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Mariana Isac - T9

Antibioticos Utilizados para Cobertura Empirica de


Bacterias Padrao Envolvidas com Pneumonia Adquirida na
Comunidade em Adultos Imunocompetentes
1) INTRODUÇÃO primeiros estudos sobre a farmacodinâmica
das penicilinas demonstraram que estes
De acordo com as “Recomendações para o antibióticos se ligavam irreversivelmente em
manejo da pneumonia adquirida na comunidade uma proteína presente na parede bacteriana,
2018”, o tratamento antibiótico inicial é a qual foi chamada em inglês de “penicillin-
definido de forma empírica devido à binding protein” (PBP) e em português de
impossibilidade de se obterem resultados proteína ligadora de penicilina (PLP).
microbiológicos logo após o diagnóstico da Posteriormente se descobriu que a PLP era
PAC, o que permitiria escolher antibióticos uma enzima envolvida com a síntese da parede
dirigidos a agentes específicos. Atualmente, celular bacteriana, elemento essencial para a
os agentes etiológicos bacterianos da PAC sobrevida destes patógenos, principalmente
podem ser classificados em patógenos padrão durante o processo de multiplicação celular.
e patógenos multirresistentes adquiridos na Tal enzima recebeu o nome de transpeptidase,
comunidade como, por exemplo, pois catalisa a ligação entre os peptídeos
Staphylococcus aureus resistente à meticilina presente no peptideoglicano que compõem a
e pneumococo resistente às penicilinas. parede celular bacteriana. Sendo assim, a
inibição desta enzima provoca lise bacteriana
(ação bactericida), especialmente durante a
divisão celular bacteriana. Este é o mecanismo
de ação de todos antibióticos betalactâmicos,
pois todos apresentam o anel betalactâmico
que é o responsável pela inibição irreversível
da transpeptidase.
Os antibióticos betalactâmicos mais
utilizados na antibioticoterapia empírica
(cobertura de bactérias padrão) da PAC em
adultos imunocompetentes são as
aminopenicilinas (ampicilina e amoxicilina) e as
cefalosporinas de terceira, especialmente a
ceftriaxona, a cefoxitima e a ceftazidima.
Destes antibióticos, o único encontrado em
preparações orais e injetáveis é a amoxicilina.
Todos outros estão disponíveis apenas em
preparações injetáveis (intravenosas e/ou
intramusculares).
2) ANTIBIÓTICOS BETALACTÂMICOS a) Aminopenincilinas
Os antibióticos betalactâmicos são As aminopenicilinas apresentam boa
subdivididos nas seguintes classes: penicilinas, atividade contra uma série de bactérias
cefalosporinas (1ª à 5ª geração), gram-positivas e gram-negativas, porém são
carbapenêmicos e monobactâmicos. Os inativadas por todos os tipos de beta-
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lactamases, enzimas bacterianas que comumente encontradas no mercado são as
catalisam a quebra do anel betalactâmico e, de amoxicilina com clavulonato e ampicilina
com isso, inativam determinados antibióticos com sulbactam. Estas associações também
beta-lactâmicos. A produção de beta- aumentam a cobertura para bactérias
lactamases tem sido relatada como um Staphylococcus aureus sensível à meticilina e
importante mecanismo de resistência de para Moraxella catarrhalis, pois a maioria das
bactérias aos antibióticos beta-lactâmicos. Já cepas destas espécies são produtoras de PC1
foram identificadas centenas de diferentes Outra vez vale ressaltar que este tipo de
tipos de beta-lactamases, desde as de curto associação NÃO AUMENTA a cobertura para
espectro como, por exemplo, a penicilinase bactérias do gênero Streptococcus. O quadro
tipo I (PC1), que basicamente inativa as a seguir resume as informações deste
aminopenicilinas, até as beta-lactamases de parágrafo.
espectro estendido (ESBL) que inativam a
maioria dos antibióticos beta-lactâmicos.
