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Aula 7 (12/03)

Atribuições e competências:
• Os fins das pessoas coletivas chamam-se atribuições que são na verdade os fins e interesses que a
lei incube as pessoas coletivas públicas prosseguir.
• No que se refere à competência trata-se de um conjunto de poderes funcionais que a lei confere
para a persecução das atribuições das pessoas coletivas públicas. Qualquer órgão ao agir poderá
ter uma dupla limitação, por um lado estará limitado pela sua própria competência e por outro
lado estará limitado pelas limitações da pessoa coletiva em cujo nome atua.
• Os atos praticados fora das atribuições são atos nulos;
• Os atos praticados fora da competência de um órgão que os pratica são atos anuláveis.

Competência em específico:
• A competência encontra-se regulada no artigo 36º e seguintes do CPA e um dos elementos que
cumpre ressalvar é que a competência só pode ser conferida, delimitada ou retirada por lei.
• O princípio da legalidade da competência significa que a competência é da ordem pública (só a lei
pode retirar, pôr e atribuir). Deste princípio decorrem vários aspetos:
• A competência não se presume o que significa que só há competência quando a lei
expressamente a confere;
• A competência é também imodificável, o que significa que nem a administração nem os
particulares podem alterar o conteúdo;
• A competência é irrenunciável pelo que os órgãos administrativos em caso algum podem
praticar atos pelos quais renunciem aos seus poderes ou transitem para outros órgãos de
administração.

Aula 8 (14/03)

Critérios de delimitação da competência:


• A distribuição de competências pelos vários órgãos de uma pessoa coletiva pode ser feita com
base em vários critérios:
1. Em razão da matéria;
2. Em razão da hierarquia e nomeadamente quando a lei efetua uma repartição vertical de
poderes conferindo alguns ao superior e outros ao subalterno;
3. Em razão do território e aqui temos uma repartição de poderes entre órgãos centrais e
órgãos locais, ou ainda a distribuição de poderes por órgãos locais em função das
respetivas áreas ou circunscrições.
4. Em razão do tempo, isto é, só existe competência administrativa em relação ao presente,
pelo que a competência não pode ser exercida relativamente ao passado nem ao futuro.
• Qualquer ato administrativo praticado por um certo órgão da administração contra as regras que
delimitam a competência diz se ferido de incompetência.
• Estes quatro critérios enunciados são cumulativos e todos têm que atuar em simultâneo o que
significa que se um órgão da administração não seguir um destes critérios encontra-se ferido de
incompetência.

Espécies de Competências:
a) Quanto ao modo de atribuição da competência: Quanto a este critério a competência pode ser
explicita ou implícita. Diz-se explicita quando a lei de forma clara e objetiva confere poderes e diz se
implícita quando a competência é deduzida de outras normas legais ou princípios do direito penal;
b) Quanto aos termos do exercício da competência: A competência pode ser condicionada ou livre
conforma o seu exercício esteja ou não dependente de limitações especificas impostas por lei;
c)Quanto à substância e efeitos da competência: Aqui temos uma distinção entre competência
dispositiva que é o poder que surge de um determinado ato administrativo sobre uma determinada
matéria pondo e dispondo acerca do assunto; e temos uma competência revogatória que consiste
no poder de revogar um determinado ato administrativo sem necessidade do substituir por outro
diferente;
d)Quanto à titularidade dos poderes exercidos: Se os poderes exercidos por um órgão da
administração são poderes cuja titularidade pertence a esse mesmo órgão podemos falar de
competência própria, se distintamente o órgão administrativo exerce nos termos da lei uma parte
da competência de outro órgão que lhe foi transferido por delegação ou concessão aqui falamos de
uma competência delegada ou de uma competência conseguida;
e) Quanto ao número de órgãos a que a competência pertence: Quando a competência pertence a
um único órgão que exerce sozinho temos uma competência singular, por sua vez, a competência
conjunta implica que a competência esteja distribuída entre dois ou mais órgãos diferentes, tendo,
contudo, de ser exercida por todos num ato único.
f) Quanto à inserção da competência nas relações interorgânicas: A competência pode ser
dependente ou independente conforme o órgão titular esteja ou não integrado numa hierarquia,
dentro da competência dependente à a considerar os casos da competência comum e da
competência própria e assim diz se que à competência comum quando tanto o superior como o
subalterno podem praticar atos/ tomar decisões sobre o mesmo assunto, e à competência própria
quando o poder de praticar um determinado ato é atribuído a um órgão subalterno. Por sua vez,
dentro da competência própria temos ainda a competência separada, a competência reservada e a
competência exclusiva;
g) Competência Objetiva e Subjetiva: A competência objetiva trata se de um conjunto de poderes
funcionais para decidir sobre certa matéria e assim no que se refere ao critério subjetivo significa
que terá de ocorrer a indicação de um órgão a quem é dada uma certa competência.

