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12/03/2024

Universidade Federal do Oeste da Bahia


Centro das Ciências Biológicas e da Saúde

Desnutrição Profª Adna Souza

Dietoterapia I
2024.1

Desnutrição

Deficiências nutricionais podem


estar presentes, mesmo com
excesso de gordura corporal

Mulher de 31 anos em campo de concentração (1945)

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Conceito de Desnutrição

• Estado resultante da deficiência, excesso ou desequilíbrio de nutrientes,


na presença ou não de atividade inflamatória, que resulta em
alterações adversas na composição corporal, na capacidade funcional e
no prognóstico.

ESPEN guidelines on definitions and terminology of clinical nutrition (2017)

Classificação da Desnutrição
Origem
Primária
nutricional
Desnutrição
Secundária Doenças

Evolução Leve
Gravidade

Moderada
Crônica Aguda
Grave

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Árvore diagnóstica da Risco nutricional

desnutrição baseado na
etiologia Desnutrição

Desnutrição Desnutrição
relacionada a relacionada a Desnutrição sem
doenças com doenças sem doenças
inflamação inflamação

Desnutrição Desnutrição Causas


Desnutrição
relacionada a relacionada a psicológicas,
relacionada a
injúria ou doença doenças crônicas socioeconômicas
fome
aguda com inflamação e ambientais

Caquexia doença-
específica

GLIM, 2019

Evolução da desnutrição

Adaptação
Déficit de • Evolução lenta
 melhor Complicações
energia e Acomodação Morte
adaptação clínicas
proteína

Ajustes metabólicos e comportamentais

demanda diminuída por nutrientes e um


equilíbrio nutricional

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Fisiopatologia e respostas adaptativas da desnutrição


Adaptação
(sem inflamação –
Evolução lenta)

Velocidade da perda de peso


Declínio nas atividades reduz com o tempo
físicas, apatia,
irresponsividade

Redução do gasto energético Síntese Proteólise


• Perda de massa proteica a - Reduz as
Reestabelecimento partir dos AA perdas
metabolicamente ativa Reestabelecimento
da homeostase de dietéticos
da homeostase
• Redução da taxa metabólica tecido magro - Eficiência
energética
(proteínas) de retenção
por quilograma de massa
magra
Alterações metabólicas no jejum prolongado
(sem inflamação)

Alterações metabólicas na desnutrição


com inflamação são exacerbadas

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Perda da Perda dos


Evolução da eficiência dos depósitos de Perda de
desnutrição mecanismos gordura e massa peso
compensatórios corporal magra corporal

Complicações relacionadas à perda de massa magra

Efeitos sistêmicos da
desnutrição energético
proteica

Músculo esquelético Neurológicos/metabólicos


Perda muscular, ↓ da mobilidade, Depressão, fadiga, apatia,
↓ da densidade mineral óssea, ↑ hipotermia
do risco de quedas, ↑ do risco de
lesão por pressão

Cardíacos/ hematológicos
Imunidade Redução do débito cardíaco,
Imunidade celular reduzida, IC, bradicardia, anemia Desnutrição hospitalar é fator de
aumento da infecção, atraso na
cicatrização de feridas risco independente para piora
Respiratórios da evolução clínica.
Hepáticos/renais Hipoventilação, diminuição da
capacidade pulmonar, aumento do
↓ função renal, ↓ albumina,
risco de pneumonia ↑ Morbidade e Mortalidade
desbalanço hidro eletrolítico e ácido
básico, elevação do nitrogênio ↑ Tempo de internação
uréico, aumento de infecções do hospitalar e custos
trato urinário
Gastrointestinal
Comprometimento da função
Reprodutivo intestinal, ↓ secreção de HCL,
Redução da libido, amenorreia ou enzimas pancreáticas e bile, má
dismenorreia, comprometimento absorção, perda da integridade
da fertilidade das barreiras, translocação
Qualidade de vida bacteriana, atrofia do GALT
Redução da capacidade
funcional, permanência
hospitalar prolongada,
redução da sobrevida

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⮚ Ingestão alimentar insuficiente

⮚ Perda de apetite

⮚ Necessidade de jejum

⮚ Alterações na composição da dieta


Causas da
desnutrição
⮚ Absorção comprometida, perda de nutrientes
hospitalar

⮚ Aumento da demanda metabólica

⮚ Alteração da via de alimentação – atrasos e inadequações

de conduta

Desnutrição hospitalar
A magnitude do problema

Is the skeleton Campanha BRASPEN


The skeleton in the still in the Desnutrição
“Diga não à
hospital closet IBRANUTRI hospital closet? hospitalar na desnutrição”
América Latina
Butterworth et al.,1974 Waitzberg et al, 2001 Souza et a, 2015 Correia et al, 2016 Toledo et al, 2018

