Você está na página 1de 50

Semântica I.

SEMÂNTICA

• Ciência das significações das línguas naturais.


• Interessa-se pelas relações entre os signos na fala, no discurso,
compreendido como a atualização da língua na fala.
• Investiga a relação existente entre as expressões linguísticas e o mundo.
A semântica, portanto, passa a considerar como objeto de estudos os
signos, mas em situação de enunciação (aquilo que foi efetivamente
proferido).
• Semântica linguística
• Semântica semiótica *
SEMÂNTICA LINGUÍSTICA

• Objetiva estudar a forma do plano do conteúdo das línguas naturais.


Inclui:
• estudo do léxico (significação pela palavra)
• o estudo das estruturas gramaticais (morfologia)
• Deve ser abrangida pela Semiótica (no sentido das relações pragmáticas).
SEMÂNTICA SEMIÓTICA

Estuda a significação dos sistemas sígnicos.


Expressa a proposta de tratar separadamente os diferentes meios de
expressão.

*
SAUSSURE

• Pioneiro da semântica estrutural quando:


• concebe o signo como uma unidade significante mais significado;
• postula que uma palavra deveria ser descrita a partir do conjunto de
relações que a situam:
• nas classes da langue (paradigmática) língua
• nos enunciados da parole (sintagmática) fala
*
SAUSSURE

Cabeça (Significante) = aspecto concreto; conjunto sonoro.

cabeça

SIGNO Cabeça (Significado) = aspecto conceitual, abstrato, de conteúdo.

Portanto, significante + significado = significação.


*
SAUSSURE

• A parole (fala) se desenvolve sintagmaticamente, ao longo de um eixo virtual


de sucessões, onde cada elemento (palavra) ocupa uma posição significativa.
• O significado provém:
• da posição que o elemento ocupa em relação aos outros elementos co-ocorrentes
em seu contexto (eixo sintagmático);
• do elementos ausentes desse mesmo contexto, mas por ele evocados, na memória
implícita da langue (eixo paradigmático).
*
SAUSSURE

Langue / Língua = uma dentre várias


possibilidades combinatórias.

Parole / Fala = combinação exata.

Pronome substantivo verbo advérbio


O menino brinca aqui
Um garoto corre rapidamente
A menina dança vagarosamente
Uma garota fala alto
*
SAUSSURE

• O significado de um elemento linguístico fica determinado num duplo


enquadramento:
• o sintagmático
• o paradigmático

Todo e qualquer elemento da langue se deixa colocar no interior de uma classe onde se
associa a outros membros formando sistema: “escola”; “aprendizagem” ; “ ensino” são
memorizáveis como elementos da mesma classe de sentidos (“Educação”) porque possuem a
mesma marca semântica na sua base ( o sema “Educação”). *
SAUSSURE

• Relações paradigmáticas: são relações entre elementos


comutáveis (que você pode trocar por) no mesmo contexto.
Exemplo: marido e mulher; bom e mau.
• Relações sintagmáticas: são as que unem (combinam) por
exemplo: cabelos e loiros, latir e cão, bater e pés.

*
HJELMSLEV

• Sema: unidades menores do que o signo, componentes do signo,


que ordenadas em feixes constroem sememas.
Homem: macho, humano, adulto (Semema)
(signo)

S1 S2 S3 (Semas)
*
HJELMSLEV

Análise componencial de sentido


Masculino Feminino Idade

• Homem Mulher Criança


• Touro Vaca Bezerro
• Galo Galinha Pintinho

Componente semântico = Sema = aquilo que as palavras dos


diferentes grupos possuem em comum.
*
SEMÂNTICA (SAUSSURE + HJELMSLEV)

• Isolar os semas.
• Descrever o mecanismo de sua combinatória semêmica.
• Descrever coerentemente a organização interna dos diferentes campos
semânticos das línguas naturais.
• Descrever o mecanismo através dos quais esses diferentes campos
semânticos se integram formando sistema na unidade maior que forma a
estrutura semântica própria a cada língua natural.

