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IDENTIFICAÇÃO
Examinanda: MARIA DA SILVA
Data de Nascimento: 06.01.2010 Idade: 13 anos e 8 meses
Escolaridade: 7º. Ano – Ensino Fundamental II
Solicitação: Avaliação Neuropsicológica
Autor: Maria da Conceição Albano Ferreira – CRP 06/17724
Data da Avaliação: Agosto e Setembro/2023
DESCRIÇÃO DA DEMANDA
Maria foi encaminhada para avaliação neuropsicológica por apresentar significativas dificuldades escolares. A mãe
refere que após a pandemia as notas pioraram, mas sempre apresentou dificuldades quanto ao rendimento e a
aprendizagem. Já ficou retida na pré-escola, e fez o 1º. ano, do Ensino Fundamental I, duas vezes. É uma pessoa
tímida e já sofreu muito bullying na escola. Não ocorreram intercorrências significativas durante o desenvolvimento
neuropsicomotor.
PROCEDIMENTOS
A avaliação neuropsicológica teve como procedimentos, entrevista de anamnese, com a mãe, para levantamento da
queixa e aplicação dos seguintes testes:
WISC-IV (Escala de Inteligência para Crianças) – objetivo: avaliar a capacidade intelectual e o processo de
resolução de problemas em crianças entre 06 anos e 0 meses a 16 anos e 11 meses.
Figuras Complexas de Rey (Teste de Cópia e de Reprodução de Memória de Figuras Geométricas
Complexas) – objetivo: avaliar as habilidades de organização visuoespacial, praxias construtivas,
planejamento, desenvolvimento de estratégias e memória visual.
Wisconsin (WCST - Teste de Classificação de Cartas) – objetivo: avaliar a capacidade de o indivíduo
raciocinar abstratamente e modificar suas estratégias cognitivas como resposta a alterações nas contingências
ambientais.
FDT (Teste dos cinco dígitos) – objetivo: medir a velocidade de processamento cognitivo, a capacidade de
focar e de reorientar a atenção e de lidar com interferências (subcomponentes controle inibitório e
flexibilidade cognitiva).
BPA (Bateria psicológica para avaliação da atenção) – objetivo: avaliar a capacidade geral de atenção, assim
como uma avaliação individualizada de tipos de atenção específicos: atenção concentrada (AC), atenção
dividida (AD) e atenção alternada (AA).
SSRS (Inventário de Habilidades Sociais, Problemas de Comportamento e Competência Acadêmica para
Crianças) – objetivo: avaliar o repertório de habilidades sociais, indicadores de problemas de comportamento
e de competência acadêmica em crianças de 6 a 13 anos.
ETDAH-II (Escala do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade em contexto escolar) – objetivo:
identificar a manifestação dos sintomas do TDAH no contexto escolar, tendo o professor como fonte de
informação; avaliar e intensificar possíveis prejuízos existentes relacionados às áreas da atenção,
hiperatividade/impulsividade, funcionamento acadêmico (desempenho escolar, dificuldades de aprendizagem
e comportamento social).
WISC-IV – A avaliação do nível intelectual global, indicou índice extremamente baixo – Intelectualmente Deficiente
(F.70.0), quando comparado aos padrões de normalidade para a idade (QI total= 65).
Avaliação qualitativa:
Os resultados indicam quanto à:
Compreensão Verbal: dificuldades em habilidades verbais, raciocínio, compreensão e conceituação, ou seja, em
tarefas que exigem conhecimento cristalizado, raciocínio fluido e memória de longo prazo. Bem como dificuldades
quanto à compreensão verbal e expressão, habilidade para avaliar e utilizar experiências anteriores e habilidade para
transmitir informações de ordem prática; conhecimentos de padrões de comportamento, julgamento e maturidade.
Organização Perceptual: dificuldades na formação de conceitos não verbais, percepção e organização visual,
processamento simultâneo, coordenação visuomotora, aprendizagem e a habilidade de separar figura e fundo de um
estímulo visual.
Memória Operacional: dificuldades quanto à habilidade de reter informações em mente temporariamente enquanto
executa algumas operações ou manipulações mentais com essas informações ou se envolve em uma tarefa
interferente e então precisa reproduzir a informação corretamente ou agir sobre ela. Assim, denota importante
dificuldade quanto à capacidade de manter a atenção, se concentrar e exercer controle mental.
Velocidade de Processamento: dificuldades quanto a capacidade de desempenhar tarefas cognitivas fluente e
automaticamente, em especial quando sob pressão para manter a atenção e a concentração.
Nas atividades que avaliam a atenção geral a examinanda apresentou desempenho abaixo da média esperada para a sua
idade. Baixa velocidade de processamento, além de apresentar vários erros por omissão, indicando desatenção e erros
de marcação incorreta, indicando impulsividade.
PERCENTIL CLASSIFICAÇÃO
FIGURA A – CÓPIA < 10 MUITO INFERIOR
FIGURA A – MEMÓRIA < 10 MUITO INFERIOR
Fonte: Figuras Complexas de Rey. André Rey. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.
Os dados denotam significativo rebaixamento quanto à capacidade de organização grafo-perceptivo ao nível da cópia,
com evidente dificuldade de memorização visual e compreensão da figura como um todo. Na reprodução de memória
da mesma figura, pode-se perceber falta de atenção e/ou de concentração e baixa resistência à frustração.
