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A pericardite primária é incomum. Quase sempre resulta de uma infecção viral (normalmente acompanhada
de miocardite), embora bactérias, fungos ou parasitas também possam estar envolvidos. Na maioria dos
casos, a pericardite é secundária ao IM agudo, à cirurgia cardíaca (denominada síndrome de Dressler), à
radiação do mediastino ou a doenças que envolvem outras estruturas torácicas (p. ex., pneumonia ou
pleurite). A uremia é o distúrbio sistêmico mais comum associado à pericardite. As causas secundárias
menos comuns incluem febre reumática, lúpus eritematoso sistêmico e tumores malignos metastáticos. A
pericardite pode (1) causar complicações hemodinâmicas imediatas, se produzir um derrame grande (que
provoca tamponamento cardíaco), (2) desaparecer sem deixar sequelas importantes ou (3) progredir para
um processo fibrosante crônico.
Etiologia
Epidemiologia
A pericardite aguda é a causa de cerca de 5% de todas as admissões na emergência de pacientes com
queixa aguda de dor no peito. Dentre as desordens inflamatórias do coração, a pericardite aguda é a mais
comum de todas, à frente de miocardite aguda e endocardite infecciosa. Cerca de 80 a 85% dos casos são de
origem infecciosa, sendo a viral a mais comum. Os outros 15 a 20% ocorrem por causas principalmente
autoimunes, mas também neoplásicas, metabólicas e relacionadas a drogas.
Na população geral, estima-se que a incidência seja de 27,7 casos por 100.000 indivíduos por ano. Assim
como a miocardite, é uma condição que afeta principalmente homens jovens e, sendo assim, hormônios
sexuais - principalmente a testosterona - podem ser considerados fatores importantes no que tange a
diferença na incidência de pericardite entre os sexos.
Fisiopatologia
● Derrame pericárdico: é o acúmulo de líquido no pericárdio. O líquido pode ser seroso (às vezes, com
filamentos de fibrina), serossanguinolento, hemorrágico, purulento ou quiloso.
● Clínica: dispnéia, ortopneia, desconforto torácico, fraqueza, agitação, oligúria, taquicardia, taquipnéia,
hepatomegalia
● Pulso paradoxal
Nos pacientes com pericardite aguda viral ou uremia, o exsudato geralmente apresenta uma textura fibrinosa
e aspecto irregular, lembrando a aparência felpuda na superfície do pericárdio, conhecida como pericardite
em "pão com manteiga". Na pericardite aguda bacteriana, o exsudato é fibrinopurulento, comumente
contendo áreas evidentes de pus. Em casos de pericardite tuberculosa, podem ser observadas áreas de
caseificação. Quando a pericardite é causada por um tumor maligno, é comum encontrar um exsudato
fibrinoso felpudo e abundante, acompanhado por derrame sanguinolento. As metástases podem se
apresentar macroscopicamente como excrescências irregulares ou podem ser indistinguíveis, especialmente
em pacientes com leucemia. Na maioria dos casos, a pericardite fibrinosa ou fibrinopurulenta aguda se
resolve sem deixar sequelas. No entanto, em casos de supuração ou extensa caseificação, a cicatrização
pode levar à fibrose, resultando em pericardite crônica.
As lesões do pericárdio provocadas por diversos agentes resultam na liberação de substâncias que
desencadeiam o processo inflamatório. De maneira geral, diferentes agentes, como trauma, cirurgia, infecção,
anticorpos e outros, podem atingir o pericárdio, desencadeando a liberação de interleucinas e citocinas.
Essas substâncias promovem a quimiotaxia de células inflamatórias, como macrófagos e neutrófilos,
perpetuando o processo inflamatório. A interleucina 1 (IL-1) parece desempenhar um papel significativo nesse
contexto.
