em risco a credibilidade da política monetária, o
compromisso da autoridade com a estabilidade de preços. O que significa dizer os agen-
tes podem antecipar que, toda vez que houver um choque de demanda positivo, o banco
central elevará a meta de inflação, e a macroeconomia perde sua âncora nominal;

• ou o BC responde ativamente ao choque de demanda, já que as respostas endógenas não


foram suficientes para manter a estabilidade da inflação.

Vamos entender melhor a resposta ativa: responder ativamente significa não só res-
ponder endogenamente, de acordo com a Regra de Taylor, ao comportamento da flutuação do
momento presente, mas antecipar que esse caminho levaria a inflação mais elevada no futuro e
responder a ela, hoje, com um choque de política monetária. Essa resposta ativa, talvez, pudesse

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ter sido mais interessante enquanto esse processo de ajustes estava acontecendo, pois poderia
tornar mais curto o processo de ajuste, ou, ainda, fazer a flutuação macroeconômica demorar
menos, e, mais importante fazer com que a inflação no final desse processo esteja de volta para
meta de inflação. Esse é um aspecto extremamente relevante da estrutura de um regime mone-
tário de metas de inflação, ou seja, há um compromisso com a manutenção da meta. Portanto
na presença de um choque positivo de demanda o BC, deve reagir ativamente e não só passiva-
mente, ou seja, antecipando que a taxa de inflação, no futuro, será maior que a meta, caso ele
aja apenas em função daquilo que tá acontecendo com o produto e daquilo que tá acontecendo
com a inflação, endogenamente. Se ele não agir ativamente, estará colocando em risco o seu
compromisso com a meta de inflação, portanto, a sua credibilidade.

Figura 1 – Atuação ativa do BC frente ao choque positivo de demanda

Então, isso significa que, no contexto de um choque de demanda positivo, é importante