*
SEMÂNTICA LÓGICA

• Hipótese de base da semântica estrutural: os significados


constituem estruturas dentro das línguas naturais e a introdução
de uma nova palavra no léxico da língua não altera a estrutura
semântica da língua, pois cada nova unidade léxica é absorvida
no interior de um campo semântico afim.
• As palavras se agrupam em campos semânticos.
*
CAMPO SEMÂNTICO

*
CAMPO SEMÂNTICO

• Se forma coerentizando internamente determinada parte do


material léxico de cada língua, e, ao mesmo tempo, delimitando-se
exteriormente por outros campos semânticos da mesma língua.
• Exemplo: Organização da Informação / Estudo de Usuários

*
CAMPOS SEMÂNTICOS

• Divide-se em subsistemas que incluem novas divisões, formando


campos associativos, graças ao mecanismo de produção de
metonímias (transferência de denominação. Ex: colheita –
processo e produto) e das metáforas (Esta mulher é uma pérola –
aproximação concreto/abstrato).
• Exemplo: Em Organização da Informação estudamos elaboração
de resumos documentários. *
• Embarcação veleiro proa
canoa casco
iate popa
jangada vela

Veleiro = /embarcação/ + /vela/


Jangada = /embarcação/ + /de paus roliços/

Os elementos da primeira coluna pertencem à mesma classe paradigmática, porque


qualquer um deles pode designar, por si mesmo, uma embarcação e, no tocante a essa
designação, a presença de um deles, numa frase, exclui automaticamente a presença de
qualquer outro membro da mesma classe na frase.

*
GREIMAS

• Signo = conjunto significante (significante + significado)


• Significantes: elementos que tornam possível o surgimento da
significação, ao nível da percepção e que são exteriores ao homem.
Podem ser classificados como:
• de ordem visual (mímica, gestos, escrita) Linguagem dos Sinais
• de ordem auditiva (música, línguas naturais)
• de ordem táctil (linguagem dos cegos) Braile
*
SIGNIFICANTES

• De diferente categoria perceptiva podem comportar significados idênticos


(música e línguas naturais)
• De diferente categoria perceptiva podem coexistir lado a lado numa só
linguagem (fala e gestos)

*
SIGNIFICADO

• Não pode ser classificado (Imaterial)


• A significação é independente da natureza do significante
que a manifesta.

*
OBJETO DA SEMÂNTICA

• Descrever as línguas naturais na qualidade de conjuntos significantes.


• Problema: as línguas naturais só se deixam traduzir em si mesmas ou por
outra língua natural. O universo semântico se fecha sobre si mesmo.
• É necessário estabelecer a hierarquia da linguagem, isto é, a relação de
pressuposição lógica entre dois conteúdos ou sentidos: a percepção de um
sentido pressupõe a percepção de outros sentidos que o definam.

*
Semântica II.
Níveis de Significação

• São 2 os níveis de significação em um conjunto significante:


• o da língua-objeto (objeto do nosso estudo)
• o da metalíngua (língua que usamos para estudar a língua-objeto)
• Toda e qualquer tradução de sentidos é um exercício metalinguistico.
• A semântica deve formalizar-se numa metalinguagem científica.

*
GREIMAS

• Adota a Sincronia (estudo da língua em determinado momento e não


historicamente).
• A língua é feita de oposições.
• A significação manifesta-se a partir da percepção de descontinuidades, ou desvios
diferenciais da realidade.
• Perceber é apreender diferenças. Através das diferenças percebemos formas:
• iguais (conjunção)
• diferentes (disjunção)
*
Primeira definição de estrutura de Greimas:

“ presença de dois termos vinculados por uma relação” .


• Um único termo-objeto não comporta nenhum tipo de significação;
• A significação pressupõe a interveniência de uma relação.

Sem relação não há significação.

*
• A relação é um mecanismo perceptual conjuntivo e disjuntivo
• Para que possamos apreender conjuntamente dois termos-objeto, é
necessário que eles tenham alguma coisa em comum (redundância,
semelhança e identidade).
• Para que dois termos-objetos possam ser distinguidos, é necessário que
eles sejam de algum modo diferentes (variantes, diferença e não-
identidade).