Na tuberculose, o Mycobacterium tuberculosis pode alcançar o pericárdio por vias linfáticas, hematogênicas e,
raramente, por contiguidade com doença no pulmão e na pleura. Por sua vez, o SARS-CoV-2 inicialmente
afeta os pulmões, desencadeando uma "tempestade" de citocinas/interleucinas (IL-1B, TNF-alfa, IL-6), e
posteriormente se dissemina em vesículas pelas circulações linfática e sanguínea, alcançando o pericárdio e
iniciando a inflamação.
Além das causas infecciosas, quadros autoimunes também podem desencadear pericardite, como é o caso
do Lúpus Eritematoso Sistêmico. Nessa condição, os autoanticorpos desencadeiam a pericardite ao
depositarem imunocomplexos e complemento no pericárdio, ativando a cascata inflamatória e resultando em
aumento da vascularização local e derrame pericárdico.
Em alguns casos, a inflamação pode levar a uma diminuição patológica da complacência dos tecidos
pericárdicos, resultando em dificuldade de relaxamento cardíaco e aumento das pressões diastólicas. Essa
condição, conhecida como pericardite constritiva, pode ser causada por diversos fatores, incluindo
tuberculose, causas idiopáticas, pós-cirurgia, pós-irradiação, doenças reumatológicas, malignas e infecções.
As causas de pericardite são divididas em infecciosas e não-infecciosas (tabela 21). Entre as infecções
pericárdicas, a pericardite viral é a mais comum e seu processo inflamatório deve-se à ação direta do vírus ou
a uma resposta imune. Os mais comuns são: enterovírus, ecovírus, Epstein barr, herpes simples, influenza e
citomegalovírus (CMV), sendo o último mais frequente em imunodeprimidos e soropositivos. A pericardite nos
soropositivos pode ser devida a doenças infecciosas, não infecciosas ou neoplásicas (sarcoma de Kaposi ou
linfoma), podendo por vezes resultar em miopericardite
A pericardite bacteriana manifesta-se geralmente com derrame pericárdico, e sua origem pode estar em
situações como pneumonia, empiema, disseminação hematogênica, pós-cirurgia cardíaca ou torácica - possui
ampla gama de agentes infecciosos como causa. A pericardite tuberculosa tem diminuído com o controle
efetivo da tuberculose pulmonar, mas mostra-se presente principalmente em pacientes HIV positivos.
A pericardite pós-infarto pode ocorrer precocemente nos três primeiros dias do infarto agudo do miocárdio
(IAM), pericardite epistenocárdica. Nesses casos está relacionada ao acometimento do epicárdio e pericárdio
adjacente e, tardiamente, de três semanas a seis meses, a atividade autoimune denominada síndrome de
Dressler. A insuficiência renal é causa comum de doença pericárdica, produzindo derrame em 20% dos
pacientes. Pode se manifestar como pericardite urêmica ou pericardite associada a diálise. Já as pericardites
neoplásicas são devidas à invasão tumoral ou linfática, ou ocorrem por disseminação hematogênica.
Alterações do ECG
Pontos J, exceto aVR e V1, estão elevados. As ondas T são essencialmente normais. Os segmentos ST
mostram elevação côncava para cima. Segmentos PR, exceto aVR e V1, estão baixos. Em geral, desvios PR
estão ausentes na derivação de um membro (aqui, aVL).
Fatores de risco
● Infecções Virais: Infecções virais, como os causados pelos vírus da gripe, Epstein-Barr, herpes, entre
outros, podem desencadear pericardite.
● Infecções Bacterianas: Bactérias como Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus e
Mycobacterium tuberculosis podem causar pericardite bacteriana.
● Doenças Autoimunes: Condições como Lúpus Eritematoso Sistêmico, artrite reumatoide e
esclerodermia aumentam o risco de pericardite devido à resposta autoimune do organismo.
● Trauma ou Cirurgia Torácica: Lesões no peito ou cirurgias torácicas podem irritar o pericárdio e
desencadear uma resposta inflamatória.
