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■ INTRODUÇÃO
A humanidade tem assistido, nos últimos dois séculos, a um avanço tecnológico sem precedentes na história. O mundo tornou-se globalizado, e a população cada vez mais urbanizada. Há necessidade crescente de
grandes deslocamentos, em tempos cada vez menores, provocando grande avanço da indústria, do consumo e da utilização de meios de locomoção motorizados. Observa-se, ainda, aumento exponencial da
violência urbana, com maior uso de armas de fogo.
De outra maneira, os esportes estão cada vez mais radicais, com maior demanda motora e de habilidades dos atletas profissionais e amadores. A humanidade está mais longeva, trazendo consigo novos eventos
patológicos associados ou não ao trauma e que criam nova demanda às ciências médicas e fisioterapêuticas.
As lesões traumáticas constituem um dos problemas médicos mais importantes da sociedade porque são a principal causa de perda de anos potenciais de vida da população mundial.1 A implementação de avaliação
de sistemas de trauma pela American College of Surgeons (ACS), com a padronização do Advanced Trauma Life Support (ATLS), em 1980, vem influenciando positivamente a sobrevida dos pacientes
politraumatizados, assim como a qualidade dos cuidados prestados e sua recuperação.2
O avanço tecnológico e das ciências da saúde tem proporcionado, na maioria dos países, maior sobrevida de seus cidadãos. Novos desafios com a longevidade da população estão estabelecidos, pois a incidência
de patologias inerentes a essa condição aumentou.
Idosos podem apresentar osteoporose, artrose, demência senil e doenças vasculares periféricas crônicas, com comorbidades importantes, como diabetes melito e hipertensão arterial sistêmica, que podem evoluir
para necessidade de eventos cirúrgicos e cuidados especiais.
O paciente politraumatizado desenvolve, comumente, lesões múltiplas, podendo apresentar comprometimento de mais de um sistema do corpo. Dessa forma, deverá ser atendido por uma equipe multidisciplinar, da
qual farão parte:
cirurgião geral;
cardiologista;
neurologista;
ortopedista;
anestesista;
enfermeiros – para cuidados com curativos, orientação e supervisão da administração de medicamentos;
nutricionista – para cuidados com dieta parenteral, enteral ou oral, de acordo com o estado clínico do paciente;
fisioterapeuta – para prevenção de contraturas musculares e deformidades articulares, para suporte no desmame da ventilação mecânica (VM) e para restabelecimento da função cardiopulmonar.
Deve haver conhecimento preciso do momento e do tempo de atuação de cada profissional na assistência ao paciente.
As lesões traumatológicas que necessitam de cuidados intensivos estão relacionadas, principalmente, aos traumas de alta energia em pacientes jovens e a quedas nos extremos de idade (crianças e idosos). Entre
as patologias da terceira idade com repercussões ortopédicas importantes, está a osteoporose, que é uma doença metabólica sistêmica com consequente desmineralização óssea, que deixa o paciente suscetível à
fratura e à osteoartrose, também conhecida como osteoartrite ou doença articular degenerativa.
Neste artigo, serão abordados os conceitos de politrauma, associando-o às fraturas complexas, assim como as repercussões na coluna vertebral, na cintura pélvica e no fêmur, e de osteoartrose, considerando os
aspectos clínicos e fisioterapêuticos mais relevantes.
■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, espera-se que o leitor seja capaz de:
■ ESQUEMA CONCEITUAL
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■ POLITRAUMA
O politrauma, ou trauma múltiplo, é um termo médico que descreve a condição de uma pessoa que tenha sido submetida a múltiplas lesões traumáticas, como traumatismo craniano grave, fraturas
complexas, traumas abdominais associados ou não, em que, pelo menos, uma ou a combinação de várias dessas lesões, é potencialmente letal.3
Os pacientes com fraturas isoladas devem ser diferenciados dos pacientes com múltiplos ferimentos. O efeito de várias fraturas sobre a fisiologia sistêmica não é o mesmo que o das fraturas individuais, uma vez que
o sangramento causado por múltiplas fraturas pode desencadear choque hipovolêmico.
