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Pediatria

TEMA: SÍNDROMES GASTROINTESTINAIS E principalmente lactentes. A causa mais comum é a


DESIDRATAÇÃO NA INFÂNCIA intolerância transitória à lactose.

DEFINIÇÃO Diarreia crônica: duração superior a 30 dias ou


ocorrência de 3 episódios no período de 60 dias.
Segundo a OMS, a diarreia é definida pelo FISIOPATOLOGIA
aumento do número de evacuações (no mínimo Ocorre ruptura das barreiras de defesa do
três em um período de 24h) com diminuição da organismo, resultando em aumento de motilidade
consistência das fezes ou, em crianças menores, intestinal, acidez gástrica, aumento de secreção
mudança no padrão das evacuações. Pode levar à de água e eletrólitos ou bloqueio da absorção
desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico, intestinal.
sendo esses os principais fatores determinantes
de morbimortalidade. Pode ser classificada em:

Uma criança em aleitamento materno Secretora: Aumento da secreção intestinal de


exclusivo pode evacuar de 8 a 10 vezes por dia, água e eletrólitos. Esse fenômeno pode ser
sem caracterizar diarreia, tornando indispensável causado por toxinas bacterianas (p. ex E. coli,
saber o hábito intestinal normal da criança. São Clostridium, S. aureus, Vibrio cholerae) que ativam a
reportados cerca de 3 a 5 milhões de mortes em adenilatociclase e aumentam a concentração
menores de 5 anos, considerada a 2ª causa de intracelular dos nucleotídeos cíclicos (como o AMP
óbito nessa faixa etária, de acordo com a e GMP) e do cálcio, promovendo a secreção ativa
estimativa da OMS. Tem maior incidência em de água e eletrólitos (principalmente Na e Cl). A
menores de 2 anos. diarreia é aquosa e de grande volume.