Relações Interorgânicas e Relações Intersubjetivas:


• As relações interorgânicas são as que se estabelecem no âmbito de uma pessoa coletiva pública;
• As relações intersubjetivas são as que ligam órgãos de duas pessoas coletivas públicas.

Regras legais sobre a competência:


• O CPA trouxe aqui algumas regras inovadoras em matéria de competência dos órgãos
administrativos, assim como foi já referido e nos termos do artigo 37º do CPA a competência
inicia-se quando se inicia o procedimento sendo irrelevante as modificações que venham a ocorrer
posteriores. Se eventualmente a decisão final da competência de um procedimento depender de
uma questão que seja da competência de outro órgão administrativo ou dos tribunais deve o
órgão competente suspender a sua atuação até que os outros se pronunciem.
• No artigo 38 do CPA temos uma referência.
• Antes de qualquer decisão o órgão administrativo deve certificar-se de que é competente para
conhecer a questão que vai decidir- artigo 40º do CPA (é o chamado autocontrolo da competência
- cabe ao órgão decidir se tem competência sobre a questão que irá decidir).
• Quando o particular por erro desculpável e dentro do prazo legal dirigir um requerimento a um
órgão que se considere em si incompetente para tratar do assunto a lei manda proceder de uma
das seguintes formas:
a) Se o órgão competente pertencer à mesma pessoa coletiva em que estaremos face a uma
incompetência relativa, o requerimento ser-lhe-á enviado oficiosamente por iniciativa da
administração e disso será notificado o particular;
b) Se o órgão considerado competente pertencer a outra pessoa coletiva estaremos face a
uma incompetência absoluta e nesse sentido o requerimento é devolvido ao seu autor
indicando-se a entidade a que se deve dirigir;
c)Se o erro do particular for considerado como indesculpável o requerimento não será
apreciado, disto se notificando o particular no mais curto prazo de tempo possível.
Conflitos de atribuições e competências:
• Trata se de disputas ou litígios entre os órgãos da administração acerca das atribuições ou
competências que lhes cabe prosseguir ou exercer. Uns e outros podem ser positivos ou negativos,
assim diz-se que à um conflito positivo quando dois ou mais órgãos da administração publica
reivindicam para si a mesma competência e estamos perante conflitos negativos quando dois ou
mais órgãos consideram que lhes faltam atribuições e competências para decidir um determinado
caso concreto.

Diferença entre conflito de atribuições e conflito de competências:


• Diz-se que à conflito de competência aquele que se traduz numa disputa acerca da competência
ou do exercício de um determinado poder funcional;
• E por conflito de atribuições aquele que a disputa versa sobre a persecução de um determinado
interesse público.
• Podemos ainda referir que à conflito de jurisdição quando o litígio opõe órgãos administrativos e
órgãos judiciais, ou ainda órgãos administrativos e órgãos legislativos.
• O CPA vem trazer critérios gerais de solução e assim se envolvem órgãos de pessoas coletivas
diferentes, os conflitos são resolvidos pelos tribunais administrativos mediante recurso
contencioso, na falta de acordo com os órgãos em litígio. Se se envolvem entre órgãos diferentes
na falta de acordo os conflitos existentes serão resolvidos pelo primeiro-ministro porque é ao
mesmo a quem cabe constitucionalmente a coordenação interministerial - Consagrado no artigo
204º número 1 da CRP e artigo 51º e ss do CPA.
• Se os conflitos envolverem órgãos subalternos na mesma hierarquia serão resolvidos pelo seu
comum superior hierárquico, por sua vez a resolução administrativa dos conflitos pode ser
comovida por duas formas distintas:
a) Por iniciativa de qualquer particular interessado que se encontre prejudicado pelo conflito;
b) Ou oficiosamente por iniciativa privada pelos órgãos em conflito.

Serviços Públicos:
• Os serviços públicos constituem as células que constituem internamente as pessoas coletivas
públicas;
• A pessoa coletiva pública é o sujeito do direito que trava relações jurídicas com outros sujeitos de
direito ao caso que o serviço público é em si uma organização situada no interior da pessoa
coletiva pública e dirigida pelos respetivos órgãos e que desenvolve atividades de que elas
carecem com vista á persecução dos seus fins, pelo que os serviços públicos são assim as
organizações humanas criadas no seio de cada pessoa coletiva pública com o fim de
desempenharem as atividades desta, sempre sob a direção dos respetivos órgãos, pelo que são
assim organizações humanas, isto é, estruturas acionadas por indivíduos que trabalham para uma
determinada pessoa coletiva. Eles são criados para desempenhar as atribuições da pessoa coletiva
pública e atuam sob a direção dos órgãos das pessoas coletivas púbicas, isto é, quem toma as
decisões perante o exterior e quem dirige o funcionamento dos serviços existentes são também os
seus órgãos.
• Os serviços públicos desenvolvem na sua atuação, quer na fase de formação da vontade do órgão
administrativo, quer na fase que se segue à manifestação daquela vontade fazendo cumprir aquilo
que tiver sido determinado, pelo que na prática levam a cabo as tarefas de preparação e execução
das decisões dos órgãos das pessoas coletivas a par do desempenho concreto de determinadas
tarefas em que se traduz a prossecução das atribuições das pessoas coletivas.

