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Os carbapenêmicos são considerados antibióticos beta-lactâmicos pela presença do anel beta-

lactâmico em sua estrutura química. São drogas relativamente seguras e utilizadas com muita
frequência para o tratamento de pacientes em terapia intensiva, sendo praticamente reservados
para uso nesse contexto. Entretanto, diferentemente dos outros representantes da família,
possuem uma cadeia pentacíclica não-saturada e ligada a um átomo de carbono que
caracteriza o anel carbapenema, ligada ao anel betalactâmico. Outra característica que os
diferencia é a presença de uma cadeia hidroxietila em sua estrutura molecular, ao invés da
cadeia acilamina presente nas penicilinas.

Os carbapenêmicos possuem uma meia-vida plasmática relativamente curta, ao redor de uma


hora, com exceção do Ertapenem, que possui meia-vida mais longa (3 a 4 horas), o que
permite seu uso em dose única diária.

1.Os carbapenêmicos são antibióticos tempo-dependentes e apresentam altas concentrações


em vários tecidos corporais, inclusive no sistema nervoso central. 2.Quanto maior o tempo de
infusão destas drogas, e a manutenção da concentração plasmática acima da CIM, maior será a
ação antimicrobiano e melhores as chances de um bom desfecho clínico.

Antibióticos carbapenêmicos possuem um amplo espectro de ação extremamente amplo, que


inclui cocos gram-positivos, bacilos gram-negativos fermentadores e não-fermentadores,
anaeróbios gram-positivos e gram-negativos, incluindo o Bacteroides fragilis.

Por este espectro abrangente de ação e pela atividade potente em gramnegativos, são opções
seguras como monoterapia para o tratamento de infecções polimicrobianas graves (sepse de
foco abdominal, por exemplo). Os principais representantes desta classe de drodas são:
imipenem-cilastatina, meropenem e ertapenem.

Dos Gram positivos, têm ação apenas contra Staphylococcus sp. e Streptococcus sp.


sensíveis, ou seja, MRSA (S. aureus resistente à meticilina/oxacilina) estão de fora,
assim como os Enterococcus sp., sejam VRE (Enterococcus sp. resistentes à
vancomicina) ou não. 
Dos Gram negativos, têm ação contra praticamente todas as enterobactérias
(Escherichia coli, Klebsiella sp., Proteus sp., Providencia sp.), boa parte dos bacilos
gram negativos não enterobactérias (Neisseria sp., Haemophilus influenzae), boa parte
dos bacilos gram negativos não fermentadores (Pseudomonas aeruginosa,
Acinetobacter baumannii) e anaeróbios (Bacteroides sp., Fusobacterium sp.).

A maioria das cepas de Enterococcus faecalis  e muitas de Pseudomonas aeruginosa ,


inclusive as resistentes às penicilinas de amplo espectro e às cefalosporinas, é sensível
a imipeném, meropeném e doripeném, mas resistente ao ertapeném. Mas meropeném e
doripeném são menos ativos contra E. faecalis do que o imipeném. Carbapenéns fazem
sinergismo com os aminoglicosídios contra P. aeruginosa. No entanto, E.
faecium, Stenotrophomonas maltophilia, e os estafilococos resistentes à meticilina são
resistentes.

Assim como os outros β-lactâmicos, os carbapenêmicos têm, em sua estrutura, um anel


β-lactâmico que lhes confere a capacidade de se ligar às proteínas de ligação da
penicilina (PBPs), que são enzimas que catalisam a construção das cadeias
dissacarídicas, que, por sua vez, compõem a camada de peptideoglicana, componente
principal da parede celular da maioria das bactérias. Dessa forma, ao se ligar às PBPs,
os carbapenêmicos inibem a síntese de parede celular, o que desencadeia a morte da
bactéria. Por este motivo, os β-lactâmicos são classificados como bactericidas. O sucesso
da inibição da síntese do peptidoglicano pelos carbapenêmicos se dá pela capacidade destes
antibióticos se ligarem a vários sítios da molécula ao mesmo tempo.

Os carbapenêmicos diferem das outras drogas com mecanismo de ação semelhante pois
apresentam resistência à maioria das β-lactamases, que são enzimas que hidrolisam o
anel β-lactâmico do fármaco, inativando sua ação bactericida. Entretanto, essa
característica não os protege de todas as β-lactamases, como veremos mais adiante.

