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Revisão de conhecimento

Avaliação laboratorial
da autoimunidade e
da predisposição ao
diabetes mellitus tipo 1

Dra. Clarisse Ponte


Endocrinologista

Dra. Yolanda Scharank


Endocrinologista
Menu interativo:

1. Introdução

2. Avaliação da autoimunidade no paciente com DM1

3. Screening para avaliação do risco de DM1

4. Como avaliar a predisposição ao DM1?

5. Screening para doenças autoimunes no paciente com DM1

6. Mensagens finais
1. Introdução

O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) corresponde a o DM1 pode também acometer adultos, que,
aproximadamente 5 a 10% de todos os casos em geral, desenvolvem uma forma lentamente
de diabetes. A sua incidência e prevalência têm progressiva, denominada Diabetes Autoimune
aumentado,sendo a forma mais comum de dia- Latente do Adulto (Latent Autoimmune Diabetes
betes na infância e adolescência.1 No entanto, of the Adult; LADA).2

2. Avaliação da autoimunidadeno paciente com DM1

O mecanismo fisiopatogênico do DM1 consiste encontrados nos pacientes com DM1 e as suas
na destruição autoimune das células ß das ilhotas principais características são apresentados na
pancreáticas.1 Os marcadores de autoimunidade tabela 1.

Tabela 1 - Anticorpos relacionados ao diabetes mellitus tipo 1.

Frequência de
Anticorpo Sigla Peculiaridades
positividade do DM1

Desaparece após 2 a 3 anos de doença; mais frequente


75 a 85% nos pacientes com rápida progressão da doença, meno-
Anti-ilhotas ICA512
(DM1 recente) res níveis de peptídeo-C e necessidade de insulinização
precoce.

50 a 60%
e > 90%
Anti-insulina IAA Pode estar presente em pacientes insulinizados.
em pacientes
com < 15 anos

Alto valor preditivo para progressão para DM1 em pa-


Anti-tirosina 48 a 89%
IA2 cientes com síndrome poliglandular autoimune. Maior
fosfatase (DM1 recente)
especificidade que ICA.

70% ao diagnóstico
Antidescarboxilase Presente em > 40% dos pacientes com síndrome poli-
Anti-GAD e 50% após 10 anos
do ácido glutâmico glandular autoimune. Auxilia no diagnóstico do LADA.
de diagnóstico

Presente em 14 a 26% dos pacientes com os demais Ac


negativos. A frequência de positividade apresenta corre-
lação inversa à idade de início do diabetes, sendo maior
Antitransportador 60% a 80%
Anti-ZnT8 (aprox. 70%) em pacientes com menos de 10 anos. Mos-
de zinco-8 (DM1 recente)
trou-se útil na previsão de DM1 em parentes de primeiro
grau de pacientes com a doença. Aumenta a sensibilida-
de da detecção de autoimunidade no DMI para 98%.

Fonte: Adaptado de Araújo & Scharank, 2018.3

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No início do DM1, quase todos os pacientes apresentam anticorpos negativos, menos de
apresentam algum anticorpo. Quando quatro 10% têm apenas um marcador, e cerca de 70%
marcadores são medidos, IAA, anti-GAD, IA2 e têm três ou quatro marcadores.4
ICA ou anti-ZnT8A, somente 2-4% dos pacientes

3. Screening para avaliação do risco de DM1

Diversos estudos indicam que medir os anticor- são indicados no contexto de ensaios clínicos
pos em indivíduos geneticamente predispostos de prevenção em DM1. A presença de anticor-
permite a identificação daqueles sob maior risco pos em indivíduos sem diabetes clinicamente
de desenvolver DM.15 Porém, dosar os anticor- manifesto tem sido denominada diabetes tipo 1
pos rotineiramente deve ser feito com cautela, pré-clínico, que corresponde aos estágios pre-
uma vez que pode gerar ansiedade no pacien- coces da doença (estágios 1 e 2), conforme
te e seus familiares. Normalmente, tais testes apresentado na tabela 2.5

Tabela 2 - Estágio do DM1 e suas características.