Quanto às espécies: Os serviços públicos podem ser classificados principalmente em duas


perspetivas diferentes:
1. A perspetiva funcional
a) Os serviços públicos como unidades funcionais: Os serviços públicos distinguem-se de
acordo com os seus fins;
2. A perspetiva estrutural
a) Os serviços públicos como unidades de trabalho: Distinguem se não segundo os seus
fins, mas segundo o tipo de atividade que desenvolvem

• Ressalve-se que em cada departamento de serviço público existem unidades de trabalho


diferenciadas predominando em cada uma aquelas cuja atividade se relacione com o objetivo
específico do serviço.

Regime jurídico:
• Os serviços públicos têm genericamente regras:
a) O serviço releva sempre de uma pessoa coletiva pública, isto é, qualquer serviço encontra se
dependente de um órgão da administração que sobre ele exerce o poder de direção e a cujas
ordens e as expulsões o serviço público deve obediência;
b) O serviço público está sempre vinculado à persecução do interesse público: São assim
elementos da organização de uma pessoa coletiva pública e estão por isso vinculados à
persecução de determinadas atribuições;
c) Compete à lei criar ou extinguir serviços públicos qualquer que seja;
d) A organização interna dos serviços públicos é a matéria regulamentar, contudo e no nosso
ordenamento na prática a organização interna dos serviços públicos deve ser feita/elaborada e
modificada por decreto-lei;
e) O regime da organização e funcionamento de qualquer serviço público é modificável,
porque as necessidades do interesse públicos vão se também alterando;
f) A continuidade dos serviços públicos deve ser mantida, isto é, deve ser assegurado o
funcionamento regular pelo menos dos serviços públicos essenciais;
g) Os serviços públicos devem tratar e servir todos os particulares no mesmo pé de igualdade -
artigo 13º da CRP;
h) A utilização dos serviços públicos pelos particulares é em princípio onerosa pelo que os
utentes devem pagar uma determinada taxa existindo serviços que excecionalmente a lei
declara que possam ser gratuitos;
i) Os serviços públicos podem usar de exclusividade ao atuar em concorrência;
j) Os serviços públicos podem atuar de acordo com o direito público ou de acordo com o
direito privada (No nosso ordenamento a regra é que atuam de acordo com o direito público);
l) A lei adquire vários modos de gestão dos serviços públicos, mas por regra eles são geridos
por uma pessoa coletiva pública;
m)Os utentes do serviço público ficam sujeitos a regras que os colocam numa situação especial
e que se designa por relações especiais de poder, isto é, as relações jurídicas que se
estabelecem entre os utentes do serviço público e a administração são diferentes das relações
gerais que todo o cidadão trava com o estado. Assim os utentes dos serviços públicos
encontram se submetidos a uma forma especial de subordinação aos órgãos e agentes
administrativos;
n) Quanto à natureza jurídica do ato que cria a utilização do serviço público pelo particular tem
em regra geral a natureza de contrato administrativo, contrato porque se entende que a fonte
desta relação jurídica é em si um acordo de vontades. É um ato jurídico bilateral e
administrativo porque o seu objeto é a utilização de um serviço público e o principal efeito é a
criação de uma relação jurídica administrativa.

Organização dos serviços públicos:


• Genericamente podem ser organizados por 3 critérios:
• A organização territorial: Organizam se em função do território; remete-nos para a
distinção entre serviços centrais e serviços periféricos consoante os mesmos tenham ... ou
estejam localizados em áreas menores.
• A organização vertical: Os serviços organizam se em razão da matéria ou do fim; traduz-se
na estruturação dos serviços em razão da sua distribuição por diversos graus ou escalões
que vão desde o topo da hierarquia à base e que se relacionam entre si em termos de
supremacia e subordinação
• A organização horizontal: Organiza-se em razão da organização vertical da hierarquia; esta
atende por um lado à distribuição dos serviços pelas pessoas coletivas públicas e dentro
destas à especialização segundo o tipo de atividades a desempenhar, é através da
organização horizontal que se chega à consideração das diferentes unidades funcionais e
dentro delas das diferentes unidades de trabalho.

