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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 1
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
SUMÁRIO
Apresentação da Disciplina................................................................................... 3
Conclusão ........................................................................................................ 57
FIGURAS
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 2
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Caro aluno,
Bom estudo!
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 3
• Descrever as principais interferências no desenvolvimento humano e na
construção da personalidade
• Apresentar aspectos básico das teorias do Ciclo Vital e da Teoria Psicossexual
do desenvolvimento.
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia básica:
Ariès, Phillipe. A história social da criança e da família – 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC
editora, 1981.
Bock, Ana Mercês Bahia; Furtado, Odair; Teixeira, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia – 13ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 1999.
Feldman, Robert S. Introdução à Psicologia – 10ª ed. Porto Alegre: AMGH Editira
Ltda.
Kleinman, Paul. Tudo o que você precisa saber sobre Psicologia. São Paulo: Editora
Gente, 2015.
Papalia, Diane E.; Olds, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano - 12ª ed. Porto
Alegre: Amgh Editora, 2013.
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 4
_________________. Psicologia do Desenvolvimento - Volume 4. São Paulo: EPU,
2012.
Bibliografia complementar:
Piaget, Jean. Seis estudos de Psicologia – 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária.
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TEMA I - Introdução ao estudo do desenvolvimento humano
OBJETIVOS
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O conceito de desenvolvimento refere-se ao processo de amadurecimento e
evolução do ser humano no sentido de tornar-se cada vez mais habilitado e adaptado
as demandas ambientais. Para tanto, o desenvolvimento do ser humano engloba desde
aspectos biológicos até cognitivos e sociais/relacionais.
Até o surgimento da Psicologia, a criança era considerada um mini adulto,
participando da vida social e do trabalhando como um adulto, com carga horária de
até 10 horas diárias. Obras renascentistas (séculos XV a XVIII) já demonstravam
claramente imagens apresentando corpos e vestimentas de adultos em miniatura com
faces de crianças.
Entretanto, a Psicologia científica, originada no século XIX, permite enfocar esse
objeto de estudo que se presentifica em toda a sua complexidade: o ser humano nos
seus processos mentais e comportamentais, suas diferenças e singularidades.
Com o objetivo de contribuir no entendimento sobre como as pessoas mudam
bem como permanecem estáveis durante suas vidas, surge o estudo sobre o
desenvolvimento humano, que aborda as alterações dos aspectos físico-motor,
cognitivo/ intelectivo, emocional e social desde a infância até a idade adulta.
De acordo com estes aspectos, pode-se destacar dois paradigmas que envolvem
a discussão sobre o desenvolvimento humano: as posições inatista e cognitiva. De
acordo com a posição inatista, o ser humano desenvolve-se a partir de uma base
biológica que se torna o centro do processo evolutivo. Ou seja, segundo a posição
inatista, o sujeito nasce com habilidades e competências em potencial, transmitidas
geneticamente, e que serão desenvolvidas se as condições ambientais forem
adequadas.
Já a posição cognitiva explica o desenvolvimento a partir da construção do
conhecimento sobre a realidade pelo sujeito, num processo de interação contínuo com
o ambiente. Neste sentido, o ambiente muda e desafia o sujeito a transformar-se para
se adaptar as novas condições existenciais e à satisfação das suas necessidades.
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 7
1.1 – A criança até o século XIX
Até o século XII, o olhar que se tinha sobre a infância era de um período de
transição, não havia interesse sobre esta etapa da vida, onde a mesma era considerada
como algo inevitável para se chegar à juventude. Segundo Ariès (1981), as pinturas
românticas do século XIII não apresentavam “crianças caracterizadas por uma
expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido. ” (p.18) Muitas vezes as
pinturas apresentavam abdomens de adultos na caracterização das crianças.
A própria noção de idade era diferente nos povos arcaicos. A métrica relacionada
aos anos de vida e sua importância é fato que surge por volta do século XVIII. Antes
do período era comum, em várias civilizações, uma caracterização por “idades da vida”
(id. p.6). A noção de idades da vida era considerada, inclusive, para se entender o
padrão biológico das pessoas, mas não permanecia tão presa às idades propriamente
ditas.
Na Idade Média, Ariès (1981) destaca como exemplo textos que caracterizavam
como primeira idade, a infância (do nascimento aos sete anos) ou enfant, em francês,
que etimologicamente significa não-falante. A palavra enfant era utilizada para
caracterizar o período em que a pessoa ainda não consegue falar adequadamente nem
se expressar devido à dentição que está em ordenamento.
A segunda idade é a pueritia, que dura até os 14 anos. A terceira idade, ou
adolescência, pode durar até os 21 anos, ou mesmo estender-se para os 28 ou 30
anos, sem haver consenso entre os autores. (Ibid.). Ser adolescente significa possuir
a capacidade de procriar e um corpo que ainda está em crescimento e aquisição de
força muscular.
Em seguida, têm-se a juventude até os 45/50 anos, onde a pessoa apresenta sua
plenitude em termos de força e pensamento. Depois, segue a senectude, entre a
juventude e a velhice, até os 70 anos, com características de descontroles corporais e
mentais, apresentando manias e toda ordem de doenças.
Ainda no século XVII, é possível observar em diversas obras de arte e escritos, a
falta de importância das crianças. Como a taxa de mortalidade era alta, e a sua perda
considerada como algo casual, os pais não se apegavam muito às mesmas. Não havia
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a consideração de que as crianças possuíam uma personalidade ou uma
individualidade. Tal era a indiferença com relação as crianças que Ariès (1981) cita
como exemplo o enterro de crianças mortas no jardim de casa, como o que se faz com
animais domésticos.
Neste período, a ideia de homem integral está relacionada à juventude e força.
