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EXCELENTÍSSIMO SENHOR AUDITOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DESPORTIVA DA FEDERAÇÃO PARANAENSE DE FUTEBOL.

ARAPONGAS ESPORTE CLUBE, já qualificado nestes autos de MEDIDA


INOMINADA Nº 087/2020, por seu advogado regularmente constituído, inconformado com
a r. decisão retro proferida pelo Tribunal Pleno, vem mui respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, com amparo nos artigos 146 e 138 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva
(CBJD), interpor RECURSO VOLUNTÁRIO o fazendo tempestivamente e pelas razões em
apartado pelo que requer o recebimento e posterior remessa dos autos ao e. Superior Tribunal
de Justiça Desportiva, na forma do artigo 138-A, CBJD, para o devido processamento.

Nestes termos, pede deferimento.

Curitiba, 12 de março de 2020.

MARCELO DE LIMA CONTINI

OAB/PR n.º 40106


EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA DA
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL

O ARAPONGAS ESPORTE CLUBE ingressou com a presente medida visando


desconstituir impedimentos criados pela Federação Paranaense de Futebol (FPF) quanto ao
acesso ao sistema Portal de Competições (http://ssd.federacaopr.com.br/simpleesportes/),
disponibilizado em seu site, através do qual são cumpridos os deveres estatutários pelos
clubes, desde o requerimento de alvará à inscrição em competições.

Em janeiro do corrente ano, a FPF publicou edital de convocação para o arbitral


do Campeonato Paranaense de Futebol Profissional – 2ª Divisão o qual estabeleceu a data de
21/01/2020, e ao mesmo tempo, iniciou o recadastramento dos filiados, procedimento este
realizado através do referido Portal de Competições, cujo acesso se dá por login e senha
próprios.

Ocorre que, ultrapassado o prazo para inscrição e sem a liberação de acesso ao


sistema, bem como pela ausência de resposta a requerimento para alteração do estádio onde
mandaria seus jogos, o Recorrente adotou, por conta própria, as medidas para honrar suas
obrigações, procedendo em 30.janeiro.2020 ao pagamento das multas aplicadas pelo TJD/PR
pendentes de quitação, mediante depósito bancário em favor da Federação.

E na mesma data, tendo em vista que não há prazo divulgado para realizá-lo,
solicitou o recadastramento, encaminhando por e-mail a respectiva documentação.
No entanto, não obteve qualquer retorno da FPF acerca da aprovação do
recadastramento, mantendo a impossibilidade de acesso aos serviços disponibilizados no
Portal de Competições, especialmente, realizar a inscrição para participar das competições,
visto que encontrava-se em curso o prazo para inscrição no Campeonato Paranaense de
Futebol – Categoria Sub 19, conforme Edital de Convocação nº 02/2020, publicado em
27.janeiro.2020.

Diante dessa dificuldade, o Recorrente, através do e-mail corporativo


(arapongasec@federacaopr.com.br), encaminhou em 04.fevereiro.2020 notificação (fls.
42/43) onde solicitou à FPF providências quanto a aprovação do recadastramento para o
cumprimento de suas obrigações estatutárias, a qual foi devidamente recebida em
05.fevereiro.2020.

Novamente, sem qualquer resposta da Federação, o Recorrente procedeu ao


pagamento do alvará para o ano de 2020 mediante depósito bancário (fls. 37/38), no entanto,
como bem demonstram as telas do Portal de Competições (fls. 45/49) encontra-se impedido
de proceder à inscrição em competições dada a não conclusão do seu recadastramento.

Na data de 07.fevereiro.2020, a Federação publicou edital de prorrogação das


inscrições para o Campeonato Paranaense de Futebol – Sub 19, até o dia 17.fevereiro.2020,
conforme Ato da Presidência nº 04/2020, em anexo.

Diante da iminência de prejuízos aos seus direitos estatutários, ajuizou esta


medida na data de 13/02/2020, às 16h28min, lhe sendo deferida a possibilidade de proceder
a inscrição no Campeonato Paranaense de Futebol Sub 19, conforme decisão proferida pelo d.
Presidente do TJD/PR (fls. 76), o qual assinou prazo de 3 (três) dias para resposta pela FPF.

