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Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente II – Abr.

2023

Distúrbios do Equilíbrio Ácido Básico

- EQUILÍBRIO ÁCIDO BÁSICO: O primeiro mecanismo de proteção para carga ácida no


organismo é o SISTEMA DE TAMPONAMENTO.
Entender o equilíbrio ácido básico é fundamental na O principal tampão no meio extra celular é o bicarbonato.
emergência para auxiliar em diagnósticos e em uma No meio intracelular, as proteínas também exercem esse
melhor abordagem do paciente. efeito de tamponamento, entretanto, quando se ligam ao
íon hidrogênio, a proteína muda de forma e muitas vezes
Gasometria é um exame complementar, sempre será muda de função.
necessária uma boa história clínica para ajudar a Já o bicarbonato ele tem a vantagem de se transformar
interpretar melhor o que está acontecendo no equilíbrio em ácido carbônico quando está ligado ao íon hidrogênio
ácido básico do paciente. e se desmembrar em água e CO2. Se o sistema
respiratório for ativado, o CO2 será eliminado do
Diariamente o organismo tem a produção de uma carga organismo. E por isso, isso é chamado de um sistema
ácida, fruto do metabolismo orgânico/proteico, mas em aberto e que o tamponamento da carga ácida permite em
condições adversas também há produção de cargas última análise a eliminação de CO2.
ácidas com processos de metabolismos intermediários de
carboidratos e lipídeos. Deve sempre lembrar que é uma via de mão dupla, o
excesso de CO2 vai interagir com a água, gerando ácido
É necessário um pH ótimo para ter melhores reações carbônico e se desdobra em íon hidrogênio e
enzimáticas no organismo. Esse pH ótimo está em torno bicarbonato.
de 7,35-7,45 e o organismo sempre vai tentar manter
esse equilíbrio nessa concentração de íon hidrogênio de Sempre terá uma tendencia ao equilíbrio com duas
tal forma que essas reações enzimáticas tem o máximo variantes principais – PaCO2 e HCO3- (Bicarbonato) – que
de efeito. serão determinantes na variação do íon hidrogênio.
Para isso, o organismo utiliza esses três pontos principais: Através da formula matemática descrita na imagem
▪ Sistema tampão intra e extra-celular – acima (fórmula do meio), consegue entender qual seria +-
importância do tampão bicarbonato a concentração do íon hidrogênio e partir dos níveis de
▪ Sistema respiratório PaCO2 e do bicarbonato.
▪ Sistema renal
o Conservação do bicarbonato presente no A quantidade de bicarbonato no organismo normalmente
filtrado glomerular é tão baixa que é mais fácil fazer a estimativa laboratorial
o Regeneração do bicarbonato através da reação logarítimica da concentração do íon
decomposto através de reações com hidrogênio que é exatamente o pH, que deve estar entre
ácidos metabólicos 7,35-7,45.
o Excreção do hidrogênio íon Quando o pH está baixo (< 7,35), indica que tem um
aumento da quantidade/concentração de íon hidrogênio
A ativação do sistema renal será em casos mais e assim está tendo uma ACIDOSE no organismo.
prolongados para conservação do bicarbonato e excreção Quando o pH está alto (> 7,45), indica que há uma
do íon hidrogênio. diminuição da concentração do íon hidrogênio e há uma
ALCALOSE no organismo.

Já a formula matemática mais abaixo da imagem, é a


forma de excreção do íon hidrogênio através da urina,
fazendo ligação com a amônia e transformando em
cloreto de amônia que é a forma de eliminação urinaria
do hidrogênio.

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DISTÚRBIO SECUNDÁRIO: é o mecanismo de


compensação do distúrbio primário.
Sempre que tem, por exemplo, um paciente com acidose
metabólica, a tendência é que ele faça uma
hiperventilação e promova uma alcalose respiratória.
Neste caso a alcalose respiratória é uma compensação da
acidose metabólica do paciente.

DISTÚRBIO MISTO: quando tem mais de um distúrbio


envolvido primariamente como causa do distúrbio ácido
básico.