Segundo Ariès (1981)
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1.2 – O surgimento da Psicologia como ciência e o estudo do
desenvolvimento humano
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A influência da natureza X cultura, ou características genéticas X ambiente, é
uma das questões principais pesquisadas pelos cientistas. Estudos (PAPPALIA, 2006)
indicam que o contexto influencia direta e indiretamente o desenvolvimento. De forma
direta a partir das vivências da pessoa com seu grupo familiar ou social, o ambiente
econômico e político no qual o indivíduo está inserido, como situações de pobreza
extrema, guerra, recessão econômica. A forma indireta aparece através das influências
que os fatores externos provocam nos pais e como isto influencia o relacionamento
entre pais e filhos.
Com relação aos elementos de continuidade ou a graduação por estágios, esta
perspectiva pode ser verificada em diversas teorias do desenvolvimento. De Freud e
Piaget até Paul Batles e a Teoria do Ciclo Vital, todas elas apresentam o
desenvolvimento como um processo contínuo, ou seja, que ocorre ao longo da vida.
Contudo, várias delas (Freud, Piaget, Wallon, Erikson, Batles) mapeiam determinadas
características por faixas etárias, chamadas de fases ou períodos. Cabe destacar que
estas fases e/ou períodos são constructos sociais, ou seja, são atravessados pela
história e cultura e num outro momento ou outra civilização, estas etapas do
desenvolvimento mudam e recebem outros nomes, inclusive com alteração
relacionada às faias etárias.
Quanto à estabilidade e mudança dos traços de personalidade, entende-se que
existe um núcleo estável e organizador da personalidade que é desenvolvido ao longo
da infância e que permanece. Este núcleo organizador é onde a pessoa se reconhece
enquanto singularidade e individualidade (ou autoconceito) e está relacionada à sua
identidade, mas transcende a esta em suas mudanças ao longo da vida. Além dessa,
uma outra parte da personalidade está sempre em movimento através das
aprendizagens que devem ocorrer para um melhor ajustamento e adaptação do ser
ao seu ambiente. Esta adaptação está relacionada a possibilidade de satisfação das
necessidades. As mudanças na personalidade são evidentes, facilmente perceptível
pelo padrão de comportamento nas diversas idades, como: bebê, criança,
adolescência.
Outro fator importante a ser considerado no estudo do desenvolvimento
relaciona-se aos aspectos que compõem o processo evolutivo da pessoa. Estes
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 11
aspectos influenciam-se de forma contínua e não há hierarquização entre eles, ou seja,
nenhum é mais importante que o outro. São eles:
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 12
TEMA II - O desenvolvimento humano e a construção da personalidade
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OBJETIVOS
1. Conceituar personalidade;
2. Explicar a relação entre desenvolvimento e personalidade;
3. Esclarecer como o ambiente e a hereditariedade influenciam no
desenvolvimento e na construção da personalidade.
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 14
2.1 – Conceituando personalidade
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mentes humanas, mais complexas, a partir do entendimento da mente simples dos
animais.
Outra possibilidade de estudo da personalidade relaciona-se com a observação
empírica na prática clínica, cuja referência é construída na última metade do século
XIX e durante o século XX, a partir de diversas abordagens da Psicologia: Psicanálise,
Humanismo, Cognitivismo, Behaviorismo, Psicologia da Gestalt. A ideia é entender e
ajudar as pessoas no seu processo de individuação e construção subjetiva. A
compreensão sobre a humanidade e a construção das subjetividades passa pelo
enfoque nas preocupações, ansiedades, limitações, condições físicas, culturais e
sociais dos indivíduos. Um exemplo refere-se à tradição gestáltica, cuja preocupação
alude à unidade e integralidade do comportamento.
Um outro tipo de investimento no estudo da personalidade vincula-se à
psicometria, que se interessa em medir e estudar as diferenças individuais, escalonar
as dimensões dos comportamentos e proceder a análise quantitativa dos dados,
através da observação e pesquisa descritiva. Muitos testes psicológicos e inventários
de personalidade foram construídos para mesurar a personalidade através de padrões
básicos (características ou traços) observados em grandes amostras de sujeitos. Os
testes psicológicos são muito utilizados, pois viabilizam o acesso às principais
características das pessoas de forma objetiva e estatística nos diversos campos de
atuação do psicólogo, como a área clínica ou no processo de seleção para vagas de
trabalho.
Diante do cenário apresentado, o conceito de personalidade, para a Psicologia,
abrange várias definições. De uma forma geral, pode-se entendê-lo como a maneira
de sentir e pensar de cada um. Este modelo irá influenciar o modo como cada um se
comporta. FELDMAN (2015) entende que a personalidade pode ser definida como
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Através da personalidade de um sujeito, é possível compreender e predizer seu
comportamento, pois este conhecimento permite uma certa previsibilidade com
relação às ações emitidas.
Para compreender melhor e poder predizer comportamentos, diversos autores
da Psicologia construíram suas teorias pautados em duas perspectivas: como a
personalidade se constitui e quais são os traços característicos que podem ser
encontrados nas pessoas. Um traço pode ser compreendido como “características de
personalidade e comportamentos constantes exibidos em diferentes situações. ”
(FELDMAN, 2015, p.395)
As personalidades são construídas a partir da relação que os indivíduos
estabelecem com o mundo e, portanto, das aprendizagens que se vai obtendo. Nesta
relação com o ambiente e as outras pessoas, cada ser humano aprende a forma que
deve se comportar e introjeta os valores prescritos socialmente. Sua personalidade
será o resultado de todas as tentativas de acerto e erros que comete, daquilo que ela
observa nos outros e do que acha que os outros esperam dela. Este modelo será a
referência para a visão de mundo do indivíduo.
