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DISCIPLINA: LINGUAGEM JORNALÍSTICA III

PERÍODO LETIVO: 2023/1

PROFESSORA: LAURA SELIGMAN

ALUNO: JOÃO VITOR MENDES MORAES

O claustrofóbico e sufocante "The Whale" aprisiona seu público em um corpo


em que ele não quer estar
Estreando em 2022 nos Estados Unidos e chegando aos cinemas brasileiros em 2023, The
Whale (ou A Baleia, como título adaptado para o Brasil) é o mais recente filme de um dos
mestres do drama perturbador, Darren Aronofsky. Conhecido por filmes de drama que desafiam a
resistência e a passividade dos espectadores diante de uma árdua jornada dos protagonistas,
como Cisne Negro e Mãe!, Darren Aronofsky não falha em mais uma vez deixar desconfortável
espectadores que normalmente apenas sentam em uma sala de cinema para assistir um filme
colorido à moda filmes de heróis.
O filme retrata a figura de Charlie, interpretado pelo ator Brendan Fraser, que ganhou o
Oscar de Melhor Ator por essa performance, um cidadão estadunidense obeso e condenado à
morte devido seu estado de saúde, desdobrando ao longo da trama uma sequência de inesperadas
camadas de obstáculos impostos por uma sociedade engessada e preconceituosa que cada vez
mais revela-se diante de sua aversão pelo protagonista e de tudo o que ele representa ou é.
Preso em um corpo que já não mais consegue existir se não pela ajuda de outra pessoa,
Charlie, que carece até mesmo de sobrenome, é um homem homossexual que anseia pela
oportunidade de conseguir reconectar-se com sua filha biológica, Ellie, que não possui nenhuma
intenção de incluir seu pai em sua caótica e precária vida. Não obstante, um fanático cristão
despenca em sua rotina por um infortúnio acaso e acaba tendo seu passado questionado enquanto
tenta, de maneira repulsiva, catequizar Charlie de sua própria orientação sexual e de todo o amor
que lhe resta antes de afundar em uma espiral profunda de depressão.
O longa metragem de 1h57min encapsula o espectador em sua passividade para a própria
perspectiva de Charlie, onde Aronofsky faz decisões inteligentes de plano para a filmagem,
limitando todas as cenas para um quadrado sufocante e aplicando um zoom incômodo e
provocante em todos os momentos que Charlie está em cena, tornando a experiência cada vez
mais claustrofóbica em uma ilusão de que o corpo do protagonista está cada vez maior, cada vez
mais suprimido e cada vez mais ocupando espaço na tela que não lhe dá outra opção a não ser
cravar seus olhos nele.
O ator Brendan Fraser não dá o braço a torcer pela própria bizarrice das decisões
cinematográficas feitas pelo diretor, entregando uma performance igualmente absurda em suas
nuances da realidade. Dando a vida ao personagem Charlie, que está em seus últimos dias de
vida após o falecimento de seu ex-marido, Brendan dá uma forma sólida ao personagem
depressivo e compulsivo que possui uma constante incapacidade de se impor.
A submissão do personagem é o ponto principal de sua trajetória e é sem dúvidas um dos
elementos mais revoltantes do filme, se não o mais revoltante, que faz o espectador querer
levantar-se da cadeira de cinema tanto quanto os próprios personagens do filme já o bem fazem.
O diretor embarca assim em uma jornada de praticamente arrancar a hipocrisia e a repulsa
dos demais, apesar de poucos personagens incluídos na trama além de Charlie, indivíduos que
entram em interação com o protagonista. A agoniante sequência de rejeição que Charlie recebe
por diversas esferas do que é previsto como o ato final de sua vida tem seu impacto acentuado
quando todas as decisões visuais também provocam o espectador a ter repulsa pelo personagem
em sua total submissão.
Impactante e repulsivo, The Whale mostra a importância do cinema como uma arte a
provocar a sua audiência, trazendo elementos que forçam o espectador a sair de sua cúmplice
passividade ao sofrimento do protagonista e exercitar seus próprios medos, preconceitos e atos
do que podem entender como compaixão.
É uma grande questão para seus espectadores do porquê de sentir pena, ao invés de
realmente querer aplicar uma mudança efetiva, sendo quase duas horas de cutucadas na ferida
que tiram o público da zona de conforto de filmes coloridos e colocam no colo da reflexão de
uma realidade azeda, fosca e acinzentada que pode existir em qualquer canto do globo.

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