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AULA 5
Pericardite
Pericardite
é a inflamação do pericárdio,
geralmente com acúmulo de líquido.
Pode ser causada por muitos distúrbios (p. ex., infecção, infarto do miocárdio (IM), trauma, tumores e
doenças metabólicas), mas com frequência é idiopática.
Os sintomas incluem dor ou compressão torácica exacerbada muitas vezes por respiração profunda.
O débito cardíaco pode ser significativamente reduzido se houver tamponamento cardíaco ou pericardite
constritiva.
O diagnóstico baseia-se em sintomas, atrito, alterações no ECG e evidências de acúmulo de líquido
pericárdico em radiografia ou ecocardiograma.
A identificação da causa requer avaliação adicional.
O tratamento depende da causa, mas as medidas gerais incluem analgésicos, anti-inflamatórios, colchicina
e, raramente, cirurgia.
Anatomia
O pericárdio tem 2 camadas.
O pericárdio visceral é uma camada única de células mesoteliais que se liga ao miocárdio, dobra-
se (reflete-se) sobre si mesmo, sobre a origem dos grandes vasos, e une-se à camada fibrosa e
resistente para envolver o coração como pericárdio parietal. O saco criado por essas camadas
contém pequena quantidade de líquido (< 25 a 50 mL), composto principalmente, de um
ultrafiltrado de plasma. O pericárdio limita a distensão das câmaras cardíacas e aumenta a
eficiência do coração.
O pericárdio tem uma rica inervação com aferentes simpáticos e somáticos. Mecanorreceptores
sensíveis à distensão detectam alterações de tensão e volume cardíacos e podem ser
responsáveis pela transmissão da dor pericárdica. Os nervos frênicos estão incrustados no
pericárdio parietal, sendo vulneráveis à lesão durante cirurgia do pericárdio.
CLASSIFICAÇÃO
Fisiopatologia
A pericardite pode ser
Aguda
Subaguda
Crônica
A pericardite aguda se desenvolve rapidamente, causando reação inflamatória do saco pericárdico e muitas vezes
derrame pericárdico. A inflamação pode se estender para o miocárdio epicárdico (miopericardite). Efeitos
hemodinâmicos adversos e alterações do ritmo são raros, embora exista a possibilidade de tamponamento cardíaco.
A doença aguda pode tornar-se subaguda ou crônica. Essas formas se desenvolvem lentamente; sua característica
marcante é o derrame.
A pericardite subaguda ocorre em semanas a meses após um evento desencadeador.
A constrição subaguda (semanas a meses após uma lesão desencadeadora) é cada vez mais reconhecida.
O derrame pericárdico em geral é indolor, mas, quando acompanha pericardite aguda, pode desencadear dor.
Quantidades consideráveis de líquido pericárdico podem atenuar os sons cardíacos, aumentar a área de
macicez cardíaca e alterar as dimensões e o formato da silhueta cardíaca.
É possível auscultar o atrito pericárdico. Havendo derrames de grandes proporções, a compressão da base do
pulmão esquerdo pode atenuar os sons respiratórios (auscultados próximo à escápula esquerda) e
desencadear estertores.
O pulso arterial, o pulso venoso jugular e a PA são normais, a menos que ocorra aumento substancial da
pressão intrapericárdica, causando tamponamento.
Na síndrome pós-IM, pode ocorrer derrame pericárdico associado à febre, ao atrito pericárdico, à pleurisia,
aos derrames pleurais e à dor articular. Essa síndrome normalmente ocorre dentro de 10 dias a 2 meses após
o IM. Geralmente, é leve, mas pode ser grave. Ocasionalmente, o coração se rompe após o IM, causando
hemopericárdio e tamponamento, em geral de 1 a 10 dias após o IM sendo mais comum em mulheres.
Tamponamento cardíaco
(Ver também Tamponamento cardíaco devido a trauma.)
Os sinais clínicos são semelhantes aos do choque cardiogênico: diminuição do DC, redução da pressão
arterial sistêmica, taquicardia e dispneia. As veias do pescoço encontram-se extremamente dilatadas. O
tamponamento cardíaco grave é quase sempre acompanhado da diminuição de > 10 mmHg da PA sistólica
durante a inspiração (pulsus paradoxus).