De forma resumida, pode-se dizer que a personalidade é a organização
dinâmica dos traços no interior da pessoa, que são construídos a partir dos genes
herdados dos pais, das experiências pessoais e da respectiva percepção de mundo. A
personalidade torna cada pessoa única na sua forma de SER e ESTAR no mundo e no
desempenho de seu papel social.
Alguns princípios básicos da personalidade podem ser destacados:
1) A globalidade: que se refere aos elementos inatos, adquiridos, orgânicos e
sociais estão incluídos no conceito de personalidade;
2) A dimensão social: as características da personalidade se manifestam e se
desenvolvem em situações sociais; personalidade também consiste nos hábitos
e características adquiridas em resultado das interações sociais, que promovem
o ajustamento do indivíduo ao meio social;
3) A dinamicidade: a personalidade é um conceito dinâmico, possui vários
elementos que interagem e se combinam de forma a produzir novos e originais
efeitos; personalidade é o que organiza, integra e harmoniza todas as formas
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de comportamento e características do indivíduo. Ela é capaz de receber novas
influências e adaptar-se a novas circunstâncias.
4) A individualidade: a personalidade é sempre uma realidade individual que marca
e distingue um ser do outro; há sempre uma dimensão peculiar e exclusiva
porque as pessoas são únicas no mundo, ou seja, é o conjunto de todos os
aspectos próprios do indivíduo pelos quais ele se distingue dos outros.
Para a Psicologia, o conceito de personalidade é um dos mais complexos e,
portanto, torna-se difícil uma única teoria que explique a complexidade do ser humano
e as respostas que emite durante sua existência. Desta forma, podemos destacar
várias perspectivas relacionadas ao conceito de personalidade: a psicodinâmica, a
relacionada aos traços, a da aprendizagem, a biológica evolucionista, a humanista,
entre outras.
Figura 1: As múltiplas perspectivas da personalidade
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 18
Destaca-se a Teoria dos Traços pela objetividade e simplicidade em caracterizar
os traços principais das pessoas e, consequentemente, compreender seus
comportamentos. Mesmo diante desta perspectiva, não existe uma única teoria dos
traços de personalidade. Por exemplo, Gordon Allport definiu sua teoria propondo que
haveriam três categorias fundamentais de traços de personalidade: o cardinal, que
seria uma característica única e definiria a maior parte dos comportamentos de uma
pessoa; os traços centrais, que formam a essência da personalidade; e os traços
secundários, que afetam o comportamento com menos força.
Outros autores, como Cattell e Eysenk, utilizaram-se de técnicas estatísticas
para chegar a um núcleo central de traços de personalidade, a partir da aplicação de
questionários a um grupo abrangente de pessoas. A partir da análise de fatores das
características marcadas nos questionários pelas mesmas, Cattell propôs dezesseis
traços de origem que o fez desenvolver o 16PF, ou Questionário dos Dezesseis Fatores
da Personalidade. (FELDMAN, 2015)
Eysenk também utilizou a análise de fatores, porém obteve outro resultado.
Segundo ele, existem três dimensões principais de personalidade: a extroversão,
relacionada ao grau de sociabilidade das pessoas; o neuroticismo, relacionado à
estabilidade emocional; e o psicoticismo significa o grau de distorção da realidade.
(Id.). Segundo FELDMAN (2015), estas dimensões possuem os seguintes traços:
1) Extroversão: sociável, animado, ativo, assertivo e empenhado na busca de
sensações;
2) Neuroticismo: ansioso, deprimido, sentimento de culpa, baixa autoestima,
tenso;
3) Psicoticismo: agressivo, frio, egocêntrico, impessoal e impulsivo.
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Figura 2. Os “Cinco Grandes” Fatores da Personalidade (MYERS, 2012)
Dimensão do traço Extremos da dimensão
Realização ou conscienciosidade Organizado – desorganizado
(escrupulosidade) Cuidadoso – Descuidado
Disciplinado – Impulsivo
Socialização Amável – Cruel
Confiável - Suspeito
Prestativo – Egoísta
Neuroticismo (estabilidade vs instabilidade Calmo – Ansioso
emocional) Seguro – Inseguro
Autossatisfação – Autopiedade
Abertura para a experiência Imaginativo – Prático
Preferência por variedade – Preferência pela rotina
Independente – Conformado
Extroversão Sociável – Retraído
Divertido – Sóbrio
Afetuoso – Reservado
Fonte: MYERS, 2012, p. 434
Na vida adulta, os Cinco Grandes traços são bem estáveis, com algumas
tendências (instabilidade emocional, extroversão e abertura para
experiência) diminuindo um pouco nas décadas que seguem o começo
e o meio da idade adulta e outras (socialização e realização ou
conscienciosidade) aumentando. A realização ou conscienciosidade
aumenta mais na casa dos 20 anos, à medida que as pessoas
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amadurecem e aprendem a lidar com o trabalho e seus
relacionamentos. A socialização aumenta mais na casa de 30 anos e
continua a aumentar até os 60. (MYERS, 2012, p.434)
PERSONALIDADE
Influências socioculturais
• Experiências na infância
• Influência da situação
• Expectativas culturais
• Apoio social
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 21
Neste sentido, o estudo do desenvolvimento humano articula-se ao estudo da
personalidade, pois permite ao pesquisador entender como esses traços específicos
foram construídos ao longo da vida da pessoa e quais deles encontram-se no padrão
de normalidade ou divergência, bem como compreender a estabilidade ou
modificabilidade dos traços essenciais das pessoas.