Regularmente intimada, conforme fls. 78, a FPF deixou transcorrer o prazo legal
definido pelo artigo 119, CBJD, porém, mesmo intempestivamente, protocolou manifestação
(fls. 87/104) na qual demonstra que respondeu a notificação para esclarecimentos
encaminhada pelo Recorrente às 16h59min do dia 13/02/2020 (fls. 101/104).
Vale dizer, somente diante do ajuizamento da medida é que a FPF esclareceu os
motivos pelos quais barrou o acesso aos sistemas pelo Clube.

E em sua manifestação, a FPF defende que, por dever de cautela e no sentido de


averiguar até mesmo a existência da personalidade jurídica do Clube diante da alteração de
contrato social apresentado no qual o quadro de sócios da sociedade limitada é encontra-se
por um único sócio, determinou a comprovação da regularização do quadro societário para,
após, prosseguir com o recadastramento.

Arguiu, ainda, que a existência de personalidade jurídica é causa, inclusive, para


permanecer filiada, e com base nesses argumentos postulou a improcedência da medida.

Com base na intempestiva manifestação da FPF, o TJD/PR proferiu a decisão


interlocutória (fls. 107) onde, motivando como suficiente para negar o recadastramento a
condição societária do Recorrente, determinou o cancelamento da inscrição do Recorrente no
Campeonato Paranaense Sub-19.

Diante da deliberação, o Recorrente juntou aos autos petição onde comprova a


regularidade perante a Receita Federal e a Junta Comercial do Paraná (JUCEPAR), e aponta
determinadas questões de ordem a serem observadas.

Contudo, mesmo diante da vasta argumentação de mérito, a d. Tribunal Pleno


decidiu, de forma unânime, pela improcedência da medida inominada fundamentado na
ausência de inscrição para o Campeonato Paranaense de Futebol da 2ª Divisão, ao qual o
Recorrente estava qualificado para disputar, sem adentrar ao mérito da questão principal,
relacionada a impossibilidade de acesso aos sistemas da FPF por conta do recadastramento.

Regularmente intimado do acórdão em 09/03/2020, o Recorrente, interpõe o


presente apelo por entender que a decisão recorrida e a presente causa merecem a justa e
devida reanálise, ante a existência de elementos seguros e legítimos capazes de conduzir a
um entendimento diverso do adotado pelo Tribunal a quo.
DAS QUESTÕES PRELIMINARES

DA ANTECIPAÇÃO DE VOTO EM DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

Precedendo a questão de mérito deste recurso, cabe discorrer sobre questões


específicas de natureza processual que afetaram consideravelmente o exercício do
contraditório e da ampla defesa pelo Recorrente.

Diante da decisão proferida às fls. 107, arguiu-se em sessão de julgamento o


impedimento do d. Presidente por restar configurada a antecipação da análise de mérito, o
que restou rejeitado pelo colegiado.

O mérito da presente medida inominada reside exatamente na legalidade da


negativa do recadastramento pautada no quadro societário do Recorrente, e para fundamentar
o cancelamento da inscrição do Clube no Campeonato de Base e respectiva exclusão do
certame, o d. Presidente do TJD/PR asseverou que:

“(...) Verificou-se em razão da resposta da Impetrada a mesma, realizada no dia 13


de fevereiro de 2020, onde apresenta parecer contrário ao recadastramento em razão
de problemas de regularidade societária, sendo suficiente para a negar o
recadastramento. (sic)
7. Desta feita, em que pese ter efetuado o pagamento do Alvará anual, em
10/02/2020, persiste a pendência quanto ao recadastramento da Impetrante,
junto a impetrada, bem como o exercício de seus direitos estatutários, até a
regularização (...)”.

A despeito de olvidar que a resposta pela FPF ao Clube se deu após o ajuizamento
da medida inominada, ao motivar sua decisão nesses termos, o d. Presidente acabou por
considerar correta a restrição imposta para conclusão do recadastramento, o fazendo
previamente ao julgamento de mérito da questão.
É inegável a antecipação de voto, por parte do d. Auditor, caracterizando o seu
impedimento nos termos do art. 18, CBJD, afinal, ainda que não tenha manifestado à
imprensa, o processo é público e a intimação às partes tem o efeito de publicizar o
entendimento manifestado.