Elevada prevalência Prevalência de


de desnutrição 20 anos depois a situação desnutrição na 11 passos para
4 mil pacientes de 12
hospitalar e falta de permanecia inalterada admissão entre 40 e combater a
Estados e do Distrito
60% desnutrição hospitalar
atitude dos Federal
profissionais de saúde Prevalência aumenta
ASG
em relação ao durante o tempo de
problema 48,1% de desnutrição hospitalização

2023 Desnutrição hospitalar ainda é um importante problema

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https://www.diganaoadesnutricao.org/videoaulas

Sistematização da atenção nutricional

1 Triagem 2 nutricional
Avaliação 3 Intervenção
nutricional nutricional

4 Reavaliação
Um diagnóstico adequado é A intervenção nutricional em pacientes
A triagem identifica o risco com risco de desnutrição leva a um
essencial para que uma
nutricional e sinaliza melhor prognóstico, melhorando os
terapia nutricional seja
precocemente pacientes que índices de morbidade, reinternação
iniciada o mais breve
poderiam beneficiar-se da hospitalar e mortalidade, além de
possível, propiciando uma
terapia nutricional reduzir os altos custos hospitalares.
intervenção dietoterápica
eficiente.

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Sistematização da atenção nutricional

• Até 48h após


admissão hospitalar
• Pacientes críticos
2 Avaliação
Nutricional

24h • Não há consenso


• NRS2002, MST, • Precoce e adequada
• Métodos subjetivos
MUST, NUTRIC, e objetivos
MAN, ASG* • GLIM – proposto
para padrão ouro
1 Triagem
Nutricional • MAN, ASG 3 Intervenção
nutricional

4 Reavaliação
periódica

*MAN e ASG podem ser utilizadas para triagem de risco


nutricional e avaliação do estado nutricional

1 – Triagem
Nutricional

Nutritional Risk Screening (NRS 2002)

• O NRS 2002 pode ser aplicado independentemente da doença e da idade.

• Recomendado em âmbito hospitalar.

Triagem inicial

Se houver uma resposta POSITIVA a qualquer Se a resposta for negativa a todas as perguntas
pergunta da triagem inicial, a triagem final da triagem inicial, o paciente deverá ser
deverá ser utilizada retriado de 7 em 7 dias até a alta hospitalar.

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1 – Triagem
Nutricional

Risco nutricional
Escore ≥ 3 pontos

1 – Triagem
Nutricional

Malnutrition Screening Tool (MST)

• Simples, barato e fácil de ser empregado por


qualquer profissional da saúde, familiar ou pelo
próprio paciente

• População adulta

• Não inclui dados antropométricos, laboratoriais e


outros objetivos
Escore >2 risco nutricional

• Pouco abrangente quanto ao estado de saúde do

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1 – Triagem
Nutricional

Malnutrition Universal Screening Tool (MUST)

Aplicado a adultos,
idosos, lactantes e
gestantes

Inicialmente, foi
elaborado para uso
em comunidades,
porém teve seu uso
estendido para a
atenção hospitalar

1 – Triagem
Nutricional
Parâmetro Intervalo Pontuação

< 50 anos 0

Idade 50 a 75 anos 1
NUTrition Risk in the Critically Ill

≥ 75 anos 2
Avalia a gravidade das
enfermidades de < 15 pontos 0
pacientes em unidade de 15 a 20 pontos 1
(NUTRIC) score

terapia intensiva (UTI) APACHE II


20 a 28 pontos 2

≥ 28 pontos 3

Descreve e quantifica o < 6 pontos 0


grau de disfunção
SOFA 6 a 10 pontos 1
orgânica de pacientes
≥ 10 pontos 3
graves
0a1 0
Número de comorbidades
≥2 1

Dias de internação antes da admissão na 0 a 1 dias 0


Pontuação Categoria Explicação
UTI ≥ 1 dia 1
6 a 10 com IL-6 Prognóstico ruim
Pontuação alta 0 a 400 pg/ mL 0
5 a 9 sem IL-6 Risco e necessidade de terapia nutricional
IL-6
0 a 5 com IL-6 ≥ 400 pg/mL 1
Pontuação baixa Baixo risco nutricional
0 a 4 sem IL-6

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1 – Triagem
2- Avaliação
Nutricional
Avaliação Subjetiva Global (ASG)

