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Direito Tributário- Vanessa Pinotti

Lançamento: Conceito E Natureza


Olá, tudo bem? Eu sou Vanessa Pinotti e nós vamos falar hoje sobre o
lançamento tributário no que toca ao seu conceito e natureza jurídica.

Eu começo te perguntando:

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E aí você vai saber que a resposta é: claro que não. Não é só realizar o fato
gerador que é possível realizar a cobrança do crédito tributário. A realização
do fato gerador simplesmente faz nascer a obrigação tributária, mas a
obrigação tributária por si só não é passível de ser exigida pelo ente político
que é o seu credor. Ela tem que ser transformada em crédito tributário para
ser exigida do seu contribuinte e, para que nasça o crédito tributário, é
necessário que haja o lançamento do crédito tributário. Portanto, com a
ocorrência dos fatos geradores, que está descrita nas hipóteses de incidência
da norma, e com a ocorrência no mundo concreto desses fatos geradores, o
que faz nascer? Simplesmente faz nascer a obrigação tributária.

E quando nasce a obrigação tributária, ela não está liquida, ela não está certa,
ela não está passível de cobrança. Então, ela precisa ser quantificada, precisa
ser especificada com relação aos seus aspectos, colocado o seu vencimento,
dizer quem é o sujeito passivo e é isso que o lançamento faz. Veja o que diz o
art.142 do CTN (Código Tributário Nacional). Ele diz que é um procedimento
que culmina com o lançamento tributário. Portanto, note que:

NÃO ERRE

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Veja, portanto, que o crédito tributário nada mais é do que a obrigação
tributária tornada liquida e certa. É por isso que o art. 139 do CTN diz que o
crédito tributário decorre da obrigação tributária.

Mas, o que eu quero te chamar atenção é o seguinte: há situações que


modificam o crédito, mas que não alteram a obrigação tributária. Vejam o que
diz o art. 140 do CTN.

"Vanessa me dá um exemplo de situação que o crédito tributário é alterado,


mas não a obrigação tributária." Vamos te dar um exemplo a respeito das
hipóteses de exclusão do crédito tributário, notadamente a questão da
isenção. Veja, a isenção é uma hipótese de exclusão do crédito tributário, em
que o fato gerador acontece, nasce a obrigação tributária e ela deveria tornar-
se líquida e certa, deveria ser lançada para que haja o crédito tributário. Na
visão do CTN, a norma isentiva é uma norma que impede o lançamento
tributário, então veja que vai continuar existindo a obrigação tributária, até
porque já realizou os fatos geradores, mas o crédito tributário não vai nascer
porque a norma isentiva o impede.

Muito bem, passemos então ao art. 142 do CTN, que diz o seguinte:

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Então vamos tratar deste artigo que é de muita importância para a sua prova.
O artigo conceitua o lançamento como sendo um procedimento administrativo
e ele verifica a matéria tributável, é o fundamento desse lançamento – e eu já
te chamo atenção – o fundamento tem que ser específico, ele não pode ser
genérico.

Além dessa matéria tributável, o lançamento vai ver os demais elementos da


obrigação tributária, vai ver quem é o sujeito passivo, qual é alíquota, qual é a
base de cálculo, se tem corresponsável, o momento que ocorreu o fato
gerador. Não nos esqueçamos que o lançamento torna líquida e certa a
obrigação tributária.

Destaco para você que existe uma discussão na doutrina se o lançamento é


um ato administrativo ou se é um procedimento administrativo.

Por que seria um ato administrativo?

Porque vejam, o lançamento simplesmente é o último ato de todo esse


procedimento que estou te dizendo, ou seja, de quantificar a matéria
tributável, de identificar cada um dos elementos da obrigação tributária; ele é
o último ato que faz existir, que faz constituir o crédito tributário. Por outro
lado, a outra parte da doutrina vai dizer que não, que tudo isso, desde
quantificar, identificar cada um dos elementos da obrigação tributária, já é
parte do procedimento. Então, tudo isso é lançamento.

"Vanessa, o que eu faço na minha prova?"

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Você faz o que diz o art. 142 do CTN, que diz que é um procedimento
administrativo.

Outra discussão que existe na doutrina é com relação à natureza jurídica


desse lançamento tributário, ou seja, se ele é declaratório ou se ele é
constitutivo. Prevalece na doutrina que o lançamento tributário tem natureza
mista, ou seja, ele constitui o crédito tributário ao passo que declara a
existência da obrigação tributária.