No Brasil, as aminopenicilinas ainda
apresentam ótima cobertura para o
Streptococcus pneumoniae (pneumococo),
pois o pneumococo resistente às
penicilinas (PRP) ainda é raro em nosso Podem ser divididas da seguinte forma
meio para os casos menos graves de PAC. quanto ao espectro antibacteriano:
Ressalta-se que o mecanismo de resistência ➭ benzil-penicilina. É considerada
do PRP às penicilinas e outros antibióticos a droga mais eficaz contra cocos gram-
betalactâmicos, NÃO É A PRODUÇÃO DE positivos (Streptococcus pyogenes,
BETA-LACTAMASES, pois bactérias do gênero Streptococcus agalactiae, Streptococcus do
Streptococcus NÃO PRODUZEM TAIS grupo viridans e Streptococcus pneumoniae),
ENZIMAS. Neste caso, o mecanismo de bacilos gram positivos (Listeria
resistência é a síntese de uma PLP ou monocytogenes), cocos gram-negativos
transpeptidase mutante que tem baixa (Neisseria meningitidis), anaeróbios de boca e
afinidade pelos antibióticos beta-lactâmicos. orofaringe e espiroquetas (Treponema
Assim, em concentrações usuais, antibióticos pallidum e Leptospira interrogans). Ela é mal
betalactâmicos não conseguem se ligar nesta absorvida pelo trato GI, portanto, deve ser
PLP e, consequentemente, não apresentam ministrada por via parenteral.
atividade contra o PRP.
- Penicilina G cristalina: via venosa, reservada
Já para o Haemophilus influenzae, a para infecções mais graves que indicam
cobertura é considerada boa, pois estudos internação.
sugerem que no Brasil entre 20 e 30% das - Penicilina G procaína (Despacilina): via
cepas de H. influenzae são resistentes às intramuscular, para infecções de gravidade
aminopenicilinas por meio da produção de intermediária (ex. erisipela).
beta-lactamases de curto espectro, incluindo - Penicilina G benzatina (Benzetacil): via
a PC1. Por outro lado, para estas beta- intramuscular, cujo efeito perdura por cerca
lactamases foram desenvolvidos os seguintes de 10 dias. Infecções como faringoamigdalite
inibidores enzimáticos: ácido clavulônico ou estreptocócia, impetigo estreptocócico e
clavulonato de potássio, sulbactam e sífilis.
tazobactam. Sendo assim, a associação das ➭ fenoximetil-
aminopenicilinas com algum destes inibidores penicilina. Tem uma excelente absorção por via
de beta-lactamases aumenta a cobertura oral, portanto, pode ser utilizada no
para o H. influenzae. As associações mais
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tratamento ou profilaxia de infecções por b) Cefalosporinas
bactérias sensíveis à penicilina G.
Já as cefalosporinas de terceira geração,
➭ além de serem resistentes às beta-
penicilinas semi sintéticas, capaz de resistir à lactamases de curto espetro, apresentam
penicilinase produzida pelo Staphylococcus ótima atividade contra H. influenzae e boa
aureus. Exemplos: oxacilina, meticilina e atividade contra bactérias atípicas. Assim, o
nafcilina. quadro da cobertura destes antibióticos para
➭ Ampicilina e Amoxicilina bactérias padrão envolvidas com PAC em
(Amoxil, Flemoxon, Velamox). Estes adultos imunocompetentes fica da seguinte
antibióticos são capazes de atravessar as maneira.
porinas da membrana externa dos gram-
negativos, tendo eficácia contra várias cepas
de H.influenzae, M.catarrhalis, E.coli,
P.mirabilis, Salmonella sp, Sigella sp.
➭ Carbenicilina e
Ticarcilina. Tem o espectro ampliado para
alguns germes gram-negativos produtores de
betalactamase, como Enterobacter sp, Cefalotina
Proteus indol-positivo e Pseudomonas (Keflin) e Cefazolina (Kefazol) - formas por
aeruginosa. via parenteral - e pela Cefalexina (Keflex) e
➭ Mezlocilina e Piperacilina. Cefadroxil (Cefamox) - formas por via oral.
