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Faculdade de Direito de Franca

1º Ano
Direito Civil I

Defeitos do Negócio Jurídico


Defeitos dos Negócios Jurídicos - Conceito
• Defeitos dos Negócios Jurídicos - são os vícios que impedem seja a vontade
declarada livre e de boa-fé, prejudicando, por conseguinte, a validade do negócio
jurídico.
• São imperfeições do negócio jurídico, oriundos de vício na declaração de vontade
dos agentes, prejudicando o próprio declarante, terceiro ou a ordem pública.
• A vontade como elemento essencial, deve ser livre e consciente.
CAPÍTULO V - Da Invalidade do Negócio Jurídico

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Aqueles em que a Erro
vontade não é expressada
de maneira
absolutamente livre Estado de perigo

Vícios de
Lesão ANULÁVEIS
consentimento

Coação

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo

A vontade
manifestada não Fraude contra
tem, na realidade, a Credores
Vícios sociais
intenção pura e de
boa-fé. Simulação NULO
Vícios de Consentimento Vícios Sociais
• Provocam uma manifestação de vontade • Caracterizarem-se pela a intenção de
não correspondente com o íntimo e a prejudicar terceiros.
verdadeira intenção das partes.
• Impede que a vontade seja livre, • Contém a vontade manifestada que não
espontânea e de boa fé, o que tem a intenção pura e de boa fé que
fatalmente prejudica a validade do enuncia.
negócio jurídico.
• Tornam o negócio jurídico ANULÁVEL. • Tornam o negócio jurídico NULO (Só a
Simulação).
• Espécies: erro, dolo, coação, estado de • Espécies: fraude contra credores e
perigo e lesão. simulação.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Erro

Estado de perigo

Vícios de
Lesão
consentimento

Coação

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo

Fraude contra
Credores
Vícios sociais
Simulação
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Erro ou Ignorância
• ERRO OU IGNORÂNCIA - “quando o agente, por desconhecimento ou falso
conhecimento das circunstâncias, age de um modo que não seria a sua vontade, se
conhecesse a verdadeira situação” (Caio Mário).

• O ERRO consiste em uma falsa representação da realidade. O agente engana​-se


sozinho. Quando é induzido em erro pelo outro contratante ou por terceiro,
caracteriza​-se o DOLO.

• ERRO é a ideia falsa da realidade (“achar que sabe”). IGNORÂNCIA é o completo


desconhecimento da realidade. (“não saber”).
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Erro ou Ignorância
• SUBSTANCIAL (ou essencial) - é o erro que incide sobre a essência (substância) do
ato que se pratica, sem o qual este não se teria realizado. Exemplo: colecionador
que, pretendendo adquirir uma estátua de marfim, compra, por engano, uma peça
feita de material sintético.
Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de
vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal
do negócio jurídico.
• ACIDENTAL é aquele erro que não é causa para anulação do negócio jurídico.
Exemplo: compra de carro que supunha ser preto, quando era azul escuro> Não
anula porque isso é irrelevante para a definição do preço.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Erro ou Ignorância
• ÔNUS DA PROVA – ERRO OU IGNORÂNCIA

• Como afirma Washington de Barros Monteiro, “quem alega o erro deve prová-
lo. Sendo fenômeno de ordem subjetiva, não comporta, muitas vezes, prova
direta. Será preciso deduzi-la então de elementos objetivos, que a exprimam
por uma relação natural e necessária. O erro só pode ser alegado por aquele a
quem aproveite o reconhecimento do vício, não pela outra parte. Por fim,
embora anulável o ato eivado de erro, prevalece enquanto não anulado por
sentença.”
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Erro ou Ignorância
Seção I
Do Erro ou Ignorância

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de
erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio.

Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de
vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal
do negócio jurídico.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Erro ou Ignorância
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante.

Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos
casos em que o é a declaração direta.

Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade,
não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a
coisa ou pessoa cogitada.

Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.

Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade
real do manifestante.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Erro

Estado de perigo

Vícios de
Lesão
consentimento

Coação

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo Proximidade
do Dolo com
os demais
Fraude contra vícios sociais
Credores
Vícios sociais
Simulação
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• DOLO - “Todo artifício malicioso empregado por uma das partes ou por
terceiro com o propósito de prejudicar outrem, quando da celebração do
negócio jurídico”. (Stolze)
• Dolo é o erro provocado pela má-fé alheia. É todo artifício empregado para
enganar alguém, induzindo-o à prática de um negócio jurídico.
• Exemplos:
– O vendedor induz o comprador a acreditar que um relógio simplesmente
dourado é de ouro.
– Sujeito que omite dados importantes com o intuito de elevar o valor do seguro a
ser pago no caso de eventual sinistro.
DISTINÇÕES
ERRO DOLO
• A vítima se engana sozinha. • A vítima é enganada pela má-fé alheia.

• É espontâneo. • É provocado maliciosamente por alguém.

• O ato é simplesmente anulável, não • Além da anulação, enseja ainda a


havendo lugar para as perdas e danos. responsabilidade pelas perdas e danos.

• O erro sobre o motivo não anula o • O dolo sobre o motivo, ao revés, autoriza
negócio jurídico, salvo quando expresso a anulação do negócio jurídico.
como razão determinante.
• O erro sobre qualidades secundárias da • O dolo sobre qualidades secundárias da
pessoa ou coisa (erro acidental) não anula pessoa ou coisa (dolo acidental) não
o ato e não enseja perdas e danos. invalida o ato, mas enseja perdas e danos.
DISTINÇÕES ENTRE
ERRO DOLO
ERRO E DOLO

Erro Substancial - SIM Dolo Substancial - SIM


1 - Anular o ato
Erro Secundário ou
Dolo Acidental - NÃO
acidental ou - NÃO

Erro Substancial - NÃO Dolo Substancial - SIM


2 - Gerar perdas e danos
Erro Secundário - NÃO Dolo Acidental - SIM
DISTINÇÕES ENTRE DOLO E FRAUDE
DOLO FRAUDE

Na essência, o dolo e fraude se confundem, pois são artifícios empregados para enganar alguém.

• A parte enganada intervém na conclusão do • Não há a intervenção pessoal do prejudicado.


negócio.
• É anterior ou concomitante à prática do ato. • É subsequente à prática do negócio jurídico.

• É utilizado para celebração do negócio. • É empregada para burlar a execução de um


outro negócio preexistente.

• Se antes de celebrar o contrato de seguro, o • Se, porém, após a assinatura desse contrato,
agente induz a seguradora a erro, silenciando o sinistro é simulado para o recebimento do
sobre um fato relevante, haverá dolo. seguro, haverá fraude.
• Visa enganar a outra parte. • A fraude pode visar tanto o engano desta
parte, como a violação da lei ou a lesão a
interesse de terceiros.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO PRINCIPAL E DOLO ACIDENTAL
– DOLO PRINCIPAL (ou substancial) - quando ele representa a causa
determinante do negócio jurídico. Sem o dolo o ato não se teria realizado.
O “dolus causam dans contractui” é o dolo principal, também chamado
dolo essencial, dolo determinante ou dolo causal.

• Saliente-se, porém, que o dolo, para ser principal, não precisa


necessariamente prejudicar a pessoa enganada (Dolo sem dano).

• O dolo principal além de anular o negócio jurídico, ainda enseja o seu autor a
indenizar as perdas e danos.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO PRINCIPAL E DOLO ACIDENTAL
– DOLO ACIDENTAL (ou incidental) - não é a razão determinante do negócio
jurídico, que, a seu despeito, se teria realizado, embora por outro modo.

• Exemplo: quando o vendedor diz para o comprador que o piso da cozinha é


mármore importado, quando na verdade o mármore é nacional, induzindo-a
a pagar um preço maior.