E por mais que se alegue tratar de fundamentação, cabe ressaltar que naquela
fase, em se debatendo sobre a liminar parcialmente concedida ao Recorrente, motivar a
decisão lançando mão dos fundamentos que integram o pedido de concessão da medida
configura evidente antecipação da análise de mérito.

Ao retirar o Recorrente da competição de base pela decisão em comento pela


forma como levada a efeito, notadamente sem a devida e prévia intimação para manifestar
sobre os argumentos da FPF aos quais só se teve conhecimento com o ajuizamento desta
medida, há manifesto prejuízo ao direito de defesa da pretensão esportiva.

Por essa razão, merece ser acolhida a questão ora suscitada, que revela a
necessidade de reforma do acórdão recorrido.

DA INTEMPESTIVIDADE DA MANIFESTAÇÃO DA FEDERAÇÃO

De igual modo, outra questão de ordem processual restou descumprida pelo e.


TJD/PR, a qual gerou considerável prejuízo ao Recorrente.

A despeito de despachar a medida inominada sob o rito do mandado de garantia,


concedendo à FPF o prazo de 3 (três) dias para manifestação, ainda assim a Federação
manifestou-se nos autos intempestivamente.

Em que pese tenha alegado não ter recebido a intimação (fls. 79), nas fls. 78 resta
clara a intimação da FPF para se manifestar, além de tomar inequívoco conhecimento acerca
da propositura da medida quando o Recorrente procedeu, mediante formal protocolo, à
inscrição para o Campeonato de Categoria de Base, conforme fls. 81/86.
Desta forma, a petição juntada às fls. 87 e seguintes veio aos autos de forma
intempestiva, em absoluta desconformidade ao artigo 119, § 2º, CBJD, que assegura à parte
contrária o prazo de 2 (dois) dias para manifestar sobre o pedido.

Esse fato caracteriza evidente descumprimento a preceito processual,


configurando violação ao princípio do devido processo legal e ao direito de defesa do
Recorrente, porquanto foi amparado na extemporânea manifestação da FPF que toda uma
ordem de fatos restou alterada, e motivou a decisão de fls. 107 onde ordena o cancelamento
da inscrição então efetivada para a participação no campeonato de categoria de base.

A situação ora apresentada representa manifesta ofensa ao artigo 2º, incisos I, III,
XVI e XVII do CBJD, afetando de modo determinante a regularidade deste processo e a
continuidade e estabilidade da competição, o que merece ser devidamente reparado pela c.
Corte julgadora.

Assim, por medida de restabelecimento da regularidade processual, requer seja


destacada e acolhida a questão preliminar, para determinar o desentranhamento dos autos da
petição e dos documentos que a acompanham carreados às fls. 87 a 104 dos autos, dada a
intempestividade do seu protocolo à luz do artigo 119, § 2º, CBJD, configurando ofensa ao
devido processo legal e à ampla defesa.

DO DIREITO

No v. acórdão recorrido, o TJD/PR fundamentou a improcedência da medida


liminar estritamente nos argumentos da FPF acerca da “inércia do Recorrente” quanto a
inscrição para o Campeonato Paranaense da 2ª Divisão, para o qual estava qualificado.

Com o devido respeito ao entendimento externado, ao trilhar por este viés para
julgar a demanda sem adentrar à análise da questão propriamente dita que conduziu a dita
”inércia” atribuída ao Recorrente, o c. TJD/PR faz tábula rasa da questão esportiva suscitada.
A decisão recorrida, e novamente pedindo venia, olvida do fato incontroverso de
que, no âmbito da FPF, atualmente, todo e qualquer ato a ser praticado por um clube de
futebol para cumprir os seus deveres estatutários – da emissão de boletos para pagamento
de taxas até a inscrição para participação em competições, somente é possível fazê-lo
através do sistema disponibilizado pela própria FPF em seu Portal de Competições.