Então, note que ele constitui o crédito, mas declara a existência, por isso, a
sua natureza mista de constitutivo e declaratório. Claro que, na doutrina, há
tanto a corrente que vai falar que ele é só declaratório ou só constitutivo, mas
prevalece. Inclusive, você tem que levar isso para a sua prova, o fato de que
ele possui natureza mista.

Isso é cem por cento? É unânime em todas as bancas?

Não, mas a grande maioria das bancas vai falar que ele é misto.

Mas Vanessa, de onde você tirou que ele é misto? Como é que eu vou
justificar isso numa prova oral ou subjetiva? Você vai se pautar exatamente no
art. 142 do CTN que diz sobre verificar a obrigação e constituir o crédito
tributário. É isso que você precisa levar para a sua prova.

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Além disso, o que eu quero que você note é que o lançamento é um ato
privativo da autoridade administrativa, foi por isso que eu destaquei isso no
art. 142. O que eu quero dizer aqui para vocês? Que somente a autoridade
administrativa realiza o lançamento tributário. Vanessa, o juiz lança? Não, o
juiz não lança, somente a autoridade administrativa.

"Vanessa, mas e se o juiz verifica que o lançamento está errado?"

Ele vai declarar a nulidade deste lançamento, mas ele não altera o
lançamento. É por isso que existe a Súmula Vinculante nº 24, ou seja, o juiz
espera que a autoridade administrativa constitua aquele crédito tributária para
verificar se houve sonegação ou outro crime tributário.

Além disso, o lançamento constitui atividade vinculada da autoridade


administrativa. Veja, isso não é uma novidade e quando você estudou o art. 3º
do CTN, que é o conceito de tributo, lá já dizia que se trata de uma atividade
vinculada. Portanto, a autoridade administrativa não tem qualquer
discricionariedade, ela verifica a ocorrência do fato gerador, ela precisa
realizar o lançamento tributário.

Por fim, quero te chamar atenção que o lançamento é um ato não


autoexecutório. O que eu quero dizer é que não basta realizar o lançamento
e, portanto, quantificar e tornar líquida e certa a obrigação tributária para que
o ente político possa sair cobrando esse crédito tributário. Tem todo um
procedimento que deve ser respeitado, então, deve haver inscrição em dívida
ativa e deve haver ajuizamento de execução fiscal.

"Vanessa, mas no meu livro aqui que estou acompanhando, diz o


lançamento é um ato autoexecutório, o que você está falando é errado?"

Não, veja só, o que se diz quando a doutrina fala que o lançamento é
autoexecutório, é o seguinte: o lançamento, a autoridade administrativa
realiza o lançamento por si só e não precisa da chancela do Poder Judiciário
ou de outro órgão; aquele ato por si só se concretiza com a autoridade
administrativa, mas o que estou te falando de autoexecutoriedade é no
sentido de ser cobrado aquele crédito.

E aí eu quero fazer uma ponte com relação à questão que,


independentemente de a gente entender o lançamento como um ato

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administrativo ou como um processo administrativo, veja que esse é um tema
imbricado com o Direito Administrativo e notadamente com o ato
administrativo. Portanto, o lançamento tributário tem uma presunção de
legalidade e de legitimidade, mas ele deve ser motivado, ele deve ser emitido
pela autoridade competente, então veja que isso está muito imbricado com a
autoexecutoriedade.

Por fim, com relação ao art. 142, eu quero chamar atenção ao fato de que a
autoridade administrativa vai propor a penalidade. Contudo, não, a autoridade
administrativa não propõe, ela lança, ela impõe a penalidade e, claro, se o
contribuinte não concorda, não há qualquer problema, ele recorre.

Portanto, eu preciso chamar atenção para esse conteúdo que é muito


importante.

CONTEÚDO IMPORTANTE

Isso é muito importante que você saiba. Trata-se de um bom resumo do que
nós falamos até agora.

Depois eu preciso falar com vocês sobre o artigo 144 do CTN.

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Não é que ele caia na sua prova, ele despenca na sua prova. E por que ele
cai e despenca na sua prova? Porque o caput diz uma coisa e o § 1º diz
outra e aí está gerada a grande confusão e o motivo pelo qual ele cai.