CLASSIFICAÇÃO Pode ser resultante também da lesão da


Diarreia aguda: pode durar até 14 dias, superfície absortiva, que aumenta a secreção
determinando a perda de volumes e fluidos e, intestinal também e gera perda de água,
consequentemente, desidratação e desnutrição. leucócitos, hemácias e proteínas, levando à
Pode ser causada por bactérias, protozoários ou disenteria.
vírus (maioria), com má absorção e secreção de
eletrólitos. É autolimitada. Pode ser aquosa ou Osmótica: Caracteriza-se pela retenção de
sanguinolenta (disenteria). líquidos no intestino a fim de manter a
isotonicidade intraluminal, sendo predominante
- Aquosa: tem como causa rotavírus nos quadros virais. Pode ser causado por prejuízo
(principal), norovirus, E. coli na absorção de lactase. O líquido é conduzido ao
enterotoxigênica (bacteriana mais comum
interior da alça intestinal pelos carboidratos não
no Brasil - diarreia do viajante), E. coli
absorvidos e o açúcar presente no lúmen é
enteropatogênica (crianças pequenas,
diarreia persistente), cólera e giardíase. convertido em ácidos orgânicos pelas bactérias
- Disenteria: diarreia aguda com sangue, intestinais. Esses ácidos irritam a mucosa e
representa lesão na mucosa intestinal e acidificam o pH fecal, o que causa assaduras.
pode associar-se com infecção sistêmica,
Inflamatória: Causada por bactérias invasoras,
febre e prostração. O principal agente é a
Shigella, mas pode ocorrer com como Shigella, Salmonella e Campylobacter jejuni.
Campylobacter, E. coli enteroinvasiva e A lesão das células do epitélio intestinal impede a
enterohemorrágica, Yersinia enterocolitica, absorção dos nutriente, enquanto a mucosa
Salmonelose e amebíase. invadida produz substâncias que estimulam a
secreção de eletrólitos para o lúmen intestinal.
Diarreia persistente: se prolonga por mais que 14 Ocorre por lesão direta do microrganismo à
dias e causa instabilidade hidroeletrolítica e mucosa intestinal, provocando exsudação de
comprometimento do estado geral e nutricional,
sangue, muco e perda de proteínas. O paciente
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Este material é elaborado de forma colaborativa, sendo vedadas práticas que caracterizem plágio ou violem direitos autorais e/ou de propriedade intelectual.
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apresenta febre, mal-estar, cólica, vômitos e fecal, exposição à aves e animais de fazenda e
diarreia com muco e sangue. Há leucócitos nas carne contaminada.
fezes, assim como sangue visível ou oculto.
Os agentes mais comuns são: E. coli,
Shigella, Salmonella, C. difficile, Campylobacter
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL jejuni, Yersinia enterocolitica. Em pacientes
imunossuprimidos ou com uso recente de
O quadro clínico pode ajudar na suspeita antibióticos, pensar em Klebsiella, Pseudomonas e
da etiologia. Abaixo, descrevemos as C. difficile.
características das principais etiologias.
As diarreias bacterianas seguem padrão
GASTROENTERITE VIRAL semelhante entre si, com febre alta, vômitos,
toxemia e distensão abdominal e tenesmo. Em
É a causa mais comum de diarreia vista na
alguns casos, as fezes apresentam muco e sangue
emergência. Pode ser causada por rotavírus,
e são acompanhadas de cólicas intensas que
norovírus (em surtos), adenovirus, coronavirus.
melhoram com a evacuação. Os aspecto comum da
O tempo da incubação, sazonalidade, diarreia, independentemente do agente, é seu
severidade e duração depende do tipo específico risco potencial de causar desidratação e distúrbios
de vírus. Não há necessidade de teste diagnóstico eletrolíticos. Em alguns casos pode ser muito
na maioria das vezes. similar à gastroenterite viral e uma cultura de
fezes é necessária para diagnóstico.
O quadro típico é uma diarreia sem sangue,
vômitos e febre. Alguns sintomas são típicos de alguns
agentes, como é ocaso de convulsões na
A diarreia causada pelo rotavírus (mais infecção por Shigella.
comum no Brasil, seguida pelo norovírus) Já a cólera é caracterizada por uma diarréia
apresenta pródromos de 1 a 3 dias de febre, com intensa, com perda de litros de água por
sintomas gripais e vômitos frequentes e dia e fezes em “água de arroz”.
volumosos que, por si só, já causam desidratação. O Campylobacter está associado à
Em seguida, instala-se um quadro de diarreia Síndrome de Guillain-Barré.
aquosa, profusa, com diversos episódios ao dia e, A salmonelose é mais grave em pacientes
muitas vezes, explosiva. Tem dois mecanismos: com anemia falciforme, imunodeprimidos e
- Osmótico: vírus causa achatamento de menores de 3 anos.
vilosidades com diminuição das
dissacaridases (lactase, maltase, sacarase),
que leva ao acúmulo de dissacarídeos na
luz intestinal. Ocorre aumento da
INFECÇÕES EXTRAINTESTINAIS
osmolaridade intraluminal, com aumento
de água, logo, diarreia. A diarreia é autolimitada, sem sangue,
- Secretor: proteína NST-4 que atua nos acompanhada de febre ou vômitos. As infecções
receptores dos enterócitos, estimulando mais comuns são a sepse bacteriana, otite média,
secreção de água e eletrólitos. infecção do trato urinário e pneumonia.
- Tóxico: efeito direto da toxina NST-4 na
DIARREIA ASSOCIADA À ANTIBIÓTICOS
mucosa.
Ocorre após o uso de diversos antibióticos,
GASTROENTERITE BACTERIANA
como amoxicilina, amoxicilina-clavulanato,
A infecção bacteriana acomete crianças cefalosporinas e clindamicina. Acredita-se que o
maiores de 2 anos, através de contaminação oral-