Por mais que o v. acórdão tenha optado por cerrar os olhos para os argumentos
do Clube, é inarredável que a questão do acesso ao sistema precede a análise sobre uma
pretensa inércia por parte do Recorrente quanto à sua inscrição em competições.

E o outro fato incontroverso é que ao Recorrente tem sido negado todo e


qualquer acesso aos sistemas da FPF desde 07/01/2020, o que afasta totalmente a
alegação de que teria incorrido em omissão para cumprir os seus deveres estatutários, afinal,
sem o acesso ao sistema, não teria acesso aos boletos para pagamento da taxa de alvará e,
consequentemente, teria indeferida a sua inscrição para o campeonato.

E esse fato resta evidenciado das alegações da própria FPF ao asseverar que “por
dever de cautela” diante da alteração contratual apresentada para recadastramento (e a
liberação do acesso ao sistema), condicionou a emissão do alvará – e a conclusão do
recadastramento – à definição do que denominou “averiguar a existência de personalidade
jurídica do Clube”.

Ora, a partir desse ponto, fica claro que independente do momento do pedido de
recadastramento, v. g., no início de janeiro, o Recorrente não teria deferido o acesso ao sistema
e a respectiva possibilidade de fazer a inscrição para o Campeonato Paranaense da 2ª Divisão,
por conta de uma pretensa ausência de personalidade jurídica decorrente da atual situação do
seu quadro societário.

Ao mesmo tempo que estabeleceu a obrigação do Recorrente se inscrever no


Campeonato Paranaense da 2ª Divisão, conforme edital publicado em 07.janeiro.2020 (fls.
16), a FPF condicionou essa inscrição ao recadastramento.
Em outros termos, se dentro do prazo de recadastramento a própria FPF abriu o
prazo para inscrição em competição, não cabia à FPF, sob qualquer argumento, tolher do
Recorrente o acesso ao sistema tampouco criar impedimentos para o Clube realizar inscrição
em competições, afinal, o interesse esportivo prevalece sobre qualquer questão administrativa.

E um recadastramento não equivale à filiação, notadamente em relação ao


Recorrente, que é uma sociedade limitada onde o sócio-administrador não possui mandado
eletivo.

De qualquer ângulo que se observe, condicionar ao Recorrente o acesso aos


sistemas por conta do recadastramento, da forma como levada a efeito, configura uma
ilegítima condicionante, seja pela falta de regulamentação do próprio procedimento de
recadastramento, seja pelo fato de que o Recorrente permanece ATIVO, o que é uma clara
comprovação de que segue dotado de personalidade jurídica para executar e cumprir sua
atividade empresarial esportiva, conforme documentos fornecidos pela Receita Federal e pela
JUCEPAR (fls. 118/120).

Da mesma forma, perante a FPF, o Recorrente vem disputando competições


há mais de 3 (três) anos, sendo conduzido pelo mesmo sócio-administrador sem
qualquer apontamento quanto a sua personalidade jurídica ou legitimidade de
representação; nesse período, cumpriu regular e rigorosamente os seus deveres,
especialmente junto a esta Corte Disciplinar, e encontrava-se apto, à luz do Estatuto da FPF,
para disputar o Campeonato Paranaense da 2ª Divisão.

Toda essa realidade foi simplesmente ignorada pelo acordão recorrido, e merecia
ser ponderada, pois é nela que verdadeiramente reside o interesse esportivo, e não na
condição burocrática apontada pela FPF para negar o acesso ao sistema e o próprio
recadastramento, uma situação que poderia ser administrada de outra forma, mediante
concessão de prazo.
Em situação análoga, a AA Batel trouxe a esta Corte Superior a necessidade de
desconstituir situação burocrática colocada pela FPF à frente do interesse esportivo, sendo
acolhida para restituir o clube para a disputa da competição.

