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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __

VARA CÍVEL DA COMARCA DE RECIFE/PE

MICHAEL JACKSON, brasileiro, solteiro, motorista, inscrito no CPF sob o n° ___,


residente e domiciliado na Rua ___, n° ___, bairro ___, Recife/PE, CEP ___, por meio de seu advogado
infra-assinado (procuração em anexo), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor a
presente:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E


LUCROS CESSANTES COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADADE URGÊNCIA

em face de UBER BRASIL TECNOLOGIA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no
CNPJ sob o n° ___, com sede na Rua ___, n° ___, bairro ___, São Paulo/SP, CEP ___, pelos motivos
de fato e de direito a seguir expostos.

I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LXXIV1, assegura de maneira


inquestionável a oferta da assistência jurídica integral aos cidadãos, mediante a comprovação da
insuficiência de recursos. Esse dispositivo consolida o compromisso do Estado em garantir o acesso
à justiça, promovendo a equidade e a proteção dos direitos fundamentais de todos os indivíduos,
independentemente de sua condição econômica.

Por sua vez, o art. 98 do Código de Processo civil diz que:


No mesmo contexto, o art. 98 do Código de Processo Civil, completa essa

1
BRASIL. Constituição Federal. Art. 5º, inc. LXXIX: o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos.
garantia constitucional, delineando as diretrizes para a efetivação desse feito.
In verbis:Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com
insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Portanto, a conjugação desses dispositivos legais, o art. 5º, inciso LXXIV, da


Constituição Federal, e o art. 98 do Código de Processo Civil, forma um alicerce robusto que consagra
a proteção jurídica plena, contribuindo para a construção de uma sociedade justa e igualitária, onde a
assistência jurídica se revela como um instrumento vital na concretização dos direitos e na promoção
da equidade perante a lei.

Nesse viés, o Autor declara-se hipossuficiente, incapaz de suportar os ônus do


processo, incluindo tanto as despesas judiciais quanto os honorários advocatórios. A situação tornou-
se ainda mais desafiadora após o bloqueio de seu cadastro na plataforma Uber, o que impediu de
prosseguir com suas atividades profissionais, ressaltando em sérias dificuldades financeiras.

Portanto, diante da inequívoca demonstração de sua condição vulnerável, o Autor faz


jus aos benefícios da justiça gratuita, respaldado pelo artigo 98, caput, e 99, §4º, ambos do Código de
Processo Civil, bem como pelo artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988. Essa
prerrogativa se fundamenta na impossibilidade do Autor de arcar com os encargos processuais sem
prejudicar seu próprio sustento.

Dessa forma, comprovada sua condição, o Requerente faz jus aos benefícios da justiça
gratuita, com fulcro no artigo 98, caput, e 99, §4º, ambos do Co digo de Processo Civil, e artigo 5º,
inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988, em virtude de não ter condições de arcar com os
encargos decorrentes do processo sem prejuízo de seu próprio sustento.

Assim delineado, o Autor pleiteia a concessão dos benefícios da justiça gratuita,


pautando-se na comprovação incontestável de sua hipossuficiência, visando garantir o acesso à tutela
jurídica de forma equitativa e em consonância com os princípios fundamentais que regem a justiça.

Ante o exposto, requer a parte Autora a concessão dos benefícios da justiça gratuita,
em razão de sua comprovada hipossuficiência.

II – DOS FATOS

O Autor, ao longo de mais de seis anos, desempenhou suas funções como motorista de
aplicativo na plataforma Uber de maneira íntegra, digna e honesta, conquistando uma notável avaliação
de 4.88 estrelas em um total de 5. Contudo, em fevereiro de 2023, mesmo com essa expressa pontuação,
foi surpreendido pela notificação em seu aplicativo, informando abruptamente a desativação permanente
de sua conta sob a acusação infundada de LGBTfobia, sem prévio aviso ou a oportunidade de apresentar
sua defesa.

Ocorre que, mesmo a parte Autora possuindo nota alta dentro da plataforma, em fevereiro
de 2023 foi surpreendido com a notificação em seu aplicativo informando que sua conta havia sido
desativada permanentemente, por acusação de LGBTfobia, sem qualquer aviso prévio ou oportunidade
de defesa.

Inconformado, o Autor entrou em contato com a empresa para obter maiores


informações, mas recebeu apenas respostas genéricas.