● Insuficiência Renal: Pacientes com insuficiência renal, especialmente aqueles em diálise, têm um
maior risco de desenvolver pericardite urêmica.
● Infarto do Miocárdio: O infarto do miocárdio pode levar à pericardite, seja precocemente, nos
primeiros dias após o infarto, ou tardiamente, como na síndrome de Dressler.
● Neoplasias: Tumores no tórax ou metástases para o pericárdio aumentam o risco de pericardite.
● Doenças Inflamatórias e Infecciosas: Condições como tuberculose, sarcoidose e infecções fúngicas
podem aumentar o risco de pericardite.
● Doenças Metabólicas: Doenças como uremia e hipotireoidismo estão associadas a um maior risco de
pericardite.
● Doenças Reumáticas: Doenças reumáticas como a febre reumática podem aumentar o risco de
pericardite.
Manifestações clínicas
1. Dilatação e disfunção ventricular assintomática (subaguda)
2. Manifestações clínicas agudas de insuficiência cardíaca descompensada, fulminante com quadro de
choque cardiogênico
3. Dor precordial, mimetizando doença coronariana - atípica (não relacionada com esforços e que piora
no repouso)
4. Palpitações
5. Síncope ou lipotímia
6. Morte súbita (MS)
7. Atrito pericárdico
8. Sinal de Kussmaul: aumento do pulso venoso jugular, quando o paciente faz uma inspiração
9. Knock pericárdico: parada repentina do enchimento de um ventrículo que não tem como dilatar mais
pois está limitado por um pericárdio calcificado
10. Formas mais específicas:
(1) rash, febre, eosinofilia periférica sugerem miocardite por hipersensibilidade;
(2) cardiomiopatia dilatada associada com timoma, distúrbios autoimunes, taquicardia ventricular ou bloqueios
avançados sugerem miocardite de células gigantes;
(3) arritmias ventriculares e bloqueios avançados também podem estar presentes na sarcoidose
Diagnóstico
1. ECG - Anormalidades de repolarização, segmentos ST e PR e ondas T, geralmente na maioria das
derivações, na derivação aVR geralmente ocorrem na direção oposta das outras derivações e não
existem ondas Q patológicas.
2. Radiografia de tórax - Pesquisa de megalia.
3. Ecocardiografia - Pesquisa de derrames, anomalias no enchimento cardíaco e, anormalidades no
movimento da parede características do envolvimento miocárdico.
4. Toracocentese - Aspiração do líquido pericárdico, biópsia pericárdica.
5. Exames de sangue - Leucocitose e hemossedimentação aumentada.
Pericardite aguda
A pericardite aguda classicamente se manifesta como uma síndrome febril com frequente acometimento de
vias aéreas superiores, dor torácica e atrito pericárdico. A dor torácica pode variar com a respiração ou
posição do tórax, variando também de intensidade e duração. O atrito pericárdico pode compreender de um a
três tempos e pode ser transitório. Podemos ter acometimento pleural, associado à presença de derrame ou
atrito pleural. Por vezes, a pericardite encontra-se associada a miocardite, que deve ser suspeitada na
presença de exame clínico de disfunção ventricular aguda.
Os marcadores de alto risco da pericardite aguda são: elevação de enzimas de necrose miocárdica, febre
acima de 38ºC e leucocitose (elevada possibilidade de pericardite purulenta), derrames pericárdicos
volumosos com ou sem tamponamento cardíaco, pacientes imunocomprometidos, história prévia de
anticoagulação oral, disfunção global pelo ecocardiograma, sugerindo miopericardite. Esses marcadores
indicam a necessidade de admissão hospitalar, intensificação da avaliação etiológica e otimização terapêutica
Pericardite Constritiva
A pericardite constritiva frequentemente está associada a um paciente sintomático com dispneia de esforço
e/ou fadiga associada a disfunção diastólica e presença de ascite desproporcional ao edema de membros
inferiores. No pulso venoso jugular observamos colapso "Y" proeminente e sinal de Kussmaul. No pulso
arterial podemos encontrar a presença de pulso paradoxal em um terço dos casos.