1 – Triagem
2- Avaliação
Nutricional Avaliação subjetiva produzida pelo
próprio paciente – ASG-PPP

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1 – Triagem
2- Avaliação
Nutricional
Mini Avaliação Nutricional (MAN)

• Desenvolvida para idosos


• Rastrear o risco de desenvolver a desnutrição ou
detectá-la em estágio inicial

1 – Triagem
2- Avaliação
Nutricional

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2 – Avaliação
Nutricional

Exame físico

Avalição do Exames
consumo bioquímicos

Diagnóstico
Nutricional

Análise de
Antropometria composição
corporal

2 – Avaliação
Nutricional

Avaliação Antropométrica
Peso e altura

A verificação correta do peso corporal auxilia no alcance das


metas do cuidado:

 Fornece dados fidedignos na avaliação e monitoramento do


estado nutricional e de hidratação do paciente

 Auxilia no cálculo das necessidades nutricionais, auxiliando


no plano terapêutico interprofissional

BRASPEN J 2018; 33 (1): 86-100

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2 – Avaliação
Nutricional

Avaliação Antropométrica
Peso e altura

Aferição do peso nem sempre é possível  Estimativas

• Mobilização limitada
 Cama balança
• Estado grave
• Uso de aparelhos
 Equações preditivas  Devem ser atentamente utilizadas,
• Coma
considerando a variação ou os erros inerentes aos métodos.
• Doenças neuromusculares Maioria utiliza AJ,
degenerativas além de CB e DC

• Amputação
• Paralisia ou outras condições limitantes

2 – Avaliação
Nutricional

Altura do joelho

• Obtida preferivelmente utilizando a perna


esquerda, formando um ângulo de 90° graus

• Paquímetro posicionado e pressionado entre a


superfície plantar do pé (calcanhar) e a parte
superior da coxa, paralela aos ossos da patela e
cabeça da fíbula.

• A aferição deve ser realizada 2 vezes e a


diferença entre as medidas não deve ser maior
que 0,1 cm.

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2 – Avaliação
Nutricional

Estimativa de estatura

2 – Avaliação
Nutricional
Estimativa de estatura

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2 – Avaliação
Nutricional

Estimativa de estatura

• Comprimento em decúbito -- quando


não há anormalidades ou contraturas
esqueléticas

• Tronco, ombros e cabeça alinhados

• Aferir a distância entre a base do


calcanhar e o topo da cabeça

2 – Avaliação
Nutricional

Estimativa de estatura
• Envergadura -- Distância direta entre as extremidades dos dedos médios, de
ambas as mãos, com os braços estendidos, nivelando os ombros

• Semi-Envergadura -- distância entre o ponto médio do esterno e a falange distal


do dedo médio multiplicado por dois (semienvergadura ou demispan)

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2 – Avaliação
Nutricional

Estimativa de peso

2 – Avaliação
Nutricional

Estimativa de peso

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2 – Avaliação
Nutricional

Perda de peso
A perda de peso corporal geralmente é avaliada comparando-se o peso habitual ao peso atual,
relacionado com o tempo da observação/perda

Ainda não há consenso quanto a melhor classificação segundo o total ou percentual de perda e tempo.

Adaptado de: Blackburn, G.L. and Bistrian, B.R., 1977

2 – Avaliação
Nutricional

Índice de Massa Corporal

Classificação de desnutrição de acordo com a OMS, 2000 Idosos - Classificação pelo IMC de acordo com a OMS, 2004

Classificação IMC (Kg/M²) Classificação IMC (kg/m²)

Desnutrição < 18,5 Baixo peso (risco para desnutrição) < 22

Desnutrição Leve 17 a 18,49 Eutrofia 22,0 a 26,9

Desnutrição Moderada 16 a 16,99 Sobrepeso 27,0 a 29,9

Desnutrição Grave < 16 Obesidade > 30

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2 – Avaliação
Nutricional

Adequação do peso

Adequação de peso (%) = (peso atual x 100)/peso ideal

Adequação de peso (%) Estado Nutricional


≤ 70 Desnutrição grave
70,1 a 80 Desnutrição moderada
80,1 a 90 Desnutrição leve
90,1 a 100 Eutrofia
100,1 a 120 Obesidade

Blackburn & Thornton, 1979

2 – Avaliação
Nutricional

Cálculo do peso ideal

Compleição Grande Média Pequena


Homens < 9,6 9,6 a 10,4 > 10,4
Mulheres < 10,1 10,1 a 11,0 > 11,0

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2 – Avaliação
Nutricional

2 – Avaliação
Nutricional

Cálculo do peso ideal

FAO, 1985

Cálculo do peso ajustado

Frankenfield et al;2003

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2 – Avaliação
Nutricional

Circunferência da Panturrilha

Massa muscular diminuída


Homens < 34 cm
• Avaliação da massa muscular Mulheres < 33 cm

• Utilização em equações preditivas de peso e estatura

CP deve ser aferida no indivíduo acamado em posição


supina, após a formação de um ângulo de 90° com o
joelho, buscando a maior circunferência com o
deslizamento da fita métrica inelástica.