São mais eficazes do que as carboxipenicilinas São eficazes contra a maioria dos germes
contra Enterobacteriaceae e P.aeruginosa. gram-positivos, incluindo o S.aureus oxacilina-
sensível, mas são efetivos apenas para poucos
o gram-negativos, como algumas cepas de E.coli,
principal mecanismo de resistência aos Proteus mirabilis e Klebsiella pneumoniae.
betalactâmicos tanto por parte dos gram-
positivos quanto dos gram-negativos é a possuem um
produção de betalactamases. espectro mais ampliado para gram-negativos,
➭ Associando inibidores da betalactamase quando comparados às de 1a geração. São
(Clavulanato, Sulbactam ou Tazobactam) a divididas em:
determinadas penicilinas, podemos ampliar o ➭ Subgrupo com atividade anti-Haemophilus
espectro destes antibióticos. influenzae, do qual participa principalmente o
➭ Amoxicilina-Clavulanato (Clavulin) e Cefuroxime (Zinacef);
Ampicilina-Sulbactam (Unasyn): têm eficácia ➭ Subgrupo com atividade anti bacteroides
contra gram-positivos, gram-negativos e fraqilis, do qual participa a Cefoxitina
anaeróbios. São excelentes drogas para o (Mefoxin).
tratamento de infecções comunitárias Quando comparadas às cefalosporinas de 1ª
polimicrobianas do tipo pneumonia aspirativa, geração, podemos dizer que é mais efetiva
pé diabético infectado, sinusite crônica. contra Streptococcus pneumoniae e
➭ Ticarcilina-clavulanato (Timentin) e Streptococcus pyogenes, porém menos
Piperacilina-tazobactam (Tazocin): têm um efetiva contra o S.aureus oxacilina-sensível.
espectro amplicado para P.aeruginosa, sendo
excelentes drogas para o tratamento de Orais, principais exemplos: Cefuroxime
infecções nosocomiais, como a pneumonia. Axetil (Zinnat), Cefaclor (Ceclor) e Cefprozil
(Cefzil).
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são oxacilina-sensível e várias cepas de
caracterizadas pela sua estabilidade às Enterococcus fecalis.
betalactamase produzidas pelos germes gram- ➭ Gram-negativos: incluindo todos os
negativos entéricos. Em relação às produtores de betalactamase, P. aeruginosa e
cefalosporinas de 1a geração, são menos Acinetobacter sp.
ativas contra os gram-positivos, apesar de ➭ Anaeróbios: incluindo Bacterioides fragilis.
terem uma eficácia comparável às
cefalosporinas de 2a geração contra o ➭ Os preparados de Imipenem já vêm
S.pneumoniae. Pode-se dividir em 2 grupos: associados à cilastatina, um inibidor da enzima
tubular renal di-
➭ Subgrupo sem atividade anti-Pseudomonas:
Ceftriaxona (Rocefin), Cefotaxima (Claforan) hidropeptidades I.
e Cefodizima (Timencef). São drogas
Aztreonam (Azactam).
utilizadas para o tratamento de pneumonia
comunitária, meningite bacteriana e infecções Trata-se de um antibiótico betalactâmicos
nosocomiais não causadas por P.aeruginosa, monocíclico com atividade apenas contra
Acinetobacter sp ou S.aureus. gram-negativos aeróbicos. Não é eficaz
contra nenhum gram-positivo ou anaeróbio.
➭ Subgrupo com atividade anti-Pseudomonas:
Ceftazidime (Fortaz) e Cefoperazona. 3) MACROLÍDEOS
Orais, principais exemplos: Cefixime Os macrolídeos se ligam na subunidade 50S
(Cefnax) e Cefpodoxime (Orelox). do ribossomo bacteriano e, com isso, inibem a
síntese proteica bacteriana, processo
pertencem a essencial para multiplicação, mas não para
este grupo duas drogas- Cefepime (Maxcef) sobrevida das bactérias. Sendo assim, os
e Cefpiroma (Cefrom). Essas cefalosporinas macrolídeos são agentes bacteriostáticos.
possuem duas propriedades: passam com Uma das vantagens dos macrolídeos em
facilidade pelas porinas de P.aeruginosa e têm relação aos antibióticos beta-lactâmicos,
menor afinidade às betalactamases especialmente as aminopenicilinas, é a menor
produzidas por algumas cepas incidência de reações alérgicas. Outra
multirresistentes de gram-negativos vantagem em relação às aminopenicilinas é a
entéricos. cobertura para bactérias atípicas.