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TEMA III – A Teoria do Ciclo Vital
OBJETIVOS
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O estudo do desenvolvimento do ciclo vital tem seu início na década de 1920 a
partir do acompanhamento científico de crianças até a idade adulta. No decorrer
destes estudos, a curiosidade sobre como o ambiente (ou o momento histórico e as
circunstâncias sociais) afeta o desenvolvimento, começaram a receber o foco dos
pesquisadores da área.
Paul Batles, considerado o líder no estudo do desenvolvimento do ciclo vital,
distingue algumas características básicas desta abordagem (PAPPALIA, OLDS,
FELDMAN, 2006)
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 24
Além disso, o desenvolvimento ocorre em diferentes instâncias do ser humano
continuamente. Estas instâncias podem ser entendidas como os aspectos do
desenvolvimento ao longo da vida. São eles:
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dependente ou outra com tendência a ultrapassar os limites morais ou legais são
grandes.
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idade adulta começa com o nascimento do primeiro bisneto. Os Swazi
africanos definem oito períodos da vida e marcam cada um com uma
cerimônia. A condição de bebê começa aos 3 meses, quando se considera que
o bebê provavelmente irá sobreviver. Depois vem a segunda etapa (que
começa quando o bebê aprende a caminhar), a infância (que começa aos 6
anos), a puberdade e o casamento. Para uma mulher, as etapas seguintes
chegam quando nasce seu primeiro filho e quando ela vai morar com um filho
casado. (ibid.)
Neste sentido, a Teoria do Ciclo Vital divide as etapas da vida em oito ciclos: 1)
período pré-natal, da concepção ao nascimento; 2) primeira infância; 3) segunda
infância; 4) terceira infância; 5) adolescência; 6) jovem adulto; 7) meia idade; 8)
terceira idade.
O período pré-natal corresponde da concepção ao nascimento. Nesta etapa, já
inicia a interação entre a genética herdada dos pais interage e o ambiente. A
concepção ocorre quando o óvulo feminino tem sua membrana rompida por um
espermatozoide masculino e é fecundado. Deste momento até duas semanas ele é
chamado de zigoto. A partir desta etapa, aproximadamente dez dias após a concepção,
o zigoto se prende à parede do útero materno, processo que é chamado de nidação.
Neste período, o zigoto transforma-se em embrião e inicia a diferenciação celular e
desenvolvimento dos órgãos do futuro bebê.
No embrião, já é possível escutar os batimentos cardíacos e nove semanas após
a concepção tem-se o feto, com forma tipicamente humana. É durante este período
que ocorre o maior desenvolvimento físico e de forma extremamente rápida.
Ao final dos seis meses, se a gravidez for interrompida acidentalmente, já é
possível a sobrevivência do bebê, pois órgãos como o estômago já estão prontos.
Entretanto esta condição de imaturidade requer intervenções médicas importantes,
pois o organismo ainda não está completo, podendo trazer comprometimento futuro.
Estudo mostram que um feto de sexto mês já é suscetível aos sons ambientais,
principalmente à voz materna. Tal intimidade entre o feto e sua mãe acarreta o
reconhecimento e a preferência da voz materna em detrimento de qualquer outro som,
inclusive da voz paterna.
A nutrição, oxigenação e filtragem de substâncias nocivas e tóxicas do feto é
feita através da placenta, formada a partir da vinculação do zigoto na parede uterina.
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 27
Daí a importância do cuidado com a saúde da gestante porque qualquer substância
nociva, como drogas álcool, fumo e vírus afetam o feto. Segundo MYERS (2012),
Estudos mostram que os filhos podem herdar geneticamente de seus pais desde
características físicas (como altura, peso, obesidade, tom de voz, cáries, nível de
atividade, idade da morte, habilidade atlética) até características intelectuais
(memória, idade de aquisição da linguagem, retardo mental, déficit de leitura) e
características emocionais e transtornos (timidez, extroversão, neuroticismo,
ansiedade, alcoolismo).
Segundo pesquisas (FELDMAN, 2015), cerca de 95 a 98% das gestações
apresentam o desenvolvimento normal do feto. Entretanto, os 2 ou 5% restantes
podem nascer com defeitos congênitos graves:
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intelectual e deformidades na face. Estudos indicam que é a principal causa de
deficiência intelectual na atualidade (FELDMAN, 2015);
6) Uso de nicotina – a utilização de nicotina durante a gravidez pode acarretar
aborto espontâneo ou parto prematuro com bebês abaixo do peso e tamanho
ao nascimento. Esta condição pode trazer danos permanentes para a saúde do
bebê ao longo da sua vida inteira;
7) Rubéola – pode gerar cardiopatias, cegueira, surdez ou bebê natimorto;
8) Sífilis – pode ocasionar aborto, retardo mental e deformidades físicas;
9) Radiação por raios X – acarreta retardo mental e deformidades físicas;
10)Idade da mãe (menor que 18 anos) – maior probabilidade se Síndrome de
Down; nascimento prematuro;
11)Idade da mãe (maior que 35 anos) – maior probabilidade de Síndrome de
Down;
12)Aids – possibilidade de transmissão para o feto, além de poder acarretar
deformidades na face e problemas no crescimento;
13)Dietiletilbestrol (DES) – substância utilizada para prevenir aborto espontâneo.
Pode acarretar câncer genital e dificuldades reprodutiva nos filhos;
14)Accutane ou isotretinoína – é uma substância utilizada para combater acne.
Pode ocasionar deformidade físicas e retardo mental no bebê.
3.4 – O recém-nascido
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 30
processo de maternagem, a qualidade e a quantidade serão fundamentais para o
estado afetivo do bebê e a constituição de sua personalidade.
