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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade de Psicologia

Ana Carolina Nascimento

QUESTIONÁRIO PSICOLOGIA SOCIAL

Prof. Rubens F. Nascimento

Belo Horizonte

2019
1. Explique como o conceito de identidade pode expressar as três
vertentes de psicologia social.
• Psicologia Social Crítica: olha para o fenômeno Psicossocial e crítica
que não é um produto apenas individualizante e nem apenas
socializante, pois considera a dialética entre essas duas vertentes.
• Psicologia Social Sociológica: Consiste na análise do fenômeno
Psicossocial a partir da perspectiva da sociedade possui uma ênfase
macrossocial.
• Psicologia Social Psicológica: Se trata de uma vertente
individualizante pois analisa o fenômeno psicossocial a partir do
indivíduo.
De acordo com HALL existem três concepções muito diferentes de identidade,
que são elas:
• Sujeito do Iluminismo: essa concepção trata a pessoa humana como
indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de
razão, de consciência e ação. O centro essencial do eu era a identidade
de uma pessoa, porem o autor faz uma crítica a essa concepção, pois a
considera individualista do sujeito e da sua identidade, o sujeito do
Iluminismo era usualmente descrito como masculino.

• Sujeito Sociológico: essa concepção considera que o sujeito em si no


seu interior não é autônomo e autossuficiente, mas é formado a partir da
relação com outras pessoas, que mediavam para o sujeito os valores,
sentidos e a cultura do ambiente em que o sujeito habitara. De acordo
com essa concepção a identidade do indivíduo é formada a partir das
interações sociais. O sujeito ainda que tenha sua subjetividade, passa a
ser moldado num diálogo contínuo com a sociedade e as identidades
que o ambiente oferece.

• Sujeito pós-moderno: nessa concepção o sujeito não possui uma


identidade fixa ou permanente. A identidade torna-se efêmera, pois é
formada e transformada continuamente em relação às formas pelas
quais o indivíduo é representado ou abordado nos sistemas culturais
que cercam a sociedade. É definida historicamente, e não
biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes
momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu”
coerente. Dentro do ser humano existem identidades contraditórias, que
as impulsionam para diferentes direções, de tal modo que suas
identificações estão sendo continuamente modificadas.

2. Explique a polêmica sobre o início histórico da psicologia social.


De acordo com FERREIRA, a psicologia social foi marcada desde seu início
por uma relativa falta de consenso acerca de seu objeto de estudo.
O ano de 1908 se tornou um marco do fundamento da psicologia social
moderna, a partir da publicação de dois livros diferentes, sendo o primeiro:
“Uma Introdução a Psicologia Social”, de William McDougall, esse livro
seguia uma vertente psicológica voltada para a Biologia influenciada pela
teoria de Darwin.
E o segundo livro era: Psicologia Social: uma resenha e um livro texto, do
autor Edward Ross, era um livro que adotava a vertente sociológica,
influenciada pelas obras de autores como, Tard e Le Bom.
Nota-se que a produção de teorias e ideias na psicologia social está
diretamente relacionada com os interesses dos autores, a subjetividade e
suas respectivas visões sobre a ciência da psicologia social.
3. Caracterize as psicologias sociais individualizantes, sociológicas e críticas nos aspectos: a) região geográfica de
referência; b) noção de ciência e metodologia; c) interesses/valores; d) noções de social e de subjetividade; e)
correntes e autores. (textos 3 e 4 e quadro caracterização da Psicologia Social)

Vertentes da Área Interesse Noção de Noção de social Noção de Valores Correntes Autores
Psicologia geográfica político/ideolog ciência e subjetividade
Social predominan ia metodologia
te

Biologicista Mc Dougall

Individualizante EUA Capitalismo Positivismo/ Soma de indivíduos “Indivíduo” Competição Cognitivista Gestaltistas
experimentalismo
Comportamentalista Floyd Allport

Sociológica

a) Positivismo Funcionalismo (máquina, “Peça de uma Competição Funcionalismo Estrutural Talcott Parsons
Sociologizante “relógio”) máquina” (papéis
EUA Capitalismo sociais)
Interações sociais
Outras Pessoa (eu + mim) Interacionismo Simbólico George Herbert
b) Interacionista Mead
alternativas/pluralis
Cooperação
mo metodológico
Sociológica

a) Nazismo, Positivismo Massificação Peça de uma máquina Competição Funcionalismo Escola de


