a de deferir consequências vantajosas em decorrência do correto e
estrito cumprimento das normas.
Como exemplo, cite-se os descontos incidentes sobre a chamada Tarifa Social Energia Elétrica, destinada aos consumidores enquadrados na subclasse residencial baixa renda, conquanto obedecidas determinadas metas de consumo. Confira-se, a propósito, o art. 1º da Lei 12.212/2010:
Art. 1º A Tarifa Social de Energia Elétrica, criada pela Lei nº
10.438, de 26 de abril de 2002, para os consumidores enquadrados na Subclasse Residencial Baixa Renda, caracterizada por descontos incidentes sobre a tarifa aplicável à classe residencial das distribuidoras de energia elétrica, será calculada de modo cumulativo, conforme indicado a seguir: I – para a parcela do consumo de energia elétrica inferior ou igual a 30 (trinta) kWh/mês, o desconto será de 65% (sessenta e cinco por cento); II – para a parcela do consumo compreendida entre 31 (trinta e um) kWh/mês e 100 (cem) kWh/mês, o desconto será de 40% (quarenta por cento); III – para a parcela do consumo compreendida entre 101 (cento e um) kWh/mês e 220 (duzentos e vinte) kWh/mês, o desconto será de 10% (dez por cento); IV – para a parcela do consumo superior a 220 (duzentos e vinte) kWh/mês, não haverá desconto.
As técnicas promocionais também se encontram presentes em
outras fontes do Direito, sobretudo nos negócios jurídicos entre particulares, com os mesmos reflexos. Como exemplo, cite-se a previsão contratual para “desconto de pontualidade”, isto é, a premiação ao consumidor que, por pagar pontualmente as prestações a que se sujeitou, faz jus a um desconto na prestação71. 3.2. Resolução de Conflitos Convivendo em sociedade, as pessoas possuem os mais diversos interesses. Não raras vezes, pode ocorrer conflito de interesses entre os indivíduos que compõem essa mesma sociedade. Uma vez deflagrado o conflito, algumas possibilidades poderiam ser cogitadas para solucioná-lo, desde a violência até o uso da razão. A violência a que nos referimos seria aquela típica das sociedades primitivas, provida pelos próprios indivíduos em conflito até que seja dirimido. Neste caso, fala-se em autotutela, que constitui, apropriadamente, a reação direta e pessoal de quem faz justiça com as próprias mãos. Como exemplo, cite-se a previsão estatuída no § 1º do art. 1.210 do CC:
O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
A autotutela é repudiada na maioria dos sistemas jurídicos
modernos, sendo admitida apenas de maneira excepcional. Quanto mais se reforça a organização do Estado, mais se restringe essa vetusta fórmula de solução de conflito, onde o vencedor sempre será o mais forte, mais astuto ou mais ousado, sobre o mais fraco ou mais tímido72. No Direito brasileiro, o exercício arbitrário das próprias razões configura crime punível com detenção, ainda que se cuide de pretensão legítima, salvo exceções expressamente previstas em lei. É o que preceitua o caput do art. 345 do CP73. De outro lado, inexistindo a possibilidade de autocomposição entre as partes a fim de dirimir os conflitos existentes74, seja porque estas não têm interesse para tanto, seja, enfim, porque a natureza do interesse objeto do conflito não comporta essa possibilidade de solução, exsurge a atuação do Direito, que exercerá uma de suas mais elementares funções. A resolução de conflitos por meio do Direito situa-se no âmbito da razão e, a depender da vontade das partes conflitantes, sobretudo levando em consideração a natureza do interesse em discussão, será instrumentalizada por meio da (i) mediação, (ii) conciliação, (iii) arbitragem e (iv) jurisdição. A mediação é a solução de conflitos em que uma terceira pessoa (a mediadora), neutra e imparcial auxiliará as partes conflitantes a refletir e buscar, por elas próprias, a melhor solução para o litígio. A conciliação, por sua vez, é a solução de conflitos em que as partes, por meio da ação de uma terceira pessoa (a conciliadora), neutra e imparcial que também auxiliará as partes com vistas à solução do litígio – mas diferentemente da mediação, cuja solução é efetivada pelas próprias partes conquanto auxiliadas pelo mediador, a conciliação pressupõe a prerrogativa inerente ao conciliador de sugerir uma específica solução para o conflito. O sistema jurídico brasileiro textualmente recomenda a utilização da mediação e conciliação nos litígios de direito de família, na forma do caput do art. 694 do CPC:
Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão
empreendidos para a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação.