Imipenem+Cilastatina:

O Imipenem+Cilastatina foi o primeiro carbapenêmico disponibilizado para uso clínico, há


cerca de trinta anos. A atividade exacerbada da dehidropeptidase-I no Imipenem fez com que
fosse necessária a adição da Cilastatina a sua formulação original, substância que torna a
molécula resistente à ação destas enzimas. Inicialmente selecionado para o tratamento de
infecção relacionadas a assistência à saúde, notadamente pneumonias e infecções
complicadas do trato gastrointestinal, também possui indicações para o tratamento de
bacteremias, infecções ósteoarticulares, ginecológicas, do trato urinário, infecções complexas
de pele e tecidos moles e endocardites. Apesar de maciçamente utilizado até o início da
década passada, pela sua associação com aumento do risco de crises convulsivas e pelo seu
potencial de toxicidade renal (devido à cilastatina), o Imipenem+Cilastatina foi
progressivamente substituído pelo Meropenem na prática clínica.

Meropenem

O Meropenem manteve o amplo espectro de ação descrito para o Imimipenem+Cilastatina,


com a vantagem de apresentar uma posologia mais favorável (três vezes ao dia versus quatro
vezes em infecções graves) e um risco menor, explicado pela segurança para o sistema nervoso
central e pela baixa toxicidade renal. É o carbapenêmico mais utilizado na atualidade, mesmo
que como terapia coadjuvante em infecções por germes produtores de carbapenemases. Seu
uso está indicado para infecções de diferentes sítios, incluindo trato gastrointestinal, pele,
sistema nervoso central e sangue, entre outros, por patógenos conhecidos resistentes a outros
antibióticos ou em terapia empírica, muitas vezes associado à Vancomicina (que cobre Gram
positivos), para tratamento de pacientes sépticos em CTI, sem resultados de culturas.

Ertapenem

É o representante mais recente disponibilizado para uso clínico no Brasil. Conforme discutido
no início deste capítulo, sua meia-vida plasmática é maior e permite o uso em dose única
diária. Outra facilidade deste carbapenêmico consiste na possibilidade de uso intramuscular.
Por outro lado, ao contrário do Imipenem +Cilastatina e do Meropenem, o Ertapenem não
apresenta atividade antimicrobiana em isolados de Pseudomonas spp. e Acinetobacter spp,
mas mantém o restante do espectro já descrito para os outros carbapenêmicos. Pode não
apresentar a mesma estabilidade frente às beta-lactamases de espectro extendido as duas
outras drogas mencionadas anteriormente. Possui indicações clínicas que envolvem infecções
do trato urinário, infecções de pele e partes moles (incluindo pé diabético), infecções
complicadas do trato intestinal, infecções ginecológicas e bacteremias. Nos casos em que é
possível fazer o tratamento em regime ambulatorial, esta seria a droga mais indicada.

RESUMINDO AS INDICAÇÕES

 Foco: infecções de origem hospitalar, notadamente as

polimicrobianas ou causadas por bactérias MDR;

 Infecções intra-abdominais;

 Infecções respiratórias;

 Infecções da corrente sanguínea;

 Infecções genito-urinárias;

 Infecções complicadas de pele e partes moles;

 Infecções do SNC (meropenem)

Imipenem e meropenem

Interações medicamentosas:

 O uso associado a ganciclovir aumenta a possibilidade de convulsões. Diminui


concentrações de ácido valpróico, reduzindo a atividade anticonvulsivante. Pode aumentar
as concentrações de ciclosporina, com aparecimento de agitação, confusão e tremores.

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS  São descritas poucas interações significativas com outras


medicações;  Como outros β-lactâmicos, os carbapenêmicos exibem ação sinérgica com os
aminoglicosídeos;  O risco de convulsões se eleva na associação do imipenem com o
ganciclovir.

POSOLOGIA

 Imipenem: 500mg (EV) 6/6h a 1g (EV) 8/8h;

 Meropenem: 500mg (EV) 8/8h a 2g (EV) 8/8h;

 Ertapenem: 1g (EV) 1x ao dia;

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