2 – Avaliação
Nutricional

Circunferência do Braço

Blackburn, 1979

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2 – Avaliação
Nutricional

2 – Avaliação
Nutricional

Dobra cutânea Tricipital

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2 – Avaliação
Nutricional

2 – Avaliação
Nutricional

Circunferência Muscular do Braço

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2 – Avaliação
Nutricional

2 – Avaliação
Nutricional

Considerações sobre a Avaliação Antropométrica

• CB, DCT e DCSE não se modificam se aferidas com o paciente


acamado e devem ser regularmente monitoradas

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2 – Avaliação
Nutricional

Exame físico e sinais clínicos


O exame físico envolve a avaliação minuciosa de tecidos como pele, cabelo, unha e olhos.

Sinal clínico é a manifestação percebida pelo profissional de saúde no exame clínico do paciente,

ou seja, aquele que pode ser visualizado sem a necessidade do relato do paciente.

Avaliação da condição hídrica

• Edema x desidratação

2 – Avaliação
Nutricional

Exame físico e sinais clínicos


Cabelos
• Avaliar cor, brilho, quantidade, espessura, hidratação. Normalmente apresentam-se brilhantes, firmes e difíceis de

arrancar

Face

• Avaliar edema, palidez, cansaço, fácies agudo* e fácies crônico**; normalmente não apresenta edema ou

diminuição de gordura e musculature

*Aspecto de cansaço e exaustão; mostra-se incapaz de manter os olhos abertos por muito tempo. Esse achado deve ser diferenciado de

pacientes que estão com alteração do nível de consciência.

** Aspecto de depressão, tristeza, falta de comunicação, comprometimento do estado de humor sendo confundido com a depressão

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2 – Avaliação
Nutricional

Exame físico e sinais clínicos

Sistema nervoso

• Observar reflexos normais e estabilidade psicológica; normalmente não apresenta alterações de reflexos

e sensibilidade

Olhos

Avaliar cor das mucosas, alteração da esclera ótica, arco córneo lipídico (halo de cor branca que aparece

na córnea ao redor da íris), xantelasma (bolsa amarelada que se forma na região das pálpebras pelo

depósito de lipídios na pele); normalmente são brilhantes, sem manchas e não há dificuldade de

adaptação ao escuro

2 – Avaliação
Nutricional

Exame físico e sinais clínicos


Lábios

• Avaliar coloração, canto da boca e presença ou não de alterações; normalmente apresentam-se sem sinal de

inflamação, cortes ou inchaço

Língua

• Avaliar cor, as papilas, edema ou lesões aparentes; normalmente apresenta-se com coloração vermelha, livre

de edema e úmida

Gengivas

• Observar cor, inchaço ou lesão; normalmente apresentam-se brilhantes, coradas e sem sinal de lesão ou

edema

Dentes

• Observar cor e ausência de dentes; normalmente apresentam-se íntegros, com coloração normal e brilhantes

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2 – Avaliação
Nutricional

Exame físico e sinais clínicos


Pele

• Observar cor, integridade, turgor (elasticidade), brilho; normalmente apresenta-se uniforme, lisa, com turgor

preservado (há mudança na elasticidade da pele de acordo com a idade)

Unhas

• Observar forma, ângulo, coloração e rigidez; normalmente são lisas, uniformes e firmes

Abdome

• Observar o volume distendido, plano ou escavado (redução da gordura ao redor do umbigo resultando em

“escavação” do abdome; também chamado de abdome côncavo)

Rosto e pescoço

• Observar inchaço na região da tireoide e região mandibular; normalmente não apresentam edema

2 – Avaliação
Nutricional

Exame físico e sinais clínicos


Avaliação da perda de massa muscular e adiposa

Atrofia temporal bilateral • Pescoço, ombros, costelas, tórax Membros superiores e inferiores
• Redução da mastigação (3 a 4 semanas) • Musculatura bicipital e triciptal
• Região supra e infraclavicular
• Hiporexia, anorexia, disfagia • Músculo adutor do polegar
• Retração intercostal
• Coxa, panturrilha
• Atrofia muscular paravertebral

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2 – Avaliação
Nutricional

Avaliação Bioquímica

Pode detectar precocemente o comprometimento nutricional, antes mesmo de haver modificações


antropométricas e do surgimento de sinais clínicos de desnutrição

Em diversas situações clínicas, os resultados bioquímicos podem se apresentar alterados, sofrem


influência de fatores não nutricionais, como infecção, desidratação, e o uso de determinados
medicamentos.

