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A febre reumática é uma complicação inflamatória aguda, não supurativa da infecção faríngea por
estreptococos do grupo A, causando combinações de artrites, cardites, nódulos subcutâneos, eritema
marginado e coreia. O diagnóstico baseia-se na aplicação dos critérios modificados de Jones relacionados
com dados de história, exame e testes laboratoriais. O tratamento inclui ácido acetilsalicílico ou outros
anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), corticoides durante cardites graves e antimicrobianos para erradicar
infecção estreptocócica residual e prevenir a reinfecção. É uma doença febril que ocorre como sequela tardia
de infecções por STREPTOCOCCUS PYOGENES. É caracterizada por múltiplas lesões inflamatórias focais
de estruturas do tecido conjuntivo, tais como as do coração, dos vasos sanguíneos e das articulações
(POLIARTRITE) e do encéfalo, e pela presença de NÓDULOS DE ASCHOFF no miocárdio e na pele.
Etiologia
Estreptococo beta-hemolítico do grupo A de Lancefield
Epidemiologia
Um primeiro episódio da febre reumática aguda (FRA) pode ocorrer em qualquer idade, mas com maior
frequência entre os 5 e os 15 anos, que são o pico de idade para faringite estreptocócica. A febre reumática
aguda é incomum antes dos 3 anos e depois dos 21 anos de idade. Mas faringite sintomática prévia só é
reconhecida em cerca de dois terços dos pacientes com febre reumática aguda.
A incidência mundial é de 19/100.000 (faixa de 5 a 51/100.000), com taxas menores (< 10/100.000) na
América do Norte e no Oeste Europeu, e taxas mais altas (> 10/100.000) na Europa Oriental, Oriente Médio,
África, Ásia, Austrália e Nova Zelândia. A frequência das crises (porcentagem de pacientes com faringite por
estreptococos do grupo A que desenvolvem febre reumática aguda) varia de < 1,0 a 3,0%. Frequências mais
elevadas de crises ocorrem com certos tipos sorológicos de proteínas dos estreptococos M e uma intensa
resposta imunitária do hospedeiro (provavelmente resultante de tendências genéticas ainda não
caracterizadas).
A prevalência da cardiopatia reumática crônica é incerta porque os critérios não são padronizados e a
necropsia não é realizada de rotina, mas estima-se que em todo o mundo haja ≥ 33 milhões de pacientes com
doença cardíaca reumática, resultando em cerca de 300.000 mortes anualmente.
Fisiopatologia
A faringite por estreptococos do grupo A (GAS) é precursora etiológica da febre reumática aguda, embora o
hospedeiro e os fatores ambientais sejam importantes. Proteínas M do estreptococos do grupo A
compartilham epítopos (locais antigênicos determinantes reconhecidos pelos anticorpos) com proteínas
localizadas nas sinoviais, na musculatura cardíaca e nas valvas cardíacas, sugerindo que o mimetismo pelo
antígenos do GAS das cepas reumatológicas contribui para artrite, cardite e lesão valvar. Os fatores de risco
genéticos do hospedeiro incluem o D8/antígeno celular 17 B e certos antígenos de histocompatibilidade
classe II. Desnutrição, superpopulação e baixas condições socioeconômicas predispõem a infecção
estreptocócica e subsequentes episódios de febre reumática.
Surpreendentemente, embora as infecções por estreptococos do grupo A tanto na faringe como em outras
áreas do corpo (estruturas da pele e dos tecidos moles, ossos ou articulações, pulmões e corrente sanguínea)
podem causar glomerulonefrite pós-estreptocócica, infecções por estreptococos do grupo A não faríngeas não
levam à febre reumática aguda. A razão dessa diferença distinta nas complicações resultantes de infecção
pelo mesmo organismo não é bem compreendida.
Articulações
A biopsia de uma amostra da sinovial revela comprometimento articular manifestado por inflamação
inespecífica, algumas vezes com pequenos focos semelhantes aos corpos de Aschoff (coleções
granulomatosas de leucócitos, miócitos e colágeno intersticial). Ao contrário dos achados cardíacos, porém,
as anormalidades das articulações não são crônicas e não deixam cicatrizes ou anomalias residuais ("a febre
reumática aguda lambe as articulações, mas morde o coração").
Coração
O comprometimento cardíaco manifesta-se por cardite, afetando o coração tipicamente de dentro para fora,
isto é, valvas e endocárdio, depois miocárdio e finalmente pericárdio. É às vezes seguido, anos a décadas
mais tarde, de cardiopatia reumática crônica, manifestada inicialmente por estenose valvular, mas também
regurgitação, arritmias e disfunção ventricular.