que o BC aja ativamente. Ao longo de todo esse processo, observamos o BC elevando a taxa de
juros em pequenos movimentos, que correspondiam apenas a resposta endógena da taxa de juros
à inflação e ao produto. Se agisse de forma mais ativa, se ele produzisse uma maior elevação
na taxa de juros, qual seria a consequência? A consequência seria contrabalancear o choque
positivo de demanda, ou seja, seria fazer com que a curva de demanda voltasse paulatinamente
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ao ponto original, em lugar de esperar que a curva de oferta levasse a economia para uma taxa de
inflação mais alta, por meio do ajuste das expectativas. Antecipando esse efeito, o BC deveria
compensar um choque positivo de demanda, com uma política monetária restritiva mais efetiva
do que simplesmente responder ao gap do produto como ele fez, na nossa lógica inicial.
Então, esperaríamos que o BC comprometido com a estabilidade de preços, a partir
do momento em que o choque de demanda começasse a produzir a elevação da renda, uma
elevação do emprego, uma queda no desemprego e uma potencial pressão sobre a inflação, via
expectativas, que ele já subisse a taxa de juros mais fortemente no momento presente. No en-
tanto, sem produzir uma ruptura no comportamento da taxa de juros, mas produzindo uma ação,
ao longo de alguns ciclos de reuniões do comitê de política monetária, de elevação paulatina-
mente da taxa de juros, para tentar antecipar esse retorno da economia para o pleno emprego
com o mesmo nível de taxa de inflação.
Quando o BC responde ativamente ao choque de demanda, ele também produz um
efeito sobre as expectativas de inflação dos agentes, ou seja, os agentes estão observando o
BC realmente mostrando o comprometimento com a estabilidade da inflação e, portanto, a
expectativa dos agentes é a de que a inflação seja igual à meta, daqui há 2 ou 3 anos. Essa
ação mais ativa, contrabalanceia o efeito positivo do choque inicial de demanda e faz com que
as expectativas se ajustem para baixo. Ou seja, os agentes revisando, ainda que a economia
esteja pressionada do ponto de vista da produção, do emprego, a resposta do BC faz com que
os agentes tenham expectativas de que a inflação volte para meta e não o contrário.
A reação do BC de forma ativa, nessa circunstância de um choque de demanda positivo,
produz um ajuste mais rápido da economia em relação ao produto potencial, ou seja, menos
tempo de flutuação do produto e, mais importante, uma flutuação da inflação, que faz com que
ela convirja para meta de inflação e não contrário, uma flutuação que faz com que ela vá para
um patamar superior, o que coloca em risco a âncora nominal da estrutura da macroeconomia.
A ação ativa do BC tem esse efeito de minimizar tanto a situação do produto, quanto a flutuação
da inflação e garante que, ao final do processo de ajuste, a inflação esteja estável. Exatamente
isso que se espera que o BC faça.
Observe que também é possível entender uma ação conjunta entre a política monetária
e a política fiscal. Estamos enfatizando a política monetária, mas se estivéssemos no contexto
de política fiscal, em que o governo tem um compromisso com a estabilidade da relação dívida-
pib ao longo do tempo, ou seja, ele tem um compromisso com a sua sustentabilidae fiscal,
observaríamos que, a partir do momento que o produto começa a crescer e arrecadação, acom-
panhando o produto, também cresceria, teríamos uma diminuição do déficit do governo, em
decorrência de que a arrecadação esteja subindo e o gasto esteja constante. Porém, a autoridade
fiscal poderia contribuir ainda efetivamente reduzindo gastos. No momento em que a economia
está no ciclo de bonança, está crescendo mais do que o seu potencial de longo prazo, a receita
da arrecadação está crescendo, porque ela depende também do comportamento do produto, da
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renda. Com arrecadação crescente, seria um momento de produzir ainda maior poupança do
governo, diminuindo seus gastos, fazendo também uma política fiscal restritiva, ao reforçar o
efeito restritivo da política monetária, a ação conjunta e coordenada de política fiscal e política
monetária produziria um efeito mais eficaz de minimização de flutuação economia.
Estamos exemplificando uma situação em que o ajuste do ciclo econômico não se dá
apenas pela gestão da política monetária, mas em coordenação com a gestão da política fiscal.
Em uma situação em que a economia está em alta no ciclo, se esperaria, se o governo tivesse uma
estrutura fiscal condizente com a sustentabilidade, que, ainda que a receita estivesse crescendo,
que os gastos estivessem caindo, e produzindo um superávit como proporção do PIB maior,
propiciando uma atuação anticíclica de política fiscal. Por simetria, do lado oposto do ciclo,
quando a economia estivesse em baixa, poderíamos observar o governo gastando mais do que
arrecadando e produzindo déficits, que foi a nossa discussão anterior sobre regime fiscal.
Assim, o governo produziria superávit no momento de ascensão do ciclo e déficits no
momento de recessão, momento de queda da atividade econômica, e com isso ele, intercalando
superávits e déficits ao longo do tempo, ele garantiria a sua sustentabilidade fiscal. Se isso
acontecesse, se houvesse essa coordenação de política econômica entre a política monetária e
a política fiscal, o efeito sobre a taxa de juros poderia ser menor, ou seja, o BC poderia elevar
menos a taxa de juros, a economia flutuaria menos, ou seja, teria um ciclo bem mais suave. Esta
ideia de cooperação entre o lado fiscal e o lado monetário é extremamente importante e, dentro
dessa estrutura lógica simplificada, que estamos apresentando, ela teria um benefício de contri-
buir para que a atuação do governo na economia minimizasse a flutuação da macroeconomia.
Chegamos ao fim do nosso curso! Como é um curso introdutório e já tivemos de
lidar com temas, conceitos e teorias bastante complexos, deixo um desafio: que vocês sigam os
mesmos passos que desenhamos aqui, para o choque de demanda positivo, para analisarem os
efeitos sobre as flutuações e as respostas esperadas de política monetária e fiscal nos seguintes
casos:

• Um choque de demanda positivo;

• Um choque de oferta agregado temporário, ou seja, que só afeta a produção no curto


prazo, como uma quebra de safra agrícola;

• Um choque de oferta agregada permanente, que afeta o produto potencial, como por
exemplo o efeito de uma elevação da produtividade do capital por meio de uma inovação
de processo importante.

Agradeço a todos que chegaram até aqui, pela paciência, pela dedicação e espero,
sinceramente, que tenham se divertido aprendendo, tanto quanto eu, ensinando! Críticas e
sugestões, sempre bem-vindas! Grande abraço!

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