Em casos avançados, o pulso pode desaparecer durante a inspiração. (No entanto, o pulso paradoxal
também pode ocorrer na DPOC, asma brônquica, embolia pulmonar, infarto do ventrículo direito e
choque não cardiogênico).
Há hipofonese dos sons cardíacos, a não ser que o derrame seja pequeno. Derrames loculados e
hematoma excêntrico ou localizado podem causar tamponamento localizado, em que somente câmaras
cardíacas selecionadas são comprimidas. Nesses casos, sinais físicos, hemodinâmicos e alguns sinais
ecocardiográficos podem estar ausentes.
Pericardite constritiva
O diagnóstico pode ser presumido com base nos achados clínicos de ECG, radiografia de tórax e ecocardiograma com
Doppler, mas normalmente há necessidade de cateterismo cardíaco e
TC (ou RMN).
Raramente, há necessidade de biópsia do coração direito para exclusão de miocardiopatia restritiva.
As alterações no ECG são inespecíficas. Geralmente, a voltagem do QRS é baixa. As ondas T são inespecificamente
anormais. Há FA em cerca de um terço dos pacientes e o flutter atrial é menos comum.
A radiografia de tórax de perfil geralmente revela calcificação pericárdica de maneira mais adequada, mas o achado é
inespecífico.
Durante a inspiração, a velocidade do fluxo diastólico mitral em geral diminui mais de 25% na pericardite constritiva, mas <
15% na miocardiopatia restritiva.
Na pericardite constritiva, a velocidade de fluxo inspiratório na tricúspide aumenta mais que o normal, mas
isso não acontece na miocardiopatia restritiva.
A determinação das velocidades teciduais no anel mitral pode ser útil, quando a pressão atrial esquerda
excessivamente alta atenua a variação respiratória das velocidades transvalvares.
Velocidades anulares mitrais (especialmente na localização septal) aumentam na pericardite constritiva;
diminuem na cardiomiopatia restritiva.
A presença de um salto septal (desvio do septo interventricular em direção ao ventrículo esquerdo durante
a inspiração e contra o ventrículo esquerdo durante a expiração) também pode ser visível na pericardite
constritiva.
Cateterismo cardíaco, lados direito e esquerdo, é realizado se resultados clínicos e ecocardiográficos
sugerem pericardite constritiva. O cateterismo cardíaco ajuda a confirmar e quantificar a hemodinâmica
anormal que define pericardite constritiva:
Pressão média de oclusão arterial pulmonar (pressão em cunha do capilar pulmonar), pressão diastólica
arterial pulmonar, pressão diastólica final VD e pressão atrial direita média são todas em torno de 10 a 30
mmHg.
As pressões arterial pulmonar e sistólica ventricular direita estão normais ou modestamente elevadas, de
maneira que as pressões de pulso estão reduzidas.
Na curva de pressão ventricular, ocorre queda diastólica no momento do enchimento ventricular rápido.
Durante a inspiração de pico, a pressão ventricular direita aumenta quando a pressão ventricular esquerda é
a mais baixa (às vezes chamado discordância de imagem espelhada, sugerindo maior interdependência
ventricular).
Como o enchimento ventricular está restrito, o traçado da pressão ventricular revela mergulho súbito
seguida de platô (assemelhando-se ao sinal da raiz quadrada) na diástole precoce.
Medir essas mudanças requer cateterismo cardíaco direito e esquerdo simultâneo, usando transdutores
separados. Essas alterações hemodinâmicas quase sempre ocorrem na vigência de pericardite constritiva
significativa, mas são mascaradas durante a hipovolemia.
Pressão sistólica VD > 50 mmHg geralmente ocorre na miocardiopatia restritiva, mas com menos frequência
na pericardite constritiva. Quando a pressão de oclusão na artéria pulmonar iguala-se à pressão média
atrial direita e evidencia-se queda protodiastólica na curva de pressão ventricular, com ondas x e y amplas
na curva atrial direita, pode haver coexistência dessas enfermidades.
TC ou RMN pode identificar espessamento pericárdico acima de 5 mm.
Espessamento maior que 5 mm, com alterações hemodinâmicas típicas (avaliadas por ecocardiografia ou
cateterismo), pode confirmar o diagnóstico de pericardite constritiva.