De uma forma geral, 80% dos casos podem registrar espessamento pericárdico. Porém, como este nem
sempre pode ser detectado pela ecocardiografia, mesmo que pelo ETE, outros métodos diagnósticos, como
ressonância ou tomografia computadorizada, podem ser indicados.
Outro achado útil para o diagnóstico de pericardite constritiva, especialmente no seu diagnóstico diferencial
das síndromes restritivas, é a presença de velocidade normal da onda e' ao Doppler tecidual (> 8 cm/seg), o
que não ocorre nas cardiopatias restritivas. É importante destacar: na presença de doenças do pericárdio,
deve ser usada a onda e' septal, e não a lateral, devido à possível influência do espessamento/derrame
pericárdico na parede livre do VE. Além disso, a calcificação do anel mitral pode levar à diminuição da onda e'
septal. A relação linear que existe entre o índice E/E' e a pressão atrial esquerda, que é útil para se avaliar as
pressões de enchimento nas cardiomiopatias, é invertida (paradoxo anular) na pericardite constritiva. Não se
observa aumento do retorno venoso sistêmico com a inspiração.
Marcadores laboratoriais
Níveis elevados de marcadores miocárdicos são observados em pacientes com pericardite aguda, sendo
mais frequente a elevação de troponina I (TnI) do que de CKMB, uma vez que esta pode estar elevada em
decorrência da miosite periférica por infecções virais. Estudo retrospectivo avaliou 55 pacientes com
pericardite aguda e observou elevação de TnI em 27% dos casos. Estudo pequeno sugere que o pico de TnI
em geral ocorre no segundo dia após início dos sintomas e seus níveis permanecem elevados por tempo
mais prolongado do que os de CKMB177. A elevação da TnI é marcador de comprometimento miocárdico
associado (miopericardite).
Os marcadores de atividade inflamatória de fase aguda como VHS, leucocitose e Proteína C reativa (PCR),
encontram-se elevados em aproximadamente 75% dos pacientes, sendo que a ausência desses marcadores
na avaliação inicial de pacientes e não afasta o diagnóstico, principalmente nos que estão em uso de
anti-inflamatórios não hormonais ou com comprometimento imunológico. Estes tendem a normalizar ao fim de
duas semanas, sendo que valores persistentemente elevados indicam a necessidade de terapêutica
anti-inflamatória prolongada e maior risco de recorrência da pericardite. A dosagem seriada de PCR é útil
para o diagnóstico e avaliação de resposta ao tratamento da pericardite aguda.
c) BNP / NT-proBNP:
Os níveis de peptídeo natriurético atrial do tipo B (BNP) e da fração N-terminal do BNP (NT-proBNP) podem
estar elevados em doenças pericárdicas. No entanto, não há evidências suficientes que justifiquem seu uso
rotineiro para o diagnóstico de pericardite aguda.
A avaliação sorológica em busca de um fator causal deve incluir dosagem de hormônios tireoidianos; provas
reumatológicas; função renal; hemoculturas, na suspeita de infecção bacteriana. A pesquisa viral através de
sorologia em sangue não deve ser realizada, pois não possui correlação com os achados no pericárdio. Na
presença de derrame pericárdico volumoso, a análise histológica e imuno-histoquímica do pericárdio e do
líquido pericárdico para avaliação de tuberculose (dosagem de adenosina deaminase), neoplasia, pesquisa
viral e de outros fatores pode aumentar a chance de diagnóstico etiológico de forma significativa182. Na
pericardite aguda idiopática recorrente, a presença de autoanticorpos antinúcleo em baixos títulos é comum e
sugere uma possível patogênese autoimune
Radiografia
Na pericardite aguda, a radiografia de tórax é normal na maioria das vezes. A presença de cardiomegalia
ocorre apenas quando há mais de 200 ml de fluido no saco pericárdico. O aumento progressivo do derrame
pericárdico, que ocorre, por exemplo, no tamponamento cardíaco, resulta em formato globular da silhueta
cardíaca à radiografia de tórax.