Movido pela inconformidade, o Autor buscou esclarecimento junto à empresa, mas


obteve apenas respostas genéricas e insatisfatórias. Importante salientar que a exclusão da plataforma
acarretou sérios prejuízos ao Autor, uma vez que esta representava sua única fonte de renda. Seus
rendimentos nos últimos anos evidenciam a relevância desse emprego:

▪ 2021: R$ 60.000,00
▪ 2022: R$ 72.000,00
▪ Janeiro/2023: R$ 6.107,00
▪ Fevereiro/2023 (até a exclusão): R$ 3.520,00

Atualmente, o Autor subsiste com o remanescente de suas economias, carecendo


urgentemente de sua reintegração à plataforma Uber para garantia sua subsistência.

Diante do exposto, em decorrência de todos os transtornos narrados em Face do


bloqueio definitivo da plataforma, vem o Autor propor a presente ação com o fim de ser reintegrado
novamente na plataforma para continuar desempenhando as suas laborais, visto que sempre trabalhou
de acordo com os termos da UBER, bem como seja indenizado pelos danos morais e materiais, e
lucros cessantes pelo período em que se encontra banido injustamente do aplicativo.
Diante desse cenário, em virtude de todos os transtornos decorrentes do bloqueio definitivo da
plataforma, o Autor propõe a presente ação com o objetivo de ser readmitido na plataforma,
permitindo assim a continuidade de suas atividades laborais indenização pelos danos morais e
materiais sofridos, incluindo os lucros cessantes durante o período em que injustamente permanente
excluído do aplicativo.

III – DO MÉRITO

III.I – DA RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE AS PARTES

Destarte, é de rigor o reconhecimento da existência de relação de consumo entre as


partes, já que estão presentes os requisitos subjetivos e objetivos previstos na Lei 8.078/90, já que a
empresa Ré fornece o serviço para o Autor, qual seja a utilização de sua plataforma, cobrando uma
contraprestação por isso.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Ademais, o STJ entende que o conceito de consumidor se encaixaria nos termos da


teoria da finalidade mitigada a qual estabelece como sendo consumidor aqueles que, mesmo não
adquirindo o produto ou serviço como destinatário final, existe uma relação desigual com uma das
partes em manifesta vulnerabilidade, como se verifica na relação entre motorista – aplicativo.

No caso em apreço, é notória a vulnerabilidade do Autor em todos os seus sentidos em


face da empresa Ré. O Autor é pessoa com baixa instrução acadêmica, dotado de pequeno poder
aquisitivo e ainda não possui os conhecimentos técnicos/jurídicos adequados para compreender os
conteúdos do contrato de adesão o qual a Ré impõe aos motoristas como requisito obrigatório para
poderem utilizar sua plataforma.

A Promovida se trata de uma gigante multinacional, com corpo jurídico próprio e


extremamente especializado, e, além disso, é a única capaz de apresentar todas as provas em juízo,
uma vez que, conforme narrado anteriormente, no momento do bloqueio, o Autor ficou
completamente sem acesso a sua conta na plataforma.

Desse modo, evidente que o contrato de adesão o qual o motorista foi subordinado é
extremamente abusivo, além de que a Ré é a única que pode apresentar as provas em juízo, devendo
ser obrigada a apresentar as telas sistêmicas, conforme solicitado ao final.

III.II - DA AUSÊNCIA DO CONTRADITÓRIO

Na existência de um contrato em que ambas as partes assumem obrigações e


direitos, nada mais legítimo do que o direito do autor em ter analisadas as suas razões de defesa
antes que a medida mais severa fosse realizada: o bloqueio permanente de sua conta.

A liberdade de contratar, no que interessa à teoria geral dos contratos, passou


por longa evolução, vendo-se hoje delimitada pela necessidade de convivência com outros
valores e princípios igualmente caros à sociedade.

Nesse sentido, nota-se que deve prevalecer a boa-fé objetiva na relação dos
contratos, conforme estabelece o art. 422 do Código Civil. Porém, no presente caso, a Ré não
agiu de boa-fé ao desativar de forma repentina e arbitrária a conta da parte Autora, sem
qualquer aviso prévio assim como se manteve inerte perante as inúmeras tentativas do
motorista para resolver o ocorrido de forma administrativa.

A boa-fé contratual deve prevalecer na fase pré-contratual, durante e na sua


conclusão, conforme determina o Art. 422 do Código Civil. Todavia, é notório nos presentes
Autos que a Ré não guardou boa-fé na relação com o motorista/Autor.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,


como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Além do mais, outro ponto que deve se observar na presente relação UBER X
MOTORISTA, é a função social do contrato que se trata de um princípio contratual de ordem pública,
um dos muitos que emergiram junto coma Lei 10.406/2002.