Avaliação laboratorial é utilizada para confirmar suspeitas de deficiência nutricional e para


acompanhar o tratamento e a recuperação de indivíduos desnutridos.

2 – Avaliação
Nutricional

Considerações sobre a avaliação bioquímica


O uso de proteínas viscerais como marcadores nutricionais: Posicionamento ASPEN (2021)

Atenção
Aumento das proteínas de
fase aguda positivas Proteína C reativa, amilóide
A-sérica, fibrinogênio A albumina sérica e a pré-albumina não são componentes
Inflamação das definições atualmente aceitas de desnutrição, não
IL-6
substituem avaliação da proteína corporal total ou da massa
IL-1
TNF-α muscular total e não devem ser usadas como marcadores
Albumina, transferrina, pré-
nutricionais
Redução das proteínas de albumina, proteína ligadora
fase aguda negativas do retinol
Nutr Clin Pract. 2021;36:22–28

Os declínios da albumina sérica e da pré-albumina devem ser reconhecidos como marcadores inflamatórios associados ao “risco nutricional”

Sua normalização pode indicar a resolução da inflamação, a redução do risco nutricional, uma transição para o anabolismo ou, potencialmente,
menores necessidades calóricas e proteicas.

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2 – Avaliação
Nutricional

Balanço nitrogenado

Balanço nitrogenado (g/dia) = Ingestão de Nitrogênio (g/dia) – Perdas de Nitrogênio (g/dia)

- Ingestão de Nitrogênio (g/dia) = ingestão proteica (g/dia)/6.25*


- Perda de Nitrogênio (g/dia) = (ureia urinária de 24h (g)) x (volume urinário de 24h (L)) x 0,47 + 4**.

2 – Avaliação
Nutricional

Padronização do diagnóstico nutricional –


GLIM

Triagem Avaliação Intervenção


nutricional nutricional nutricional

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2 – Avaliação
Nutricional
Diagnóstico da desnutrição GLIM

Critérios Critérios
fenotípicos Etiológicos

• Perda de peso involuntária • Redução da ingestão alimentar


• Baixo IMC • Inflamação ou doença
• Massa muscular reduzida

Classificação da severidade Orientação da intervenção

Adaptado de JENSEN, G.L.; et al. GLIM Criteria for the diagnosis of malnutrition: A consensus report from the global clinical nutrition community. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, 2018.

2 – Avaliação
Nutricional

É considerado DESNUTRIDO o indivíduo que apresentar ao menos


um critério fenotípico e um critério etiológico

Critérios Fenotípicos Critérios Etiológicos

Redução da
Perda de peso Redução da ingestão ou
Baixo IMC massa Inflamação
não intencional absorção de alimentos
muscular

≤ 50% da
> 5% nos < 20kg/m2 recomendação
últimos 6 se < 70 Redução
validada por energética por >1
meses anos semana ou qualquer
métodos de
redução com >2 Presença de doença
composição
semanas ou outra ou componente
corporal
condição inflamatório
< 22kg/m2 BIA, TC, medidas gastrointestinal
> 10% além
se > 70 antropométricas, crônica que afeta a
dos 6 meses CP, FPP
anos absorção ou digestão
de alimentos

Adaptado de JENSEN, G.L.; et al. GLIM Criteria for the diagnosis of malnutrition: A consensus report from the global clinical nutrition community. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, 2018.

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2 – Avaliação
Nutricional

Diagnóstico da desnutrição GLIM


– Avaliação da gravidade

Critérios Fenotípicos – Avaliação da gravidade

Perda de peso não Redução da massa


Baixo IMC
intencional muscular

Perda de peso (%) IMC reduzido MM reduzida


Estágio I / 5-10% em 6 m <20kg/m2 se <70 a Déficit leve a
Desnutrição 10-20% acima de <22kg/m2 se >70 a moderado De acordo com a
moderada 6m referência do
Estágio II / >10% em 6 m <18.5g/m2 se <70 a Déficit severo critério utilizado
Desnutrição >20% acima de 6 <20kg/m2 se >70 a
grave m

2 – Avaliação
Nutricional

Diagnóstico da desnutrição GLIM – Avaliação da massa muscular

Critérios Fenotípicos

Redução da
Perda de peso
Baixo IMC massa
não intencional
muscular

AVALIAÇÃO DA MASSA
MUSCULAR

BIA DEXA TC US
NÃO

SIM
CP CMB
Avaliar MM a partir de
referências específicas para a Avaliar MM a partir de medidas
técnica, raça, sexo, idade antropométricas e exame físico

Clin Nutr. 2022 Jun;41(6):1425-1433. doi: 10.1016/j.clnu.2022.02.001. Epub 2022 Apr 19.