As fraturas descritas a seguir podem levar a lesões de vasos e causar choque hipovolêmico com risco de morte:4
A melhor abordagem para avaliação, considerando os fatores essenciais, orientando sobre o diagnóstico preciso e sobre a tomada de decisão acerca do tratamento, é a realização da classificação da fratura.
Dessa forma, proporcionará melhor recuperação e diminuição de complicações e prevenção de erros, influenciando no prognóstico e no processo de reabilitação.
EPIDEMIOLOGIA
O politrauma cumpre os critérios de classificação da doença para uma pandemia global, por ser uma causa recorrente e significativa de morbidade e de mortalidade, ao longo do tempo e em todos os continentes,
apesar de esforços para controlar seu impacto.
Em todo o mundo, cerca de 16 mil pessoas morrem todos os dias como resultado de uma lesão (5,8 milhões de mortes por ano), e as projeções para 2020 mostram que 8,4 milhões de mortes por ano são
esperadas.6 Sendo assim, o politrauma continua a ser a causa mais comum de morte e de incapacidade em crianças e adultos jovens no mundo desenvolvido.6
Segundo o Ministério da Saúde, em 2009, ocorreram 38.469 óbitos por acidentes automobilísticos no Brasil e, nos últimos quatro anos, o número de internações em função dessa causa aumentou 66,2%, enquanto
os gastos com serviços hospitalares aumentaram 90,5%, sobrecarregando o sistema de saúde. Análises das taxas dessas ocorrências em 100 países colocam o Brasil entre os dez primeiros na relação das maiores
taxas de mortalidade no trânsito.7
ETIOLOGIA
As fraturas por politrauma são mais frequentes em pacientes jovens, em virtude dos acidentes que envolvem veículos motorizados, agressão por projétil de arma de fogo (PAF) e atividade física de alto impacto de
contato ou manobras radicais.
Fraturas complexas ou que necessitem de suporte intensivo ocorrem de forma bimodal. Nos idosos, as fraturas com complicações sistêmicas ocorrem normalmente por queda da própria altura. Nesse grupo de
pacientes, geralmente estão presentes comorbidades que irão agravar o quadro da fratura (osteoporose, diabetes melito, encefalopatias adquiridas, etc). Nas crianças, quedas e espancamentos estão entre as
principais causas de fraturas.
FISIOPATOLOGIA
As fraturas por trauma de alta energia provocam lesões importantes nos tecidos moles, causadas pela própria energia do trauma ou por fragmento de osso fraturado. O estado da ferida após a lesão é determinado
pelos fatores8 descritos no Quadro 1, a seguir.
Quadro 1
A combinação dos fatores que determinam o estado da ferida após a lesão irá produzir tipos de feridas que diferem não só na sua forma, mas também no tipo de tratamento necessário e no prognóstico para
a cura.
Qualquer lesão provoca a destruição do tecido e hemorragia, ativando os mecanismos humoral e celular para cessar o sangramento e para resistir à infecção. Os processos de cura sequenciais, começando
imediatamente após o trauma, podem ser divididos em três fases:8
1. Por que os pacientes com fraturas isoladas devem ser diferenciados de pacientes com múltiplos ferimentos?
2. Quais fraturas podem levar a lesões de vasos e causar choque hipovolêmico com risco de morte?
3. Quais são as orientações a serem seguidas em caso de fraturas com lesão do tecido mole?
6. O que ocorre se a capacidade dos macrófagos for sobrecarregada por quantidade excessiva de tecido necrótico?
7. Na fase inflamatória inicial, por que as áreas de hipóxia e as áreas avasculares apresentam especial risco de infecção?