10 – Processo 020/2020 – Recurso Voluntário – Procedência: TJD/PR -


Recorrente: AA Batel –Recorridos: TJD/PR e Federação Paranaense de
Futebol. Terceiro Interessado: AA Iguaçu. “Por unanimidade de votos
conheceu-se do recurso da AA Batel para no mérito dar-lhe provimento,
mantendo o clube inscrito no Campeonato Paranaense da Segunda
Divisão2020, anulando a decisão do Presidente da Federação Paranaense de
indeferir a inscrição do recorrente.” (STJD. Tribunal Pleno. Auditor: Dr.
Mauro Marcelo de Lima e Silva. Sessão de 13/02/2020)

É esse ponto que merece prevalecer no caso vertente, afinal, demonstrado que o
Recorrente permanece ativo perante a União e à própria FPF, e que a perda da personalidade
jurídica somente se dá com a dissolução da sociedade ou, para fins esportivos, com a
desfiliação, o que não ocorreu até a presente data, inexiste fundamento jurídico a amparar a
recusa do acesso ao sistema bem como o próprio recadastramento.

E por mais que a FPF assevere que não criou qualquer impedimento, o fato
incontroverso é que até a presente data o Recorrente permanece sem qualquer acesso ao
sistema Portal de Competições e ao próprio sistema Gestão WEB disponibilizado pela
CBF, e sem acesso a esses serviços não há a mínima possibilidade do Clube cumprir os
seus deveres estatutários, tal como, v. g., fazer inscrição em competições e registrar atletas.

Vale dizer, ao indicar que “por cautela e no sentido de averiguar a existência de


personalidade jurídica do Clube” determinou a comprovação da regularização da pendência
segundo o artigo 1033 do Código Civil, apontando, ainda, a causa de desfiliação prevista no
art. 50 do Estatuto, a FPF, na prática, através de um recadastramento sem qualquer
regulamentação, inaugura um novo procedimento para suspensão de direitos e, até
mesmo, para viabilizar a desfiliação de Clubes, em visível afronta ao próprio Estatuto que
prevê a necessidade do devido processo legal para tais situações.
E ao indicar a hipótese de desfiliação em sua manifestação, a FPF acaba por
referendar o argumento do Recorrente acerca dos prejuízos irreparáveis ou de difícil
reparação a que está sujeito caso não dispute competições no corrente ano, como
exposto na petição inicial, passando pela necessidade de se licenciar, o que de pronto ensejará
a obrigação de pagar uma taxa de alto valor para retomar as atividades no ano seguinte, ou,
até mesmo, ser deflagrado um processo de desfiliação.

Num juízo de proporcionalidade, a realização da atividade esportiva é um bem


jurídico superior ao cumprimento de uma situação que, na prática, não representa qualquer
pendência e pode ser suprida posteriormente, mediante a devida recomendação e respectiva
concessão de prazo.

E este ponto reforça o argumento de que, ao fim e ao cabo, o impedimento em


comento criado pela FPF constitui, sim, afronta aos direitos e deveres estatutários do Clube.

A recusa do TJD/PR em enfrentar essa questão, além de evidenciar manifesta


negativa de prestação jusdesportiva, demonstra que a tutela do interesse esportivo resta
subordinada a questões de ordem puramente administrativa; alinhado com o pensamento da
FPF, as questões burocráticas mais comezinhas se sobrepõem a medidas destinadas a viabilizar
a participação dos clubes em competições, uma conduta cada vez mais frequente e que em
nada auxilia no desenvolvimento do futebol.

Em casos semelhantes, esta c. Corte reparou esse direcionamento reformando


decisões proferidas pelo TJD/PR ou concedendo providencias em favor dos clubes, como nos
Autos nº 020/2020-STJD, acima citado, no Mandado de Garantia nº 036/2018-STJD, movido
pelo Nacional AC de Rolândia, pelo qual extinguiu procedimento administrativo instaurado no
âmbito da FPF e devolvendo o clube para disputa de competições,i e o Recurso Voluntário nº
025/2018-STJD, interposto pelo Clube Atlético Cambé, onde reformou a decisão do tribunal
paranaense e concedeu a garantia postulada para o Clube disputar o Campeonato Paranaense
Sub-19ii.
Assim sendo, e tendo à frente a relevância da atividade esportiva, merece
provimento o recurso para reformar a decisão recorrida, porquanto as restrições opostas são
claramente desproporcionais e devem ser dissipadas para permitir que o Recorrente retome,
sua participação em competições.