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2 – Avaliação
Nutricional

Diagnóstico da desnutrição GLIM – Critérios etiológicos

Critérios Etiológicos
DOENÇAS: síndrome do intestino curto,
insuficiência pancreática, pós cirurgia Redução da ingestão ou
Inflamação
absorção de alimentos
bariátrica.

DISTÚRBIOS: estenoses esofágicas, ≤ 50% da


gastroparesia, pseudo-obstrução intestinal. recomendação
energética por >1
SINTOMAS (TGI): disfagia, hiporexia, anorexia, semana
náuseas, vômitos, diarreia, esteatorreia, ou qualquer redução Presença de doença
constipação, dor abdominal, ostomias de alto com >2 semanas ou componente
ou outra condição inflamatório
débito. Avaliar intensidade, frequência e
gastrointestinal
duração dos sintomas. crônica que afeta a
absorção ou digestão
de alimentos

2 – Avaliação
Nutricional

Diagnóstico da desnutrição GLIM – Critérios etiológicos

Critérios Etiológicos
Presença de componente inflamatório
Redução da ingestão ou moderado ou grave de forma aguda (eventos
Inflamação
absorção de alimentos transcorridos nos últimos 3 meses)

≤ 50% da Moderado (doença crônica/recorrente): câncer,


recomendação DPOC, ICC, DRC, cirrose (doenças hepáticas crônicas),
energética por >1 artrite reumatoide. - Exames para auxílio clínico: PCR,
semana ou qualquer Albumina e Prealbumina.
redução com >2 Presença de doença
semanas ou outra ou componente Grave (agudo): infecções graves/extensas,
condição inflamatório queimaduras, traumas, TCE fechado.
gastrointestinal
Sintomas comuns: febre, balanço nitrogenado
crônica que afeta a
absorção ou digestão negativo, aumento da TMB.
de alimentos

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2 – Avaliação
Nutricional
Diagnóstico da desnutrição considerando
gravidade e etiologia

*Condições crônicas são aquelas que perduram por mais de 3 meses.

Caso clínico
• Paciente do sexo masculino, 78 anos, lavrador. Foi admitido no pronto socorro de um hospital público e dois dias depois foi

encaminhado para a enfermaria na Clínica Médica, devido alteração em radiografia torácica, sendo iniciado antibioticoterapia.

• Acompanhante referiu que o paciente, há 2 meses, começou a apresentar quadro de tosse seca, mais intensa pela noite, acompanhada

de hiporexia, diarréia, vômitos, dispnéia, edema em membros inferiores (MMII) de crescimento gradual e perda ponderal de 12kg no

período.

• Acompanhante negou comorbidades, cirurgias prévias, quadro semelhante anterior, alergias alimentares e medicamentosas. Referiu que

o paciente é ex tabagista há 15 anos, tendo fumado por aproximadamente 40 anos. Relatou também que o paciente segue uma dieta

monótona, pouco fracionada (3 refeições ao dia), pobre em frutas e verduras, consequentemente com baixa oferta de vitaminas, minerais

e fibras, além de baixo consumo de líquidos.

• O exame físico mostrou vários sinais de depleção nutricional, tais como pele fina e seca, depleção severa de gordura subcutânea e de

tecido muscular, bem como a presença de edema em membros inferiores.