Assim, o código civil de 2002 adotou o princípio da socialidade como um de seus


norteadores. Tal princípio tem como uma de suas características a limitação da liberdade contratual.

A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o
princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes
interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. (Enunciado
n. 23 da I Jornada de Direito Civil).

A função social do contrato visa atender os interesses da pessoa humana. Logo é


incontestável que a função social dos contratos tem o escopo de proteger a dignidade da pessoa
humana, seja na dimensão individual ou coletiva.

De tal forma, todo contrato deve respeitar o princípio da função social, estando este
acima de outros que disciplinam o instituto, assim como a dignidade da pessoa humana,
eventualmente, está acima de outros direitos e garantias fundamentais.

É de conhecimento amplo e notório que as plataformas de transporte particular são os


novos empregos de milhares de brasileiros que se viram obrigados a aceitar os termos de uso abusivos,
várias horas e condições precárias de trabalho em razão do alto índice de desemprego no Brasil. Assim,
hoje as plataformas possuem uma função social em nosso país, não podendo simplesmente alegar o
princípio do “pacta sunt servanda”, sem observar a função social deste tipo de contrato nos dias atuais
e os princípios constitucionais.

Ademais, O Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa é assegurado pelo artigo 5º,


inciso LV da Constituição Federal, definido também pela expressão audiatur et altera pars, que
significa "ouça-se também a outra parte".

Trata-se de um corolário do princípio do devido processo legal, caracterizado pela


possibilidade de resposta e a utilização de todos os meios de defesa em Direito admitidos.

Vicente Greco Filho (2009, p. 249) sintetiza esse princípio de maneira bem prática e
simples:

O contraditório se efetiva assegurando-se os seguintes elementos: a) o conhecimento


da demanda por meio de ato formal de citação; b) a oportunidade, em prazo razoável,
de se contrariar o pedido inicial; c) a oportunidade de produzir prova e se manifestar
sobre a prova produzida pelo adversário; d) a oportunidade de estar presente a todos
os atos processuais orais, fazendo consignar as observações que desejar; e) a
oportunidade de recorrer da decisão desfavorável. (GRECO FILHO, Vicente. Direito
Processual Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2009).

Evidentemente que a sua inobservância causa grave dano ao autor, que não teve a
oportunidade de defesa às acusações imputadas, devendo ter a intervenção do judiciário, conforme
precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO. CONSTITUCIONAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO


DE FAZER CUMULADA COM PEDIDO INDENIZATÓRIO. PLATAFORMA DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE (UBER). CANCELAMENTO
UNILATERAL DO CADASTRO DE MOTORISTA PARCEIRO. TEORIA DA
EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. INCIDÊNCIA.
NOTIFICAÇÃO NECESSÁRIA. LUCROS CESSANTES NÃO
COMPROVADOS. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. 1. A
convergência das disposições constitucionais no âmbito do direito civil se trata de um
novo caminho doutrinário, denominado de Direito Civil Constitucional, o qual ganha
maior prestígio com a aplicação dos direitos e garantias fundamentais às relações
entre particulares (eficácia horizontal dos direitos fundamentais). 2. É garantido ao
motorista de aplicativo o direito ao contraditório antes da empresa rescindir
unilateralmente o contrato, ainda que a entidade seja de natureza privada, pois os
direitos e garantias fundamentais previstos constitucionalmente não cedem diante de
princípios que regem as relações jurídicas firmadas entre particulares, por força da
aplicação da teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que foi albergada
pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, notadamente por ocasião do
julgamento do RE 201.819/RJ. 3. (...). 4. RECURSOS CONHECIDOS E
DESPROVIDOS. SENTENÇA MANTIDA. (TJ-DF 07070225120188070007 DF
0707022- 51.2018.8.07.0007, Relator: ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, Data
de Julgamento: 14/08/2019, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE
: 22/08/2019,#43318551).

Sendo assim, é explícito que os direitos fundamentais básicos não foram analisados,
haja vista que a parte autora não teve direito de se defender perante o bloqueio de sua conta.