• O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, preservando-se,


contudo, a validade do negócio jurídico.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO POSITIVO E DOLO NEGATIVO
– DOLO POSITIVO é o resultante de uma ação;
– DOLO NEGATIVO (ou reticência) é o que advém da omissão. O dolo
negativo é o silêncio intencional acerca de determinado fato que se fosse
conhecido da outra parte o negócio não se teria realizado. Exemplo: vendo
o apartamento, silenciando que o mesmo não tem vaga de garagem.
• O dolo negativo, desde que principal, também é causa de anulação do negócio
e da indenização pelas perdas e danos. Se for acidental, só ensejará a
satisfação das perdas e danos.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLUS BONUS E DOLUS MALUS
– DOLUS BONUS (ou tolerável) é a conversa enganosa tolerada no mundo
dos negócios, pelo fato de a vítima, com um pouco de atenção, ter
condição de perceber o induzimento. É o artifício grosseiro, pueril,
facilmente perceptível pela atenção comum da vítima; o erro a que esta é
induzida é inescusável.
– Exemplo: O vendedor, quando realça as qualidades da coisa a ser vendida.
Comprador que subestima o objeto que está comprando, apontando-lhe os
defeitos.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLUS BONUS E DOLUS MALUS
– DOLUS BONUS (ou tolerável)

• No Código Civil não é causa de anulação do negócio jurídico, não


ensejando sequer a satisfação das perdas e danos.

• No Código de Defesa do Consumidor, o “dolus bonus” do fornecedor,


mediante propaganda que engana o consumidor, anula o negócio (arts.
37 e 38 da lei 8.078/90).
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLUS BONUS E DOLUS MALUS
• DOLUS MALUS (ou grave) - é o artifício fraudulento exagerado, isto é, não
tolerado no mundo dos negócios.

– Exemplo, quando o vendedor altera a aparência externa da coisa para


poder vendê-la.

• O dolus malus, desde que principal, é causa de anulação do negócio jurídico.


Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLUS BONUS E DOLUS MALUS
• DOLUS MALUS (ou grave)
• O critério de distinção entre dolus bonus e dolus malus deve ser feito à luz do
caso concreto, atento às condições pessoais da vítima e do burlão.
• Pode-se dizer que dolus malus é aquele capaz de enganar, de convencer a
outra parte; para esta, o erro a que foi induzida é escusável, ou seja, não
detectável, ainda que empregasse a atenção comum.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO BILATERAL OU RECÍPROCO - ocorre quando induzidor e induzido
encontram-se de má-fé, a ponto de um querer enganar o outro.
• Diante da torpeza bilateral, o dolo não pode ser invocado para anular o
negócio, ou reclamar indenização (art. 150 CC).

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o
negócio, ou reclamar indenização.

• Trata-se de aplicação do brocardo de que ninguém pode alegar a própria


torpeza (“nemo propriam turpitudinem allegans”). Em suma, o ato é válido.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO BILATERAL OU RECÍPROCO

• Exemplo: Em uma permuta em que ambas as partes agem com má-fé,


nenhuma delas poderá pleitear a anulação do negócio ou perdas e danos.

• Saliente-se, entretanto, que o art. 1.256 do CC atribui direito à indenização


em favor da pessoa que, de má-fé, plantou ou construiu em terreno alheio, se
o proprietário do imóvel houver também procedido de má-fé. Trata-se de
uma exceção ao princípio acima mencionado.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO DIRETO E DOLO DE TERCEIRO
– DOLO DIRETO - é o emanado de uma das partes.
– DOLO DE TERCEIRO - é o causado por quem não é parte no negócio.

• PARTE BENEFICIADA SABIA DO DOLO - Anula o negócio jurídico, ainda que


não tenha cooperado para o dolo. Além da anulação, ambos respondem
pelas perdas e danos.

• PARTE BENEFICIADA NÃO SABIA DO DOLO - O negócio jurídico será válido e


apenas o terceiro responderá pelas perdas e danos da parte a quem
ludibriou.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO DO REPRESENTANTE DE UMA DAS PARTES – Representante não é 3º.
O seu dolo anula o negócio jurídico, devendo o representante ainda arcar
com as perdas e danos. O representado, quando for incapaz, responde
civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do
representante convencional, o representado responderá solidariamente com
ele por perdas e danos (art. 149).

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder
civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante
convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO
• DOLO QUANTO À IDADE

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma
obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte,
ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

– Assim, o negócio jurídico celebrado pelo menor púbere desassistido do


representante legal será válido se ele omitiu dolosamente a sua idade ou
declarou-se maior. Necessário, porém que, além da boa-fé, que o erro da
outra parte seja escusável, pois se lhe era possível perceber o artifício, como
no caso de menor com aparência infantil, o negócio poderá ser anulado.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
• ESPÉCIES DE DOLO

– DOLO CIVIL - é a astúcia empregada para enganar alguém, induzindo-o à


celebração de um negócio jurídico.