Peso usual: 62kg
Peso atual: 50kg
Altura: 1,77m
CP: 18cm

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Caso clínico
Critérios Fenotípicos Critérios Etiológicos

Redução da
Perda de peso Redução da ingestão ou
Baixo IMC massa Inflamação
não intencional absorção de alimentos
muscular

Perda de peso (%) IMC reduzido MM reduzida ≤ 50% da recomendação


energética por >1 semana
Estágio I / 5-10% em 6 m <20kg/m2 se <70 a Déficit leve a
ou qualquer redução com >2
Desnutrição 10-20% acima de <22kg/m2 se >70 a moderado
semanas
moderada 6m Presença de doença ou
ou outra condição
componente inflamatório
gastrointestinal crônica que
Estágio II / >10% em 6 m <18.5g/m2 se <70 a Déficit severo
afeta a absorção ou digestão
Desnutrição >20% acima de 6 <20kg/m2 se >70 a
de alimentos
grave m

Perda de 20% do IMC 15,9kg/m2 CP: 18cm


peso em 2 meses Hiporexia, diarréia, vômitos
(2 meses)
Baixo consumo relatado
pela paciente

Diagnóstico: Desnutrição grave associada a doença


Adaptado de JENSEN, G.L.; et al. GLIM Criteria for the diagnosis of malnutrition: A consensus report from the global clinical nutrition community. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, 2018.

3 – Intervenção
Nutricional
Intervenção Nutricional

O planejamento dietoterápico na

desnutrição é influenciado pela

❖ Ganho de peso e recuperação de massa


doença de base, que poderá
muscular
implicar em ajustes específicos ❖ Melhor prognóstico
❖ Melhor resposta ao tratamento
❖ Menor tempo de permanência hospitalar

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3 – Intervenção
Nutricional

Tratamento da desnutrição

DEP sem complicações médicas


❖ Tratamento ambulatorial

Os casos de desnutrição com complicações médicas graves são


tratadas em nível hospitalar  geralmente relacionada à doenças

Estabilização Recuperação
• Hidratação • Variável de acordo com
• Corrigir deficiências a gravidade da Acompanhamento
nutricionais específicas desnutrição e doença de
base

3 – Intervenção
Nutricional

Desidratação

Os principais sinais e sintomas encontrados são:


◼ sede moderada,
◼ olhos encovados,
Deve-se priorizar a terapia de
hidratação via oral.
◼ pulso fraco ou ausente,
◼ extremidades frias,
◼ hipoglicemia,
Monitorar:
◼ saliva espessa,
❖ Quantidade ingerida de solução de reidratação oral
◼ mucosas secas ❖ Perdas fecais, diurese
◼ letargia. ❖ Presença de vômitos

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3 – Intervenção
Nutricional
Prescrição dietoterápica:
dieta hiperproteica e hipercalórica

Cálculo das necessidades nutricionais

Equações Fórmula de
Calorimetria
preditivas bolso

Pacientes hospitalizados Fator Fator Fator


atividade lesão térmico
Acamado 1,2 Desnutrição 1,25 38°C 1,1
moderada
Ambulante 1,3 Desnutrição 1,5 39°C 1,2
grave

GET = GEB X FA X FI X FT 40°C 1,3


41°C 1,4

Limitações

3 – Intervenção
Nutricional
Prescrição dietoterápica:
dieta hiperproteica e hipercalórica

Cálculo das necessidades nutricionais


Pacientes na enfermaria
Equações Fórmula de Fase inicial - 25 a 30kcal/kg
Calorimetria
preditivas bolso Fase de recuperação - 30 a 40kcal/kg
BRASPEN, 2018

Utilizar o peso atual


(exceção para pacientes obesos que devem ter o peso corrigido para o ideal).

Doença de base poderá implicar em ajustes específicos

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Caso clínico
Peso atual: 50kg
Altura: 1,77m
FI = 1,5
FA = 1,3
FT = 1,0

Cálculo pela fórmula de HB Cálculo pela fórmula de Bolso

GEB = 1112,5 Kcal/dia Iniciar 30kcal/kg – 1500kcal/dia


GET = 2169,4 Kcal/dia Progredir para 40Kcal/kg – 2000kcal/kg
(43,38kcal/kg)

3 – Intervenção
Nutricional
Prescrição dietoterápica:
dieta hiperproteica e hipercalórica

Recomendação geral de Proteínas Condição clínica (função Fórmula de bolso


renal preservada)
▪ 1,2 – 2,0g/kg/dia Baixo catabolismo 1,0 a 1,2g/kg
Moderado catabolismo 1,2 a 1,5g/kg
Alto catabolismo 1,5 a 2,0g/kg

▪ Paciente desnutrido: Fazer o cálculo com o peso IDEAL AJUSTADO

Adequação de acordo com o grau de catabolismo, gravidade da


desnutrição e doença de base

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Caso clínico
Peso atual: 50kg
Peso usual: 62kg
Altura: 1,77m
Catabolismo moderado

FAO, 1985

Prescrição proteica 1,5g/kcal


Frankenfield et al;2003

Utilizar o peso ideal ajustado

Peso ideal = 68,92kg


Peso ideal ajustado = 54,73kg

Proteínas = 82g/dia

3 – Intervenção
Nutricional

O demais componentes da dieta devem seguir as recomendações


de ingestão dietética de referência (DRI), com as adaptações
necessárias à condições patológicas.