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mecanismo esteja associado à alteração da flora Os agentes mais comuns são: Giardia,
fecal com supercrescimento de enteropatógenos. Cryptosporidium, Entamoeba histolytica, Taenia,
entre outros. O exame de fezes pode revelar
A suspeita clínica se dá pela diarreia
presença de ovos e parasitas.
durante ou após o uso de antibióticos.
A giardíase, por exemplo, pode cursar com
DIARRÉIA FUNCIONAL
diarreia aguda, intermitente ou crônica, ou mesmo
Decorrente do consumo de fluidos ser assintomática.
hiperosmolares ou excesso de carboidratos.
SEPSE BACTERIANA
Ocorre passagem de 4 ou mais fezes mal formadas
ao dia e melhora com aumento de volume da Comum associada à Salmonelose e
fórmula ou redução do consumo de carboidratos Síndrome do Choque Tóxico Estafilocócico.
osmoticamente ativos.
A sepse por Salmonella acomete
DIARREIA POR INANIÇÃO principalmente menores de 1 ano e
imunocomprometidos. Causa febre, diarreia com
Ocorre diarreia devido à baixa ingestão de
sangue e mal estado geral, podendo levar ao
alimentos sólidos, principalmente em crianças
choque séptico.
desnutridas ou após um episódio de
gastroenterite. Melhora com o retorno da dieta. O choque estafilocócico (S. aureus) leva a
hipotensão e diarreia aquosa.
DEFICIÊNCIA DE LACTASE
INTUSSUSCEPÇÃO INTESTINAL
Nas crianças pequenas, a deficiência da
lactase é transitória, devido a lesão da mucosa Acomete crianças menores de 2 anos, mais
intestinal após infecção, ocorrendo uma diarreia comum entre 6 a 12 meses. A clínica é
leve e autolimitada. caracterizada por cólica intestinal intensa e
intermitente, choro inconsolável e, às vezes,
Em crianças maiores, com deficiência
sangue nas fezes (“fezes em geleia de morango”).
crônica de lactase (congênita ou por hipolactasia),
Os episódios duram 15-20 minutos, ficando mais
a ingestão de lactose resulta em dor abdominal,
frequentes. Pode ocorrer vômitos alimentares,
flatulência, eructação e diarreia, após algumas
que evoluem para biliosos. Uma massa palpável no
horas. A melhora ocorre após 5-7 dias com
lado direito do abdome pode ser encontrada. O
restrição de lactose.
diagnóstico é complementado com USG ou enema
A lactose não digerida aumenta com contraste aéreo.
osmolaridade intraluminal, causando diarreia
SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA
osmótica. A lactose sofre fermentação e forma
ácidos orgânicos e gases. Os ácidos acidificam as Ocorre pela Shiga-like, toxina produzida
fezes e causam assaduras com hiperemia perianal pela E. coli enterohemorrágica (cepa O157-H7). O
e os gases levam à distensão, flatulência e fezes contágio ocorre pelo consumo de carne mal
explosivas. cozida, leite e derivados não pasteurizados, água e
alimentos contaminados. A toxina faz lesão do
INFECÇÕES PARASITÁRIAS
endotélio, gerando trombose arteriolar. Quando
Comum em locais sem saneamento básico, afeta os rins faz lesão glomerular e mesangial,
consumo de carne processada, exposição à levando à insuficiência renal.
animais e pacientes imunocomprometidos. Ocorre
Os fatores de risco são crianças < 5 anos,
diarreia aquosa, cólicas abdominais, vômitos e
sexo feminino, uso de anti-espástico e antibióticos
febre baixa.
e leucocitose.