Veja, o caput do art. 144 e as questões de prova trocam muito em relação ao


Princípio da Irretroatividade, que vocês já estudaram. O Princípio da
Irretroatividade diz que a lei nova que institui ou que majora o tributo não
retroage, ela só vai falar para os fatos geradores futuros.

"Poxa, Vanessa, então, agora está desrespeitando o Princípio da


Irretroatividade." Vou te falar que não está.

Quando se fala que a lei do lançamento retroage ao momento do fato gerador,


quer dizer que, com relação à obrigação tributária principal, o que vai reger a
obrigação principal é a lei que estava vigente no momento do nascimento da
obrigação principal, ou seja, no momento da ocorrência do fato gerador, ainda
que, posteriormente, aquela lei que fez nascer a obrigação tributária tenha
sido alterada ou modificada. Portanto, se existir uma lei, por exemplo, nasce
um fato gerador e a lei tem uma apresentação e se depois disso, mas antes
do lançamento, essa lei é alterada, é revogada.

"Alterada como, Vanessa?"

Alterada a base cálculo, alterou a alíquota, colocou mais um responsável


tributário, enfim, alterou qualquer um dos elementos da obrigação tributária,
isso não vai retroagir.

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Isso está em linha com o princípio da irretroatividade. Portanto, ainda que o
lançamento seja feito posteriormente, ele vai usar a lei no momento da
vigência ou no momento do nascimento da obrigação tributária, aquela lei que
estava vigente no momento da obrigação tributária. Então, isso é muito
importante de você saber.

Quando estou dizendo que o lançamento retroage ao momento do fato


gerador, eu estou dizendo que o lançamento em relação com os aspectos da
obrigação tributária principal se atém a este momento, ou seja, ainda que a lei
esteja posteriormente revogada, no momento do lançamento, se ela estiver
revogada, não me interessa, eu vou usar a lei que estava vigente no momento
do fato gerador.

Por que isso?

Porque a obrigação tributária nasce com o fato gerador e o lançamento


tributário apenas declara a existência da obrigação tributária. Então, ele tem
que declarar algo que existia e como existia naquela época.

Não é por outro motivo que o art. 143 do CTN manda usar a taxa de câmbio
do dia do fato gerador, porque isso que é relevante, não se usa taxa de
câmbio do dia do lançamento ou do dia que você realizou o contrato ou que
se fez o pagamento, porque se usa a lei vigente no momento da ocorrência do
fato gerador.

Nesse sentido, quando se fala em aplicação de penalidade, seria a lei do


momento da ocorrência do fato gerador, ou seja, no momento que aconteceu
o ilícito, mas o art.106, inciso II, do CTN permite a retroatividade de uma lei
benigna e que vai impor uma penalidade melhor, mas que seja menor para o
contribuinte. Então, veja que, com relação à questão da penalidade, a
despeito de ter que ser aplicada, sim, a lei do momento da sua ocorrência, a
lei benigna posterior pode retroagir.

Por outro lado, o § 1º do art. 144 diz:

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Veja que, aqui, o parágrafo primeiro está dizendo o seguinte: você não vai
utilizar a lei do momento do nascimento da obrigação tributária, você vai
utilizar a lei do momento da realização do lançamento tributário. Mas,
Vanessa, como é que essas duas leis convivem? Com relação aos aspectos
formais, como diz o § 1º, vale a lei do momento do lançamento. Então,
imaginemos que no momento da ocorrência do fato gerador, do nascimento
da obrigação tributária, esse tributo era declarado pela declaração ‘A’, mas
antes da ocorrência do lançamento tributário, alterou-se e agora vai dizer que
esse tributo vai ser lançado pela declaração ‘B’.

Muito bem, no momento em que vai se lançar o tributo, vai utilizar a


declaração ‘B’, porque isso é um aspecto formal, é um veículo para eu realizar
o lançamento, portanto, eu uso a lei atual. Do mesmo modo, com relação a
novos critérios de apuração, a processos de fiscalização e a outorga de
maiores garantias e privilégios, porque são aspectos formais do lançamento
tributário, portanto, eu posso usar a lei posterior que também não se trata de
uma ofensa ao Princípio da Irretroatividade, na medida em que o Princípio da
Irretroatividade diz que lei nova que só majorar ou criar o tributo não retroage,
mas não a lei que trouxer aspectos formais, novos processos de apuração,
novos processos de fiscalização, etc.