■ ABORDAGEM CLÍNICA
Entre as fraturas complexas e/ou graves com maior repercussão hemodinâmica, estão as fraturas da coluna vertebral e da cintura pélvica. Além dessas, há a fratura diafisária de fêmur e a osteoartrose, que
também serão abordadas a seguir.
As lesões graves geralmente resultam em instabilidade da coluna, com elevado risco de lesão da medula espinhal e dor.
Nos traumas da coluna, o prejuízo para sua estabilidade e função pode ser devastador. Algum grau de déficit neurológico ocorre em:
dor localizada;
politraumatismo, com qualquer lesão traumática na cabeça;
lesões faciais;
inconscientes ou obnubilados;
acidentes de trânsito.
A coluna vertebral toracolombar deve ser protegida pelo uso de colete de estabilização.
A avaliação ortopédica do paciente deve incluir a avaliação esquelética e de lesões neurológicas, e verificar lesão medular associada, identificar instabilidade e potencial instabilidade, classificar criteriosamente a
lesão e estabelecer um plano de gestão completo.
A coluna vertebral deve ser inspecionada e palpada do occipital ao cóccix, e a presença dos seguintes sinais indica lesão significativa:
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Todos os grupos musculares devem ser avaliados e classificados em uma escala neurológica. Fraquezas musculares devem ser classificadas de acordo com o escore de força muscular proposto pelo Medical
Research Council (MRC), conforme pode ser verificado no Quadro 2, a seguir.
Quadro 2
2 Não apresenta força muscular suficiente para poder agir contra a gravidade
5 Potência total
leve toque;
picada de agulha;
propriocepção;
vibração.
Todos os dermátomos devem ser examinados bilateralmente, e os seguintes reflexos devem ser documentados:
bicipital;
tricipital;
braquioestilorradial;
patelar;
aquileu.
A avaliação do reflexo bulbo cavernoso é obrigatória, se houver qualquer suspeita de lesão neurológica. Os níveis sensorial e motor devem ser registrados.
Em pacientes com lesão da medula espinhal, os sinais vitais devem ser monitorados continuamente, incluindo:5
Ainda não existe consenso sobre a melhor forma de tratamento cirúrgico para fraturas da coluna cervical. Muitos centros usam a tração cervical prévia para redução fechada da luxação cervical e, em um segundo
momento, a fixação da lesão cervical. Outros centros preferem a redução aberta da luxação por via anterior, por meio da discectomia e por manobras com o distrator de Caspar e/ou um afastador interlaminar.
O tratamento precoce da lesão medular incompleta da coluna cervical é de fundamental importância para melhor recuperação. Sendo assim, técnicas de descompressão medular, associadas à redução e
artrodese ao mesmo tempo, são mais efetivas e seguras para os pacientes com esse tipo de lesão medular.12,13
Os principais objetivos do tratamento das fraturas da coluna vertebral são:
A realização de artrodeses curtas e a não utilização de imobilização externa no período pós-operatório possibilitam que os objetivos do tratamento das fraturas da coluna vertebral sejam alcançados.11-14.
As fraturas da coluna toracolombar, em sua maioria, são lesões estáveis e que podem ser tratadas por métodos não cirúrgicos, como:
repouso no leito;
órteses;
mobilização precoce.
Os parâmetros utilizados para a indicação do tratamento cirúrgico dessas fraturas estão fundamentados na presença de:
instabilidade;
déficit neurológico;
compressão do canal vertebral;
presença de lesões associadas que impeçam a realização do tratamento cirúrgico por meio de abordagem conservadora.
As indicações absolutas para a realização do tratamento cirúrgico são:13
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ç p ç g
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lesões abertas com exposição da medula espinhal;
déficit neurológico após um intervalo de tempo sem sintomas;
déficit neurológico progressivo;
fraturas irredutíveis por meios conservadores;
risco de lesão neurológica em função da instabilidade.