No quadro acima: Algumas definições iniciais para


entender os distúrbios do equilíbrio ácido básico.
pH é a concentração cologaritmo decimal da
concentração do íon hidrogênio. O valor de normalidade
será 7,35-7,45.
Alcalemia – pH sanguíneo > 7,45
Acidemia – pH sanguíneo < 7,35
O distúrbio ácido básico que tende a levar o paciente a
uma acidemia é a ACIDOSE. E o distúrbio ácido básico que
tende a levar o paciente a uma alcalemia é a ALCALOSE.

Para definição do pH do paciente tem duas variáveis, que


é o bicarbonato e o PaCO2 – se os dois estiverem Fluxograma mostra qual o caminho para se pensar nos
alterados, pode ter um pH dentro da normalidade, sem distúrbios ácidos básicos, lembrando que o paciente pode
acidemia e sem alcalemia, mas com dois distúrbios ácidos ter um pH normal (7,35-7,45) e ter um distúrbio misto ou
básicos que permitem o pH estar dentro da normalidade. então não tem distúrbio algum.
Distúrbio Misto – paciente pode ter um bicarbonato
O sistema tampão é uma substancia que interage em baixo compatível com acidose metabólica e ao mesmo
solução com íon hidrogênio, e o bicarbonato é o principal tempo der uma alcalose respiratória talvez por estar
representante desse sistema de tamponamento, embora febril ou ansioso ou com dor e isso faz com que os dois
não seja o único do organismo. níveis baixos promovam um pH dentro da normalidade.
Ou outra situação inversa, seria um paciente que tem
Existe uma osmolaridade sanguínea que é baseada em PCO2 alto e bicarbonato alto, por exemplo, ele pode ter
substâncias que tem efeito osmótico ativo, sendo sódio, uma doença pulmonar crônica e está em uso de diurético,
glicose e ureia. em que ele pode ter um pH dentro da normalidade,
A fórmula matemática descrita no quadro acima, permite embora as duas variantes estejam alteradas.
calcular a osmolaridade sanguínea do paciente.
Existem também aparelhos para fazer a medida da Independente do pH, sempre que Ânion Gap estiver
osmolaridade e as vezes pode ter uma diferença entre a acima de 20, define que existe um distúrbio ácido básico
osmolaridade medida pelo aparelho e a osmolaridade – uma acidose metabólica.
calculada pela fórmula. Essa diferença entre
osmolaridade medida e calculada chama de Gap Se o paciente tem alteração no bicarbonato e no PaCO2
Osmolar. e o pH está abaixo de 7,35, fala que ele tem uma
ACIDEMIA.
DISTÚRBIO PRIMÁRIO: é a alteração inicial, seja do Se ele estiver com pH entre 7,35-7,39 e o bicarbonato ou
bicarbonato ou da PCO2, que definem uma alteração no PCO2 ou os dois estiverem alterados, ele tem à principio
pH do paciente. uma ACIDOSE, pois o organismo nunca hipercorrige.
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O distúrbio primário de uma acidose sempre tende a Para cada 1 mEq/L de queda do bicarbonato, o PaCO2
baixar o pH para < 7,40. deve cair 1,2 mmHg.
Se essa acidose for relacionada à queda do bicarbonato
será ACIDOSE METABÓLICA. Alcalose Metabólica: paciente tem distúrbio primário de
Se essa acidose for relacionada ao aumento do PCO2 será alcalose metabólica, a tendência é uma hipoventilação,
uma ACIDOSE RESPIRATÓRIA. com retenção de CO2.
Para cada 1 mEq/L de aumento do bicarbonato, o PaCO2
Se o pH estiver acima de 7,45, será chamado de uma deve subir 0,6 mmHg.
ALCALEMIA.
Se for decorrente de aumento de bicarbonato, será uma Acidose Respiratória aguda crônica: baseado na história
ALCALOSE METABÓLICA. clínica vai avaliar se será aguda ou crônica.
Se for decorrente de uma diminuição da PaCO2, o Se for aguda – para cada 10 mmHg de aumento do PaCO2,
paciente está hiperventilando e eliminando muito CO2, o bicarbonato deve subir 1 mEq/L.
será uma ALCALOSE RESPIRATÓRIA. Se for crônica – para cada 10 mmHg de aumento da
PaCO2, o bicabornato deve subir 4 mEq/L.
O que define se é aguda ou crônica será a história do
paciente.
Ex.: paciente com crise asmática, é uma doença aguda.
Se for um paciente com pneumonia, será uma doença
aguda.
Se for portador de uma doença pulmonar obstrutiva
crônica, ou portador de fibrose cística, ou tem uma IC
crônica, ele terá uma doença crônica.