Estágios

1 2 3

Anticorpos Anticorpos Anticorpos


Autoimunidade
positivos positivos positivos

Hiperglicemia evidente e
Disglicemia: níveis glicêmicos
de início recente, crité-
Normoglicemia: alterados, compatíveis com
rios clássicos para diag-
pré-diabetes (jejum entre
Níveis glicêmicos glicemia de jejum, nóstico de DM (glicemia
100 e 125 mg/dL, 2 horas no
para diagnóstico TOTG e HbA1c de jejum ≥ 126 mg/dL,
TOTG entre 140 e 199 mg/
normais 2 horas no TOTG ≥ 200
dL, ou HbA1c entre 5,7
mg/dL, ou HbA1c
e 6,4%)
≥ 6,5%*)

Sintomas Ausentes Ausentes Presentes

Fonte: BD, 2019/2020.


Siglas: HbA1c: hemoglobina glicada; TOTG; teste oral de tolerância à glicose; DM: diabetes mellitus.
* Em pacientes sintomáticos, deve-se preferir diagnóstico pelas dosagens diretas de glicemia em vez da determinação de HbA1c.

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4. Como avaliar a predisposição ao DM1?

O DM1 tem forte associação com os antígenos anticorpos específicos (anti-GAD, anti-IA2 e
leucocitários humanos (human leukocity antigen; antiinsulina) apresentam chance considerável de
HLA) e, recentemente, a descoberta de muta- desenvolver a doença.2 Essas particularidades
ções em determinados genes relacionados ao genéticas têm importância clínica, pois a maio-
HLA (genes DQA e DQB) tem potencial papel na ria das mutações que causam DM1 tem padrão
avaliação da predisposição ou proteção ao DM1.1 de herança autossômica dominante, permitindo
Por exemplo, pacientes que apresentam o alelo que o médico tenha acesso a mais informações
de risco HLA-DRw3 e DRw4 e pelo menos dois que subsidiem o aconselhamento genético.1

5. Screening para doenças autoimunes no paciente com DM1

Indivíduos com DM1 têm maior predisposição a Na prática clínica, o screening para doença ti-
outras doenças autoimunes, incluindo tireoidite reoidiana e doença celíaca deve ser considerado
de Hashimoto, doença de Graves, doença ce- mesmo em indivíduos assintomáticos.7 As prin-
líaca, doença de Addison, vitiligo, hepatite au- cipais recomendações da American Diabetes
toimune, dermatomiosite, miastenia gravis e Association (ADA)8 e das Diretrizes da Sociedade
anemia perniciosa.6 Brasileira de Diabetes (SBD)2 para esse rastreio
estão apresentadas na tabela 3.

Tabela 3 - Screening para doenças autoimunes no paciente com diabetes mellitus tipo 1.

Rastreamento para tireoidopatia

A avaliação da função tireoidiana com dosagem de TSH e anticorpos antitireoidianos está


RECOMENDADA no momento do diagnóstico do DM1 e, posteriormente, a cada período de um
ano a dois anos ou quando houver quadro clínico sugestivo de hipotireoidismo.

Rastreamento para doença celíaca

Em crianças, o rastreamento de doença celíaca é RECOMENDADO quando do diagnóstico do DM1


e no segundo e no quinto ano, quando houver sintomas gastrointestinais ou quando houver baixa
estatura com diminuição da velocidade de crescimento.

Em adultos com DM1, a investigação de doença celíaca DEVE SER CONSIDERADA na presença de ma-
nifestações gastrointestinais, perda de peso, controle metabólico ruim ou hipoglicemias inexplicáveis.

O rastreamento da doença celíaca é baseado na detecção de anticorpos IgA (transglutaminase


tecidual ou endomísio) em pessoas sem deficiência de IgA.

Fonte: SBD, 2023.2


Nota: Com relação às demais doenças autoimunes,os pacientes devem ser ativamente monitorados para a presença
de sinais e sintomas sugestivos,sendo indicada avaliação clínica conforme necessário para cada condição.

