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LAUDO DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

“Segundo o Código de Ética Profissional do Psicólogo, artigo 1 (g e h) é um dever do Psicólogo: “Informar,


a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o
que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário”; e, “orientar a quem de
direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer,
sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho”.

1 - Dados de Identificação

Nome: Pedro
Responsáveis:
Data de Nascimento:
Idade: 8 anos e 9 meses
Nível Educacional: 4º ano do ensino fundamental
Data da Avaliação:
Lateralidade: destro
Medicação: Homeopatia
Autor: Dr. Fernando José Silveira
Encaminhamento: Colégio XXXXXX
Finalidade: Inquietude motora, desatenção e impulsividade

2 - Histórico do Quadro Clínico

A mãe procurou a avaliação neuropsicológica orientada pela diretora do Colégio,


alegando que o filho apresenta agitação psicomotora e dificuldades na
manutenção do foco atencional. Segundo a mesma, Pedro é inteligente, sociável e
muito comunicativo. No entanto, é impaciente, hipercinético e se dispersa
facilmente em atividades que fogem de seu interesse. Quanto às habilidades
acadêmicas, não apresenta dificuldades em matemática, porém nas outras
disciplinas, em função do comportamento agitado, acaba se desconcentrando. Em
relatório escolar previamente analisado, verificou-se facilidade na compreensão e
retenção dos conteúdos ministrados, sobretudo em atividades que demandam
raciocínio lógico, assim como capacidade satisfatória de comunicação oral e
escrita, fazendo inferências adequadas sobre as ideias discutas em sala de aula.
Em contrapartida, manifesta necessidade constante de atenção, o que acaba
prejudicando seu desempenho em sala de aula. Segundo a responsável, gosta de
falar alto e ao mesmo tempo que os professores. Quando contrariado, pode
apresentar comportamentos opositores (como se jogar no chão e fazer birras), o
que acaba gerando conflitos na relação familiar. Em casa, há uma rotina
estabelecida de tarefas, porém Pedro se recusa a aceitar os compromissos com a
mãe. Atualmente, há uma pessoa que auxilia nos cuidados com a criança, bem
como na execução das tarefas e demais atividades escolares. A mãe trabalha em

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


uma loja de calçados e alegou dedicar grande parte de seu tempo ao trabalho.
Durante a entrevista, se intitulou mais agitada e ansiosa com relação ao
desenvolvimento do filho. O pai, por sua vez, não mantem mais um
relacionamento com a genitora, convivendo pouco com o filho e, supostamente, é
mais disperso com obrigações diárias. Quanto ao quadro de saúde, a criança
dorme e se alimenta dentro dos padrões previsto e faz uso de medicação
homeopática. Por fim, não houve relatos de avaliação psicológica prévia.

3 – Dados do Desenvolvimento Global

Segundo a responsável, a gravidez não foi planejada. Pais eram namorados e a


mãe tinha 39 anos. No início, a genitora se sentiu assustada, porém após quatro
meses, se tranquilizou com a maternidade. No oitavo mês de gestação, o pai da
criança abandonou o lar, tornando o momento possivelmente conturbado. Pedro
nasceu com nove meses semanas, de parto cesárea, pesando 2,750 kg e medindo
55 cm. No que diz respeito ao desenvolvimento global, recebeu todas as
orientações pediátricas necessárias. O bebê engatinhou pouco, andou e
pronunciou as primeiras palavras ao completar um ano de idade. Não houve
relatos de dificuldades durante o período de adaptação escolar.

4 – Procedimentos

Para realização desta avaliação, foram propostas oito sessões com duração de
quarenta minutos cada. Inicialmente, foi feita entrevista inicial com a responsável,
assim como o preenchimento da anamnese (entrevista semiestruturada cujo
objetivo é investigar o histórico do quadro clínico do paciente). Posteriormente,
foram utilizados instrumentos para análise e compreensão da dinâmica cognitiva
da criança, sendo eles: (a) Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC-
IV; Wechsler, 2013); (b) Avaliação Neuropsicológica Cognitiva: atenção e
funções executivas (Seabra & Dias, 2012); (c) Avaliação Neuropsicológica
Cognitiva: linguagem oral (Seabra & Dias, 2012); (d) Avaliação Neuropsicológica
Cognitiva: leitura, escrita e aritmética (Seabra, Dias & Capovilla, 2012); (e)
Figuras Complexas de Rey (Rey, 2014); (f) Teste de Atenção Visual (TAVIS-4;
Mattos, 2018); (g) Teste de Desempenho Escolar (TDE II; Milnitsky, Giacomoni
& Fonseca, 2019); (h) Escala de Avaliação de Comportamentos Infantojuvenis no
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade em Ambiente Familiar – versão
para pais (ETDAH – Pais, Benczik, 2018); (i) Teste D2 – R – Revisado (Malloy-
Diniz, Schlottfeldt & Serpa, 2018). Por fim, foi realizada a entrevista devolutiva
com a responsável, objetivando esclarecimentos técnicos e possíveis
encaminhamentos necessários.