Nesse contexto, a doutrina vem aceitando a aplicação de direitos fundamentais em


relações privadas marcadas por desequilíbrio, se trata da eficácia diagonal dos direitos fundamentais,
inicialmente pensada para relações trabalhistas, mas que hoje pode também ser aplicada nas relações
entre particulares onde há discrepante desequilíbrio. Em abstrato, a consequência de reconhecimento
expresso de uma eficácia diagonal resulta na certeza de obrigação das plataformas em concretizar
direitos fundamentais e na sua função quase-pública que justifica a estipulação de limites, barreiras e
parâmetros que não se aplicam, tradicionalmente, nas relações entre particulares, como no caso de se
observar o devido processo legal com contraditório e ampla defesa, antes da exclusão e um utilizador.

Portanto, não cumprindo o Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa, bem como


o da dignidade da pessoa humana, o desligamento de forma arbitrária pela plataforma torna-se
totalmente indevido, abusivo e ilegal. O que deve ser rechaçado pelo poder judiciário.

III.III – DO DANO MORAL

A priori, é importante salientar que o autor sempre obedeceu às normas e termos de


uso determinados pela ré em sua plataforma, possuindo inclusive excelente avaliação (4,88 estrelas).
Destaca-se que nunca houve qualquer descumprimento das diretrizes da plataforma, pelo motorista.

Assim, nota-se que a conta do motorista foi desativada de forma ilícita. Dessa forma
no que tange à responsabilidade civil por danos decorrentes de ato ilícito civil, depreende-se da leitura
aos artigos 186, 187 e 927, parágrafo único, do Código Civil a imputação ocorrerá sempre que o autor
do dano, por conduta ativa ou omissiva, praticada em circunstâncias que façam presumir a negligência
ou imprudência, viole direito e cause dano a outrem.

Dessa forma, tendo em vista que não foi assegurado ao Autor o seu direito
constitucional de ampla defesa, resta claro o quão injusto foi o processo para o bloqueio de sua conta.
Portanto, a violação à personalidade da parte autora ultrapassa o mero dissabor, ao não ter o
fundamental direito de se defender diante das acusações, em vias administrativas.

Outrossim, a parte autora se encontra desempregada, passando por inúmeras


dificuldades financeiras para manter o seu sustento, pois tinha como sua única fonte de renda no
momento da desativação de sua conta, os valores obtidos através das corridas realizadas por
intermédio da ré

O Autor confiava legitimamente nos valores que recebia há mais de 6 anos através do
seu trabalho como motorista parceiro da plataforma, para pagar suas dívidas e manter o seu sustento,
e de forma repentina ter sua fonte de renda interrompida, vêm lhe causando diversos transtornos
psicológicos e financeiros.

Ora, um trabalhador vem sofrendo enormes desgastes, tanto na esfera judicial, quanto
emocional, para apenas conseguir seu direito de TRABALHAR DE FORMA DIGNA E HONESTA
NOVAMENTE!

Ademais, vejamos a seguinte jurisprudência de caso semelhante ao


apresentado nestes autos, que tramitou perante o 3º Juizado Especial Cível da Capital de Maceió/AL.
Autos n° 0700693-66.2023.8.02.0078
“(...)
Em contrapartida, o meio de bloqueio foi nocivo e desconexo às Exigências da norma
máxima brasileira, violando direitos fundamentais do autor. Nesta lógica, com ênfase
na violação dos termos estabelecidos pela requerida– pelo lastro probatório
apresentado, fortemente coerentes e condizentes com as provas, demonstrando
altíssima possibilidade de atos passíveis de sanção pelo autor -, tal sanção imposta
tornou-se exagerada ao não respeitar os princípios da ampla defesa e do contraditório,
vejamos: (...) Desta forma, não é preciso analisar o quão justo – ou injusto – foi o
bloqueio da conta, mas sim o quão injusto foi o processo para tal. Desta forma,
entendo que a violação à personalidade da autora ultrapassa o mero dissabor, havendo
majoração de danos ao não ter o fundamental direito de se defender diante das
acusações, em vias administrativas. Portanto, estabeleço o importe de R$2.000,00
(dois mil reais), a título de indenização pelo dano moral sofrido, ao ter o autor o
direito constitucional básico violado. Dispositivo: Ante o exposto, diante de tudo que
consta dos autos, com fundamento no art.487, inciso I, do Código de Processo Civil,
JULGO PROCEDENTE EM PARTES os pedidos contidos na peça inicial, para: a)
CONDENAR a demandada UBER DO BRASIL TECNOLOGIALTDA. a PAGAR
a promovente a importância de R$2.000,00 (dois mil reais) a título de compensação
pelos danos morais sofridos, devendo incidir juros de mora de 1% (um por cento) ao
mês a partir da citação e correção monetária pelo INPC a partir da prolação desta
sentença, conforme dispõe a súmula no 362 do STJ. (...)’’