Sociologizante Capitalismo (nacionalismo alemão) Frankfurt
Europa
Dialética sociedade e (Adorno,
Antipositivismo/ indivíduo Dialética indivíduo e Cooperação, Freudo-marxismo Horkheimer, Erich
b) Politica Socialismo pluralismo sociedade Froom, etc.)
metodológico Transformação
social

Críticas e pós- Europa Socialismo e Dialética/método Sociedade produz Indivíduo produz Cooperação, Correntes sócio Vigotski, Silvia
críticas Comunismo dialético indivíduo e é produzida sociedade e é históricas Lane, Martim-Baró,
e por ele. produzido por ela. Solidariedade, Maritza Montero.
(pesquisa-ação;
pesquisa Configuração Social Identidade Direitos Mendel, Deleuze,
Anticapitalismo participante) (jogo) descentrada; Humanos Guatarri, Enriquez
Foucault,
América
Latina Sociologia da ação ou do Sujeito social; Transformação Correntes
ator social social institucionalistas; Gergen
Pós-modernismo Subjetividades
(Pesquisas/interven Butler
ção; cartografias)
Socio-construcionismo Haraway

Wittgenstein

Pós- Potter; Wetherell


construcionismo/feminis Billig
mos contemporâneos
Foucault

Spink
Análise do discurso
4. Apresente semelhanças e também diferencie o Funcionalismo
Estrutural do Interacionismo Simbólico como psicologias sociais
sociológicas.
A semelhança entre essas vertentes é que ambas são parte da psicologia
social sociológica, ou seja, as duas correntes tratam das relações que os
indivíduos mantêm entre si e com a sociedade. Outro aspecto comum, é
que ambas surgem nos Estados Unidos, e são ainda produto da ideologia
dominante: o capitalismo. As diferenças entre as vertentes são acentuadas
a partir das abordagens propostas: enquanto o Interacionismo simbólico
valorando a cooperação, compreende que o sujeito interpreta o mundo para
si próprio e atribui significado, o comportamento não é uma reação
automática a um estimulo, mas sim uma construção derivada das
experiencias do sujeito, conforme pontua FERREIRA.
A vertente do Funcionalismo Estrutural contrapões todos estes pontos ao
trazer entendimento de que a estrutura social funciona mecanicamente,
onde cada indivíduo funciona como uma peça, sujeito a ajustes e totalmente
previsível. Nesse esquema os atores sociais desempenham papéis
específicos e procuram se destacar em sua função, gerando uma
competitividade. Há ainda divergências no que diz respeito a noção de
ciência que constrói cada uma das vertentes e, portanto, as metodologias
aplicadas: o funcionalismo estrutural é produzido a partir de métodos
positivistas, já o interacionismo simbólico parte do pluralismo metodológico.
5. Apresente semelhanças e também diferencie o biologicismo, o
cognitivismo e o comportamentalismo como psicologias sociais
individualizantes.
O positivismo e o experimentalismo (teoria focada no indivíduo e
construída por Wundt). Individualizam a leitura dos fenômenos sociais, das
interações sociais. A coletividade é explicada pelo individual. Pensam
menos sobre massa e a coletividade e mais o ajuntamento de indivíduos. O
Biologicismo, Cognitivismo e Comportamentalismo promovem o
reducionismo a olhares que partem do indivíduo.
O Cognitivismo é definido como processos mentais que estão por detrás
do comportamento. De acordo com a teoria da consciência cognitiva ao
falar sobre o princípio do equilíbrio cognitivo, segundo o qual as pessoas
tendem a manter sentimentos e cognições sobre um mesmo objeto ou
pessoa, de modo a obter uma situação de equilíbrio. Quando esse equilíbrio
se desfaz, elas vivenciam uma situação de tensão e procuram restabelece-
lo mediante a mudança de algum dos elementos da situação. Os
Gestaltistas desenvolveram uma psicologia social mais cognitivista. Kurt
Lewin que estudou 10 anos com os Gestaltistas, desenvolve uma psicologia
social de grande importância nos Estados Unidos, com base cognitivista.
O Biologicismo explica tudo através do aspecto biológico, com ênfase no
racismo, a superioridade das raças individualizada enfatizando o biológico.
A partir de certo momento surgiram muitas críticas ao Biologicismo e as
teorias Comportamentalistas foram ganhando espaço.
E por último o Comportamentalismo, sendo uma vertente que individualiza
o sujeito enfatizando o seu comportamento como explicação para os
fenômenos sociais.
Lewin (1943) propôs a teoria de campo, na qual o grupo era visto como um
campo de forças que tinha primazia sobre suas partes, e sobre seus
membros. Inaugurou ainda um programa a que denominou de pesquisa-
ação, cujo objetivo era avaliar o comportamento dos membros de grupos da
comunidade e colaborar com sua mudança de atitude e comportamento.
Nas publicações e Heider de 1944 e 1958, ele estabelece os fundamentos
das teorias de atribuição, ao defender a ideia de que em suas relações
interpessoais o indivíduo percebe o outro e suas ações como um todo
organizado e por essa razão, tende a procurar as causas do
comportamento do outro, como forma de tornar o mundo social mais
organizado, estável e previsível.
No início da psicologia social, a psicologia nos Estados Unidos estava tão
individualizante que o termo “social” foi extraído dos artigos científicos, dos
nomes das disciplinas e tudo que dizia respeito ao social era reduzido ao
termo “comportamental’’ pelo fato de que o país naquela época adotava
uma abordagem Behaviorista. A palavra comportamento foi adquirindo
destaque.
Em 1943, Floyd Allport, grande representante da psicologia comportamental
norte-americana individualizante lança seu manual que passou a ser
referência nos Estados Unidos e foi divulgado para o mundo.