Estudos mostram que o aumento da silhueta cardíaca à radiografia de tórax tem sensibilidade moderada
(70%), porém baixa especificidade (41%) para o diagnóstico de derrame pericárdico. Não é possível definir
pericardite com base apenas em dados radiológicos.
A presença de calcificação do pericárdio, que pode ser evidenciada facilmente pela radiografia de tórax,
sugere fortemente pericardite constritiva em pacientes com insuficiência cardíaca. No entanto, está presente
em apenas 25% dos pacientes com pericardite constritiva
Ecocardiograma
A ecocardiografia tem se mostrado uma ferramenta muito útil no diagnóstico das doenças do pericárdio,
assim como no acompanhamento da resposta terapêutica e do prognóstico. Também tem sido utilizada como
guia na drenagem do derrame pericárdico.
Na pericardite neoplásica, além de derrame pericárdico e espessamento dos folhetos, pode ser identificável a
presença de massas no pericárdio ou a infiltração de tecidos adjacentes, comprometimento das bordas
ventriculares, septos espessados e captantes de contraste.
Medicina nuclear
A RMC está indicada na avaliação diagnóstica das pericardites aguda e crônica (Tabela 27). Ela permite
quantificar o grau de espessamento pericárdico e o volume do derrame pericárdico, e se distingue por permitir
a identificação dos sinais sugestivos de injúria inflamatória miopericárdica através da técnica do realce tardio
Análise histológica
Tratamento
Tratamento não medicamentoso
Tratamento no tamponamento cardíaco
Esse tratamento é a drenagem do líquido pericárdico de forma a reduzir a pressão intrapericárdica e, dessa
forma, melhorar a hemodinâmica do paciente. Na estabilização da hemodinâmica do paciente, anterior à
drenagem pericárdica, pode-se fazer a infusão rápida de cristaloide com objetivo de melhorar a perfusão, e na
presença de bradicardia indica-se a utilização de aminas ou atropina. A drenagem pericárdica pode ser
realizada através de inserção de uma punção percutânea e colocação de um cateter de drenagem ou através
drenagem cirúrgica aberta com ou sem pericardioctomia (janela pericárdica), ou ainda através de
pericardioscopia assistida do vídeo241. A pericardiocentese por cateter deve ser guiada pela ecocardiografia,
que permite a identificação do melhor local e ângulo de pressão, reduzindo as complicações e aumentando as
taxas de sucesso. A drenagem por cateter pode necessitar alguns dias e o cateter não deve ser removido até
a drenagem ser inferior a 20-30 ml/24h.
A drenagem cirúrgica tem a vantagem de permitir a realização de biópsia pericárdica, sendo a forma
recomendada em casos de recidiva do derrame após a drenagem via cateter e em casos de coágulos ou
derrames localizados não acessíveis pela via percutânea
Ressecção pericárdica
Drenagem de fluido exsudativo.
A síndrome de constrição pericárdica é tratada pela excisão do pericárdio. Por causa de aderências densas e
calcificação que podem penetrar no miocárdio, a ressecção pericárdica pode ser um desafio técnico. Na
maioria dos centros, o procedimento é feito através de esternotomia mediana, com a eventual necessidade do
uso de circulação extracorpórea. O objetivo do procedimento é liberar os ventrículos do pericárdio
densamente aderido. Cuidado especial deve ser tomado ao dissecar nas regiões dos vasos coronarianos
epicárdicos. O objetivo é ressecar o pericárdio de nervo frênico a nervo frênico, e também, posteriormente,
em torno da entrada das veias cavas e veias pulmonares. A ressecção completa deve restaurar a curva de
pressão-volume. A ressecção completa do pericárdio, entretanto, não é viável em todos os casos,
notadamente na pericardite constritiva induzida por radiação. A mortalidade operatória tem sido relatada tão
alta quanto 10 a 20%. A sobrevida a longo prazo é menor em pacientes com cirurgia cardíaca prévia, e
particularmente em pacientes com pericardite constritiva induzida por radiação.