Conceito de hierarquia administrativa:


• A hierarquia é o modelo de organização administrativa vertical constituída com dois ou mais
órgãos e agentes administrativos comuns ligados com vínculo que confere ao superior o poder de
direção e impõe ao subalterno o dever de obediência.
• Este modelo apresenta algumas características:
a) A existência de um vínculo entre dois ou mais órgãos e agentes administrativos;
b) Comunidade de atribuições entre elementos da hierarquia, é indispensável que tanto o
superior como o subalterno atuem para a prossecução de ações comuns;
c)A existência de um vínculo político constituído por um poder de direção (superior) e o
subalterno (dever de obediência), existindo assim uma relação hierárquica.

Aula 9 (19/03)

Poderes do superior:
• Os poderes do superior consistem no poder de direção, de supervisão e disciplinar.
• Poder de direção: Consiste na faculdade do superior dar ordens e instruções em matéria de
serviço ao subalterno. As ordens traduzem se em comandos individuais e concretos em que
através delas o superior impõe aos subalternos a adoção de uma determinada conduta
especifica. Podem ser dadas por escrito ou oralmente, por sua vez as instruções traduzem
se em comandos gerais e abstratos em que através delas o superior impõe aos subalternos
uma determinada adoção de uma conduta para o futuro.

• Poder de supervisão: Consiste na faculdade do superior punir o subalterno mediante a


aplicação de sanções previstas na lei em consequência das infrações cometidas no âmbito
da administração pública.

• Poder disciplinar: Consiste na faculdade do superior punir o subalterno mediante a


aplicação de sanções previstas na lei em consequência das infrações cometidas.

Outros poderes: Normalmente integrados na competência dos superiores hierárquicos, mas que são alvo
de discussão na doutrina são os seguintes:
• Os poderes de inspeção: Consiste na faculdade do superior fiscalizar continuamente o
comportamento dos subalternos e o funcionamento dos serviços a fim de providenciar como
melhor entender e eventualmente proceder a inquérito com vista à aplicação ou abertura de um
determinado inquérito disciplinar.

• Os poderes de decisão de recursos: Consiste na faculdade do superior reapreciar os casos


primeiramente decididos pelos subalternos podendo confirmar ou revogar os atos impugnados. A
este meio de impugnação do subalterno perante o respetivo superior chama se recurso
hierárquico.

• Os poderes de decidir conflitos de competência: Nesta situação o superior tem a faculdade de


declarar em caso de conflito positivo ou negativo entre subalternos seus a quem pertence a
competência conferida por lei. Este poder pode ser exercido por iniciativa própria ou mediante
requerimento de um qualquer particular.

• Os poderes de substituição: Consiste na faculdade do superior exercer legitimamente


competências conferidas por lei ou em delegação de deveres.

Artigo 44º e ss do CPA- Delegação de poderes; Poderes indelegáveis.

Dever de Obediência Judicial:


• Consiste na obrigação do subalterno de cumprir as ordens e as instruções dos seus legítimos
superiores hierárquicos dadas em objeto de serviço e sob a forma legal, deste dever resulta:
a) Que a ordem ou as instruções do legitimo superior hierárquico sejam sempre dele
provenientes;
b) Que a ordem ou as instruções sejam dadas em matéria de serviço;
c)Que a ordem ou as instruções revistam a forma legalmente prevista.
• Consequentemente isto quer dizer que não existe dever de obediência quando por exemplo a
ordem emane de quem não seja legitimo superior do subalterno, por não pertencer à cadeira
hierárquica em que o subalterno está inserido bem como quando uma determinada ordem
respeite a um assunto da vida particular do superior ou do subalterno, ou quando tenha sido dada
oralmente quando na verdade deveria ter sido dada por escrito.

Casos em que se mantém o dever de obediência:


• Mantém-se o dever de obediência nas seguintes situações:
• Em todos os restantes casos que emanem ou que sejam provenientes do legitimo superior
hierárquico em objeto de serviço e não impliquem a prática de um crime nem resultem
num ato nulo devem ser cumpridos pelo subalterno. Contudo se forem dadas ordens ou
instruções ilegais o funcionário ou agente que lhes der cumprimento só ficará excluído da
responsabilidade pelas consequências da execução da ordem se antes da execução tiver de
alguma forma reclamado ou impugnado ou ainda tiver exigido que a mesma tivesse sido
dada por escrito, devendo o subalterno fazer expressa menção de que considera ilegais as
ordens ou instruções recebidas.
• O dever de obediência a ordens ilegais é na verdade uma exceção do princípio da legalidade, mas
é uma exceção que é legitimada pela própria constituição, isto significa que uma ordem ilegal será
sempre uma ordem ilegal que responsabiliza o seu autor e também a administração.

Superior hierárquico

Subalternos

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