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UNIDADE CURRICULAR: PSICOLOGIA SOCIAL DA VIDA QUOTIDIANA

CÓDIGO: 41054

DOCENTE: Joana Miranda

A preencher pelo estudante

NOME: Adriana Cristina Reis Ferreira

N.º DE ESTUDANTE: 1500016

CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais

DATA DE ENTREGA: 12 de Maio de 2019

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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

“Viva aceso, olhando e conhecendo o mundo que o rodeia,


aprendendo como um índio(...) seja um índio na sabedoria.”
Darcy Ribeiro

Todos nós nascemos em um grupo familiar, o grupo primário, segundo


Félix Neto (2000), “...composto por pessoas com quem temos contatos
regulares, pessoais e íntimos...”, e este é o nosso primeiro agente de
socialização, a socialização primária segundo Émile Durkheim, o qual
aprendemos normas, valores, crenças, tipos e estilos de linguagem, os padrões
de comportamento básicos que serão essenciais para o processo de
desenvolvimento e integração do ser humano ao mundo social “A socialização
primária ocorre na infância desde o seu início e corresponde ao período mais
intenso da aprendizagem cultural” (Giddens, 2013, p.317). Encontramos na
formação da identidade cultural um conjunto de fatores como costumes,
tradições, religião, linguagem, relação do homem com o meio natural, entre
outros, que combinados resultam na cultura de um povo. Esta cultura é
adquirida por cada indivíduo que além da perceção própria nas diferentes
interações de seu grupo, esta é reforçada ao longo do tempo e transmitidas de
geração em geração que, por semelhança em um mesmo grupo e marcas
próprias, permite distingui-lo de outro grupo. Usando a definição de grupo de
Smith (1945), se trata de uma unidade onde uma pluralidade de indivíduos com
uma perceção coletiva tem a capacidade de agir e estar em relação ao seu
meio, é isto que encontramos nos diferentes grupos étnicos brancos e
indígenas, onde a declaração do “Chefe Seattle” revela-nos exatamente as
diferenças de cada grupo étnico na interação com o meio ambiente. Por outro
lado, o facto de pertencermos a um grupo, aquilo a que Félix Neto (2000) refere
ao “grupo de pertença”, não significa que um indivíduo esteja fechado a
influência de outros grupos, algumas práticas e modelos podem ser adotados
por outros indivíduos, por exemplo, muitas das práticas religiosas ameríndias
como os totens e divindades ligadas a natureza foram adotadas por indivíduos
que não faziam parte deste grupo, um outro exemplo como o “código de ética
do índio norte americano”, um conjunto de regras/ mandamentos com cariz
cultural, que conduz a práticas de bem estar e interação entre os indivíduos e o

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meio envolvente, se tornou viral e adotada por uma legião de seguidores; os
grupos que pertencemos nem sempre são os grupos de referência, isto é,
estes não influenciam totalmente as nossas atitudes (Felix Neto, 2000).

Sabemos que para se manter vivo é necessário que o ser humano


satisfaça um determinado número de funções vitais tais como: a alimentação, o
sono, a respiração, a atividade sexual, entre outros, isto é, como citado por
Laraia (2001, p.37), segundo Kroeber, a necessidade de manutenção do
equipamento biológico é independentemente da cultura a que se pertença,
sendo comum a toda a humanidade, o que diferencia é a maneira variada de
satisfazê-los de uma cultura para a outra. É nesse contexto que os diferentes
grupos culturais entram em choque, pois indivíduos de culturas diferentes terão
visões desencontradas sobre as mesmas coisas, as valorações serão
diferenciadas, como citado na carta do “Chefe Seattle”, para o índio uma árvore
é um ser que possui energia própria e memória, cada elemento da natureza é
sagrada, para o homem branco a natureza foi encarada como recursos a
serem explorados para serem usados, transformados e comercializados até a
exaustão. O desbravamento das terras nos EUA reuniu grupos que tinham
como objetivo dois motivos gerais, conceito citado por Félix Neto (2000), o
primeiro um “objetivo utilitário” onde o exército e aventureiros juntaram forças
para ameaçar, atacar e subjugar as populações indígenas que habitavam
locais de interesse com o intuito de distribuir terras para a ocupação do homem
branco, o segundo “satisfazer necessidades humanas e de obter recompensas
sociais” a desocupação promoveu a possibilidade de uma nova estrutura
social, ou melhor, a possibilidade de um mobilidade social, onde muitos
aventureiros e principais intervenientes/ interessados seriam recompensados
pelo sucesso da ocupação. Reforço aqui a atenção para a ideia da natureza do
grupo, isto é, como diferentes indivíduos unem-se em grupo, interagindo e
comunicando em prol de um objetivo em comum, único elo de ligação ao
grupo, pois sabemos que os pioneiros eram originados dos mais variados
estratos sociais.

No encontro com o Outro, a autodefesa identitária e a nossa tendência


em diferenciar e categorizar, acaba por provocar um processo em que
realçamos as diferenças na comparação e relação com os outros grupos, onde

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geralmente valorizamos mais o nosso grupo de pertença, entram aqui o
etnocentrismo juntamente com ideologias, preconceitos e estereótipos que
contribuem para um distanciamento em relação ao Outro, que longe de
promover a alteridade, faz nascer a exclusão e discriminação que leva a
conflitos intergrupais que tantas vezes a história testemunhou. O sentimento de
superioridade de um endogrupo em relação a um exogrupo não contribui para
uma coexistência pacífica, isto é, a coabitação entre os grupos é marcada pela
dominação originando violência, conflitos, supressão de direitos e gerando
assim situações de vulnerabilidade social e psicológica para o grupo dominado.
Por outro lado, ao existir respeito pela diferença integrando e coexistindo
pacificamente aquilo que Natália Ramos (2014) refere como o modo mais
adaptativo de aculturação, a integração, que consequentemente promove aos
“...grupos mais sentimentos de satisfação e de bem-estar...” e este seria o
legado do “Chefe Seattle”, uma convivência pacífica com o respeito mútuo a
todos os seres vivos.

BIBLIOGRAFIA:

Félix Neto. (2000). Psicologia Social - Volume II. Lisboa: Universidade Aberta.

Giddens, A. (2013). Sociologia (9a). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Laraia, R. D. B. (2001). Cultura: um conceito antropológico. Em Zahar Ed.


(14a). https://doi.org/10.1017/CBO9781107415324.004

Ramos, N. (2014). CONFLITOS INTERCULTURAIS NO ESPAÇO EUROPEU –


PERSPETIVAS DE Introdução A globalização e os movimentos
migratórios têm aumentado os contactos interculturais na sociedade
contemporânea , colocando novas questões às relações interculturais são
objeto de preo. 225–245.

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