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É uma condição incomum, porém grave. O DOENÇAS CRÔNICAS


quadro inicia-se com diarreia sanguinolenta, dor
Várias condições crônicas podem causar
abdominal e vômitos por 5 a 10 dias, seguida por
diarreia, geralmente crônica com agudizações:
uma tríade clássica de instalação súbita:
Imunodeficiências
Anemia hemolítica microangiopática:
HIV
anemia, esquizócitos em sangue periférico,
Alergia alimentar (proteína do leite de
reticulocitose, aumento de bilirrubina
vaca)
indireta.
Doença celíaca
Trombocitopenia: petéquias e
Doença inflamatória intestinal
sangramento.
Fibrose cística
Injúria renal aguda: oligúria, edema,
Acrodermatite enteropática
hipertensão, hematúria e proteinúria.
Tumores neuroendócrinos
O diagnóstico é dado pela coprocultura Disfunções endocrinológicas
(positiva em < 50%), pesquisa da toxina nas fezes (hipertireoidismo, hipoparatireoidismo,
(mais sensível), PCR para genes da toxina e hiperplasia adrenal congênita)
sorologia para E. coli (fase tardia) Síndrome de abstinência neonatal
Síndrome do intestino curto
Não é tratada com antibióticos, pois
Diarreia factícia
pode piorar a clínica. A conduta é baseada no
Síndrome do intestino irritável.
suporte até a resolução da infecção. O paciente é
internado com isolamento de contato. Em caso de DIAGNÓSTICO
IRA, a diálise é indicada. Antiagregantes O diagnóstico é eminentemente clínico. A
plaquetários, corticoides e plasma devem ser investigação da etiologia não é obrigatória e só
evitados também. deve ser realizada em casos graves e nos
pacientes hospitalizados. A diarreia pode vir
A evolução para doença renal crônica têm
acompanhada de vômitos, febre, anorexia,
maior risco na presença de oligúria prolongada na
cefaléia e mialgia. A perda hídrica nas fezes pode
fase aguda, hipertensão arterial persistente por
levar à desidratação.
mais 1 ano e proteinúria persistente (relação
proteinúria/creatinina > 1) Anamnese
COLITE PSEUDOMEMBRANOSA Estado imunológico
Febre
Decorre da toxina por infecção por C.
Diarreia com sangue ou muco
difficile e apresenta-se com diarreia aquosa, dor
Potencial para desidratação: número de
abdominal, febre baixa, leucocitose após o uso de
evacuações ao dia, ingestão de líquidos,
antibióticos. Pode ser fulminante e evoluir com
débito urinário e peso recente
megacólon tóxico e choque.
Início da diarreia: a etiologia viral tem início
APENDICITE de 12 a 4 dias após exposição.
Duração da diarreia
Apesar do quadro típico, crianças menores Uso recente de antibióticos
de 5 anos podem ter diarreia. Crianças institucionalizadas
EXPOSIÇÃO À TOXINAS Dieta

Mais comum é o consumo de alimentos Exame físico


contaminados (C. perfringens, E. coli), plantas e Estado de alerta
cogumelos tóxicos, organofosforados e
carbamatos.
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Sinais de desidratação: redução do débito Avaliação do grau de desidratação