potencialmente O primeiro macrolídeo introduzido no
eficazes no tratamento de infecções por mercado foi a eritromicina (década de 1950),
germes como Pseudomonas MDR, Enterococo mas este não é mais utilizado no tratamento
Resistente à Vancomicina e S. aureus de pneumonia devido ao seu perfil
Resistente à Meticilina. Suas principais desfavorável de segurança (alta incidência de
indicações têm sido as infecções de partes efeitos colaterais) e eficácia (taxa
moles e a pneumonia comunitária. significativa de pneumococos resistentes e
baixa atividade contra bactérias gram-
c) Carbapenêmicos e Monobactâmicos: negativas). É ativa contra a maioria dos
Imipenme (Tienam) e gram-positivos (S.pyogenes, S.pneumoniae,
Meropenem (Meronem). Essas drogas são S.aureus, L.monocytogenes, C.diphteriae,
extremamente resistentes à clivagem pelas M.pneumoniae, C.pneumoniae, C.trachomatis),
betalactamase das bactérias gram-positivas e cocos gram-negativos (N.gonorrhoeae,
gram-negativas, incluindo os anaeróbios. N.meningitidis), o agente da coqueluche
(B.pertussis), da sífilis (T.pallidum) e da
➭ Gram-positivos: incluindo S. aureus angiomatose baciolar (Bartonella hanselae). A
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eritromicina é muito usada para tratar sp. e contra bactérias atípicas. Já as novas
infecções estreptocócicas, gonocócicas e quinolonas (levofloxacino, moxifloxacino e
treponêmicas (sífilis) em pacientes alérgicos gemifloxacino), ampliaram a atividade para
a Penicilina. É a droga de escolha para o bactérias atípicas e passaram a apresentar
tratamento de infecções por Mycoplasma ótima atividade contra pneumococo. Sendo
pneumoniae, da coqueluche e da angiomatose assim, o quadro abaixo resume a cobertura
bacilar. destes antibacterianos para bactérias padrão
envolvidas com PAC em adultos
No entanto, os macrolídeos introduzidos no
imunocompetentes.
mercado no final da década de 1980
(azitromicina e a claritromicina) continuam As “antigas” fluoroquinolonas são
sendo bastante empregados no tratamento de consideradas as drogas de escolha para o
pneumonia, sendo que a azitromicina tratamento de ITU, incluindo a pielonefrite.
apresenta vantagens sobre claritromicina, Outra indicação é a gastroenterite
pois a atividade da azitromicina contra bacteriana.
bactérias gram-negativas é maior do que a da
As “novas” fluoroquinolonas são ativas
claritromicina. Ressalta-se que estas duas
contra o restante dos cocos gram-positivos,
drogas encontram-se disponíveis no mercado
incluindo o S. pneumoniae com alta resistência
em preparações orais e injetáveis. uma
à penicilina. São drogas altamente eficazes na
eficácia maior contra certos germes gram-
pneumonia comunitária grave.
negativos, como H.influenzae, M.catarrhalis e
L.pneumophila.

4) FLUORQUINOLONAS
As fluorquinolonas atuam inibindo
topoisomerases bacterinas, enzimas essenciais
para manutenção da viabilidade e
compactação do DNA bacteriano (a DNA
girasse e a topoisomerase IV). Sendo assim, a
inibição destas enzimas, além de inviabilizar o
processo de transcrição gênica, provoca
descompactação do DNA ao ponto da molécula
provocar lise da célula bacteriana, o que torna
as fluorquinolonas agentes bactericidas. As
primeiras fluorquinolonas foram introduzidas
no mercado em meados da década de 1980
(norfloxacino, ofloxacino e ciprofloxacino).
Apesar da excelente atividade contra bacilos
gram-negativos e pseudomonas, estas
fluorquinolonas apresentam atividade muito
baixa contra algumas bactérias gram-
positivas como, por exemplo, Streptococcus

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