Mães inseguras, inquietas e ansiosas podem transmitir este estado de tensão
para seus bebês prejudicando seu sono, alimentação e humor. Mães calmas tendem a
passar para o bebê a segurança que necessitam para (de alguma forma) entenderem
que terão suas necessidades básicas satisfeitas. Todos já tiveram experiências (ou
conhecem alguém que as teve) de uma mãe nervosa chorando por conta de seu bebê
que não parava de chorar e alguém mais calmo (pai, avô ou avó) acolhe a criança, ela
acalma e finaliza o choro. O estado de ânimo de quem cuida afeta o estado de ânimo
do bebê. Neste ponto está a importância do vínculo mãe-bebê.
Este vínculo é construído desde a formação do feto. A intimidade entre a mãe
e seu feto é tão grande e fundamental que ao nascimento, como já foi mencionado
anteriormente, a criança tem a preferência pela voz materna. Este vínculo faz com que
a mãe consiga entender as necessidades de seu filho, quando ele está com fome, com
dor ou necessita de amor e carinho para sentir-se seguro.
A ligação da mãe (não necessariamente a mãe biológica, mas quem cuida) com
o seu bebê é fundante da subjetividade e da identidade da criança. É através das
trocas sensoriais, afetivas, da manipulação do corpo do bebê pela mãe que ele (o
bebê) inicia o processo de construção da consciência corporal e de si, pois,
inicialmente, ele experimenta o mundo de forma muito vinculada ao corpo da mãe, e
ela possui a função de viabilizar (“puxar”) pelo desenvolvimento de seu bebê.
Ao nascimento o bebê não sabe quem é, aonde está, o que fazer, que faz parte
de uma família. Ele não tem memória conceitual. Entretanto, nasce com uma série de
recursos que são fundamentais para o seu crescimento e desenvolvimento. O recém-
nascido apresenta uma série de reflexos primitivos, uma emocionalidade básica e os
órgãos sensoriais que são a porta de entrada do meio externo para dentro do corpo.
Os reflexos primitivos são movimentos involuntários emitidos diante de
determinados estímulos. Podem ser considerados como o equipamento básico do
organismo para a sobrevivência e a partir dos quais os outros comportamentos ou
movimentos serão aprendidos. Tais reflexos são herança filogenética da espécie
humana e possuem vinculação com a possibilidade adequada de desenvolvimento e
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adaptação, além da possibilidade de verificação de algum problema neurológico ou de
outra ordem. Alguns exemplos são: 1) sucção: ato de sugar que é iniciado ao colocar
algo na boca ou se a bochecha ou lábios forem estimulados; fundamental para a
alimentação; 2) marcha automática - quando o bebê é colocado de pé e apoiado numa
superfície, ele inicia o movimento da marcha; indica a existência de lesão (ou não)
neurológica ou medular; 3) moro - extensão dos braços para fora e para dentro em
resposta a algum ruído ou estímulo que o assuste; 4) Babinski - distensão dos dedos
do pé quando a sola é acariciada do calcanhar para os dedos; 5) preensão palmar e
plantar - quando algo é colocado em sua mão, ou seu pé é tocado perto dos dedos,
os dedos se fecham para segurar.
Fonte: http://olharfisio.blogspot.com.br/2016/05/reflexos-primitivos.html
Fonte: http://eusoumaisfisio.blogspot.com.br/2014/05/reflexos-primitivos.html
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 32
Apesar de uma composição inicial de movimentos desorganizados e sem
controle, correspondente aos reflexos, aos poucos o bebê começa a dominar seu corpo
e inicia a emissão de movimentos organizados onde já é possível verificar algumas
intensões e vontades.
Com relação à emocionalidade do bebê, inicialmente os sentimentos são de
prazer ou desprazer (ou desconforto). Prazer ao ser alimentado, acariciado e
envelopado pela mãe, de segurança de que suas necessidades básicas serão
satisfeitas. E desprazer diante do desequilíbrio corporal devido à fome, sono, posição
corporal, frio ou calor, dor e doenças. Esta relação entre prazer e desprazer será
nomeada como as diversas emoções e a criança aprenderá o que ela está sentindo.
Ao nascimento, a criança possui a composição orgânica para sentir as emoções, porém
ela aprenderá o que é alegria, tristeza, raiva, repugnância, entre outras, a partir da
relação estabelecida com as outras pessoas, principalmente sua mãe.
A Teoria do Apego, de John Bowlby, discute a importância da vinculação
materna para o crescimento e desenvolvimento saudável do bebê, inclusive o
psicossocial. O apego, vínculo emocional positivo que se desenvolve entre uma criança
e determinado indivíduo, é a forma mais importante de desenvolvimento social que
ocorre na primeira infância. (FELDMAN, 2015: p.344) A construção do apego é
diretamente proporcional à responsividade com que as crianças são cuidadas. Estes
primeiros lações são tão importantes que podem gerar impacto durante toda a vida
da pessoa. Além disso, Bowlby acreditava que o apego aumenta as chances de
sobrevivência da criança, devido à segurança emocional que proporciona. (KLEINMAN,
2015)
A segurança emocional da criança acontece quando a mãe (ou cuidador) se
mostra disponível e atenciosa (o). Segundo Bowlby, o apego possui quatro
características importantes:
1. Porto seguro: se uma criança se sentir assustada, ameaçada ou em perigo,
o cuidador a conforta, apoia e acalma.
2. Base segura: o cuidador proporciona à criança uma base segura para que
ela possa aprender, explorar o mundo e ordenar as coisas por si própria.
3. Manutenção da proximidade: embora a criança possa explorar o mundo,
ela ainda tenta ficar perto do cuidador para se manter segura.