urinário, taquicardia, mucosas secas, turgor
O percentual da perda aguda de peso é
cutâneo, taquipneia e esforço respiratório.
considerado o melhor indicador de desidratação.
Sinais de infecção sistêmica
Outros sinais importantes são
Exame abdominal completo
Sinais de choque Aumento da sede, redução do débito
urinário, letargia ou irritabilidade
Exames complementares
Taquicardia e taquipneia
A investigação da etiologia correta é Hipotensão arterial
indicada em pacientes graves e hospitalizados, Turgor cutâneo reduzido (a pele demora a
surtos e diarreia persistente. retornar quando é pinçada)
Redução da perfusão periférica.
Os exames são:
Considera-se:
Coprocultura: identifica agentes
bacterianos. É complementada com Desidratação leve: perda de peso de até 3-
antibiograma. 5%
Pesquisa viral nas fezes: teste rápido para Poucos sinais clínicos, apenas uma
rotavirus e adenovirus leve redução do débito urinário.
Desidratação moderada: perda de peso
Apenas em caso de desidratação grave,
entre 5 e 10%
solicitamos dosagem de eletrólitos (Na e K),
Taquicardia, hipotensão ortostática,
gasometria e glicemia.
turgor cutâneo reduzido, mucosas
TRATAMENTO secas, irritabilidade, tempo de
É necessário fazer uma avaliação do enchimento capilar > 2 seg. Em
estado de hidratação a fim de definir o crianças pequenas, a fontanela
planejamento terapêutico (planos A, B ou C). pode estar deprimida.
Desidratação grave: perda de peso > 10%
Deve-se avaliar o estado de alerta, a Sinais de choque (hipotensão,
capacidade de beber e a diurese, investigando a tempo de enchimento capilar > 3
presença de febre, ou outra manifestação clínica, segundos, extremidades frias,
as práticas alimentares, a presença de sangue nas letargia, respiração profunda e
fezes, a duração da diarreia, além do número taquipneia.
diário de evacuações e se houveram outros casos Terapia de reposição hídrica
de diarreia aguda em casa ou na escola.
A reposição é baseada nos fatores acima e
é preferencialmente realizada com fluidos
Pacientes com maior risco de complicação
isotônicos e cristalóides, por via intravenosa ou
Idade inferior a 2 meses oral. O tempo varia conforme grau de
Doenças de base grave, como diabetes desidratação.
mellitus, insuficiência renal ou hepática,
desnutrição e outras doenças crônicas
Presença de vômitos persistentes
Perdas diarreicas volumosas e frequentes
(mais de 8 episódios diários)
Percepção inadequada dos pais quanto aos
sinais de desidratação
TERAPIA DE REIDRATAÇÃO
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Soro caseiro: 1 copo de água + 1 colher rasa


de sal + 2 colher rasa de açúcar (50 mEq/L de
Na)
SRO - OMS: Na 75 mEq/L + Glicose 75
mmol/L + osmolaridade 245 mOsm/L
Não consumir refrigerante e não adoçar
chás ou sucos
Manter aleitamento materno ou
alimentação habitual para crianças e
adultos
Administrar zinco 1x ao dia, durante 14 dias
Até 6 meses: 10 mg/dl
Maiores de 6 meses: 20 mg/dl
Orientar sinais de alarme: ausência de
É composta por 2 fases:
melhora em 2 dias, piora, recusa alimentar,
1) Fase de reposição / repleção: repor déficits
aumento da sede, sangue nas fezes,
de água e eletrólitos, perdas anormais e
redução da diurese.
retornar ao volume e eletrólitos normais.
Pode ser composta por 2 etapas:
a) Primária: repor rapidamente o PLANO B - desidratação não grave
volume intravascular
b) Secundária: terminar de repor o Terapia de reidratação oral na unidade de saúde
volume e repor eletrólitos. Nível de hidratação: irritado, olhos fundos,
2) Fase de manutenção: repor as perdas lágrimas ausentes, sedento por água (bebe rápida
esperadas de água e eletrólitos para e avidamente), sinal da prega com
manter o volume e eletrólitos normais. desaparecimento lento e pulso rápido e fraco.
- 2 ou mais sinais = desidratação.

Tratamento: ambulatorial
Soro de reposição oral: 75 ou 50 a
PLANO A - sem desidratação 100ml/kg em 1 a 4-6 horas, até o
Terapia de reidratação oral domiciliar desaparecimento dos sinais de
desidratação, conforme a sede, em
Nível de hidratação: bom estado geral, olhos pequenas porções.
normais, lágrimas presentes, lactente normal, Manter aleitamento materno. Jejum de
bebe líquidos normalmente, sinal da prega com dieta sólida oral.
desaparecimento rápido e pulso cheio. O paciente Reavaliação
não apresenta sinais de desidratação. Caso os sinais de desidratação
desapareçam, utilizar o plano A.
Tratamento: domiciliar
Caso a desidratação se mantenha ou esteja
Líquidos caseiros ou soro de reposição com vômitos persistentes, dificuldade de
oral após cada evacuação diarreica ingestão, distensão abdominal ou perda de
<1 ano = 50-100 ml peso, indicar sonda nasogástrica
1-10 anos = 100-200 ml (gastróclise) ou acesso venoso para
> 10 anos = quanto aceitar reidratação, com 20-30 ml/kg/hora de SRO.
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Em caso de evolução para desidratação Resumindo: plano básico de manutenção diário