Alcalose Respiratória aguda crônica:


Se for aguda – para cada 10 mmHg de queda do PaCO2, o
No quadro acima: Valores de normalidade das variáveis bicarbonato deve diminuir 2 mEq/L.
estudadas na gasometria. Se for crônica – para cada 10 mmHg de queda da PaCO2,
o bicabornato deve diminuir 5 mEq/L.

Sempre que tiver um paciente com distúrbio primário, No exemplo acima:


existe uma tendência compensatória do organismo de Sempre deve olhar primeiro o pH do paciente.
tentar manter o pH dentro ou mais próximo da Neste caso p pH está <7,35 e por isso ele tem uma
normalidade. ACIDEMIA. O distúrbio primário é uma ACIDOSE.
Deve olhar no PaCO2 e o bicarbonato qual alteração que
Acidose Metabólica: paciente tem distúrbio primário de é compatível com acidose.
acidose metabólica, uma queda do bicarbonato, a PaCO2 normal é de 35-45 e neste caso acima ele caiu para
tentativa de compensação será o paciente fazer uma FR 25 – isso geralmente é um padrão de alcalose e por isso,
mais rápida e mais profunda, fazendo uma eliminação de isso não será o distúrbio primário.
CO2 (alcalose respiratória).

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Bicarbonato normal é de 22-26, e neste caso acima ele - ACIDOSE METABÓLICA:


caiu para 10. É um distúrbio metabólico e neste caso pode
dizer que esse paciente tem uma ACIDOSE METABÓLICA Deve entender que se o paciente tiver uma acidose
COMO DISTÚRBIO PRIMÁRIO. metabólica, a necessidade de calcular o Ânion Gap (AG).

Mas em um segundo momento, deve entender se a CONCEITO DE ÂNION GAP (AG):


compensação está dentro da expectativa. ▪ Princípio físico-bioquímico da eletroneutralidade
Como o bicarbonato caiu para 10, ele caiu entre 12 e 16 A quantidade de cargas positivas é sempre igual a
pontos quando se compara com a faixa de normalidade. quantidade de cargas negativas.
Para cada queda de 1 ponto do bicarbonato, o PaCO2 cai Na prática, se faz dosar no sangue as substâncias cátions
1,2. Se fizer uma conta matemática: e ânions que tem maior quantidade – sódio (carga
12 x 1,2 = 14,4 e 16 x 1,2 = 19,2 positiva); cloro e bicarbonato (cargas negativas).
O PaCO2 deve cair entre 14,4 – 19,2. Como o valor de Como não vai dosar todos os cátions e todos os ânions,
referência do PaCO2 é 35 a 45, se fizer uma subtração dos tem uma diferença entre a carga positiva mais frequente
valores extremos, consegue que o novo normal desse na corrente circulatória e as duas cargas negativas mais
paciente em relação ao PaCO2 para um bicarbonato de frequentes na corrente circulatória.
10 é ter um PaCO2 entre 15,8 a 31,6. Essa diferença é de 12 mEq/L ou 8 a 16 mEq/L.
Neste caso o PaCO2 desse paciente está 25, então está Sempre que fizer um exame de sangue no paciente em
dentro da compensação esperada. Devido a isso, esse condições habituais, sem nenhum problema, vai ver essa
paciente tem uma ACIDOSE METABÓLICA COM UMA diferença entre a principal carga positiva e as duas
ALCALOSE RESPIRATÓRIA COMPENSATÓRIA. principais cargas negativas.
Ele hiperventilou para tentar manter o pH mais próximo
do valor da normalidade. Ânion Gap = Na – (HCO3 + Cl) = 12 mEq/L (8 a 16)