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


5 – Atitudes em Tarefas

Durante todo o processo de avaliação, Pedro se mostrou simpático e curioso. Ao


lado disso, é extremamente comunicativo, demonstrando capacidade satisfatória
de estabelecimento de vínculo. Quanto ao seu desempenho, pode se perder na
orientação à tarefa, apresentando dificuldades na manipulação do tempo e fuga de
demanda. Verificou-se também, tendência impulsiva e hiperativa, bem como
declínio atencional na execução de atividades que fogem de seu interesse.

6 – Avaliação Neuropsicológica

6.1 – Funções Intelectuais

Segundo a pontuação composta prevista na Escala Wechsler de Inteligência para


Crianças e Adolescentes (WISC IV), Pedro apresenta capacidade intelectual total
estatisticamente na faixa MÉDIA SUPERIOR em comparação às crianças da
mesma faixa etária (QI Total = 115; P% 77*). Vale destacar, inicialmente, que o
coeficiente total de inteligência analisado pelo WISC IV, é o resultado da soma
ponderada de subtestes que analisam a Compreensão Verbal, a Organização
Perceptual, a Memoria Operacional e a Velocidade de Processamento das
Informações. Assim, visando melhor interpretação dos resultados, dados mais
particularizados do instrumento podem ser vistos na tabela abaixo.

Tabela 1. Desempenho de Pedro nos Índices Fatoriais previstos pelos WISC IV.

Definição Valor do Classificação


Índice*
Compreensão Verbal Tarefas vinculadas ao raciocínio Média
113
verbal Superior
Organização Perceptual Tarefas vinculadas ao raciocínio Média
116
visual Superior
Memória Operacional Tarefas vinculadas à manipulação
97 Média
mental de informações
Velocidade de Tarefas vinculadas a processos
Processamento das atencionais e à rapidez processual 118 Superior
Informações
QI TOTAL Média
115
Superior
* A média dos índices situa-se entre as notas 90 e 109.

Como informado, o paciente apresentou desempenho dentro da média prevista


para a idade nas atividades que avaliaram a capacidade de manipular mentalmente
estímulos (Memoria Operacional). Ao lado disso, escores acima da média foram
verificados nas tarefas que analisaram a compreensão verbal, a organização
perceptual dos estímulos e a velocidade com que uma pessoa processa
informações. No que se refere ao detalhamento dos escores, a seguir será

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


apresentado o desempenho de Pedro em cada um dos subtestes propostos pelo
WISC IV.

Gráfico 1. Desempenho TOTAL nos subtestes previstos no WISC IV*

*A média da nota ponderada do WISC IV situa-se entre 9 e 11.

6.2 – Funções Atencionais

Visando verificar os processos atencionais do adolescente, foi proposta a


aplicação do Teste de Atenção Visual (TAVIS 4; Mattos, 2019), cujo objetivo é a
avaliação de funções atencionais por meio de três tarefas, sendo elas seletividade,
alternância e sustentação. Abaixo será apresentado o desempenho do paciente em
cada uma das tarefas, com suas respectivas definições e interpretações.

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


Tabela 2. Desempenho de Pedro no Teste de Atenção Visual (TAVIS 4)

Tarefas Definição Escores Interpretação


Habilidade de focalizar em estímulos
relevantes, na presença de estímulos Reação 0,63 Limítrofe
distratores, e selecionar informação para
Atenção Erros por Omissão
processamento consciente. Objetiva verificar 0 Média
Seletiva (Desatenção)
a capacidade do indivíduo não processar
tudo o que é apresentado, mas sim focalizar Erros por Ação
naquilo que é relevante. 4 Inferior
(Impulsividade)