FRATURAS PÉLVICAS
Lesões pélvicas são raras quando comparadas às fraturas em outras regiões do corpo, porém sua casuística vem aumentando e constituem umas das principais lesões que necessitam de atendimento intensivo
multidisciplinar.
A incidência global das lesões pélvicas é estimada em cerca de 3% de todas as fraturas ou 19 a 37 ferimentos por 100 mil habitantes por ano. Entre os pacientes “politraumatizados”, a incidência aumenta para cerca
de 25%. No grupo de mortes relacionadas ao tráfego, foram detectadas fraturas pélvicas em até 42% destes óbitos.7
A lesão pélvica deve, portanto, ser encarada como indicador de um grande trauma até lesões associadas serem definitivamente excluídas. A estreita proximidade de estruturas osteoligamentares, órgãos pélvicos,
neurovasculares, vísceras ocas e estruturas urogenitais podem conduzir à ampla gama de complicações graves e sequelas tardias, se não forem diagnosticadas e tratadas precocemente.13,14
ultrassonografia;
uretrocistografia;
eletromiografia;
RM.
As maiores complicações das lesões do anel pélvico estão relacionadas a lesões de pequenos vasos (artéria glútea superior, pudenda e obturatriz), que levam a choque hipovolêmico, e a lesões associadas
do trato genitourinário e outras vísceras.
A abordagem ortopédica de emergência, na presença de fraturas complexas e instáveis, consiste na colocação de fixador externo para restabelecimento do continente pélvico.14
As fraturas podem ser estáveis ou instáveis. Nas fraturas instáveis, podem ocorrer:
O tratamento ortopédico definitivo deve ocorrer após a estabilização hemodinâmica do paciente e a diminuição do risco de infecção, sendo realizado por meio de síntese com placa e parafusos.4,13,14
edema;
eritema;
deformidade;
crepitação;
aumento do volume segmentar;
limitação funcional.
O estado neurovascular do paciente deve ser verificado criteriosamente na avaliação inicial. As articulações do quadril e do joelho (risco aumentado de lesões meniscais e ligamentares associadas) devem ser
avaliadas clinicamente, buscando-se lesões associadas de partes moles após a estabilização da fratura, com o paciente ainda anestesiado.13,14
O diagnóstico é confirmado com radiografias, incluindo as articulações adjacentes e a pelve (alto risco de lesão associada).
O tratamento da fratura diafisária do fêmur deve seguir protocolo definido após verificação de lesões associadas ou não. Caso o paciente tenha sofrido outras lesões cirúrgicas, após sua estabilização
hemodinâmica, realiza-se a tração transesquelética, até a diminuição do risco de eventos adversos, seguida de tratamento definitivo com síntese, que pode ser por meio de placas e parafusos (diversos
mecanismos) ou de haste intramedular. Se o paciente sofreu fratura exposta com lesão importante de partes moles, um fixador externo deve ser inicialmente indicado.4,14
OSTEOARTROSE
A osteoartrose é uma patologia degenerativa articular progressiva, com comprometimento da cartilagem que atinge as articulações sinoviais, dando origem a zonas de fibrilação e fissuração causadas por
eventos mecânicos ou por predisposição genética.16-18
Na osteoartrose, podem ser observadas microfraturas, cistos e esclerose no osso subcondral e formação de osteófitos nas bordas articulares. Está associada à dor e rigidez articular, deformidade e progressiva
perda da função, afetando o indivíduo em múltiplas dimensões, do nível orgânico até o social.16,18.
O tratamento inicialmente é clínico, por meio do uso de:
analgésicos;
anti-inflamatórios;
condroprotetores;
tutores (braces);
palmilhas.
Em seu estado avançado, caracterizado por tratamento conservador não eficiente para cessação da dor e melhora da mobilidade, realiza-se tratamento cirúrgico com:13
A abordagem fisioterapêutica pré e pós-operatória é um procedimento cada vez mais utilizado em serviços de ortopedia. Representa uma necessidade e é considerada fundamental para o sucesso
terapêutico.
