A família, compreendida como núcleo base da sociedade, é regulada pelo
Código Civil como a entidade composta pelos laços de matrimônio e filiação. Importante ressaltar, no entanto, que o seu surgimento, com o advento da Constituição Federal de 1988, não mais se limitou ao casamento, possibilitando, portanto, que as famílias fossem constituídas por união estável e pela monoparentalidade. Além disso, a afetividade também se sobrepôs aos laços biológicos/sanguíneos, tornando igualmente legítimos os filhos decorrentes de adoção e aqueles socioafetivos.
Nesse contexto, diante das peculiaridades do Direito de Família, o Código de
Processo Civil criou, a partir do art. 693, as normas que regem especificamente as Ações de Famílias, cujos objetos são: “divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação”. Dessa forma, a princípio, os processos que regem essas temáticas não se submetem ao procedimento comum cível. Atendem, assim, regras singulares como a exigência da tramitação em segredo de justiça – art. 189, II do CPC – e o dever de depor sobre determinados fatos – art. 388, parágrafo único, do CPC.
No que tange à competência para análise dessas ações tem-se que as
Justiças comuns estaduais são as responsáveis pelos seus processamentos, atentando-se às regras do art. 53, I e II do CPC, para estabelecimento do foro competente. Ademais, se a comarca possuir vara especializada em matéria de família, a ação deverá ser direcionada a ela. Caso contrário, poderá tramitar na vara cível.
O jurista Antonio Carlos Marcato (2017) explicita que a principal característica
que diferencia as ações de família daquelas do procedimento comum seria a valorização da mediação e da conciliação na solução desses processos contenciosos, especificamente naquelas que discutem divórcio, separação consensual, extinção de união estável e alteração do regime de bens. Nessa perspectiva, o art. 694 dispõe que o magistrado deve priorizar a solução consensual entre as partes, dado o objeto delicado – a família e os seus laços – dessas ações, obrigando-se, inclusive, a oferecer o auxílio de profissionais de áreas como da psicologia, caso se entenda necessário. Por consequência disso, o artigo seguinte estabelece a obrigatoriedade das audiências de conciliação e mediação, podendo ser aplicada a parte que não comparece injustificadamente a multa prevista no art. 334, §8º do CPC.
Outro procedimento relevante nas ações de família, constante no art. 694,
parágrafo único, é a possibilidade de suspensão do processo para que as partes possam se submeter à conciliação extrajudicial ou receber o auxílio multidisciplinar. Marcato explica que, apesar de não estar presente neste artigo, o prazo máximo de suspensão é de seis meses, conforme art. 313, II, §4º do CPC. Por conseguinte, o art. 697 revela que caso não haja acordo entre os litigantes, a ação será convertida em processo comum.
Dando sequência ao processo, Marcato esclarece que a citação do réu nas
ações de família não segue o rito do art. 250, de modo que a parte será citada pessoalmente, mas o mandado conterá somente os dados necessários à realização da audiência, sem a cópia da petição inicial, que futuramente poderá ser examinada pelo réu. Na sequência, a depender do posicionamento do polo passivo, a ação poderá ser convertida em procedimento comum ou continuar como procedimento especial. Em primeiro lugar, se o réu é citado pessoalmente e não compare injustificadamente, o juiz decretará a sua revelia – sem, contudo, proceder ao julgamento antecipado – e aplicará a pena de multa, dando sequência à audiência de instrução e julgamento e, após, a sentença. Caso seja citado por edital e não comparece à audiência, nem constitui advogado, o magistrado adotará o procedimento comum, a fim de que se nomeie curador especial ao réu, possibilitando a sua contestação.
Por outro lado, se o réu ingressa no processo e, desde logo, oferece
contestação e a parte autora já se manifestou sobre o desinteresse na realização da audiência de conciliação, o processo se converte automaticamente em procedimento comum. Por fim, tem-se a possibilidade de comparecimento do réu à audiência em que, portanto, será priorizada a tentativa de solução consensual, proporcionando, até mesmo, o fracionamento dessas audiências em quantas vezes for necessária. Atentando-se somente ao prazo de dois meses, a contar da primeira audiência, em que, caso sejam infrutíferas as tentativas, o juiz deverá adotar o procedimento comum.
Outra mudança significativa trazida pelo Novo Código de Processo Civil, em
relação ao Código de 1973, se dá na intervenção do Ministério Público nas Ações de Família. Em um primeiro momento, o representante do MP atuava na grande parte dos processos que abarcam esse tipo de ação. No entanto, com o NCPC, a intervenção ministerial deve ocorrer somente quando há interesse de incapazes, uma vez que se trata de direito indisponível. Ao contrário, as ações de divórcio e partilha se restringem à observância de direitos disponíveis, o que retira, dessa forma, a obrigatoriedade da fiscalização do MP.
Ao final do capítulo, Marcato faz uma ressalva à Lei de Alienação Parental –
Lei nº 12.318/2010 – que dispõe sobre as interferências psicológicas promovidas por um dos genitores ou familiar sobre uma criança/adolescente, com o intuito de afastá- la do outro genitor. Nesse contexto, caso o magistrado perceba que o incapaz esteja diante desse tipo de influência, ele deverá contar com o auxílio dos profissionais especializados e recorrer, conforme determina o art. 699, ao acompanhamento de especialista no momento de depoimento do incapaz.
Bibliografia
1. MARCATO, Antonio Carlos. Capítulo X: Ações de Família. In: MARCATO,
Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 249-259. 2. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 3. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 mar.