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12/03/2024

3 – Intervenção
Nutricional
Prescrição dietoterápica:
dieta hiperproteica e hipercalórica
Como aumentar proteínas e calorias da dieta?

✔ Aumentar a quantidade de alimentos ingeridos

✔ Inserir lanches entre as principais refeições /Evitar baixo fracionamento

✔ Aumentar a densidade energética e proteica dos alimentos

✔ Módulos de macronutrientes
✔ Carboidratos
✔ Proteínas

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3 – Intervenção
Nutricional
Prescrição dietoterápica:
dieta hiperproteica e hipercalórica
Como aumentar proteínas e calorias da dieta?
▪ Suplementos nutricionalmente completos

▪ Possuem uma composição equilibrada de macro e micronutrientes, incluindo aminoácidos essenciais, ácidos graxos e
micronutrientes que seguem as recomendações dietéticas pra pessoas saudáveis.

▪ Podem ser usados como fonte nutricional única por períodos prolongados
▪ Em geral, são usados como suplemento à dieta comum, quando a ingestão alimentar é insuficiente

▪ Suplementos nutricionalmente incompletos

▪ Adaptados para conter alguns nutrientes específicos em maior ou menor quantidade


▪ Visa atender às demandas nutricionais e metabólicas específicas de certas doenças como diabetes, úlcera por pressão,
cirrose, câncer, insuficiência renal e doenças pulmonares.

▪ Não são adequados para utilização como fonte nutricional única, já que o teor de alguns nutrientes pode ser insuficiente.

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3 – Intervenção
Nutricional
Prescrição dietoterápica:
dieta hiperproteica e hipercalórica
Como aumentar proteínas e calorias da dieta?

• Preferir o leite integral


• Adição de creme de leite, leite condensado, leite em pó às preparações
• Adicionar achocolatado, mel, açúcar mascavo, cereais integrais e/ou frutas às bebidas lácteas
• Adicionar carnes desfiadas e queijos nos lanches
• Utilizar oleaginosas, molhos e azeite em saladas
• Incentivar o consumo de frutas desidratadas
• Adicionar 1 colher de azeite extra virgem no almoço e jantar

Gorduras saturada, excesso de CHO

4- Acompanhamento e
reavaliação Acompanhar a ingestão alimentar dos pacientes por meio
do registro do percentual da aceitação alimentar

 Importante avaliar a aceitação alimentar das principais refeições (desjejum,


almoço, lanche da tarde, jantar e a ceia)

 Auxílio do copeiro, próprio paciente, familiar ou cuidador

 Utilizar uma figura que demonstre a composição da bandeja e as porcentagens


da aceitação alimentar, classificando em excelente, adequada,
regular/inadequada, baixa e recusa/muito baixa

 Preencher o formulário continuamente durante o período de hospitalização, ou


por pelo menos 3 dias consecutivos para maior assertividade na conduta a ser
tomada.

 Após o preenchimento, cabe ao nutricionista avaliar a aceitação alimentar e


realizar o cálculo da ingestão alimentar realizada pelo paciente

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Referências Bibliográficas
• Bibliografia recomendada
• Aline Marcadenti de Oliveira e Flávia Moraes Silva (Org). Dietoterapia nas Doenças do Adulto. 2 ed. Rio de Janeiro:
Rubio, 2021.
• Carla de Oliveira Babosa e Helen Hermana Miranda Hermsdorff. Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia. 1 ed – Rio de
Janeiro: Rubio, 2021.
• Artigos científicos em periódicos indexados e materiais, citados e referenciados durante a aula

• Bibliografia básica:
• Cuppari, Lilian. Nutrição Clínica No Adulto - 4ª Ed. 2019
• Krause, M V; Escott-stump, S; Mahan, L. K. Krause: alimentos, nutrição &amp; dietoterapia. 15. ed. - Rio de Janeiro :
GEN, 2022. (Disponível em: Minha Biblioteca)
• Rossi, L. Tratado de nutrição e dietoterapia. 1. ed. -Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2019. (Disponível em: Minha
Biblioteca)
• - Oliveira, AM; Silva, FM. Dietoterapia nas Doenças do Adulto. 2 ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2021.
• Babosa CO; Hermsdorff, HHM. Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia. 1 ed – Rio de Janeiro: Rubio, 2021.

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