DOS REQUERIMENTOS
Ante o exposto e por todo o mais que dos autos conste, requer seja o presente
recurso conhecido e, no mérito, provido para reformar a decisão proferida pelo TJD/PR,
concedendo a medida inominada para determinar à FPF que outorgue o alvará de
funcionamento ao Recorrente e libere o acesso aos serviços do sistema Portal de Competições
sistemas, bem como o inclua definitivamente no Campeonato Paranaense de Futebol da 2ª
Divisão e no Campeonato Paranaense Sub-19, no qual estava inscrito por força da liminar
concedida nestes autos.
Alternativamente, e nos termos da petição inicial, na impossibilidade de inclusão
no Campeonato Paranaense da 2ª Divisão, seja deferida ao Recorrente a possibilidade de
inscrição no Campeonato Paranaense de Futebol Profissional – 3ª Divisão – Temporada 2020.
Por fim, e também alternativamente, na hipótese de entendimento em sentido
diverso quanto à participação em competições profissionais, determine à Federação
Paranaense de Futebol que se abstenha de instaurar procedimento administrativo para
desfiliação ou suspensão do Clube, bem como considerá-lo em atividade no ano de 2020,
afastando, consequentemente, a cobrança da taxa de retorno para o ano de 2021.

Nestes termos, pede deferimento.


Curitiba, 12 de março de 2020.

MARCELO DE LIMA CONTINI

OAB/PR n.º 40106


i
3) Processo nº 036/2018 - MANDADO DE GARANTIA - IMPETRANTE: NACIONAL ATLÉTICO
CLUBE S/S LTDA - IMPETRADO: DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE REGISTRO E
TRANSFERÊNCIA DA CBF, SR. REYNALDO BUZONNI E COMISSÃO DE PROCESSO
ADMINISTRATIVO DA FEDERAÇÃO DE FUTEBOL DO ESTADO DO PARANÁ.
RESULTADO: “Por unanimidade de votos, conheceu-se do Mandado para no mérito conceder a garantia
ao Nacional Atlético Clube S/S Ltda, extinguindo o processo administrativo da impetrada, determinando-
se que se cumpra a decisão proferida nos autos do processo 220/2017, que autorizou a participação do
Nacional nas competições organizadas pela Federação Paranaense de Futebol em 2018, determinando que
a Federação libere o código de acesso ao clube no prazo de 24h (vinte e quatro horas), a partir da intimação
da decisão, sob pena de multa no valor de 100.000,00 (cem mil reais). Em caso de descumprimento da
decisão, deverá a CBF liberar o acesso do ao sistema eletrônico para o impetrante poder fazer os registros
necessários. Por maioria de votos, foi determinada a baixa dos autos os autos à Procuradoria para apurar
eventual descumprimento do Art. 223 do CBJD, divergindo os Auditores Dr. Mauro Marcelo de Lima e
Silva, Dr. Antônio Vanderler e Dra. Arlete Mesquita, que determinavam, imediatamente, a aplicação do
§1° do Art. 223 do CBJD, com multa no valor de 100.000,00 (cem mil reais).” (STJD. Tribunal Pleno.
Auditor: Dr. Paulo César Salomão Filho. Sessão de 12/04/2018).
ii
6) Processo nº 025/2018 - RECURSO VOLUNTÁRIO – PROCEDÊNCIA: TJD/PR -
RECORRENTE: CLUBE ATLÉTICO CAMBÉ - RECORRIDO: TJD/PR. RESULTADO: “Por
unanimidade de votos, se conheceu do recurso, para no mérito, dar-lhe provimento, para integrar o Clube
Atlético Cambé na Competição sub-19, realizada pela Federação Paranaense de Futebol”. Sendo
determinado pelo Auditor Relator, a inclusão no presente processo, cópias de folhas 214 a 268 do processo
26/18. (STJD. Tribunal Pleno. Auditor: Dr. Décio Neuhaus. Sessão de 09/03/2018).

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