Dessa forma, torna-se evidente que não foi dado ao autor o direito de defesa, haja vista
que os motivos apresentados pela ré não condizem com a realidade fáctica do presente caso, posto que
a parte autora NUNCA atuou de maneira contrária aos Termos de Uso determinados pela plataforma,
bem como as legislações brasileiras.

Diante disso, a indenização por dano moral deve representar para a vítima uma
satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta
para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos
causados.

Portanto, é evidente que a ré causou ao autor danos que superam o mero aborrecimento,
uma vez que a conta do Autor foi desativada de forma totalmente injusta e ilícita, e o bloqueio vem
lhe causando diversos prejuízos, gerando a obrigação de ser ressarcido no montante não inferior a
R$10.000,00 (dez mil reais).

III.IV – DOS LUCROS CESSANTES

Os lucros cessantes são uma das espécies de dano material e representam os valores
que a parte deixa de auferir em razão de determinado evento danoso e possuem natureza
compensatória.

Conforme demonstrado, o Requerente, teve seu cadastro cancelado indevidamente na


plataforma Uber, ficando impedido de realizar corridas e de receber sua remuneração, não
conseguindo garantir o seu sustento.

Com o cadastro bloqueado na Uber, diante do falso apontamento criminal, o


Requerente enfrenta sérios problemas financeiros já que não consegue receber a quantia necessária
para a sua subsistência.

Estando o Requerente impossibilitado de realizar corridas desde 02/2023, totalizando,


até a presente data (24.02.024) o total de quase 12 (doze) meses inoperantes. Desse modo, se faz
devida, até a data do protocolo desta ação, o pagamento no importe de R$ 75.871,00 (setenta e cinco
mil oitocentos e setenta e um reais), aqui compreendem-se dias úteis, feriados e finais de semana,
pois, como já mencionado, o Requerente realiza corridas todos os dias da semana, a título de lucros
cessantes.

Portanto, devida a restituição no importe de R$ 75.871,00 (setenta e cinco mil


oitocentos e setenta e um reais), até o protocolo da presente ação, bem como devidos o valor de R$
203,56 (duzentos e três reais e cinquenta e seis centavos), por dia bloqueado na plataforma, até que a
conta do Requerente seja desbloqueada e este consiga voltar a realizar suas corridas.

III.V – DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do Art. 300 do Código de Processo Civil "a tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo”.

Nesse sentido, verifica-se que todos os requisitos estão perfeitamente caracterizados no


caso em questão, vejamos:

A PROBALIDADE DO DIREITO resta caracterizada pelo simples fato de que o


autor sempre foi um excelente profissional conforme avaliações anexas, e vem sendo impossibilitado
de trabalhar e prover seu sustento em razão de um bloqueio injusto e repentino de sua conta.
Sendo assim, o ato de bloqueio totalmente arbitrário feito pela Ré, sem conferir ao
Autor qualquer possibilidade de se defender se mostra uma atitude completamente injusta e contrária
aos princípios constitucionais. Logo, a empresa Ré não poderia simplesmente desligar o Promovente
sob a alegação de que este supostamente teria descumprindo com os termos de uso da plataforma,
uma vez que o referido termo se mostra um contrato de adesão completamente abusivo, não devendo
ser considerado no caso em tela.

Desse modo, depreende-se que resta configurada a probabilidade do direito, já que a


atitude do Requerido foi lesiva não só ao direito do Autor, mas configurando também uma verdadeira
afronta ao ordenamento jurídico como um todo.

Nesse sentido, conforme destaca a doutrina, não há razão lógica para aguardar o
desfecho do processo, quando diante de direito inequívoco:

"Se o fato constitutivo é incontroverso não há racionalidade em obrigar o autor a


esperar o tempo necessário à produção de provas dos fatos impeditivos, modificativos
ou extintivos, uma vez que o autor já se desincumbiu do ônus da prova e a demora
inerente à prova dos fatos, cuja prova incumbe ao réu certamente o beneficia."
(MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de Urgência e Tutela da Evidência. Editora
RT, 2017. p.284).

Já o RISCO DA DEMORA fica demonstrado, pois o autor está desempregado,


passando por inúmeras dificuldades financeiras, uma vez que possuía como sua única fonte de renda
os valores recebidos pela ré através dos trabalhos prestados como motorista de aplicativo.

O PERIGO DE DANO IRREPARÁVEL é claro, pois o Autor impedido de trabalhar


na plataforma da empresa ré, não tem como prover seu sustento, de modo a garantir a todos o direito
à mínima dignidade da pessoa Humana.