– DOLO PENAL - não é a vontade de enganar e sim o fato de o agente


querer ou assumir o risco de praticar o fato criminoso;

– DOLO PROCESSUAL - consiste na má-fé processual, tais como as


afirmações falsas e as provocações de incidentes para protelar o
andamento do processo, etc.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo

Seção II
Do Dolo

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a
seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito
de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se
que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Dolo
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o
negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem
ludibriou.

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a
responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do
representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e
danos.

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o
negócio, ou reclamar indenização.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Erro

Estado de perigo

Vícios de
Lesão
consentimento

Coação

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo

Fraude contra
Credores
Vícios sociais
Simulação
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Coação
• COAÇÃO – “Toda violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar
negócio jurídico que a sua vontade interna não deseja efetuar” (Stolze). “É a
pressão física ou moral exercida sobre alguém para induzi-lo à prática de um
ato”. (Washington de Barros). Pressão indevida sobre contraente para obrigá-
lo a efetivar certo ato negocial.

• Enquanto o dolo manifesta-se pelo ardil, a coação se caracteriza pela violência


física ou psíquica (ou moral).

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz,
com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Coação
• ESPÉCIES: A coação pode ser física ou moral.
– COAÇÃO FÍSICA (vis absoluta ou corporalis), a vontade do coagido é
completamente eliminada.
• Exemplo: O coator, para realizar o negócio jurídico, coordena o
movimento ou a passividade muscular do coagido. Este não tem
qualquer opção de agir num ou noutro sentido.

• NÃO SE TRATA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. Trata-se de um negócio


jurídico inexistente, diante da completa ausência de vontade. Porém,
que alguns autores dizem que haverá nulidade absoluta.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Coação
• ESPÉCIES: A coação pode ser física ou moral.
– COAÇÃO MORAL (vis compulsiva), a vítima sofre uma grave ameaça,
indutiva da prática do negócio jurídico, podendo, porém, optar entre o ato
e o dano, com que é ameaçada. Portanto, a vítima conserva relativamente
a sua vontade, não obstante a chantagem do coator. Ainda que o mal
prometido seja a sua própria morte, não se pode negar que lhe resta uma
opção. Essa opção não existe na coação física. Nesta, o coagido não tem a
mínima possibilidade de evitar o mal, pois o seu corpo é apenas o
instrumento da celebração do negócio jurídico.

– O Código cuida apenas da coação moral, prevendo a nulidade relativa do


negócio jurídico.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Coação
• REQUISITOS DA COAÇÃO - Para anular o negócio jurídico deve:

– Ser uma ameaça capaz de constranger;

– Referir-se à pessoa do coagido, seus bens ou entes queridos;

– O mal prometido deve ser injusto;

– O mal prometido deve ser iminente;

– Ameaça deve ser a razão determinante do negócio jurídico.


Defeitos dos Negócios Jurídicos – Coação

Seção III
Da Coação

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com
base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade
dela.

Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples
temor reverencial.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Coação
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter
conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por
perdas e danos.

Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que
aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por
todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Erro

Estado de perigo

Vícios de
Lesão
consentimento

Coação

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo

Fraude contra
Credores
Vícios sociais
Simulação
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Lesão
• CONCEITO DE LESÃO - o prejuízo resultante da desproporção existente entre
as prestações de um determinado negócio jurídico, em face do abuso da
inexperiência, necessidade econômica ou leviandade de um dos declarantes
(Stolze).

• Traduz, muitas vezes, o abuso do poder econômico de uma das partes, em


detrimento da outra, hipossuficiente na relação jurídica.

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação
oposta.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Lesão
• ELEMENTOS DA LESÃO
A. OBJETIVO (Desequilíbrio entre as prestações) A lesão inspira-se no propósito de evitar a
onerosidade excessiva que pode viciar o contrato em sua formação. O desequilíbrio deve estar
presente já na gênese do contrato (art. 157. § 1º). Se for superveniente à formação do
contrato, não há que se invocar a lesão, devendo a parte prejudicada recorrer à resolução ou
revisão contratual por onerosidade excessiva (arts. 478-480 c/c 317).