Se por acaso esse paciente tivesse um PaCO2 > 31,6, ele ▪ Interesse principal em acidoses metabólicas:
estaria tendo uma retenção de CO2 e por isso teria uma o AG elevado e normocloremia
acidose respiratória associada. o AG normal e hipercloremia
E se tivesse < 15,8 ele teria uma alcalose respiratória
associada. Se o paciente tiver uma acidose metabólica, por estar
perdendo bicarbonato na urina ou nas fezes por uma
doença, a tendencia do organismo em relação a essa
perda de bicarbonato é tentar aumentar a retenção de
cloro e assim o equilíbrio de Ânion Gap se mantem o
mesmo.
Situações em que tem o AG normal, habitualmente terá
retenção de cloro, fazendo uma hipercloremia, e isso
indica que essa acidose está decorrente da perda de
bicarbonato do organismo.
Já em situações em que houve o consumo de bicarbonato
no processo de tamponamento, deve lembrar que todo
ácido doa hidrogênio e consequentemente resta uma
carga negativa fruto desse desmembramento dessa
No quadro acima: Outra forma de fazer cálculos de substância ácida. E essa carga negativa acaba ocupando o
compensação esperada, através de fórmulas espaço do bicarbonato, sem necessidade de o cloro ser
matemáticas. reabsorvido. Então, dentro do principio de
As duas situações funcionam bem. eletroneutralidade, o paciente que tem AG elevado, ele
tem uma quantidade de cloro normal e a queda do
bicarbonato será resultado do processo de
tamponamento que ocorreu com esse paciente.

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Na imagem acima: entendimento da AG;


Em condições normais – a quantidade de sódio é Na imagem acima:
semelhante à quantidade de cloro, bicarbonato e mais Acidose metabólica pode ter uma situação em que houve
um grupo de outras cargas negativas que não foram uma compensação esperada da PaCO2 e o paciente tem
medidas. uma AG normal, indicando perda de bicarbonato.
Acidose metabólica com AG normal – o paciente teve Ou tem situações em que há uma AG aumentada e assim
uma queda do bicarbonato e foi compensado com terão quatro situações principais a serem investigadas:
aumento do cloro. As outras cargas negativas ficam iguais retenção de cetonas no sangue (cetoacidose diabética),
e consequentemente o paciente é caracterizado com hipóxia (acidose láctica), TFG baixa (insuficiência renal),
uma acidose metabólica por perda orgânica do intoxicação alcoólica que pode ser estimado pelo Gap
bicarbonato. osmolar (se Gap > 20 indica intoxicação alcoólica).
Se o paciente tem PaCO2 inapropriado, terá um segundo
Acidose metabólica com AG aumentado – paciente com componente distúrbio ácido básico relacionado a um
acidose láctica por baixa perfusão periférica. Produziu problema respiratório.
ácido lático, eliminou íon hidrogênio, que foi ligado ao
bicarbonato no processo de tamponamento e assim o
bicarbonato caiu. O lactato que sobrou do ácido láctico,
como tem carga negativa, ocupou o espaço eletroquímico
do bicarbonato e consequentemente terá uma acidose
metabólica com AG aumentada, pois uma outra carga
negativa não está medindo regularmente na fórmula
matemática.