RM cardíaca, especificamente o grau de realce por gadolínio final do pericárdio, pode ajudar a identificar
pacientes nos quais a constrição irá reverter ou desaparecer.
Tamponamento cardíaco
Tamponamento cardíaco
Baixa voltagem e alternância elétrica no eletrocardiograma sugere tamponamento cardíaco, mas esses achados
possuem pouca sensibilidade e especificidade. Quando houver suspeita de tamponamento, realiza-se
ecocardiograma a não ser que este pequeno atraso para o tratamento ponha em risco a vida do paciente. A
pericardiocentese é realizada imediatamente para diagnóstico e tratamento. No ecocardiograma, variações
respiratórias dos fluxos transvalvares e venosos, assim como compressão ou colabamento das cavidades direitas na
presença de derrame pericárdico, apoiam o diagnóstico.
Dicas e conselhos
Tamponamento cardíaco significativo é um diagnóstico clínico; achados do ecocardiograma por si só não são
indicação para pericardiocentese.
Se houver suspeita de tamponamento, deve ser realizado cateterismo das câmaras direitas (Swan-Ganz). No
tamponamento cardíaco:
Não há queda protodiastólica no registro da pressão ventricular.
Pressões diastólicas estão elevadas (cerca de 10 a 30 mm Hg) e iguais em todas as câmaras cardíacas e na artéria
pulmonar.
Após a realização do diagnóstico de pericardite, efetuam-se exames para determinar etiologia e efeito na
função cardíaca.
Em um adulto jovem, previamente saudável, que desenvolve infecção viral e pericardite aguda, normalmente
é desnecessária extensa avaliação. A diferenciação entre pericardite viral e idiopática é difícil, dispendiosa e,
geralmente, de pouca importância prática.
Em outros casos, pode ser necessária biópsia do tecido pericárdico ou aspiração do líquido pericárdico para
estabelecimento do diagnóstico. Coloração álcool-ácido resistente e culturas do líquido pericárdico são
essenciais se a tuberculose é considerada possível (pericardite por TB pode ser agressiva e pode piorar
rapidamente com corticoides). Examinam-se nas amostras células malignas. Mas a drenagem completa de um
derrame pericárdico recém-identificado em geral é desnecessária para o diagnóstico. O derrame persistente
(em geral > 3 meses) ou progressivo, especialmente quando a etiologia é desconhecida, também indica a
pericardiocentese.
A escolha entre pericardiocentese com agulha e drenagem cirúrgica depende dos recursos institucionais e da
experiência do médico, assim como da etiologia do derrame, necessidade de espécimes teciduais para diagnóstico e
prognóstico do paciente. A pericardiocentese com agulha em geral é mais indicada quando a etiologia é conhecida ou
há questionamento quanto à existência de tamponamento. A drenagem cirúrgica é mais indicada quando a existência
de tamponamento está definida, mas a etiologia não está esclarecida.
Os exames laboratoriais do líquido pericárdico, com exceção de cultura e citologia são, em geral, inespecíficos. No
entanto, diagnósticos específicos, às vezes, são possíveis com a utilização de análises recentes visuais, citológicas e
imunológicas do líquido obtido por biópsia guiada pela pericardioscopia.
O cateterismo cardíaco é útil para avaliação da pericardite e identificação da causa da redução da função cardíaca.
TC e RMN podem auxiliar na identificação de metástases, embora em geral a ecocardiografia seja suficiente.
Outros exames incluem leucograma, reagentes de fase aguda, bioquímica de rotina, culturas, testes
autoimunes e, quando indicados, exames para HIV, fixação de complemento para histoplasmose (em
áreas endêmicas) e testes de anticorpos para coxsackievírus, vírus da influenza e estreptococos. Os
testes de anticorpos de anti-DNA, e anti-RNA, podem ser úteis. Um teste cutâneo PPD é feito, mas
pode dar resultados falsos negativos; pericardite por TB só pode ser descartada pela cultura do
líquido pericárdico para bacilo álcool-ácido resistente.
Tratamento
Varia de acordo com a causa
ECG e ecocardiografia geralmente são adequados para o diagnóstico, mas cateterização cardíaca direita e
esquerda, TC ou ressonância magnética podem ser necessários para diagnosticar a pericardite constritiva.
A dor é tratada com AINEs e/ou colchicina; corticoides podem ser adicionados para causas não infecciosas.