6. Analise a importância da Segunda Guerra Mundial para a psicologia


social.
Durante a segunda Guerra Mundial e a escalada do nazismo na Europa,
muitos psicólogos sociais foram convocados, aos Estados Unidos para
resolução de conflitos sociais existentes provocados pela guerra. Isso traz
um impacto para psicologia norte-americana que até então era behaviorista
majoritariamente. Pois, a migração dos psicólogos sociais Europeus trouxe
uma nova abordagem, a Gestalt, e a partir dela esses psicólogos iniciaram
uma série de pesquisas empíricas e estudos, de acordo com as
perspectivas dessa abordagem. Essa foi uma das fontes de inspiração para
a psicologia social norte-americana e uma das causas responsáveis pela
sua individualização. As raízes da Gestalt devem ser buscadas na
fenomenologia; filosofia distinta do positivismo que estava em vigor nos
Estados Unidos. Os psicólogos da Gestalt não tinham se deparado com o
Behaviorismo até que chegassem aos Estados Unidos e foi desse conflito
entre duas filosofias rivais (fenomenologia e positivismo), que a psicologia
social surgiu nos Estados Unidos, na forma característica que se deu.
7. Analise a importância do freudo-marxismo da Escola de Frankfurt para
o desenvolvimento de psicologias sociais críticas.
As psicologias sociais utilizaram na construção de seus polos teóricos,
elementos do pensamento de Freud e Marx, que são autores
contemporâneos que seguiram áreas do conhecimento distintas, porém
com um ponto em comum, pois destacam o humano e a sociedade.
As teorias Freud-Marxistas auxiliam na compreensão do ser humano dentro
de um contexto histórico social.

8. Explique o que foi a crise da psicologia e sua importância para o


desenvolvimento das psicologias críticas.
A crise da Psicologia Social surgiu da excessiva individualização da
Psicologia Social e a efervescência dos movimentos sociais no ano de
1970, como o feminismo por exemplo. Começaram a surgir os
questionamentos sobre neutralidade cientifica e o afastamento da psicologia
social dos problemas sociais reais. As teorias desenvolvidas não eram
capazes de dar respostas factíveis a nova realidade social que emergia,
criticava-se também a falta de compromisso ético de seus teóricos. Tais
críticas suscitaram grande resistência da comunidade cientifica da época,
porém, contribuiu para um movimento de internacionalização da psicologia
social europeia mais voltada para o contexto social, e o mais atual uma
psicologia latino-americana.
9. Considere a importância do Concílio Vaticano II e da Teologia da
Libertação para o desenvolvimento de psicologias sociais críticas na
América Latina. (páginas 572-573 do texto 4.
Entre as décadas de 1960 e 1980, a partir da preocupação coletiva acerca
dos graus de desigualdade e de exclusão social na América Latina e do
autoritarismo dos regimes militares dominantes da época, surgiu uma
reforma radical em termos de pesquisa e enfoque teórico, caracterizada por
uma agenda psicossocial fortemente influenciada pela Teologia da
Libertação, pela Conferencia de Medellín e pelas discussões realizadas no
âmbito da Igreja Católica, provocadas pelas reuniões do Concilio Vaticano II
(1962-1965). Convocado pelo Papa João XXIII, este concilio teve por
missão modernizar a Igreja, aumentar a energia católica e servir as
necessidades dos povos cristãos, partindo da premissa de que o Evangelho
exige a opção preferencial pelos pobres e pelos jovens.