grave, seguir o plano C.
Necessidade hídrica: 100 ml/kcal/dia
Potássio: 2 mEq/kcal/dia
PLANO C - desidratação grave 1 ampola KCl 19.1% = 2,5 mEq/ml
Cálcio: 0.5 mEq/kcal/dia
Terapia de reidratação parenteral
Gluconato de cálcio 10% = 0.5
Nível de desidratação: comatoso, hipotônico, mEq/ml
olhos muito fundos e secos, lágrimas ausentes, Glicose: individualizado, para manter
bebe mal ou incapacidade de beber, glicemia capilar entre 90-180
desaparecimento muito lento do sinal da prega Sódio: reposto no soro fisiológico (150
(mais de 2s) e pulso muito fraco ou ausente. mEq/dia) ou SG 5% com 22 ml de NaCl 20%.

Tratamento: hospitalar Cálculo do peso calórico - kcal (Fórmula de


Holliday-Segar)
2 fases: rápida + manutenção. A expansão Crianças até 10 kg: 1 kg = 1 kcal
pode ser repetida 3 vezes. Ex: peso = 5 kg. Kcal = 5
Reavaliação contínua Crianças de 10 a 20 kg: 10 kcal + cada kg
Iniciar SRO assim que possível acima de 10 = 0.5 kcal
Manter aleitamento materno. Jejum de Ex: peso = 13 kg. Kcal = 10 + (3 x 0.5)
dieta sólida via oral. = 10 + 1.5 = 11.5 kcal
Fase Rápida (menores de 5 anos): Crianças > 20 kg: 15 kcal + cada kg acima de
20 = 0.2 kcal
SF 0,9% 20ml/kg de peso IV em 30 minutos Ex: peso = 25 kg. Kcal = 15 + (5 x 0.2)
ou 30 ml/kg em 1h e RL 70 ml em 5h, até a = 15 + 1 = 16 kcal.
criança ficar hidratada. Para recém-
nascidos e cardiopatas graves, começar Terapia de acordo com o sódio sérico
com 10 ml/kg Calcular déficit de sódio [Na(d)]
Fase Rápida (maiores de 5 anos):
Na(d) = [ACT(n) x 140] - [ACT(c) x SNa]
SF 30 ml/kg de peso em 30 minutos e RL
70 ml em 2h e 30 minutos Legenda: ACT = água corporal total (n =
normal, c = calculada ou estimada), SNa =
Fase De Manutenção – volume em 24 horas Na sérico
SG 5% + SF Peso até 10kg 100ml/kg - RN prematuro = 80% de ACT normal
0,9% na Entre 10-20 kg 1000 ml + 50 - RN termo = 70% de ACT normal
proporção 4:1 ml/kg que - Crianças = 60% de ACT normal
+ exceder 10kg - Adultos = 50% de ACT normal
Peso acima de 1.500ml + 20
- Estimada: conforme perdas
20 kg ml/kg de peso
calculadas (grau de desidratação)
que exceder
20kg.
SG 5% + SF Início com 50ml/kg/d e Calcular déficit de agua
0,9% NA reavaliação de acordo com as Porcentagem conforme grau de
PROPORÇÃO perdas do paciente.
desidratação e ACT
1:1 +
KCL a 10% 2 ml para cada 100 ml de Ex: criança de 10 kg com perda estimada
solução da fase de manutenção
de 10%. ACG = 60% ou 6 L → 0.6 x 10 =
SG = soro glicosado
0.6 mL (perda de água).
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Isonatremia (isotonica) - A Racecadotrila (inibidor de encefalinase)