E aí eu te chamo a atenção para a última parte do § 1º.

Por quê?

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Porque isso é alteração da obrigação tributária principal. Alterar é modificar o
sujeito passivo da obrigação tributária, coisa que não pode, como diz o caput
do art.144. Então, para colocar terceiros, para colocar corresponsáveis pela
obrigação tributária, tem que ser a lei do momento do nascimento da
obrigação tributária.

"Vanessa, isso já aconteceu na vida?"

É óbvio que já aconteceu e, por isso, cai na sua prova. Veja, o art. 11, da Lei
nº 9.311 tratava da CPMF (não existe mais) e, no § 3º, permitia o cruzamento
de dados obtidos com a CPMF porque esta era paga pela movimentação
financeira. Toda vez que a pessoa movimentava a sua conta bancária, ela
pagava a CPMF. E o Fisco pode obter esses dados para efetuar, inclusive, o
lançamento de outros tributos, como o Imposto de Renda. Porque veja, podia
acontecer as situações de a pessoa pagar altíssimos valores de CPMF, mas
chegava no imposto de renda e falava que era isento e, então, o Fisco
começou a verificar que isso não era compatível. Como a pessoa movimenta
altos valores e paga valores muito altos de CPMF e é isento de IR?

Então, o § 3º do art.11 permitiu esse choque de dados e verificar que essa


pessoa está omitindo receita do imposto de renda, portanto, o Fisco fazia uma
autuação suplementar para cobrar o imposto de renda omitido.

É óbvio que os contribuintes foram no Judiciário e contestaram, dizendo que o


art. 11, § 3º, estaria contrariando o Princípio da Irretroatividade, porque ao
pegar um dado de 2006 e lançar o Imposto de Renda de 2004, estaria
retroagindo, o que não pode. Mas, o STJ disse "não", que podia e que o § 3º
do art. 11 era legal, exatamente calcado no art. 144, § 1º, porque ele disse
que o artigo 11, § 3º era um novo método de fiscalização, não era um novo
método de hipótese de incidência, não era um aumento de tributo que,
portanto, só poderia valer daí pra frente, um novo método de fiscalização
pode retroagir.

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Claro que, nisso tudo, está envolvido o sigilo bancário, que é um pilar de todo
o sistema financeiro, porque o sistema financeiro se pauta na confiança, que o
cliente sabe que tem esse direito do sigilo, a instituição financeira tem esse
dever que é uma garantia de interesse público, mas a gente sabe também
que todo direito não é absoluto e, portanto, ele pode ser cindido, pode ser, de
alguma forma, relativizado.

E isso aconteceu de novo com o artigo 6º da LC nº 105, que permitiu que o


Fisco requisite diretamente das instituições financeiras as movimentações
bancárias dos contribuintes e é óbvio que os bancos alegaram o sigilo
bancário, mas veja o que disse a jurisprudência.

JURISPRUDÊNCIA

O STF falou isso com base na parte final do art. 145, § 1º, da Constituição. O
STF disse que não se trata de quebra de sigilo bancário, mas de transferência
de sigilo da instituição financeira para o ente político, como Estados, DF,
Municípios e União. Ele disse que não precisa de ordem judicial – isso é
importante que vocês notem. O art. 6º da LC nº 105 permite que o Fisco
requisite diretamente da instituição financeira.

O STF diz o seguinte: a União já pode fazer porque ela fez um regulamento
desse art. 6º da LC nº 105, que é o Decreto Federal nº 3.724.

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E o STF disse que, para os Estados, DF e Municípios, se quiserem fazer a
requisição diretamente, eles precisam fazer um regulamento, como fez a
União, e precisam preencher esses requisitos, quais sejam:

Então, se os Estados, DF, Municípios fizerem esse tipo de procedimento, eles


podem requisitar diretamente das instituições financeiras essas informações
bancárias.

E aí eu trago para vocês uma tabelinha de quem é que pode requisitar


diretamente das instituições financeiras as informações bancárias e que não
configurará quebra do sigilo bancário.

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Eu trouxe para vocês lerem com mais calma e tudo mais.

Até mais, essas foram as coisas mais importantes que tínhamos sobre
lançamento tributário.

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