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6. Mensagens finais

A dosagem dos anticorpos atualmente dis- A identificação de marcadores genéticos as-


ponível está bem indicada para a investiga- sociados a maior predisposição ao desenvol-
ção diagnóstica do DM1. vimento de DM1 pode ser uma ferramenta útil
para apoiar o aconselhamento genético.
A avaliação dos anticorpos em parentes de
primeiro grau pode ser útil na identificação de Com base nas recomendações da ADA e
indivíduos sob maior risco, especialmente no SBD1,2,8 a utilização dos testes diagnósticos
contexto de estudos de prevenção em DM1. na avaliação e seguimento do paciente com
DM1 pode seguir o seguinte fluxograma:

Paciente com diagnóstico de DM1

Dosar anticorpos Screening para outras Screening para DM1 nos


do caso índice doenças autoimunes parentes de primeiro grau

ICA, IAA, anti-GAD, TSH, anti-TPO, IgA, Dosar anticorpos para


IA2 e anti-ZnT8 antitransglutaminase DM1 no contexto de
tecidual IgA, antigliadina ensaios clínicos de
e antitransglutaminase prevenção
tecidual IgG (se deficiência
de IgA)

No seguimento, realizar
rastreamento periódico
para doenças autoimunes,
especialmente doença
tireoidiana e
doença celíaca

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Referências
Bibliográficas

1. American Diabetes Association. Standards of Medical Care in diabetes-2020. Diabetes Care 2020;43(Suppl. 1).

2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2023. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.
br/. Acesso em: 14/10/23.

3. Araújo PB, Scharank Y. Atualização no diagnóstico de diabetes. Disponível em: https://alvaroapoio.com.br/inovacao/ atual-
izacao-no-diagnostico-do-diabetes-mellitus. Acesso em: 31/10/2020.

4. Bingley PJ. Clinical applications of diabetes antibody testing. J Clin Endocrinol Metab. 2010 Jan;95(1): 25-33. doi: 10.1210/jc.2009-
1365. Epub 2009 Oct 29. PMID: 19875480.

5. Insel RA, Dunne JL, Atkinson MA, et al. Staging presymptomatic type 1 diabetes: a scientific statement of JDRF, the Endocrine Soci-
ety, and the American Diabetes Association. Diabetes Care 2015; 38:1964– 1974.

6. Nederstigt C, Uitbeijerse BS, Janssen LGM, Corssmit EPM, de Koning EJP, Dekkers OM. Associatedauto-immune disease in type 1 dia-
betes patients: a systematic review and metaanalysis.Eur J Endocrinol 2019; 180:135–144.

7. Kozhakhmetova A,WyattRC, Caygill C, et al. A quarter of patients with type 1 diabetes have co-existing non-islet autoimmunity: the
findings of a UK population-based family study. Clin Exp Immunol 2018; 192:251–258.

8. Children and Adolescents. In: Standards of Medical Care in Diabetes – 2020. Diabetes Care 2020;43(Suppl. 1):S163–S182. Disponível
em: https://doi.org/10.2337/dc20-S013. Acesso em: 31/10/2020.

Autoria:

Dra. Clarisse Ponte

Médica Endocrinologista pela Universidade Federal do Ceará (UFC)


Doutorado em Ciências Médicas pela UFC
Professora de Medicina do Centro Universitário Christus

Dra. Yolanda Scharank

Médica integrante do Núcleo de Atendimento ao Médico-RJ


Médica responsável pelas Provas Funcionais - Lamina e Bronstein-RJ
Médica endocrinologista do Hospital Federal de Bonsucesso-RJ
Residência em Endocrinologia e Metabologia (IEDE-RJ)
Extensão da Residência Médica no Hospital Kantonal de St.Gallen - Suiça
Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela SBEM-AMB
Mestrado em Endocrinologia e Metabologia - PUC -RJ

Publicado em: 24/11/2023


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