atua na redução da secreção intestinal de
Forma mais comum
água e eletrólitos. Tem boa eficácia.
Ocorre perda equilibrada de água e Na,
- Uso de probióticos têm mostrado efeitos
com Na sérico (135-145) e osmolaridade
promissores, principalmente na diarreia
(280-310) normais.
associada a antibióticos. Podem reduzir a
Reposição com soro fisiológico
duração da diarreia.
Hiponatremia (hipotônica) - Pela SBP, são prescritos
Lactobacillus, S. boulardii, L. reuteri
A perda de eletrólitos é maior que a perda DSM 17938
de água. Sódio (<135) e osmolaridade - Administrar zinco 1x ao dia, durante 14
(<280) baixos. dias. O zinco reduz a duração da diarreia
Ocorre choque hipovolêmico, convulsões e em 1 a 2 dias, reduz recorrência em 3
agitação. Os fatores de risco são meses e auxilia a regeneração do epitélio
desnutrição, vômitos e uso de soro intestinal.
hipotonico. - Até 6 meses: 10 mg/dl
Assintomática = reposição com soro - Maiores de 6 meses: 20 mg/dl
fisiológico - Em caso de diarreia persistente com
Sintomática (convulsões) = reposição com deficiência transitória da lactase, é
NaCl 3% 3-5 ml/kg. indicado suspensão transitória do leite.
Taxa de reposição = máximo de 2 mEq/L
por hora, para evitar desmielinização)
Antibióticos.
Hipernatremia (hipertônica) - Não são usado de rotina.
A perda de água é maior que a perda de - Restrito a situações especiais como
eletrólitos. Na+ (145-155) e osmolaridade diarreia causada pelo Vibrio Cholerae,
(>310)estão aumentados. evolução para quadro séptico,
Ocorre sede, irritabilidade, febre e letargia. imunodeprimidos, choque estafilocócico,
Os fatores de risco são menores de 3 peritonite ou doença prolongada e
meses, diabetes insipidus e uso de soro debilitante.
hipertonico. - 1ª opção: Ciprofloxacino 15 ml/kg, duas
Cuidar com taxa de reposição: deve cair no vezes ao dia, por 3 dias
máximo 0.5 mEq/L por hora ou 12 mEq/L - Escolha para Shigelose
por dia (risco de sequelas neurológicas)
Cálculo: déficit de água livre (DAL)
DAL = ACT x [(SNa/140) - 1]
MEDIDAS ADICIONAIS
- Não oferecer antiespasmódicos,
antieméticos, adstringentes e
antidiarreicos de rotina.
- A ondansetrona pode ser utilizada em caso
de náuseas, pois não tem efeito no sistema
nervoso central e reduz risco de
desidratação.

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Salmonela: diarreia + alto risco de


bacteremia (<3 meses, anemia falciforme,
imunodeficiência)
Ceftriaxona por 7 a 10 dias
E. coli enterotóxica e V. cholerae: diarreia
do viajante:
Azitromicina por 2 dias
Sulfametoxazol-trimetoprim por 3
dias
C. difficile: Diarreia após ATB
Metronidazol por 10 dias
Antiparasitários
- Indicados na infecção por amebíase ou
giardíase
- Identificados no exame de fezes OU
- Duração > 14 dias OU
- Sem melhora com antibióticos

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RESUMO

POLÍTICA DE USO
Este material é elaborado de forma colaborativa,
sendo vedadas práticas que caracterizem plágio ou
violem direitos autorais e/ou de propriedade
intelectual. Qualquer prática dessa natureza ou
contrária aos Termos de Uso da Comunidade MedQ
pode ser denunciada ao setor responsável pelo canal
de suporte.
- 2ª opção: Azitromicina
- Escolha para Cólera
Indicação conforme a etiologia
Shigella: disenteria + febre + queda do
estado geral
Ciprofloxacino por 3 dias
Ceftriaxone por 3 a 5 dias
Azitromicina por 5 dias
Campylobacter: disenteria + febre + queda
do estado geral
Azitromicina por 3 dias

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