A reabilitação funcional da articulação no período pós-operatório imediato, principalmente com exercícios passivos, passivos-assistidos, ativos e ativos-resistidos são indispensáveis para melhor adaptação à
prótese.23,24
A) Lesões com indicação de tratamento cirúrgico fundamentado na presença de instabilidade, déficit neurológico e compressão do canal vertebral.
B) Lesões estáveis e que podem ser tratadas por métodos não cirúrgicos, como repouso no leito, órteses ou mobilização precoce.
C) Lesões estáveis, com indicação de tratamento cirúrgico fundamentado na presença de instabilidade, déficit neurológico e compressão do canal vertebral.
D) Lesões instáveis que podem ser tratadas por métodos não cirúrgicos, como repouso no leito, órteses ou mobilização precoce.
Confira aqui a resposta
11. Qual deve ser a conduta caso haja qualquer suspeita de lesão neurológica?
12. As maiores complicações das lesões do anel pélvico em traumas de alta energia estão relacionadas
A) 3 – 2 – 1
B) 1 – 3 – 2
C) 2 – 3 – 1
D) 3 – 1 – 2
Confira aqui a resposta
16. Na fratura diafisária de fêmur, qual deve ser a conduta inicial caso o paciente tenha sofrido fratura exposta com lesão importante de partes moles?
■ ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA
A abordagem fisioterapêutica no pós-operatório deve ter início logo após a conduta ortopédica e pode ser conservadora, ou seja, quando não há intervenção cirúrgica (imobilização com gesso, órtese ou trações) ou
após a cirurgia propriamente dita, também chamada de procedimento cruento (artroplastia, osteossíntese, fixador externo, enxerto ósseo, entre outros).25
A boa interação entre a equipe responsável pela cirurgia e a equipe responsável pela reabilitação do indivíduo é de grande importância, pois aumentará a probabilidade de obtenção de melhores
prognósticos.
O tratamento fisioterapêutico deve ser precoce, porém é importante conhecer:
AVALIAÇÃO INICIAL
A fisioterapia tem desenvolvido uma vasta abordagem tanto na avaliação quanto no tratamento dos pacientes, a fim de guiar o profissional por meio de séries sistemáticas e tomadas de decisões precisas, para
intervir, no mais alto nível, na reabilitação dos seus pacientes.
De forma pontual, pode-se dizer que o processo de tratamento fisioterapêutico tem cinco componentes básicos, que são:25,26.
disfunções visíveis;
déficits funcionais;
anormalidades de alinhamento;
discrepância de segmentos.
O examinador deve estar posicionado de forma que seu olho dominante seja utilizado.
Durante a avaliação, devem-se observar se há mau alinhamento ou alteração no formato do osso, se os contornos referentes aos tecidos moles (músculos, pele, gordura) são normais e simétricos e a presença de
perda de massa muscular evidente.
Distúrbios cutâneos também devem ser observados, incluindo coloração (cianose, palidez ou hiperemia), textura e temperatura do local, quando comparado às demais áreas do corpo, podendo caracterizar um
quadro de lesão tissular. Além desses aspectos, a ADM ativa e passiva deve ser mensurada, assim como a capacidade funcional apresentada pelo paciente.5
Durante a avaliação fisioterapêutica, o local a ser examinado deve estar despido o máximo possível, e todo o processo de observação é realizado de forma que o paciente não realize movimentos. O exame
deve ser estático.
Na fase inicial do atendimento fisioterapêutico, é necessário certificar-se de que o paciente encontra-se posicionado adequadamente no leito. Caso contrário, esse deve ser o primeiro procedimento tomado,
de forma a evitarem-se posturas viciosas, levando ao desenvolvimento de contraturas articulares ou, até mesmo, à formação de úlceras de decúbito.