*
Cada termo da relação possui dois termos sendo um deles
conjuntivo e o outro disjuntivo.
disjunção

• governo federal x governo estadual

conjunção
É ao nível dessa estrutura elementar e não ao nível dos termos-objeto
que devem ser procuradas as unidades significativas elementares.
*
EIXOS SEMÂNTICOS

• No plano semântico as oposições branco/preto, grande/pequeno


discrimina-se dentro de um eixo comum a cada par de termos
opostos. Coloração no primeiro e Medida de grandeza no segundo
são os eixos semânticos dessas relações.
• A função do eixo semântico é a de totalizar as articulações (opostas)
que lhe são inerentes, tornando-as implícitas.
*
DESCRIÇÃO ESTRUTURAL DA RELAÇÃO

• A / está em relação (S) com / B


ou

• A / r (S) com B

Conteúdo da relação = Eixo semântico = resultado da descrição totalizadora que reúne, as


semelhanças e as diferenças que opõem A e B.
S pertence à metalinguagem descritiva.
(r) pertence a linguagem metodológica, isto é, a linguagem que estabelece as condições de
validade da descrição semântica aqui proposta.
*
SEMA

O EIXO SEMÂNTICO É METALINGUÍSTICO

• Sua expressão operacional é portadora de tantos elementos de significação quantos sejam


diferentes termos-objetos implicados na relação.
• No Exemplo /p/ : /b/ o eixo da sonoridade (S) pode ser interpretado como a relação (r)
entre o elemento sonoro (s1) e o elemento não-sonoro (s2).
• Assim, o termo-objeto B (/b/) possuirá a propriedade s1 (sonoro) e o termo-objeto A (/p/)
terá a propriedade s2 (não-sonoro).
/p/ (não-sonoro) vs /b/ (sonoro)
A (s2) r B (s1)
*
Portanto, s1 e s2 são elementos mínimos de significação
denominados semas

• uma estrutura elementar de significação pode ser concebida quer sob a


forma de um eixo semântico, quer sob a forma de uma articulação
sêmica, isto é, de traços distintivos, semas.
• no eixo semântico privilegia-se o que os termos-objetos A e B possuem
em comum: ela é conjuntiva;
• na descrição sêmica privilegia-se as qualidades polares que, situadas no
mesmo eixo semântico, distinguem A e B: ela é disjuntiva.

*
Termos sêmicos Representação Conteúdo sêmico
correspondente
Positivo s presença do sema s

Negativo não-s presença do sema não-s

Neutro -s ausência de s e de não-s

Complexo s + não-s presença do eixo


semântico S

*
SEMA
NO MESMO EIXO SEMÂNTICO A PRIMEIRA DESCRIÇÃO PRIVILEGIA O QUE A E B
TEM EM COMUM: É CONJUNTIVA, NA SEGUNDA PRIVILEGIA A DIFERENÇA: É
DISJUNTIVA

• Na relação:
• moça r (sexo) moço
• A r (S) B
• moça (feminilidade) r moço (masculinidade)
• A (s1) r B (s2)

*
SEMÂNTICA
* DAS LÍNGUAS NATURAIS

• Do ponto de vista da lógica temos as seguintes relações lógicas:


• (a) partindo dos semas, s1, s2, para o todo, S = relação hiponímica;
• (b) partido do todo, S, para os semas, s1, ou s2, = relação
hiperonímica;
• (c) partindo de um sema (s1, ou s2) para o sema contrário (s2, ou s1
), pertencentes ambos, à categoria S = relação antonímica.
SEMÂNTICA
* DAS LÍNGUAS NATURAIS

Flor (hiperônimo)

Rosa (hipônimo) Hortência (hipônimo)

Direção (hiperônimo)

Direita (hipônimo) Esquerda (hipônimo)


(antônimo)
Comunicação -> manifestação linguística -> significante + significado

• É no ato concreto da comunicação, na instância da manifestação linguística, que o


significante encontra o significado.
• Significante e significado não são duas unidades isomórficas.
• As diferenças de conteúdo não se deduzem das diferenças de significantes, mas sim das
diferenças observáveis no modelo das articulações lógico-linguísticas que
constituem a estrutura profunda das línguas naturais.

*
■ “quantidade relativa”

■ ======> Eixo semântico da Espacialidade

■ S (todo)

■ s1 (sema) s2 (sema)

■ /grande quantidade/ vs /pequena quantidade/

■ alto baixo (dimensão vertical)

■ longo curto (dimensão horizontal)

■ largo estreito(dimensão lateral)

■ grosso fino (ao volume) *


SEMAS

São unidades metalinguísticas de cuja combinatória resulta um conjunto


sêmico provisório capaz de descrever o plano do conteúdo (semema)
que pode assumir diversas coberturas lexemáticas na instância de
manifestação das LN.
Sememas lexicalizados = Lexemas (unidade básica do léxico).