B. SUBJETIVO (Necessidade ou Inexperiência) – exige o legislador a presença de um elemento


subjetivo para a configuração da lesão: o contratante que sofre o ônus excessivo deve ter se
obrigado “sob premente necessidade, ou por inexperiência” (art. 157).
• Caio Mário da Silva Pereira enxergou aí a exigência de um dolo de aproveitamento, que “se configura
na circunstância de uma das partes aproveitar-se das condições em que se encontre a outra,
acentuadamente a sua inexperiência, a sua leviandade ou o estado de premente necessidade em
que se acha, no momento de contratar”. Tal entendimento influenciou decisivamente a maior parte
da doutrina e jurisprudência brasileiras, que continua a aludir ao dolo de aproveitamento como
requisito da lesão.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Lesão
• ESPÉCIES DE LESÃO - pode ser: enorme, especial e usurária.
A. LESÃO ENORME (Código de Defesa do Consumidor) – É o lucro exorbitante obtido por
uma das partes contratantes. Assim, para caracterizar-se, basta a desproporção entre
as prestações. O valor excessivo deve ser apurado pelo juiz, no caso concreto (arts.
arts. 6º, V, e 51, IV CDC).

Lucro Excessivo

B. LESÃO ESPECIAL (ou lesão-vício – Código Civil) – nesta, além do lucro excessivo, exige
a situação de necessidade ou inexperiência da parte prejudicada. Não se exige o dolo
de aproveitamento.

Lucro Excessivo + Necessidade/Inexperiência


Defeitos dos Negócios Jurídicos – Lesão
• ESPÉCIES DE LESÃO - pode ser: enorme, especial e usurária.
C. LESÃO USURÁRIA (ou usura real) - além do lucro excessivo e da situação de
necessidade ou inexperiência da parte lesada, para se caracterizar, exige ainda o dolo
de aproveitamento, consistente na má-fé da parte beneficiada.
• Essa lesão é prevista no art. 4º da Lei 1.521/51, encontrando-se tipificada como
crime contra a economia popular, caso o lucro patrimonial exceda a um quinto do
valor da prestação, isto é, 20% (vinte por cento). Nesse caso, de acordo com Silvio
Rodrigues, a nulidade é absoluta, por ilicitude do seu objeto. O § 3º do mesmo artigo
manda o juiz ajustar os lucros usurários à medida legal, devendo ordenar a
restituição da quantia paga em excesso, com os juros legais, de modo que a situação
não é de nulidade absoluta, mas relativa, pois o ato é preservado na parte válida.

Lucro Excessivo + Necessidade/Inexperiência + Dolo de aproveitamento


Defeitos dos Negócios Jurídicos – Lesão

Seção V
Da Lesão

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação
oposta.

§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que


foi celebrado o negócio jurídico.

§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a


parte favorecida concordar com a redução do proveito.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Erro