Capacidade de mudar o foco de atenção Reação 0,40 Muito Superior


entre tarefas com demandas cognitivas
Atenção Erros por Omissão
diferentes, determinando, assim, a qual 0 Média
Alternada (Desatenção)
informação se prestará atenção num dado
momento. Erros por Ação
0 Média
(Impulsividade)
Reação 0,86 Inferior
Envolve a capacidade de manter a atenção
Atenção ao longo do tempo. É a capacidade de Erros por Omissão
0 Média
Sustentada sustentar uma resposta comportamental (Desatenção)
consistente durante uma atividade contínua. Erros por Ação
3 Inferior
(Impulsividade)

Como apresentado acima, o paciente demonstrou dificuldades na maioria dos


testes que demandaram seletividade e sustentação atencional, com presença de
erros que fogem dos padrões normativos previstos para a idade. Tais resultados
sugerem indicadores de impulsividade para a emissão de respostas relevantes.

Buscando maiores informações a respeito da dinâmica atencional de Pedro, foi


proposta ainda a aplicação do Teste D2 – R – Revisado (Malloy-Diniz,
Schlottfeldt & Serpa, 2018) de atenção sustentada, cujos resultados apontaram
produtividade abaixo do previsto para a idade (P% < 25). A seguir serão
apresentadas as tabelas e gráficos do TAVIS – 4.

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


6.3 – Processos de Memória

Os testes que avaliaram memória semântica (conhecimentos adquiridos ao longo


da escolaridade) demonstraram resultados na faixa média superior prevista para a
idade (P% 85)*. Os instrumentos que avaliaram a memória imediata e a memória
operacional (sistema responsável pelo armazenamento de curto prazo e pela
manipulação de informações necessárias para funções cognitivas superiores)
também sugeriram escores estatisticamente dentro do previsto (P% 40)*. No que
tange à memória episódica verbal de evocação imediata e tardia dos estímulos, de
acordo o Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT; Rey, 2018),
de um modo geral, Pedro, embora tenha se mostrado mais agitado durante a
realização das atividades, apresentou resultados preservados para sua faixa etária,
conforme demonstrado na tabela abaixo.

Tabela 2. Desempenho de Pedro no Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de


Rey*
Etapa do Teste Definição Percentil Interpretação
Memória de Curto Prazo Verbal –
capacidade de manter temporariamente um 50 Média
conteúdo verbal específico.
Aprendizagem Auditivo
Curva de Aprendizagem auditivo-verbal –
Verbal
capacidade de retenção mediante a
50 Média
apresentação sucessiva de um mesmo
estímulo.
Memória de Curto Prazo Verbal –
Distrator capacidade de manter temporariamente um 50 Média
novo conteúdo verbal.

Memória de Curo Prazo episódica-verbal –


Média
Evocação Imediata capacidade de se lembrar imediatamente dos 5-25
Inferior
estímulos após distrator.

Memória de Curo Prazo episódica-verbal –


Evocação Tardia capacidade de se lembrar tardiamente dos 25-50 Média
estímulos após distrator.

Capacidade de reconhecer os estímulos


Reconhecimento previamente aprendidos em meio a outros 25 Média
distratores.
Medida global de aprendizagem auditivo-
verbal – capacidade de aprender um conteúdo 25-50 Média
exposto repetidas vezes.
Índices de Aprendizagem Aprendizagem ao longo das tentativas (ALT)
- compara as diferenças apresentadas pelo
25-50 Média
sujeito entre a primeira lista e o desempenho
total ao longo das 5 tentativas.
Efeito de passagem do tempo, incluindo a
Velocidade de exposição a novos conteúdos e distratores
50 Média
Esquecimento sobre a capacidade de reter novas
informações.

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


Suscetibilidade à interferência proativa –
Média
Interferência Proativa Reflete a dificuldade em aprender algo novo 50-75
Superior
após a automatização de um conteúdo prévio.
Suscetibilidade à interferência retroativa –
capacidade de manter uma informação Média
Interferência Reativa 75
anteriormente aprendida após um novo Superior
conteúdo ser apresentado.

Quanto à memorização visual das informações, os instrumentos também


apontaram pontuações dentro da média prevista para idade, tanto na evocação
imediata dos estímulos, quanto tardia (P% 45 – 50)*. Como já informado
anteriormente, Pedro realizou essas tarefas mostrando-se muito comunicativo,
demandando intervenção para finalizá-las adequadamente.