A arbitragem, por seu turno, é a forma de solução de conflitos em
que as partes, mediante livre e espontânea vontade, elegem uma terceira pessoa (um árbitro), neutra e imparcial, para que, exercendo o seu trabalho com confidencialidade, resolva o conflito que, na forma do caput do art. 1º da Lei 9.307/1996, obrigatoriamente deverá se cingir a direitos patrimoniais disponíveis:
Art. 1º. As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da
arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Por fim, a jurisdição. O moderno Estado de Direito exerce, basicamente, três funções distintas, porém harmônicas entre si, correspondentes aos três poderes: a) Legislativo, função legislativa; b) Executivo, função administrativa e c) Judiciário, função jurisdicional, onde distribui o seu poder soberano e que ora nos interessa sobremaneira, abrangendo-se a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa. A jurisdição será voluntária quando inexistir conflito de interesses propriamente dito, mas a necessidade da obtenção de um pronunciamento judicial de administração de interesse privado e com relevante repercussão. Como exemplo, cite-se a emancipação do relativamente incapaz sob tutela75. A jurisdição contenciosa realiza-se através de atos concretos, isto é, o Poder Judiciário aprecia e decide de maneira concreta os casos que lhe são submetidos, aplicando a lei, abstrata e genérica, produzida pelo Poder Legislativo, resolvendo-se o conflito e assegurando-se, então, a ordem jurídica e a autoridade da Lei. Essa função traduz-se em um dos mais eficientes mecanismos para a resolução dos conflitos, seja pela independência e imparcialidade do órgão ao qual esta função é atribuída, seja pelos instrumentos e mecanismos de que dispõe. Bem por isso, sustenta-se convincentemente que a jurisdição contenciosa civil compreende todas as funções de administração da justiça nas “controvérsias civis”, em particular, de “ditar a justiça” (poder de resolução), bem como a direção processual e prestando- se, ainda, para a proteção do ordenamento jurídico mediante a declaração (constituição), execução e o asseguramento e proteção dos direitos e relações jurídicas.76 3.3. Legitimação do Poder Social MAX WEBER nos ensina que a concepção de legitimidade se afigura como elementar para a diferenciação entre os vários tipos de dominação, pelo que propõe três possíveis fundamentos para a legitimidade da dominação política: i) fundamento tradicional que repousa na tradição; ii) fundamento carismático que se baseia na crença em qualidades especiais de uma pessoa e iii) fundamento racional que descansa na crença na legalidade. É exatamente no fundamento racional vislumbrado por WEBER que identificamos a estabilidade da dominação característica nos dias atuais77. Disso decorre que é o atributo da crença na legalidade que levaria todos os indivíduos de uma determinada sociedade se sujeitarem à dominação instrumentalizada pela positivação do Direito. Nessa ordem de ideias, é possível concluir que o Direito, apropriadamente, outorga legitimidade, em sentido estrito, aos órgãos e autoridades públicas, mediante normas formalmente positivadas pelo Estado78. Veja-se, como exemplo, o caput do art. 216-A da CF:
Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em
regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais.
Sistema Informatizado para A Resolução de Conflitos Por Meio Da Conciliação e Mediação: A Resolução #358/2020 Do CNJ e A Virtualização Do Acesso À Justiça