O protocolo fisioterapêutico a ser seguido depende da avaliação realizada e das metas traçadas. Várias modalidades terapêuticas podem ser realizadas a fim de promover uma resposta rápida na recuperação do
indivíduo, porém cada procedimento deve ser eleito de acordo com a necessidade e a efetividade para o caso em questão.
Inicialmente, as condutas adotadas serão baseadas em:
eletroterapia;
termoterapia (quente ou frio);
cinesioterapia;
técnicas manuais.
Cada uma dessas técnicas irá apresentar uma particularidade em benefício do paciente.
AGENTES FÍSICOS
Alguns agentes físicos, como os descritos a seguir, distribuídos entre as técnicas eletroterapêuticas, termoterapêuticas e fototerapêuticas, são bastante utilizados:27-31
corrente elétrica;
calor;
luz;
água;
movimento.
Os agentes físicos podem ser divididos em três categorias,28,29,32 descritas no Quadro 3, a seguir.
Quadro 3
Calor Ultrassom
Micro-ondas
Ondas curtas
Tão importante quanto compreender a física desses agentes é saber correlacioná-los com a prática fisioterapêutica, uma vez que promovem estímulos, modificando o processo fisiológico do tecido, obtendo-se
respostas diversas, dependendo dos parâmetros utilizados para estimulação do tecido biológico. Essa relação estímulo-resposta pode ser explicada pelo princípio de Schultz-Arnold, o qual determina que a
adaptação funcional é alcançada como resultado da assimilação de crescentes estímulos.32
A eletroterapia é uma importante ferramenta na reabilitação precoce do paciente em função de sua capacidade de estimulação nervosa, tanto com o intuito de excitar a musculatura quanto de inibir a dor do
paciente. Em um primeiro momento, recomenda-se a utilização de duas correntes em específico:
em série;
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em série;
paralela; (home)
cruzada.
Inicialmente, recomenda-se a aplicação da corrente convencional, que tem como característica agir na dor e promover alívio de forma mais rápida. Indica-se, na dor aguda, a utilização dos seguintes parâmetros:
frequência: 50 a 100Hz;
largura de pulso: 40 a 75 microssegundos;
intensidade: varia de acordo com a sensibilidade do local, devendo ser suficiente para provocar o estímulo.
Alguns cuidados devem ser tomados no momento da aplicação da TENS, como evitar a utilização em pacientes cardiopatas, pacientes em uso de marca-passo cardíaco e/ou quando houver alterações de
sensibilidade.28,29,32
A Figura 2, a seguir, apresenta a aplicação de TENS.
encurtamento;
perda de força e de tônus;
contratura.
Em decorrência desses problemas, foi criada a FES.
A eletroestimulação é um mecanismo que simula a passagem do impulso nervoso, levando o músculo a contrair-se sem a necessidade de um impulso originado do próprio sistema nervoso, de forma que não
só garanta a estimulação muscular como também a mobilidade articular.25,28,29
No caso de pacientes graves ou não, ainda em ambiente hospitalar, devem ser iniciados os estímulos para excitar, manter e/ou aumentar o tônus muscular. Dessa forma, podem ser utilizados os parâmetros para
eletroestimulação muscular, descritos a seguir:
tempo de subida de 1 a 5 segundos; tempo de sustentação (Ton ) de 6 a 8 segundos; tempo de descida de 1 a 5 segundos. Juntos, representam o trabalho muscular, ou seja, o tempo em que o músculo está
sendo submetido à ação da corrente;
pausa ou tempo de repouso (Toff), que deve ser igual ou maior do que o tempo de sustentação; representa o tempo em que o equipamento ficará emitindo estímulos, permitindo a recuperação do músculo.
A FES, por ser uma corrente excitatória, provoca contrações musculares, que favorecem:27-30,33.
controle da espasticidade;
manutenção da ADM;
estímulo da musculatura em reinervação;
retardo no surgimento de atrofias;
manutenção de tonicidade muscular.