6.4 – Funções Visuo-Espaciais e Construtivas

A análise dos dados apontou resultados na faixa média superior para a cópia de
figura geométrica complexa e para os testes que recrutaram organização percepto
motora (P% 89)*. Ao lado disso, não foram evidenciados déficits nas tarefas que
avaliaram a visuo-construção (capacidade de reproduzir com materiais concretos
figuras abstratas previamente visualizadas) em comparação as crianças da mesma
idade (P% 25-50)*.

6.5 – Linguagem e Habilidades Acadêmicas

Durante todo o processo de avaliação, Pedro apresentou fala fluente, expressando


adequadamente suas ideias por meio de diálogos. Em testes de vocabulário que
demandaram evocação semântica de palavras, obteve resultado situado na faixa
média (P% 25)*, bem como na nomeação (P% 40)* e nos substestes que
demandaram formação de juízos e valores sociais (P% 55)*. Quanto às
habilidades acadêmicas, de um modo geral, o Teste de Desempenho Escolar
(TDE) apontou resultados acima do esperado para sua idade cronológica,
conforme descrito na tabela abaixo.

Tabela 2. Performance de Pedro no Teste de Desempenho Escolar (TDE)*

Subtestes do TDE Percentil Classificação

Leitura 60 Média

Escrita 70 Média

Aritmética 70 Média

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


Pedro demonstrou também, capacidade satisfatória de compreensão e inferência
das informações. Ao lado disso, as tarefas que avaliaram a interpretação de textos
demonstraram leitura fluente, corroborando os escores apontados pelo teste.

6.6 – Funções Executivas

As funções executivas são as habilidades relacionadas à capacidade das pessoas


de se empenharem em comportamentos orientados a objetivos, ou seja, à
realização de ações voluntárias, independentes, autônomas, auto organizadas e
direcionadas a metas específicas. Essas funções, juntas, são responsáveis pela
integração, capacitação do individuo de tomar decisões, avaliar e adequar seus
comportamentos e táticas. Desse modo, os testes que avaliaram essas funções
indicaram resultados abaixo da média para sua faixa etária (P% 5-25– Dificuldade
Leve/Moderada)* no que tange a flexibilidade mental, a estruturação de
estratégias para a resolução de problemas, a capacidade de planejamento
estratégico das ações, a capacidade de categorização, bem como a manipulação
mental de regras e o controle inibitório de estímulos irrelevantes e,
principalmente, a abstração. Além disso, pode apresentar perda de orientação à
tarefa e impulsividade na emissão de respostas, cometendo erros por omissões que
demonstram declínio em seu desempenho.

7 - Aspectos Comportamentais Relevantes

De um modo geral, Pedro se mostrou comunicativo e simpático durante todas as


sessões. Segundo as técnicas lúdicas (procedimento que utiliza brinquedos como
recurso facilitar para compreensão afetiva e comportamental), a criança
apresentou:

a) Manutenção do contato visual;


b) Espontaneidade;
c) Estabelecimento de vínculo;
d) Interesse pelo terapeuta;
e) Expressão emocional das situações;
f) Ludicidade preservada;
g) Domínio das habilidades acadêmicas básicas;

Por outro lado, foram evidenciadas:

h) Limitações na sustentação do foco atencional;


i) Dificuldades na finalização adequada das tarefas propostas;
j) Necessidade de tempo diferenciado para a execução das atividades;
k) Tendência mais impulsiva e hiperativa diante dos estímulos;
l) Comportamentos de fuga de demanda.

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


m) Carência afetiva que precisa ser melhor investigada em contexto
psicoterapêutico.

Visando investigar os comportamentos da criança em ambiente familiar, tendo a


reponsável como fonte de informação, foi proposto o preenchimento da Escala de
Avaliação de Comportamentos Infantojuvenis no Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (ETDAH-Pais; Benczik, 2018). Pontuações muito acima
do previsto foram encontrados nos fatores Hiperatividade/Impulsividade e
Atenção, que sugerem inquietação e agitação psicomotora, excesso de
movimentação corporal, dificuldades no controle inibitório e pouca capacidade de
flexibilização cognitiva, assim como déficits na sustentação atencional e
engajamento em tarefas que exigem comprometimento e independência. Por outro
lado, pontuações na faixa média foram encontradas em tarefas que analisaram a
Regulação Emocional e o Comportamento Adaptivo, sugerindo capacidade
adequada de seguir regras e normas, autorregulação emocional, afetividade e
estabilidade no humor, o que pode favorecer manifestações de carinho por parte
da criança. Visando melhor entendimento da escala, segue abaixo os dados
expostos na tabela 3.