*
■ cada lexema caracteriza-se pela presença de alguns semas e pela ausência de outros.

*
*

(a) cada lexema caracteriza-se pela presença de alguns semas e pela


ausência de outros;
(b) se lermos a tabela da esquerda para a direita (do todo para suas
partes), interpretamos o lexema segundo suas relações hiperonímicas;
(c) se lermos da direita para à esquerda, (das partes para o todo, que é o
lexema) interpretamos o lexema segundo suas relações hiponímicas.
Descrevemos assim o lexema como um conjunto de semas ligados entre
si por relações hierárquicas.
SEMEMA

• É o lugar (virtual) de encontro de semas hierarquizados, provenientes de diferentes


sistemas sêmicos. Pode ser definido:
• a partir do sema (ex. no sistema sêmico da espacialidade)
• a partir do lexema (unidade linguística pela qual se manifesta na instância da parole)
• Exemplo: lexema “cabeça” = parte (do corpo) unida ao corpo pelo pescoço; recoberta
pela pele e cabelos, unicamente a parte óssea.
• Dessa definição derivam todos os sentidos figurados que a palavra cabeça assume nos
diferentes contextos em que possa aparecer.
*
*

• Situado em diferentes contextos o lexema “cabeça” possui uma constelação de


sentidos diferentes, mas qualquer que seja a diferença perceptível em relação ao
sentido contextualizado, é evidente que parte do sentido de “cabeça” permanece
invariável através de todas as frases.
• A esse conteúdo positivo invariável de um lexema (semema), Greimas chama núcleo
sêmico.
• Núcleo sêmico = subconjunto de semas invariantes.
• Portanto, as variações de sentido só podem provir do contexto semas
contextuais
NÚCLEO SÊMICO

• Conteúdo positivo invariável de um lexema (semema). Exemplos:


• quebrar a cabeça (meditar sobre um problema)
• ser um cabeça dura (teimoso)
• não caber na cabeça (ser inadmissível)
• bater a cabeça (cometer tolices)
• todas tem um único “efeito de sentido” capaz de ser traduzido por “parte óssea da cabeça”, pois
óssea contém os traços semânticos /objeto/+/material/+/rígido/ e pode combinar-se na mesma frase
com quebrar, caber, bater.

*
SEMEMA

• Efeito de sentido resultante da combinatória de um núcleo sêmico mais semas


contextuais.
Semema (Sm) = Núcleo Sêmico (Ns) + Semas Conceituais (Sc)

Ex: não caber na cabeça (ser inadmissível)

*
CLASSEMAS (SEMAS CONTEXTUAIS)

• Sema comum à classe toda.


- em cão, raposa, cachorro-do-mato o classema é latir.
- em Sócrates, policial, político o classema é humano.

*
• Os eixos semânticos de articulações sêmicas diferentes, em que essas articulações sêmicas diferentes
traduzem caracterizações diferentes de ver o mundo (substância do conteúdo), através de recortes
diferentes (formas de conteúdo) que definem formas diferentes e específicas de cultura e de civilização:

• Inglês Português Francês Inglês Portugês


mutton
(a carne desse animal) macaco
ape

carneiro mico
sheep singe
(o animal carneiro)
bugio
monkey
sagui

*
REFERÊNCIAS

• GREIMAS, A.J. (1973). Estrutura elementar da significação._________. Semântica


estrutural. São Paulo; Cultrix, 1973. p.27-41.
• LOPES, E. (1987). A semântica estrutural de Greimas. In: ____. Fundamentos da
linguística contemporânea. São Paulo : Cultrix. cap.6.4, p.310-335.
• FIORIN, J. L. (1995?). As abordagens estruturais em semântica. In: MARI, H.; DOMINGUES,
I.; PINTO, J., org. Estruturalismo: memória e repercussões. Rio de Janeiro : Diadorim ;
UFMG. p. 79-84. (Textos apresentados no Simpósio Nacional Estruturalismo: memória e
repercussões, 1995
*
*

Você também pode gostar