▪ Se o AG é elevado – calcular a titulação entre


aumento do AG e o decréscimo do bicarbonato:
Diferença AG = Diferença bicarbonato – Acidose
metabólica de AG elevado
Diferença AG < Diferença Bicarbonato – Acidose
metabólica de AG elevado associado a Acidose
Metabólica de AG normal No quadro acima: Causas de Acidose Metabólica
Diferença AG > Diferença Bicarbonato – Acidose Perdas de bicarbonato normalmente são pelo TGI ou
metabólica de AG elevado, associado a Alcalose renal.
Metabólica

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No quadro acima: Causas de Acidose Lática


No caso clínico acima:
Sempre chama a atenção sobre a isquemia celular que
Está em uma acidemia (pH < 7,35).
leva a uma acidose láctica. Mas existem outras causas que
Deve olhar PaCO2 e bicarbonato.
produzem ácido lático.
PaCO2 está dentro da faixa de normalidade que é de 35-
O tipo de lactato B, os laboratórios comumente não
45.
fazem a dosagem, e sim fazem a dosagem do lactato tipo
Bicarbonato está abaixo da faixa de normalidade.
A, que é relacionado muitas vezes as questões de
Paciente tem uma ACIDOSE METABÓLICA relacionada à
isquemia celular.
queda do bicarbonato.
O fato de ter uma dosagem lactato normal, não exclui a
Deve ver agora como ficou a compensação do paciente.
possibilidade de acidose láctica se levar em consideração
Bicarbonato caiu de 22-26 para 15 – caiu entre 7-11
o lactato tipo B.
pontos. Para cada 1 mEc/L de queda do bicarbonato, o
PaCO2 cai 1,2 pontos. Neste caso deve subtrair de 35-45
Fórmula matemática do Gap Osmolar:
Osmolaridade plasmática = 2 x Na + Glicose/18 + Ureia/6
(PaCO2 normal) os valores.
Gap Osmolar = Osmolaridade medida – osmolaridade O novo normal do PaCO2 diante do bicarbonato de 15
calculada será 22-37.
Normal Gap osmolar: 15 a 20. Neste caso o PaCO2 do paciente está 40, está acima do
Acima de 20 indica intoxicação alcoolica. normal neste caso e ele não conseguiu exalar todo CO2
que o organismo idealmente deveria eliminar.
Manifestações Clínicas da Acidose Metabólica: Devido a isso, além de uma acidose metabólica, ele
▪ Respiração profunda e rápida – ritmo de também tem uma ACIDOSE RESPIRATÓRIA associada.
Kussmaul
Tentativa de compensação. O passo seguinte, já que é uma acidose metabólica, é
▪ Diminuição da contratilidade cardíaca definir o AG.
▪ Arritmias Cardíacas AG = Na – (HCO3 + Cl) = 134 – (107+15) = 10 (dentro da
▪ Vasodilatação arterial e vasoconstrição venosa faixa de normalidade).
▪ Distensão abdominal (íleo) Esse paciente está perdendo bicarbonato através da
▪ Proteólise – queda proteica diarreia, perda de bicarbonato pelo TGI.
O potássio baixo gera uma fraqueza muscular, impedindo
Tratamento Acidose Metabólica: que os músculos respiratórios atuem de forma adequada
▪ ABC e consequentemente a isso está desenvolvendo uma
▪ Correção da doença de base retenção de CO2 – acidose respiratória.

Deve dar suporte respiratório, suporte cardíaco e


procurar e definir a doença de base.
Administração de bicarbonato é a situação de exceção.

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- ALCALOSE METABÓLICA: As três primeiras situações descritas acima são as mais


comuns.

Na alcalose metabólica o pH tende a ficar mais elevado e


vai haver uma retenção de bicarbonato, com aumento da
taxa de bicarbonato.
Existem dois grandes grupos de doenças que promovem
No quadro acima: Causas de Alcalose Metabólica
o acúmulo de bicarbonato, e são situações muitas vezes
do distúrbio eletrolítico – queda do cloro, queda de sódio,
Diminuição do volume extracelular relacionada a perdas
queda do potássio – e que normalmente há uma queda
de substancias, como sódio, potássio ou cloro, gerando
do volume extracelular, o que pode ser caracterizado pela
um distúrbio eletrolítico que leva a alcalose metabólica.
dosagem do cloro urinário do paciente. Neste caso, se
simplesmente corrige o distúrbio eletrolítico, consegue
E sempre tem a preocupação em situações de excesso de
resolver a alcalose metabólica.
volume, de hipertensão, que está relacionado ao excesso
de mineralocorticoides, que precisa ser tratada a doença
E existem situações em que o problema é hormonal –
de base para resolver a alcalose do paciente.
com excesso de mineralocorticoides, fazendo com que
haja um aumento da quantidade de bicarbonato. Neste
caso, a simples correção com sal (cloreto de sódio, cloreto
de potássio) não vai resolver a alcalose e sim precisa
tratar a causa hormonal que está causando.