Tabela 3. Escores obtidos na ETDAH-Pais*

Fator Percentil Classificação


Regulação Emocional 60 Preservado
Hiperatividade/Impulsividade 95 Alto
Comportamentos Adaptativos 50 Preservado
Desatenção 95 Alto

*A média dos escores se localiza entre 25 e 75

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


8 – Conclusão

A mãe procurou a avaliação neuropsicológica orientada pela diretora Colégio


Xxxxxxxx, alegando que o filho apresenta inquietude psicomotora e dificuldades
na manutenção do foco atencional que acabam comprometendo seu desempenho
em sala de aula e com os colegas. Após análise dos dados, verificou-se,
inicialmente, capacidade intelectual estatisticamente na faixa média superior (QI
Total = 115; P% 77*) em comparação às crianças da mesma faixa etária,
segundo a Escala Wechsler de Inteligência para Crianças e Adolescentes (WISC
IV). Escores acima do previsto também foram encontrados nas tarefas que
compreenderam as habilidades acadêmicas (leitura, escrita e aritmética),
corroborando relatos cedidos pela escola. Ao lado disso, resultados preservados
foram encontrados na linguagem (expressiva e receptiva), nos processos visuo-
espaciais e construtivos, assim como na memorização de informações, tanto
auditiva, quanto visual (de curto e longo prazo). Por outro lado, verificou-se
desempenho muito abaixo da média (P% < 5 – Dificuldade Moderada)* nas
tarefas que analisaram os processos atencionais (sustentação e seletividade), com
tendência a cometer erros por impulsividade. No que toca às funções executivas
(responsáveis pela capacidade de planejamento, abstração, flexibilidade cognitiva,
memória operacional e autorregulaçao emocional/social), os resultados também se
mostraram abaixo da média prevista para a idade e a capacidade intelectual de
Pedro. De acordo com Barkley (2019), as funções executivas são responsáveis
pela autorregulação cognitiva, emocional e comportamental dos indivíduos. O
termo função executiva representa um agrupamento de processos responsáveis por
uma intencionalidade, dirigindo a pessoa a objetivos e resolução de problemas
com qualidade e assertividade. Assim, essas funções se fazem imprescindíveis
para a aprendizagem da criança, bem como para o desenvolvimento da maturidade
e independência. Por fim, valem destacar os aspectos comportamentais relevantes
descritos no item 7.0, contribuindo para melhor compreensão da dinâmica
emocional do paciente. Frente às observações realizadas na presente avaliação,
sugere-se, portanto:

 Parecer médico especializado no que se refere aos indicadores de


desatenção, hiperatividade e impulsividade;
 Acompanhamento psicológico com enfoque comportamental;
 Orientação parental no que diz respeito ao desenvolvimento da criança.
 Avaliação individualizada e supervisionada por um profissional que possa
auxiliar Pedro diante respostas impulsivas e pouco planejadas;
 Estabelecer uma rotina clara e objetiva das atividades a serem trabalhadas ;
 Orientação escolar;
 Após intervenção médica e psicológica, sugere-se nova avaliação para
melhor compreensão do caso.
 No que diz respeito ao contexto escolar, de acordo com a Associação
Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA, 2019), é importante que o
colégio considere, inicialmente, as seguintes colocações:

1. Qual é a dificuldade mais importante do meu aluno?

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2. O que mais atrapalha o desempenho escolar desse aluno?

Ao conseguir responder essas perguntas o professor cria melhores condições para


traçar as estratégias que aplicará em sala de aula. Quando se conhece aquilo que
de fato tem atrapalhado o bom desempenho de um determinado aluno fica mais
fácil pensar em solução viáveis e eficazes. Depois disso, o segundo passo é saber
distinguir o que o aluno (com deficit de atençao e hiperatividade) é capaz de fazer
e assim não criar expectativas irreais. Talvez essa seja uma das partes mais
difíceis, mas não desanime, observar o aluno e estudar sobre o assunto são as
melhores formas de se preparar. Assim, seguem algumas dicas que objetivam
melhorar o trabalho pedagógico.