Estado de perigo

Vícios de
Lesão
consentimento

Coação

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo

Fraude contra
Credores
Vícios sociais
Simulação
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Estado de Perigo
• CONCEITO DE ESTADO DE PERIGO – “quando o agente, diante de situação de perigo
conhecido pela outra parte, emite declaração de vontade para salvaguardar direito
seu, ou de pessoa próxima, assumindo obrigação excessivamente onerosa” (Stolze).
Trata-se de inexigibilidade de conduta diversa, ante a iminência de dano por que
passa o agente, a quem não resta outra alternativa senão praticar o ato.
• Vício assemelhado ao estado de perigo é a lesão.
• Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-
se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa (art. 156).
• Exemplo: pessoa que, precisando de tratamento médico urgente, concorda em
pagar quantia desproporcional ao procedimento que será efetuado ou da pessoa
que, sujeita a violência iminente, aceita pagar preço excessivo pelo seu transporte a
outra região.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Estado de Perigo
• Exemplos: o indivíduo, abordado por assaltantes, oferece uma recompensa ao
seu libertador para salvar-se; o sujeito está se afogando e promete doar
significativa quantia ao seu salvador; o dono da embarcação fazendo água se
compromete a remunerar desarrazoadamente a quem o leve para o porto.
“Meu reino por um cavalo” (Shakespeare).
• Ato de garantia (prestação de fiança ou emissão de cambial) prestado pelo
indivíduo que pretenda internar alguém, em caráter de urgência, em UTI.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Estado de Perigo
• ELEMENTOS DO ESTADO DE PERIGO
A. OBJETIVO (obrigação excessivamente onerosa) – O elemento objetivo do
estado de perigo consubstancia-se na assunção de obrigação excessivamente
onerosa. A expressão não é idêntica àquela empregada na disciplina da lesão,
na qual o Código Civil fala em “prestação manifestamente desproporcional ao
valor da prestação oposta”, mas a doutrina brasileira trata ambas as referências
como sinônimas. É de se registrar, todavia, que o conceito legal do estado de
perigo permitiria, em teoria, sua aplicação também a contratos unilaterais
onerosos, o que já não ocorre na lesão.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Estado de Perigo
• ELEMENTOS DO ESTADO DE PERIGO
B. SUBJETIVO (conhecida necessidade de salvar-se) – é exigido tanto em relação à
vítima como em relação à parte que se beneficia do negócio jurídico. Em
relação à vítima, caracteriza-se pela situação de inferioridade em que se
encontra a vítima, qualificada pela necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua
família de grave dano. Já em relação à outra parte, o elemento subjetivo
caracteriza-se pelo estado de consciência quanto à ameaça que paira sobre o
declarante. Aqui, portanto, ao contrário do que ocorre na disciplina da lesão, o
Código Civil exige o conhecimento da contraparte a respeito do risco que recai
sobre o declarante que se encontra ameaçado pelo perigo. A lei não requer,
registre-se, a demonstração de dolo de aproveitamento ou conduta maliciosa,
mas tão somente que o dano seja “conhecido pela outra parte”.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Estado de Perigo
• Dispositivo inédito no ordenamento jurídico brasileiro que corresponde ao
“stato di pericolo” do Direito Italiano, diferendo que naquele país o intuito se
presta a rescindir o contrato e não a anular, como aqui acontece.

• Como este instituto, pretende o Código Civil proteger não apenas a livre
vontade, como também a moralidade, cuja ofensa deve estar inserida no
negócio jurídico.

• No estado de perigo, é necessário que a outra parte, seja sabedora do grave


dano que a pessoa passa e, em virtude disso, aproveita-se da situação e exige
benefício extremamente oneroso ao declarante.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Estado de Perigo

Seção IV
Do Estado de Perigo

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-
se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação
excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz


decidirá segundo as circunstâncias.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Erro

Estado de perigo

Vícios de
Coação ANULÁVEIS
consentimento

Lesão

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo

Fraude contra
Credores
Vícios sociais
Simulação NULO
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

• CONCEITO - A fraude contra credores, também considerada vício social,


consiste no ato de alienação ou oneração de bens, assim como de remissão de
dívida, praticado pelo devedor insolvente, ou à beira da insolvência, com o
propósito de prejudicar credor preexistente, em virtude da diminuição
experimentada pelo seu patrimônio (Stolze).

• Constitui a prática maliciosa, pelo devedor, de certos atos que desfalcam seu
patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em
detrimento dos direitos creditórios alheios. (Maria Helena Diniz)

• Anulação da Fraude - a anulação do ato praticado em fraude contra credores


dá-se por meio de uma ação revocatória, denominada “ação pauliana”.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

• Casos de Fraude contra Credores:


a) negócios de transmissão gratuita de bens — art. 158, “caput” (doação, v. g.);
b) remissão de dívidas — art. 158, “caput” (o devedor insolvente perdoa dívida de
terceiro, v. g.);
c) contratos onerosos do devedor insolvente, em duas hipóteses (art. 159):
• quando a insolvência for notória;
• quando houver motivo para ser conhecida do outro contratante (a pessoa
que adquire o bem do devedor é um parente próximo, que deveria presumir
o seu estado de insolvência);
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

• Casos de Fraude contra Credores:


d) antecipação de pagamento feita a um dos credores quirografários, em
detrimento dos demais — art. 162 (neste caso, a ação é proposta também
contra o beneficiário do pagamento da dívida não vencida, que fica obrigado a
repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores, aquilo que recebeu);
e) outorga de garantia de dívida dada a um dos credores, em detrimento dos
demais — art. 163 (firma-se, aqui, uma “presunção de fraude”. É o caso da
constituição de hipoteca sobre bem do devedor insolvente, em benefício de
um dos credores).
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

Seção VI
Da Fraude Contra Credores

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o


devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser
anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a
insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este
for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de
todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço
que lhes corresponda ao valor real.

Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros
adquirentes que hajam procedido de má-fé.

Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida
ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de
efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas
que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à


manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e
de sua família.

Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do


acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.

Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais,
mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da
preferência ajustada.
Defeitos dos Negócios Jurídicos
Erro

Estado de perigo

Vícios de
Coação ANULÁVEIS
consentimento

Lesão

Defeitos do
Negócio Jurídico Dolo

Fraude contra
Credores
Vícios sociais
Simulação NULO
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Simulação
• SIMULAÇÃO - Embora o Código Civil deixe de tratar a simulação ao lado dos
demais vícios de consentimento, deslocando-a para o capítulo referente à
“Invalidade do Negócio Jurídico” (art. 167) — em que a considera como causa
de nulidade e não mais de anulação do ato jurídico, tratamos por aqui por
questão didática.

• CONCEITO - “é uma declaração enganosa de vontade, visando produzir efeito


diverso do ostensivamente indicado” (Clóvis Beviláqua).

“Na simulação celebra-se um negócio jurídico que tem aparência normal,


mas que, na verdade, não pretende atingir o efeito que juridicamente devia
produzir” (Stolze).
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Simulação
• ESPÉCIES DE SIMULAÇÃO

– SIMULAÇÃO ABSOLUTA - quando a declaração enganosa da vontade exprime um


negócio jurídico bilateral ou unilateral, não havendo intenção de realizar ato
negocial algum. Exemplo: é o caso da emissão de títulos de crédito, que não
representam qualquer NJ, feita pelo marido antes da separação judicial para
lesar a mulher na partilha de bens.

– SIMULAÇÃO RELATIVA (ou dissimulação)- é a que resulta no intencional


desacordo entre a vontade interna e a declarada. Exemplo: Ante a proibição legal
(Art. 550), o alienante simula uma compra e venda, para encobrir o ato que
efetivamente se quer praticar, que seria uma doação do bem com o efeito de
transferência gratuita da propriedade.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Simulação
• ESPÉCIES DE SIMULAÇÃO

Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro
cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade
conjugal.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Simulação
• ESPÉCIES DE SIMULAÇÃO

– SIMULAÇÃO NOCENTE - É a simulação absoluta ou relativa na qual há o prejuízo


de terceiros. O ato é considerado existente, porém inválido.

– SIMULAÇÃO INOCENTE - Não há prejuízo de terceiros. A simulação inocente é a


que se faz sem o intuito de prejudicar, como ocorre, por exemplo, no caso de um
homem solteiro simular qualquer venda à sua companheira, ocultando na
verdade uma doação, pois não há qualquer impedimento para este ato. Não tem
relevância prática no direito civil.
• O art. 550 proíbe a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice. Pode esta ser anulada pelo
outro cônjuge ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a
sociedade conjugal.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Simulação
• EXEMPLOS DE ATOS SIMULADOS
– O vendedor faz constar da escritura de compra-e-venda o valor de R$100.000,00,
quando a venda foi feita, realmente, por R$ 200.000,00;
– O comerciante que, como o intuito de evitara a já requerida falência, emite títulos em
favor de amigos com data anterior ao pedido para gerar créditos que lhe serão
repassados, quando recebidos;
– Homem casado, para contornar a proibição legal de fazer doação à concubina, simula a
venda a um terceiro, que transferirá o bem àquela;
– O pai que “vende” um apartamento a um filho sem a permissão dos outros
descendentes, mas que na verdade, realiza uma doação;
– O testamento, nos casos onde houver cláusula testamentária mencionando confissão
de dívida a alguém para prejudicar os herdeiros;
– Compra e venda de imóvel com promessa de devolução;
– Pagamento de parte do financiamento pelo vendedor.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Simulação
• SIMULAÇÃO E FIGURAS ASSEMELHADAS
– SIMULAÇÃO E RESERVA MENTAL
• Reserva Mental (art. 110) a vontade permanece interna, a pessoa não a
exterioriza àquele a quem é destinada a declaração de vontade; o destinatário
não a conhece. A reserva mental não é considerada como defeito invalidante
do ato jurídico porque, sendo interna, não tem significado para o Direito.
• Simulação: os outros têm conhecimento da vontade; só o terceiro
prejudicado a desconhece.