4. Angústia de separação: a criança fica irritada, infeliz e angustiada quando
separada de seu cuidador. (KLEINMAN, 2015: p. 145-146)
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A base fundamental para a construção do apego entre pais e filhos é o contato
e o toque. Os bebês humanos (...) ficam apegados a pais que são meigos e afetuosos;
que o embalam, alimentam e afagam. (MYERS, 2012: 144) O período crítico para a
formação do apego é dos 6 meses aos 2 anos de idade.
Numa situação de restrição de contato já realizado ou privação materna (ou
com o cuidador), ou caso o apego não seja formado, as consequências podem ser
desastrosas gerando, até uma psicopatia por falta de afeto (ausência de remorso,
incapacidade de construir relações afetivas, agressividade, impulsividade e raiva
crônica). Entre os prejuízos acarretados pela falta de afeto e construção do apego,
estão incluídos: inteligência diminuída, aumento da agressividade, depressão e
delinquência (id. p. 146), insegurança, repetição do modelo parental com os próprios
filhos (crianças abusadas podem tornar-se abusadores).
Outro equipamento básico do corpo do neonato são os órgãos sensoriais, porta
de entrada de estímulos que serão processados pelo cérebro e transformados em
esquemas mentais. Inicialmente, os esquemas construídos são sensório-motores e aos
poucos (e mediante as experiências que vivencia) estes esquemas tornam-se
conceituais, ou seja, a organização do pensamento muda e vai complexificando ao
longo da vida infantil.
Com relação à visão no recém-nascido, sua acomodação visual fica a uma
distância de aproximadamente 17 a 20 cm. Ele possui condutas visuais são funcionais
desde o nascimento, utilizando os olhos para investigar o ambiente, interagir com as
pessoas e se comunicar. Sua preferência visual é por figuras arredondadas que
parecem com o rosto humano, conseguindo distinguir configurações espaciais, além
de apresentarem o início de uma noção de profundidade. No processo de interação e
comunicação, imita movimentos e mímicas faciais, como sorriso e caretas.
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Figura 6 – Imitação realizada por bebês
Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/335525/
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3.5 – A Infância e a adolescência
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alimentares, abuso de drogas, que trazem grandes riscos à saúde, costumam iniciar
neste período. No que se refere ao conhecimento cognitivo, desenvolve-se a
capacidade de pensar em termos abstratos e utilizar o raciocínio científico. Apesar da
organização formal do pensamento (pensamento abstrato), ideias e atitudes imaturas
persistem em algumas situações e comportamentos. A educação se concentra na
preparação para a faculdade ou para a vida profissional. O desenvolvimento
psicossocial é muito importante nesta etapa, pois acarreta na transição da infância
para a idade adulta. Algumas características específicas são: busca de identidade,
incluindo a identidade sexual; forte tendência grupal; afastamento do núcleo familiar,
apesar da existência de bom relacionamento com os pais (em geral); em alguns casos
podem ocorrer comportamentos antissociais. (KNOBEL; ABERASTURI, 1981)
Na etapa do jovem adulto (20 a 40 anos), a condição física atinge o seu auge,
depois diminui ligeiramente. Tal mudança será muito influenciada pelas escolhas e o
estilo de vida que a pessoa levou ao longo dos anos. Uma alimentação saudável e
exercícios físicos, possibilitam qualidade de vida por mais tempo e aumentam a
longevidade. Com relação ao desenvolvimento cognitivo, as capacidades cognitivas e
os julgamentos morais assumem maior complexidade e escolhas educacionais e
profissionais são feitas. No desenvolvimento psicossocial, os traços e estilos de
personalidade tornam-se relativamente estáveis, mas as mudanças na personalidade
podem ser influenciadas pelas etapas e eventos da vida. Ocorre o momento de
construção da família e da carreira.
A meia idade, 40 a 65 anos, é o momento em que as escolhas da pessoa
tornam-se mais evidentes. Quanto ao desenvolvimento físico, pode ocorrer alguma
deterioração das capacidades sensoriais, da saúde, do vigor e da destreza e para as
mulheres chega a menopausa. O desenvolvimento cognitivo evidencia o auge da
maioria das capacidades mentais, onde perícia e as capacidades de resolução de
problemas práticos são acentuadas. No trabalho, surge o ápice da carreira, trazendo
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sucesso e o êxito financeiro, entretanto, para outros podem ocorrer esgotamento total
ou mudança profissional. No que se refere ao desenvolvimento psicossocial, o senso
de identidade continua se desenvolvendo e pode ocorrer uma transição de meia-idade
estressante, tendo em vista que a dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e dos
pais idosos pode causar estresse.
A terceira idade, de 65 anos em diante, traz várias mudanças que são o
resultado das escolhas feitas ao longo da vida. O desenvolvimento físico da maioria
das pessoas é saudável, embora a saúde e as capacidades físicas diminuam um pouco
e o tempo de reação é mais lento e afeta alguns aspectos do funcionamento. No
desenvolvimento cognitivo, percebe-se que a maioria das pessoas é mentalmente
alerta, embora a inteligência e a memória possa se deteriorar em algumas áreas, a
maioria das pessoas encontra uma forma de compensação. Quanto ao
desenvolvimento psicossocial, a aposentadoria pode oferecer novas opções para a
utilização do tempo e as pessoas precisam enfrentar as perdas pessoais e a morte
iminente. Os relacionamentos com a família e com os amigos pode oferecer apoio
importante e a busca de um significado na vida assume importância central.
(PAPALLIA, 2006)
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TEMA IV – A Teoria Psicanalítica e o desenvolvimento psicossexual
OBJETIVOS
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3.1 – Conceitos Básicos de Psicanálise
O nome histeria vem do grego Hyster, ou útero. Tal denominação surge devido
a crença de que a histeria estaria vinculada à sexualidade. Seus sintomas apareciam
em forma de cegueira, surdez, paralisia, entre outros, sem que houvesse qualquer
questão neurológica evidenciada.