 Alguns comportamentos não podem ser punidos, pois são esperados para o
quadro clínico da criança;
 Recompensar progressos sucessivos ao invés de esperar pelo
comportamento perfeito! Essa é uma dica muito importante!
 Não deixar flutuações de humor ou cansaço interferirem no trabalho de
inclusão e agir da mesma forma mesmo quando as situações se modificam.
Na implementação das estratégias de sala de aula o papel do professor é de
extrema importância, é quase imensurável a diferença que um professor
informado e motivado corretamente pode fazer para seus alunos!
 Não se esqueça: o importante é o processo e não o resultado. Esse é
um dos conceitos da educação inclusiva que não pode ser perdido de
vista. O ideal não é tentar encaixar a todo custo um aluno com
especificidades em um modelo educacional que mais dificulta do que
facilita para esse aluno a desenvolver suas competências.
 Conversar com a criança e seus responsáveis sobre o método mais fácil de
estudo em casa. Isso facilita muito a vida dos que tem deficit de atenção.
Proponha aos pais alguns “experimentos” de formas de estudos diferentes
até que seja encontrada a mais adequada para aquele aluno, contanto que
inclua uma programação de estudo com intervalos e assim não acumular
matéria.
 Ambientes com muitos distratores / estímulos externos devem ser
evitados. Uma sala de aula deve contar apenas elementos necessários para
a situação de aula daquele momento. Murais com muitas informações
ficam melhor colocados nos corredores por exemplo. Músicas ou barulhos
externos com frequência também devem ser evitados.
 No ambiente escolar, evitar instruções muito longas e parágrafos muito
extensos. Isso certamente será apreciado e facilitará o aprendizado de
todos os alunos sem exceção. Por exemplo: Provas com enunciados longos
funcionam muito mais como “armadilha” do que uma tentativa de
esclarecimento da pergunta.
 Espaço entre as perguntas e clareza nas instruções são imprescindíveis
para uma melhor realização de provas.
 Uma boa forma de envolver todos os alunos e principalmente os que tem
deficit de atenção é solicitar que um aluno repita a instrução que você

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acabou de dar para a realização de uma determinada tarefa (alternância
entre os alunos / aumenta a atenção de toda a turma).
 Atividades que exijam maior integridade da atenção sustentada devem ser
feitas preferencialmente no início da aula, ou seja, as tarefas que
demandem mais atenção contínua por um péríodo de maior devem ser
priorizadas e assim serem feitas no início da aula. Por exemplo: as provas
deverão acontecer no primeiro tempo de aula. No último tempo o aluno já
teve várias aulas, de várias matérias, que acabam funcionando como
elementos de distração e podem prejudicar todos os alunos, especialmente
os que tem deficit de atenção desnecessariamente.
 Conscientizar os alunos com deficit de atenção do tipo de prejuízo que o
comportamento impulsivo pode trazer tanto para ele quanto para o grupo.
Os alunos com hiperatividade precisam se dar conta de que interromper a
fala da professora ou a andamento das atividades pode ser altamente
improdutivo para ele e para o grupo. Isso deve ser feito individualmente e
de forma que não culpe o aluno. Apenas sirva como uma conversa
esclarecedora.

Por fim, todos os recursos abaixo podem e devem ser utilizados para os alunos
com deficit de atenção. Construí-los de uma forma divertida e em grupo com os
alunos ajuda ainda mais a engajá-los na importância de tais ferramentas. São eles:

 Lembretes em agendas e/ou cadernos;


 Listas de tarefas;
 Anotações em provas e trabalhos;
 Quadro de avisos e cronogramas (claros e objetivos para a criança),
servindo como ferramentas organizadoras de horários e datas importantes.
Uma outra dica ainda dentro dessa dica é eleger juntos com os demais
alunos da sala alguns representantes para serem responsáveis por cada um
desses recursos.

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.


Ressalta-se que, o ser humano possui uma natureza dinâmica; não definitiva e não cristalizada. Sendo assim,
os resultados aqui expostos dizem respeito ao funcionamento das funções cognitivas, como também, da
personalidade, humor e afetividade de Pedro no momento presente, podendo haver alterações posteriores,
dependendo das contingências ambientais vivenciadas e/ou do (s) acompanhamento (s) recebido (s).

Coloco-me a disposição para possíveis esclarecimentos nos telefones


(35) 3421 0550 ou (35) 9 9929 9592 e agradeço a confiança.

Pouso Alegre, junho de 2020.

____________________________
Dr. Fernando José Silveira
Psicólogo e Neuropsicólogo – FMUSP
Mestre e Doutor em Avaliação Psicológica
CRP 04/ 26 848

*A média dos percentis (P%) se localiza entre as notas 25-75.

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