10. Caracterize mais detalhadamente as psicologias sociais críticas (slides


sobre caracterização da PS e páginas 575 – 576 – 577 do texto 4).
A Psicologia Social Crítica tem como suas principais características a
afirmação do caráter histórico dos fenômenos sociais, é uma ciência que
propõe uma visão integrada da relação entre mente-corpo, e adota uma
postura transdisciplinar, pois essa abordagem vai além dos saberes e
fazeres de uma única disciplina, buscando sempre formas de pensar e agir
mais integradas.
Essa vertente crítica, tenta ser anti-dicotômica, não é a soma da psicologia
social individual e sociológica, ela é uma leitura dialética.
A Psicologia Social Crítica tem afinidade com outras Psicologias de países
e contextos sociais distintos como um porta-voz. Na Europa existe uma
afinidade com a Psicologia Política, que são Estudos e pesquisas voltados à
compreensão da sociabilidade e governança nos espaços públicos, com
ênfase o fortalecimento da cidadania. Já nos Estados Unidos, com a
Psicologia Feminista. E na América Latina suas expressões psicossociais
estão relacionas a Psicologia Comunitária e Política que consiste nos
estudos de fatores psicossociais de pequenos e grandes agrupamentos e
coletivos.
11. Quais são as quatro maneiras distintas de expressão das psicologias
sociais críticas (páginas 577 – 578 – 579 – 580 – 581 - 582 – 583 do
texto 4)?
Construcionista: para essa expressão, a concepção que temos do mundo e
dos fenômenos sociais, mesmo aquele produzido pela ciência, é particular de
cada cultura e cada momento histórico. O conhecimento é definido como uma
construção coletiva resultante das práticas sociais culturalmente localizadas. É
a localização em que é produzido que lhe da o estatuto diferenciado: O
laboratório, a rua por exemplo, e não alguma qualidade intrínseca ou método
de obtenção de conhecimento. A manutenção de uma postura crítica se aplica
a própria perspectiva Construcionista.
Discursiva: Nesta concepção, a linguagem é formadora de realidades. A
flexibilidade da linguagem utilizada na comunicação, parece ser extraordinária,
de acordo com o contexto, as mesmas palavras podem comunicar um número
imenso de mensagens, não se trata de um campo coeso e sim de uma
diversidade de enfoques e abordagens que tem como único elo de ligação o
foco nos efeitos estruturantes.
Comunitária: O Concilio Vaticano II teve papel fundamental nessa concepção
pois gerou reformulações sobre movimentos populares. Essa ressignificação
do papel da Igreja e dos educadores teve repercussão na psicologia social,
entre elas o surgimento de uma forte corrente voltada para a psicologia
comunitária. O desafio proposto, é inventar novas formas de atuação e de
pesquisa que sejam conjuntamente intervenção, visando a transformação da
sociedade. É na esfera da psicologia política de cunho libertário, sobretudo na
psicologia comunitária, que se aprofundam os métodos de pesquisa de ação
participativa.
Multiplicidade de Métodos:
Os métodos são entendidos como linguagem social, como formas de falar
sobre o mundo e de construir realidades socias. A coleta e a análise de dados
constroem de fato a realidade, isso dá espaço para invenção metodológica,
com uso de materiais presentes no cotidiano. Ao se desfazer a separação entre
ciência e outras atividades igualmente sociais, também se desfaz a separação
entre pesquisadores e campo e a própria noção de exemplo. O movimento
mais importante da postura crítica no enfoque dos métodos seja a presença
cada vez mais nítida da reflexão sobre ética.

Referências Bibliográficas

GUARESCHI, P. A. Relações comunitárias, relações de dominação. In


CAMPOS, R. H. F. (org.) in Psicologia social comunitária: da solidariedade
à autonomia. Petrópolis: Vozes, 2002.

GONSALVES, Elisa P. O Conceito e configuração social em Norbert Elias –


Espaço Social de ambivalência?

FERREIRA, Maria C. Breve História da Moderna Psicologia Social. InTORRES,


Claudio V. e NEIVA, Elaine R. (Cols). Psicologia Social: principais temas e
vertentes. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Psicologia Social na Atualidade. In Jacó-Vilela, A. M., Ferreira, A. A. L. e


Portugal, F. T. História da Psicologia –Rumos e percursos. Rio de Janeiro:
NAU,2006.

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