Neste sentido, o grupo de médicos que Freud pertencia, entendia que, por conta
de algum evento traumático, as pessoas reprimiam na memória este conhecimento e,
tal fator, desencadeava os sintomas corporais. Devido a este processo de
“esquecimento” 1 do que havia gerado o sofrimento psíquico, iniciou-se a utilização da
hipnose 2 como método para se chegar ao evento traumático “escondido”, e
consequentemente, possibilitar a liberação do sintoma corporal. A ideia era de que, se
o paciente conseguisse lembrar do evento traumático e liberasse o afeto (ou as
emoções) reprimidas juto com o trauma, paciente também estaria “curado” dos
sintomas.
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destes primeiros casos, já definem a relação consciente e inconsciente. Fica
estabelecida a existência de uma vida psíquica inconsciente, paralela à
consciência, e que pode ser dominante desta. (RAPPAPORT; DAVIS; FIORI,
1981, p. 17)
PRÉ-
INCONSCIENTE CONSCIENTE CONSCIENTE Evento
traumático
Conteúdo recalcado
Entretanto, tal modelo não dava conta de explicar o jogo de forças entre a
consciência e o inconsciente, com os processos de recalque e resistência, o que faz
com que Freud, introduza a 2ª Tópica, ou o seu modelo psicodinâmico (da dinâmica
psíquica).
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Embora pudessem explicar a dimensão do conflito interno, os conceitos de
consciente e inconsciente não puderam responder a algumas questões
levantadas. Por exemplo, se por motivo éticos ou estéticos, o consciente não
podia suportar a percepção, de uma vivência e mantinha permanentemente
a resistência bloqueando esta percepção, isto poderia ser visto como uma
indicação inexplicável de que o consciente sabia o que não queria saber. (...)
Como aceitar este processo? De onde partia a repressão? E onde estavam
localizadas as ditas aspirações éticas e estéticas que desencadeavam a
repressão? Seriam conscientes ou inconscientes? Ou ambas? (RAPPAPORT;
DAVIS; FIORI, 1981, p. 20)
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Figura 9 – A construção da memória inconsciente
Necessidade orgânica/
Desequilíbrio corporal
3 4
3 Fonte: https://br.pinterest.com/pin/552957660482502489/?lp=true
4 Fonte: http://educamais.com/desenhos-para-dia-da-mae/
5 Esta imagem do objeto de desejo pode ser sensorial, tendo em vista que o bebê pequeno não possui conceito ou
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O EGO é a segunda instância psíquica que aparece a partir da relação entre o
ID e o mundo externo. O EGO se diferencia do ID como um processo evolutivo do
sujeito, visto que esta instância traz o juízo de realidade. O EGO faz a mediação entre
o desejo do ID e as possibilidades da realidade.
Para o surgimento do EGO, é importante que na primeira etapa da vida, o
cuidador se faça presente a cada necessidade do bebê. Esta presentificação constante
traz a ideia, para o aparelho psíquico, que há algo que é interno e algo que é externo,
ou seja, o mundo extra corporal. É a partir desta percepção que o EGO produz, aos
poucos o juízo de realidade, e a pessoa entende o que é fantasia ou o que é real.
As características do EGO são: (RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 1981)
1) Propicia o juízo de realidade. Considera as necessidades e o desejo do ID e
intermedeia sua satisfação através do processo secundário, no sentido de
viabilizar a satisfação das necessidades considerando as possibilidades da
realidade.
2) Mediador entre os processos internos do ID e do SUPEREGO e a relação
destes com a realidade. O EGO estabelece os limites de censura imposta
pelo SUPEREGO com relação à moralidade e, também, com relação aos
desejos do ID.
3) Considerado o setor mais organizado e atual da personalidade, onde a
pessoa se reconhece enquanto SER único e singular. É aonde está a
identidade. Cabe ao EGO ajudar a pessoa na sua adaptação à realidade.
4) “Local” das capacidades lógicas do pensamento, envolvendo a memória e o
pensamento lógico e operatório.
5) Regula a motilidade (ou movimento), o esquema corporal e a atuação do
corpo no mundo concreto. É por isto que quando o EGO está enfraquecido
por distúrbios afetivos, a motricidade fica prejudicada.
6) Organiza a simbolização através da linguagem, transformando as fantasias
do ID de forma que seja possível sua compreensão e elaboração de forma
a construir a memória e atuar no mundo real.
7) O Ego é uma instância adaptativa que media a relação do psíquico com o
mundo externo, então também é responsável pela percepção e elaboração
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dos riscos que podem ameaçar a vida e sobrevivência da pessoa. Neste
sentido se constitui no lugar simbólico da angústia, que pode ser:
a) Angústia real – corresponde ao medo que mobiliza o sujeito diante
de uma perspectiva de agressão real;
b) Angústia neurótica – receio existente no EGO de que o ID prevaleça,
ou seja, de que os desejos prevaleçam sobre os dados da realidade
e que haja, consequentemente, sua aniquilação;
c) Angústia moral – sentimento acusatório em relação a si mesmo
considerando-se culpado e mau. Tal sentimento está vinculado a
ação de um SUPEREGO rigoroso.
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3.2 – O desenvolvimento Psicossexual
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A primeira fase é a oral e a libido está investida na boca, que é o órgão mais
desenvolvido nesta etapa de desenvolvimento que vai de 0 a 2 anos de idade.