• Observação: No BGB (Código Civil Alemão) há uma norma explícita no §116: a


reserva mental será causa de nulidade se o outro figurante (aquele a quem se
destina a declaração da vontade) tiver conhecimento. O Código Civil Brasileiro
de 2002 também segue esta mesma orientação.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Simulação
• CONSEQUÊNCIAS DA SIMULAÇÃO INVALIDANTE
– EFEITOS DA SIMULAÇÃO:
• Questão de ordem pública e de interesse social, que torna o negócio jurídico
nulo. Independe de ação judicial para ser reconhecida. o juiz deve examiná-la ex
officio, independentemente de alegação da parte ou de interessados. Qualquer
das partes, o Ministério Público e os interessados têm legitimidade para arguir a
nulidade.
• Pode ser alegada como objeção de direito material (defesa) e deve ser
reconhecida de ofício pelo juiz, a qualquer tempo e grau ordinário de jurisdição.
• É insuscetível de confirmação pelas partes ou de convalidação pelo decurso do
tempo.
• O reconhecimento da nulidade não está sujeito à prescrição, decadência ou
preclusão.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for
na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente
se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio
jurídico simulado.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer
interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio
jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda
que a requerimento das partes.
Defeitos dos Negócios Jurídicos – Fraude contra Credores

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo
decurso do tempo.

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este
quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem
previsto a nulidade.
Faculdade de Direito de Franca
1º Ano
Direito Civil I

Quadro Geral dos Defeitos do Negócio Jurídico


Quadro Geral dos Defeitos dos Negócios Jurídicos

Defeito Vício Invalidade Artigos Conceito Exemplo

Erro Consentimento Anulável 138 a Erro é a noção falsa acerca de Compra de um relógio
144 um objeto ou de determinada dourado, supondo que é
pessoa. de ouro.
Estado Consentimento Anulável 156 É assumir obrigação O doente, em perigo de
de excessivamente onerosa para vida, que paga honorários
Perigo evitar um dano pessoal, que é excessivos para o
do conhecimento da outra parte. cirurgião.
Coação Consentimento Anulável 151 a É a pressão física ou moral A colocação da
155 exercida sobre alguém para impressão digital do
induzi-lo à prática de um ato. analfabeto no contrato,
agarrando-se à força o seu
braço.
Quadro Geral dos Defeitos dos Negócios Jurídicos
Defeito Vício Invalidade Artigos Conceito Exemplo

Lesão Consentimento Anulável 157 É o prejuízo resultante da Financiamento abusivo do


desproporção existente entre primeiro automóvel ao
as prestações de um jovem.
determinado negócio jurídico, Contratação para trabalho
em face do abuso da mensal por retribuição
inexperiência, necessidade inferior ao salário mínimo.
econômica ou leviandade de
um dos declarantes.
Dolo Consentimento Anulável 145 a É todo artifício empregado Vendedor induz o
150 para enganar alguém, comprador que um relógio
induzindo-o à pratica de um dourado é de ouro.
negócio jurídico.
Quadro Geral dos Defeitos dos Negócios Jurídicos
Defeito Vício Invalidade Artigos Conceito Exemplo

Fraude Social Anulável 158 a É a prática maliciosa, pelo O devedor insolvente, ou na


contra 165 devedor, de atos que desfalcam iminência de o ser, que
Credores seu patrimônio, com o fim de desfalca seu patrimônio,
colocá-lo a salvo de uma onerando ou alienando bens,
execução por dívidas em subtraindo-os à garantia
detrimento dos direitos de comum dos credores com o
crédito alheios. fim de salvá-los de uma
provável execução por
dívidas.
Simulação Social Nulo 167 É a declaração falsa, enganosa, A doação de homem casado
da vontade, visando produzir à concubina, através de uma
efeito diverso do ostensivamente compra e venda simulada.
indicado, com o fim de criar uma
aparência de direito, para iludir
terceiros ou burlar a lei.

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