A alcalose metabólica, de forma geral é um distúrbio


ácido básico que tem o componente eletrolítico na maior
parte das vezes:
▪ Déficit de HCl – ex.: paciente vomitador de perde
HCl e consequentemente como perdeu carga
negativa, ele aumenta a retenção de bicarbonato
No quadro acima: Classificação da Alcalose Metabólica
▪ Déficit de KCl – potássio baixo, principalmente a
Caracteriza os pacientes que são responsivos a
nível renal, faz com que entre hidrogênio na
administração de cloreto (cloreto de sódio ou cloreto de
célula e por isso vai ter uma acidose intracelular
potássio) e os pacientes que são cloreto resistentes
e consequentemente a isso um maior estímulo
(excesso de mineralocorticoides).
para o rim na retenção de bicarbonato e
eliminação do íon hidrogênio.
Sempre ter atenção à história clínica: vômitos, uso de
▪ Déficit de NaCl – se tiver menos sódio na
diurético, hipertensão arterial, condições
corrente circulatória, vai ter uma diminuição da
hemodinâmicas.
volemia e consequentemente vai ter um
aumento da concentração de bicarbonato
▪ Ingestão e retenção de bicarbonato de sódio

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estenose hipertrófica de piloro e esse paciente precisa ser


operado para correção do distúrbio.

- ACIDOSE RESPIRATÓRIA:

Situações de retenção de CO2, como na Acidose


respiratória, o pH cai pelo aumento da concentração do
íon hidrogênio, e isso ocorre por menor ventilação/min
No quadro acima: Dosagem de eletrólitos urinários. do paciente.
**não precisa decorar.
Causas:
Manifestações Clínicas da Alcalose Metabólica: ▪ Depressão do centro respiratório – perda do
▪ Diminuição da condução respiratória comando central ou doença neuromuscular em
Tentativa de compensação por acidose respiratória com que os músculos não fazem o trabalho
retenção de CO2 e por isso há diminuição da condução respiratório adequado
respiratória – FC mais baixa, respiração mais superficial ▪ Doenças metabólicas
▪ Hipóxia o Hipofosfatemia
▪ Hipercapnia o Hipomagnesemia
▪ Desvio da curva de dissociação da Hb para o Hipopotassemia
esquerda o Alcalose metabólica grave
▪ Bloqueio neuromuscular por drogas
Tratamento da Alcalose Metabólica: ▪ Doenças respiratórias – asma, pneumonia, SARA
▪ Cloreto sensível – correção da volemia e ▪ Patologias abdominais – ascite, tumor, obstrução
eletrólitos do TGI
▪ Cloreto Resistente – além da correção de ▪ Choque
volemia e eletrólitos, deve descobrir a doença de
base e fazer o tratamento direcionado. Manifestações Clínicas da Acidose Respiratória:
▪ Rubor facial e extremidades
▪ Dispneia ou Bradpneia – em pacientes com
depressão do centro respiratório
▪ Delírio
▪ Tremores
▪ Ansiedade
▪ Crises convulsivas
▪ Coma

No caso clínico acima:


pH acima do valor de normalidade – Alcalemia.
PaCO2 dentro do normal. Bicarbonato alto – distúrbio
primário é o bicarbonato alto – ALCALOSE METABÓLICA.
Deve avaliar o processo de compensação.
Neste caso PaCO2 45, está dentro do novo “normal”
diante do bicarbonato 32 e por isso a compensação está
dentro do esperado.
Esse paciente tem uma ALCALOSE METABÓLICA.
O fato de ser um vomitador mostra que ele está perdendo No caso clínico acima:
ácido clorídrico e retendo bicarbonato – provável causa é Distúrbio primário é respiratório e por isso ele tem uma
acidose respiratória aguda.
É um neonato e portanto é uma doença aguda.
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Avaliar a compensação. Bicarbonato diante do novo “normal” está com valor