Ao nascimento, o organismo do bebê, que estava totalmente vinculado ao corpo
materno e que não precisava de sustentação independente, sofre com o rompimento
do cordão umbilical e com a interrupção da relação simbiótica com o organismo da
mãe. Este rompimento, faz com que o organismo do bebê precise lutar para
sobreviver, gerando a ANGÚSTIA do nascimento e uma marca profunda de FALTA na
no psiquismo inconsciente da criança. Esta falta fundamental, gerada pela ruptura do
equilíbrio orgânico (ou homeostase), devido à separação do corpo do bebê com sua
mãe, é fundamental para o processo psíquico e o desenvolvimento da pessoa. É
porque falta algo, que a energia libidinal mobiliza o organismo para satisfazer as
necessidades, viabilizando sua relação com o mundo, a construção simbólica e o
desenvolvimento das funções cognitivas que fazem parte do repertório humano.
Ao nascer o bebê perde a relação simbiótica pré-natal que possuía com a mãe,
e a satisfação plena da vida intrauterina. Com o do corte do cordão, a
separação é irreversível, e a criança deve iniciar sua adaptação ao meio. (...)
Com o corte do cordão, bloqueia-se o afluxo do oxigênio materno. A carência
é sentida e o organismo já luta para sobreviver. (...) É preciso reagir, inspirar,
introjeta o mundo externo. Ou se recebe o externo, ou se deixa de viver”
(RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 1981, p. 35)
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colocação de qualquer objeto na boca (mamilo, dedo) ou pelo toque na bochecha.
(RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 1981)
Freud percebe que a sucção ocorre muitas vezes sem estar vinculada a
necessidade de alimentação, mas que o bebê gosta e sente prazer ao sugar o seio
materno. Nesta perspectiva, o seio materno é o primeiro objeto de ligação emocional
infantil, primeiro objeto que receberá sentimentos de amor e ódio e possibilidade inicial
de estabelecimento de relação afetiva com algo externo. Este vínculo de prazer inicial
será o fundamento das futuras relações afetivas da pessoa.
Mamar e sentir prazer é sentir que o leite é bom, que o seio é bom, que a mãe
é boa, que o mundo é bom. Esta sensação é correlata a sentir que colocou
dentro de si objetos do mundo externo que são bons e, portanto, que há coisas
boas dentro de si. Por isto a maternagem é fundamental para que a criança se
sinta amada e adequada. (RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 1981, p. 32)
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Os processos simbólicos de incorporação-projeção acarretam a identificação
projetiva da criança em relação ao mundo, ou seja, se o mundo é bom, ela incorpora
o mundo bom e, como a sensação inicial é de que ela está misturada ao ambiente, de
que não existe uma separação entre o mundo interno e externo, o ambiente torna-se
uma extensão projetiva dela (criança). Introjetar um mundo bom, significa que ela é
boa e adequada. Por outro lado, introjetar um mundo mau, significa que ela é
inadequada e má. A maternagem adequada faz toda a diferença neste aspecto para a
construção de uma imagem corporal ou autoconceito adequado e seguro pelo bebê.
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processo de desenvolvimento das identidades sexuais e de gênero, ou seja, a
organização dos modelos de identificação masculino e feminino.
Como as crianças começam a identificar que existem diferenças entre homens
e mulheres, também ficam curiosos sobre os tipos de relacionamento afetivo existente
entre as pessoas. Por exemplo, entendem que existe uma diferença entre namorados,
que são mais que amigos, como o pai e a mãe. Entretanto não sabem dizer qual
diferença é esta. Isto ocorre exatamente porque não sabem o que é a sexualidade
genital adulta, que será desenvolvida a partir da puberdade.
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canalizada para o desenvolvimento intelectual e social da criança, através da
sublimação. Este período culmina com um grande desenvolvimento intelectual e
cognitivo, o período da escolarização formal. (RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 1981)
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Conclusão
Esta apostila teve como objetivo aprofundar alguns aspectos teóricos abordados
nas aulas da disciplina Desenvolvimento Humano da Pós-graduação em
Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Para tanto, apresentou, no que se refere ao desenvolvimento humano, as
Teorias do Ciclo Vital e a Psicanalítica, com a finalidade de esclarecer ao aluno algumas
questões mais biológicas e afetivas que permeiam a construção da personalidade
humana.
Este trabalho também articulou as noções de personalidade e desenvolvimento
humano, visto que, na prática, conhecemos uma pessoa com uma determinada
personalidade e, só então, no decorrer do trabalho psicopedagógico é que poderemos
traçar hipóteses relacionadas aos porquês dos comportamentos. O entendimento,
mesmo que básico, do que a Psicologia considera como personalidade torna-se, então,
imprescindível para qualquer profissional que pretende trabalhar com pessoas e
necessário para o conhecimento sobre aquelas que apresentam possíveis problemas
de comportamento ou aprendizagem.
É importante salientar que existem diversas possibilidades teóricas para abordar
estas temáticas e que não houve a pretensão de esgotá-las. A ideia foi apresentar
conceitos de uma pequena parte deste universo e incitar o aluno ao aprofundamento,
através de pesquisa, de mais fontes e abordagens que explicam sob outras
perspectivas teóricas o desenvolvimento humano e a construção da personalidade das
pessoas.
Por fim, esperamos que este trabalho seja um suporte para as aulas e para a
prática profissional.
Obrigada.
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Referências Bibliográficas
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Feist, Gregory J.; Feist, Jess; Roberts, Tommi-Ann. Teorias da Personalidade - 8ª Ed.
Porto Alegre: AMGH, 2015.
Feldman, Robert S. Introdução à Psicologia – 10ª ed. Porto Alegre: AMGH Editira Ltda.,
2015.
Kleinman, Paul. Tudo o que você precisa saber sobre Psicologia. São Paulo: Editora
Gente, 2015.
Papalia, Diane E.; Olds, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Amgh
Editora, 2006.
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