Nafebre reumática aguda, corpos de Aschoff aparecem frequentemente no miocárdio e em outras partes do
coração. A pericardite fibrinosa inespecífica, às vezes com derrame, ocorre principalmente em pacientes com
inflamação do endocárdio e geralmente diminui sem lesão permanente. Podem ocorrer alterações valvares
características e potencialmente danosas. A valvulite intersticial aguda pode provocar edema valvular.
Nacardiopatia reumática crônica, podem ocorrer espessamento valvar, fusão e retração ou outra destruição
das cúspides, provocando estenose ou insuficiência. Similarmente, os cordões tendinosos podem sofrer
encurtamento, espessamento ou fusão, piorando a regurgitação das valvas lesadas ou levando a regurgitação
de valvas não afetadas. A dilatação dos anéis valvares também pode provocar regurgitação.
Doença valvar reumática mais comumente envolve as valvas atrioventriculares direita e esquerda. As valvas
mitrais, aórticas, tricúspides e pulmonares, isoladamente, quase nunca são afetadas.
● Regurgitação mitral
● Pericardite
● Estenose mitral
● Talvez regurgitação atrioventricular direita (muitas vezes junto com estenose atrioventricular esquerda)
Pele
Os nódulos subcutâneos são indistinguíveis dos presentes na artrite idiopática juvenil (AIJ), porém a biópsia
mostra aspectos parecidos com os corpos de Aschoff. O eritema marginado difere histologicamente de outras
lesões cutâneas com aspecto macroscópico semelhante, p. ex., exantema da artrite idiopática juvenil
sistêmica, vasculite associada à imunoglobulina A (antigamente chamada de púrpura de Henoch-Schönlein),
eritema crônico migratório e eritema multiforme. Na região da derme, ocorrem infiltrados perivasculares de
neutrófilos e mononucleares.
SNC
A coreia de Sydenham, a forma de coreia que ocorre com a febre reumática aguda, manifesta-se no sistema
nervoso central com hiperperfusão e aumento do metabolismo dos gânglios da base. Demonstraram-se níveis
elevados de anticorpos antineuronais.
Manifestações clínicas
Sintomas da Febre Reumática:
1. Fase Inicial:
○ Febre
○ Edema (inchaço)
3. Manifestações Cardíacas:
■ Dor no peito
■ Taquicardia
■ Sopros cardíacos
4. Manifestações Cutâneas:
○ Coreia de Sydenham, que inclui movimentos rápidos, irregulares e abruptos, perda do controle
motor fino, fraqueza, hipotonia e possivelmente comportamento obsessivo-compulsivo
6. Outros Sintomas:
○ Febre persistente
○ Anorexia
○ Mal-estar
Recorrência:
● Episódios recorrentes podem imitar o inicial, com cardite recorrente em pacientes previamente
afetados e coreia reaparecendo em pacientes com história de coreia.
Fatores de risco
Diagnóstico
Diagnóstico da faringoamigdalite
Ecocardiograma
Tratamentos
Medidas gerais
● Hospitalização: (IIa-C) diante de pacientes com suspeita de FR, primeiro surto ou recorrência, a
necessidade de hospitalização varia de acordo com a gravidade da apresentação clínica. Indica-se
internação hospitalar para os casos de cardite moderada ou grave, artrite incapacitante e coreia
grave14. A hospitalização pode também ter como objetivo abreviar o tempo entre a suspeita clínica e o
diagnóstico, bem como iniciar rapidamente o tratamento. Além disso, deve ser uma oportunidade para
promover a educação do paciente e de sua família, no que se refere às informações sobre a doença e
à necessidade de adesão à profilaxia secundária. O tempo de hospitalização dependerá do controle
dos sintomas, principalmente do quadro de cardite.
● Repouso: (IIa-C) durante muitos anos, especialmente antes do surgimento da penicilina, alguns
estudos mostraram que o repouso no leito estava associado a uma redução na duração e na
intensidade da cardite, bem como na redução do tempo do surto agudo. Entretanto, até o momento,
não há evidências decorrentes de estudo randomizado que comprovem os benefícios dessa conduta.
Tratamento da coreia
Na coréia leve e moderada, estão indicados repouso e permanência em ambiente calmo, evitando-se
estímulos externos. Os benzodiazepínicos e fenobarbital também podem ser utilizados. O tratamento
específico está indicado apenas nas formas graves da coréia, sendo que a hospitalização poderá ser
necessária: a) haloperidol (I-B); b) ácido valproico (I-B) e c) carbamazepina (I-B). Alguns estudos mais
recentes têm mostrado a eficácia do uso de CE no tratamento sintomático da coréia (IIb-B).
Tratamento da cardite
● Controle do processo inflamatório
• Nos pacientes com cardite, recomenda-se ecocardiograma, Rx de tórax e ECG após 4 semanas do início do
quadro.