O valor de Bicarbonato diante do novo “normal” está dentro do esperado.
abaixo e por isso ele também tem uma acidose Esse paciente tem ALCALOSE RESPIRATÓRIA AGUDA.
metabólica, provavelmente por hipoxemia e má Ela pode receber um ansiolítico e para aumentar mais
oxigenação celular. rapidamente PaCO2, fazer ela respirar em um saco de
papel para aumentar a retenção de CO2.
- ALCALOSE RESPIRATÓRIA:
- CUIDADOS COM AMOSTRA:
Há aumento do pH – correlacionado a queda da
concentração do íon hidrogênio, resultando em queda da Coleta:
PaCO2. ▪ Em pacientes em assistência ventilatória – coleta
Paciente que está hiperventilando, ventilação mais rápida após 30 minutos do ajuste
e mais profunda. ▪ Seringas de plástico são permeáveis ao oxigênio,
ocasionando alterações na PaCO2 após 1 a 2h
Causas: ▪ Heparina altera parâmetros gasométricos –
▪ Hipóxia usado somente para “sujar” a seringa para não
▪ Estímulos dos ramos aferentes pulmonares – coagular
pneumonia, asma, edema pulmonar, embolia
pulmonar Transporte:
▪ Estímulo do centro respiratório Deve ser feito em baixa temperatura – próximas de 0°C
o Doenças do SNC – infecções trauma,
Tumor, hemorragia - ANÁLISE:
o Medicamentos – AAS, teofilina,
catecolaminas Avaliar a Acurácia:
▪ Miscelânea – febre, ansiedade, sepse,
recuperação de acidose metabólica
▪ Ventilação pulmonar mecânica
Se valor discrepante, colher nova amostra.
Manifestações clínicas da Alcalose Respiratória: Avaliar correlação PaO2 e saturação O2.
▪ Arritmias
▪ Parestesias ▪ Determinar anormalidade primaria e secundária
▪ Caimbras ▪ Calcular compensação esperada
▪ Confusão Mental ▪ Calcular ânion gap e o delta ânion gap/delta
▪ Síncope bicarbonato – se for acidose metabólica
▪ Crises Convulsivas por vasoconstrição cerebral ▪ Lembrar que ânion gap acima de 20 determina
existência de acidose metabólica independente
do pH

- INDICADORES DE OXIGENAÇÃO:

No caso clínico acima:


pH > 3,45 – alcalemia
distúrbio primário é uma alcalose respiratória aguda –
PaCO2 e Bicarbonatos baixos.
Lembrar que a gasometria arterial também dá uma
Avaliar compensação.
estimativa de como está o shunt pulmonar – qual
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quantidade de sangue que está passando pelo pulmão e


não está efetivamente fazendo as trocas gasosas. 03:
Pode fazer isso com o calculo do gradiente álveolo-
arterial, levando em consideração pressão alveolar e a
pressão arterial de oxigênio.

A relação entre PaO2/FiO2 – em condições normais essa


relação deve ser acima de 300.
Entre 200-300 mostra que tem uma lesão pulmonar
aguda. 04:
< 200 mostra um shunt significativo potencialmente
ocorrendo pelo pulmão, como acontece nas síndromes
de angustia respiratória agudas.

- QUADROS CLÍNICOS:

Abaixo, cinco casos clínicos para análise e resolução.


Sempre realizar o passo a passo avaliando qual o pH do
05:
paciente, entender se há uma acidemia ou alcalemia,
analisar PaCO2 e bicarbonato do paciente para ver o
distúrbio primário. Em seguida avaliar a compensação
esperada, se está dentro da compensação esperada ou
não.
Se for acidose metabólica, deve calcular o AG.
Avaliar a PaO2 e FiO2 do paciente para ver se está dentro
da expectativa adequada.

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