Logo, é evidente que a demora na reintegração da parte autora na plataforma da Ré


vem prejudicando diretamente seu sustento, uma vez que sua subsistência atualmente depende
totalmente dos ganhos obtidos através seu trabalho digno e honesto como motorista de aplicativo.

Ainda, notório que a Ré não realiza qualquer esforço a fim de resolver o conflito de
forma administrativa, haja vista que apenas tenta se desvincular de suas responsabilidades, prolongando
ainda mais o sofrimento do autor, que se encontra desempregado, desejando apenas ter seu direito de
TRABALHAR de forma digna e honesta novamente

Nesse sentido, caso o Autor necessite de aguardar o trânsito em julgado para ver seu
direito satisfeito, este corre o risco de tornar a decisão inócua, pois o Autor ficaria longos meses sem
conseguir levar para casa o seu sustento, e, nas palavras da Ministra Carmem Lúcia, “justiça que tarda,
é falha”. Além disso, conforme leciona Humberto Theodoro Júnior:

"um risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado pela
parte", em razão do "periculum in mora", risco esse que deve ser objetivamente
apurável, sendo que e a plausibilidade do direito substancial consubstancia-se no
direito "invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o "fumus boni iuris" (in
Curso de Direito Processual Civil, 2016. I. p. 366).

Por fim, cabe destacar que o presente pedido não caracteriza conduta irreversível, não
conferindo nenhum dano ao réu, já que a medida pode ser revertida a qualquer tempo, sem prejuízo
para a empresa multinacional como a Ré.

Assim resta claro, o perigo de dano, pois na medida em que a demora do processo, vem
acarretando na suspensão do exercício das atividades laborais do Promovente, o que compromete
diretamente seu sustento.

Portanto, tendo em vista que o Autor utiliza a plataforma como sua única e principal
fonte de trabalho, é de extrema urgência que este volte a ter acesso à sua conta, uma vez que sempre
trabalhou de forma correta, seguindo e respeitando à risca todas as diretrizes da plataforma.

Diante de tais circunstâncias, é inegável a existência de fundado receio de dano


irreparável, sendo imprescindível a urgente reintegração do autor no aplicativo da ré, para que este
possa voltar a exercer suas funções laborais e prover seu sustento.

IV – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, com base no artigo 98 e


seguintes do Código de Processo Civil, por se declarar incapaz de custear as
despesas processuais sem prejuízo ao seu sustento;
b) A citação da Requerida para, caso queira, apresentar defesa no prazo legal, sob
pena de confissão e revelia;

c) O deferimento do pedido liminar para a imediata reintegração do autor no


aplicativo de corridas da ré para que este possa voltar a trabalhar e prover seu
sustento;

d) A aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao caso em tela, com todos


os seus institutos, inclusive a inversão do ônus da prova;

e) Que no mérito, seja julgado totalmente procedente os pedidos para:


e.1) Confirmar a tutela de urgência consistente na obrigação de fazer em
restabelecer o cadastro do Requerente na plataforma da Uber;

e.2) Condenar a Requerida ao pagamento de danos materiais (lucros cessantes),


no importe de R$ 75.871,00 (setenta e cinco mil oitocentos e setenta e um reais),
até o protocolo da presente aça o, bem como o valor de R$ 203,56 (duzentos e
três reais e cinquenta e seis centavos), por dia bloqueado na plataforma, até que
a conta do Requerente seja desbloqueada;

e.3) Condenar a Requerida ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a


título de indemnização por danos morais;

e.4) Condenar a Requerida ao pagamento de custas e despesas processuais,


inclusive os honora rios de sucumbência fixados em consonância com o
disposto no §2º do artigo 85 do Código de Processo Civil;

Protesta-se, outrossim, provar o alegado por todos os meios de prova admitidos,


notadamente, pelo depoimento pessoal do representante legal da suplicada, sob pena de confissão,
oitiva de testemunhas e juntada de novos documentos, se necessário.

Dá-se à causa o valor de R$ 85.871,00 (oitenta e cinto mil oitocentos e setenta e um


reais).
Requer, por fim, que as publicações sejam feitas em nome de James Mason de Araujo
Sá, OAB-DF nº…, sob pena de nulidade dos atos processuais.

Termos em que,
Pede deferimento.

Brasília/DF, 24 de fevereiro de 2024.

JAMES MASON DE ARAUJO SÁ

OAB/DF

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