A Figura 3, a seguir, apresenta a aplicação da FES.
Figura 3 – Emprego da FES para estimulação elétrica do quadríceps, visando ao controle do tônus e do trofismo muscular.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Para a aplicação da TENS é necessário o feedback do paciente em relação à sensação provocada pela corrente, pois esse será o parâmetro para regulagem da intensidade. Na aplicação da FES, a
intensidade é controlada visando à obtenção de contração visível do local estimulado, independentemente da capacidade sensitiva do paciente.
TERMOTERAPIA
A termoterapia pode ser definida como a aplicação terapêutica de qualquer substância ao corpo que resulta no aumento ou na diminuição da temperatura dos tecidos corporais, estimulando a
termorregulação corporal. Pode ser feita por meio de calor ou frio (crioterapia).
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Nas intervenções agudas, é indicado o uso da crioterapia com o propósito terapêutico de remover calor do corpo induzindo estado de hipotermia, favorecendo a redução da taxa metabólica local e promovendo a
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diminuição das necessidades celulares de oxigênio. Isso favorece principalmente a redução do edema no local, impedindo o avanço em casos de inflamações27-29 (Figura 4).
CINESIOTERAPIA
Intervenções precoces são necessárias para prevenir problemas físicos e psicológicos. A atividade terapêutica deve ser iniciada prontamente, evitando os riscos da hospitalização prolongada e da imobilidade
associada, podendo ser uma das chaves para a recuperação do paciente.25,29.
O paciente imobilizado pode sofrer acometimento dos sistemas:
musculoesquelético;
gastrintestinal;
urinário;
cardiovascular;
respiratório;
cutâneo.
Em estado de repouso, inatividade ou imobilização de membros, há declínio da sua massa muscular, força e resistência. Nos casos de imobilidade total, a massa muscular pode reduzir pela metade em menos de
duas semanas, e quando associada à sepse, declina até 1,5kg ao dia.14,34.
Como ferramentas importantes na reabilitação e na profilaxia de patologias associadas ao desuso, há os exercícios passivos para manutenção de ADM e os exercícios isométricos.
Nos exercícios passivos, as principais metas são:25,29
De acordo com Achour, o alongamento da musculatura próxima ao local da lesão traz os seguintes benefícios:26
redução da dor;
diminuição da contratura antiálgica;
alongamento dos tecidos em torno da articulação, especialmente do tecido capsular ou tendíneo;
fornecimento de informações proprioceptivas, que melhoram a consciência postural.
Diante disso, a mobilização é indicada quando há:25,29,35
Após a fase inicial de dor intensa, os músculos devem ser fortalecidos para que possam exercer as atividades habituais. Exercícios passivos, ativos livres e ativos-assistidos preservam ou aumentam a ADM.
Os exercícios isométricos devem ser seguidos dos resistidos manualmente e progredir para utilização de bandas elásticas de resistência progressiva. Provocam contrações que independem da movimentação
corporal. Em geral, são realizados de forma estática e isolada, e são um ótimo recurso para ganho de força muscular e para prevenção de lesões25,29,35.(Figura 6).
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O processo de recuperação do paciente é variado. Cada indivíduo emite uma resposta diferente da outra. O fisioterapeuta deve prestar atenção nos fatores individuais que influenciam no tratamento, os quais
incluem:
idade;
sexo;
capacidade física;
estado de recuperação (por exemplo, cicatrização);
nível de suporte de peso alcançado;
perfil psicológico do paciente.
O planejamento das condutas fisioterapêuticas precisa estar voltado para a recuperação funcional completa do paciente. Em muitos casos, isso quer dizer que ele atingiu:
completa ADM;
força muscular;
controle neural;
resistência cardiovascular;
habilidades funcionais.