Pericardiocentese
Exceto em situações de emergência (p. ex.,
tamponamento cardíaco), a pericardiocentese, um
procedimento potencialmente letal, deve ser realizada sob orientação ecocardiográfica em um laboratório de
cateterização cardíaca e deve ser supervisionada por um cardiologista ou cirurgião torácico se possível.
Equipamento de reanimação deve estar disponível. Sedação IV (p. ex., morfina, 0,1 mg/kg, ou fentanila, 25 a
50 μg mais midazolam 3 a 5 mg) é desejável. O paciente deve ser reclinado, com a cabeça elevada 30° em
relação à horizontal.
Sob condições assépticas, a pele e os tecidos subcutâneos são infiltrados com lidocaína.
Uma agulha curta chanfrada de 75 mm, calibre 16, é conectada via uma válvula reguladora de fluxo de 3 vias
a uma seringa de 30 ou 50 mL. Pode-se entrar no pericárdio através do ângulo xifocostal direito ou esquerdo
ou da ponta do processo xifoide com a agulha direcionada para dentro, para cima e perto da parede torácica.
A agulha é inserida com sucção constante aplicada à seringa.
A ecocardiografia pode ser utilizada para orientar a agulha à medida que o soro fisiológico agitada é injetada
nela. A ecocardiografia também é cada vez mais utilizada para identificar o local da punção ideal e a trajetória
da agulha.
Depois que está no local correto, a agulha deve ser fixada ao lado da pele para evitar que avance mais do
que o necessário e possivelmente perfure ou lesione o coração ou um vaso coronário. O monitoramento do
ECG é essencial para detectar as arritmias produzidas quando o miocárdio é tocado ou puncionado. Em
geral, a pressão sistólica atrial direita e a pressão de oclusão da artéria pulmonar (pressão em cunha do
capilar pulmonar) são monitoradas.
O líquido é retirado até que a pressão intrapericárdica caia abaixo da pressão atrial direita, normalmente a
níveis subatmosféricos. Se for necessária drenagem contínua, um catéter pode ser inserido através da agulha
no pericárdio e a agulha é retirada. O catéter pode ser deixado no local por 2 a 4 dias.
Tratamento medicamentoso
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) (drogas de escolha)
1. Ácido acetil salicílico (AAS), 500 a 750 mg a cada 6 ou 8 horas, por 7 a 10 dias, seguido de redução
gradual de 500 mg por semana, durante três semanas
2. Ibuprofeno, 400 a 800 mg a cada 6 ou 8 horas, por 14 dias
3. Indometacina, 75 a 150 mg ao dia [evitar após infarto agudo do miocárdio (IAM)]
4. Colchicina 0,5 mg de 12/12 horas ou 0,5 mg a cada 24 horas nos pacientes com menos de 70 kg, pelo
período de três meses no primeiro evento e 6 meses na pericardite recorrente (evitar na insuficiência
renal severa, disfunção hepática, discrasia sanguínea e distúrbios da motilidade gastrointestinal)
Anti-inflamatório não hormonal (AINH) no tratamento da pericardite aguda
Prednisona na ausência de infecção viral ou outro agente etiológico, comprovada por biópsia epimiocárdica e
pericárdica nas seguintes situações clínicas: presença de pericardite autoimune, doença do tecido conectivo
ou pericardite urêmica
Prednisona oral nos pacientes com pericardite recorrente na ausência de fator causal identificado ou infecção
viral ou outro agente etiológico, comprovada por biópsia epimiocárdica e pericárdica
Situações especiais