Teste Wisconsin de classificação de cartas (WCST) – Apresentou resultados que denotam baixo controle inibitório,
ou seja, baixa capacidade de inibir respostas não adaptadas, com dificuldade para apresentar respostas mais eficazes
a partir de feedbacks ambientais, fato que se expressa na elevada impulsividade, em que há realização de uma ação
sem que seja feito um julgamento ou planejamento consistente prévio. Foi observada dificuldade em manter-se
concentrada em um dado contexto, baixa responsividade a feedbacks proporcionados pelo teste e baixa tolerância à
frustração.
ETDAH-II
FATORES PONTOS BRUTOS PERCENTIL CLASSIFICAÇÃO ESCORE Z CLASSIFICAÇÃO
Atenção 85 99 Superior 3.1 Muito Superior
Hiperatividade/Impulsividade 12 10 Inferior - 1.3 Médio Inferior
Aprendizagem 68 99 Superior 2.8 Superior
Comportamento Social 18 90 Superior 1.6 Médio Superior
Fonte: Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: versão para professores. Edyleine B. P. Benczizik. São
Paulo: Person Clinical, 2013.
De acordo com o parecer da professora, os resultados revelam prejuízos importantes, nos fatores Atenção,
Aprendizagem e Comportamento Social. No fator Hiperatividade/Impulsividade os índices estão dentro do
esperado.
Habilidades Sociais – Percentil 01 – Repertório abaixo da média inferior de habilidades sociais – Indicativo:
Necessidade de treinamento de habilidades sociais, principalmente nos itens mais críticos para o ajustamento social e
acadêmico.
RESPONDENTE MÃE
HABILIDADES SOCIAISPERCENTIL PROBLEMAS DE PERCENTIL
COMPORTAMENTO
Escore Geral 01 ↓ MÉDIA INF Escore Geral 70 MÉDIO SUPERIOR
Responsabilidade 10 ↓ MÉDIA INF PC Externalizante 08 ↓ MÉDIA INF
Autocontrole 60 MÉDIA PC Internalizantes 06 ↓ MÉDIA INF
Afetividade / Cooperação 01 ↓ MÉDIA INF
Desenvoltura Social 05 ↓ MÉDIA INF
Civilidade 01 ↓ MÉDIA INF
Fonte: Inventário de Habilidades Sociais, problemas de comportamento e competência acadêmica em crianças – SSRS.
Zilda A. P. Del Prette (et. al). São Paulo: Person Clinical Brasil, 2016
Habilidades Sociais – Percentil 01 – Repertório abaixo da média inferior – Indicativo: Necessidade de treinamento
de habilidades sociais, principalmente os itens mais críticos para o ajustamento social e acadêmico.
Problemas de Comportamento – Percentil 70 – Repertório médio superior para problemas de comportamento –
Indicativo: Necessidade de treinamento e de atenção ao manejo de contingências por parte dos pais.
CONCLUSÃO
Os dados avaliados denotam que Maria apresenta dificuldades na seleção de informação, distratibilidade,
dificuldades na tomada de decisão, problemas de organização, dificuldade no estabelecimento de novos repertórios
comportamentais, dificuldades de abstração e de antecipação das consequências de seu comportamento, impondo
uma série de problemas à vida diária.
De acordo com a AAMR (American Association on Mental Retardation, 2002), a adolescente preenche os critérios
necessários para configurar déficits no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, a partir de uma
perspectiva multidimensional, a saber:
Dimensão II: Comportamento Adaptativo – Habilidades Conceituais, Sociais e Práticas – Apresenta funcionamento
significativamente abaixo da média quanto às habilidades conceituais, sociais e práticas adquiridas no convívio diário
com as pessoas e necessárias nas relações com o ambiente e que rebaixadas dificultam o convívio no dia a dia.
(a) Habilidades conceituais – relacionadas aos aspectos acadêmicos, cognitivos e de comunicação. Apresenta
dificuldades quanto à linguagem (receptiva e expressiva); quanto à leitura e escrita; e quanto aos conceitos
relacionados ao exercício da autonomia.
(b) Habilidades sociais – relacionadas à competência social. Apresenta rebaixamento em relação à responsabilidade;
a autoestima; as habilidades interpessoais; a credulidade e ingenuidade (com probabilidade de ser enganada,
manipulada e alvo de abuso ou violência etc.); quanto à observância de regras, normas e leis; e evitar vitimização.
(c) Habilidades práticas – relacionadas ao exercício da autonomia. Dificuldades quanto às atividades de vida diária:
alimentar-se e preparar alimentos; arrumar a casa; deslocar-se de maneira independente; utilizar meios de
transporte; tomar medicação; manejar dinheiro; usar telefone; cuidar da higiene e do vestuário; as atividades
ocupacionais – laborativas e relativas a emprego e trabalho; as atividades que promovem a segurança pessoal.
Após o levantamento de dados normatizados através de instrumentos válidos e certificados pelas instituições
competentes pode-se concluir que Maria apresenta hipótese diagnóstica Transtorno Déficit Intelectual Leve (CID
F.70/ DSM 317), compreendendo os critérios A, B e C, do Manual DSM-5, sendo estes:
“(A) déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato,
juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência confirmados tanto pela avaliação clínica quanto por
testes de inteligência padronizados e individualizados, (B) déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso
para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade
social, sem apoio continuado, os déficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias,
como comunicação, participação social e vida independente e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no
local de trabalho e na comunidade e (C) tendo início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do
desenvolvimento”.
Este documento não poderá ser utilizado para fins diferentes do apontado em sua finalidade. Possui caráter sigiloso e
se trata de documento extrajudicial, de modo que a psicóloga não pode se responsabilizar pelo uso dado ao laudo
após a sua entrega em entrevista devolutiva.
São Paulo,