O processo de decisão para liberação do indivíduo e seu retorno em condições plenas às atividades são o estágio final do processo de reabilitação e recuperação.13,25
18. De forma pontual, pode-se afirmar que o processo de tratamento tem cinco componentes básicos, a fim de guiar o profissional por meios de séries sistemáticas e tomadas de decisões precisas. Assinale a
alternativa INCORRETA em relação a essa afirmação.
19. Para traçar os principais objetivos da conduta fisioterapêutica, é de extrema importância a avaliação minuciosa, que começa pela observação do paciente. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) em relação
a essa afirmação.
( ) Perceber disfunções visíveis e déficits funcionais.
( ) Observar a perda de massa muscular.
( ) Identificar a real gravidade do problema apresentado pelo paciente, a partir da avaliação da ADM ativa.
( ) Perceber anormalidades no alinhamento e/ou nas discrepâncias nos segmentos.
Assinale a afirmativa que completa os parênteses.
A) V – F – V – V
B) F – V – V – F
C) V – V – F – F
D) V – V – F – V
Confira aqui a resposta
(1) TENS ( ) Tempo de subida de 1 a 5 segundos; tempo de sustentação (Ton ) de 6 a 8 segundos; tempo de descida de 1 a 5
(2) FES segundos.
( ) Pode ter sua aplicação em série, paralela ou cruzada.
( ) Na dor aguda, apresenta frequência de 50 a 100Hz; largura de pulso de 40 a 75 microssegundos, e a intensidade
varia de acordo com a sensibilidade do local.
( ) Excitar, manter e/ou aumentar o tônus muscular.
( ) Hipotrofia.
( ) Analgesia.
A i l lt ti l t ê i d ê t
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Assinale a alternativa
(home)que completa a sequência dos parênteses
A) 1 – 2 – 2 – 1 – 1 – 2
B) 2 – 1 – 1 – 2 – 2 – 1
C) 1 – 2 – 1 – 2 – 1 – 2
D) 2 – 1 – 1 – 1 – 2 – 1
Confira aqui a resposta
24. Cite alguns benefícios do alongamento da musculatura próxima ao local da lesão de acordo com Achour.
■ CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, 33 anos, casada, empregada doméstica, com Ensino Fundamental completo, relata que sofreu acidente automobilístico (motocicleta) e foi trazida inconsciente ao hospital pelos
bombeiros.
Foram diagnosticadas fratura bilateral de fêmur e fratura do anel pélvico. No mesmo dia, realizaram-se tração transesquelética e colocação do fixador externo na pelve. No dia posterior, realizou-se nova
cirurgia, em que foram colocados fixadores internos em ambos os fêmures.
A paciente continua internada, aguardando nova intervenção na pelve. Na radiografia realizada um dia após a intervenção cirúrgica, observaram-se:
fratura transtrocantérica e diáfise média do fêmur direito e fratura de diáfise proximal do fêmur esquerdo, ambos com fixação interna em placa desde o terço distal do fêmur até a cabeça femoral;
fratura dos ramos isquiopúbicos anterior e posterior;
fratura da asa ilíaca à direita.
A partir do que foi visto neste artigo e das informações descritas no caso clínico, responda à questão a seguir.
■ CONCLUSÃO
Tanto os pacientes politraumatizados quanto os indivíduos que realizam cirurgias ortopédicas necessitam de avaliação detalhada para o levantamento dos fatores de risco dos procedimentos cirúrgicos, que podem
levar ao desenvolvimento de complicações, como infecções, trombose venosa profunda e embolia pulmonar.
A intervenção fisioterapêutica é de fundamental importância, uma vez que, por meio do uso de técnicas respaldadas na literatura, ocorrem menos efeitos deletérios relacionados à imobilização no leito. Além da
manutenção e do ganho de ADM e de força muscular, da ausência de queixa álgica e de edema inicial, os pacientes tendem a apresentar menos complicações pulmonares e circulatórias, mostrando a importância
do atendimento fisioterapêutico também na prevenção.
■ REFERÊNCIAS
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