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O espírito colaborativo da criança - autonomia e disciplina:

(um estudo sobre a Pedagogia de Maria Montessori.)


Tânia Cristina Zonta
Professora Thatiany Macedo Cavalcante
Facon – Faculdade de Conchas
Neuropsicopedagogia – 2018

RESUMO

Este estudo objetiva refletir sobre a importância da criança autônoma, disciplinada e com
espírito colaborativo para a construção de uma sociedade mais justa, mais solidária.
Montessori (1965) viu que assim como as crianças deficientes respondiam aos estímulos para
realizar os trabalhos e ainda passaram no exame para a educação fundamental, as crianças
consideradas normais poderiam ser beneficiadas pelo seu método também e colocou em
prática suas ideias na primeira Casa das crianças (Casa dei Bambini). Montessori havia um
respeito profundo pela criança, defini-se que da forma na qual são tratadas quando pequenas
pode repercutir por toda a sua vida . O método montessoriano faz com que os gestos sejam
coordenados, as crianças sejam corteses e tenham espírito de iniciativa, de altruísmo tenham
atitudes voltadas para o bem do próximo, do coletivo e não do individualismo. Ela acreditava
que para um mundo melhor era necessário partir das crianças, desenvolver as capacidades
delas, para aprenderem a trabalhar em conjunto, com amor.

Palavras-chaves: autonomia, disciplina, liberdade, criança, espírito colaborativo

ABSTRACT

The aim of this study was to reflect on un importance of autonomous Child, disciplined and
collaborative spirit for the construction of a society fairer, Solidarity. Montessori (1965 ) saw that
as well as disabled children respond to stimuli to carry out the work and also passed the exam for
basic education , children considered normal could be benefited by his method too and put into
practice his ideas in the first House Children ( Casa dei Bambini ) . Montessori had a deep respect
for the child , it is set that the manner in which they are treated when small can reverberate
throughout his life. The Montessori method makes the gestures are coordinated , children are
courteous and have initiative, altruism attitudes have turned to the good of others , the collective
and not of individualism. She believed that for a better world was needed from the children,
develop the capacities of them , to learn to work together , with love.

Keywords: autonomy, discipline, freedom, child, collaborative spirit.


INTRODUÇÃO

Este trabalho corresponde a uma atividade da disciplina do curso de


Neuropsicopedagogia sobre a Pedagogia de Maria Montessori, tendo como título: O espírito
colaborativo da criança: autonomia e disciplina (um estudo sobre a pedagogia da Maria
Montessori). A pedagogia de Maria Montessori (1870-1952) surgiu na Itália e desperta
interesse de diversas partes do mundo. Montessori foi a primeira médica italiana, pois a área
da medicina era lugar para homens, mas ela não desistiu. Durante o percurso teve a
oportunidade de trabalhar no em uma clínica psiquiátrica da Universidade de Roma com
crianças consideradas idiotas. Aprofundou seus estudos para educar as crianças.
Após essa experiência Maria Montessori resolveu dedicar sua vida em prol das
crianças, criando um método através de observações e práticas. Lecionou na Scuola
Magistrale Ortofrenetica em 1900, para formar professores os quais se ocupariam de crianças
deficientes e com problemas mentais.
Com a criação do bairro San Lorenzo, surgiu a oportunidade de Montessori
aprofundar e aperfeiçoar seu conhecimento e sua vontade de fazer melhorar a humanidade.
Abriu-se a primeira Casa dei bambini. Montessori pode assim ampliar seu interesse em
ensinar as crianças a serem autônomas e disciplinadas para que pudessem ser livres.
Ao se observar crianças independentes e outras ainda tão dependentes tanto no
contexto escolar quanto no contexto social, surgiu-se o interesse e descobrir métodos que
servissem de instrumentos para estimular, desenvolver ou até mesmo despertar a autonomia e
a disciplina na criança e a partir daí formar um ser colaborativo para a sociedade. Desta
forma constatou-se interessante e fascinante o método montessoriano.

A pedagogia científica de Maria Montessori


Maria Montessori foi a primeira médica italiana, em 1896, mais adiante graduou-se
em Antropologia, Psicologia e Pedagogia, teve interesse em entender as crianças
intelectualmente deficientes e estudou o método de educação de Edoard Seguin, ele via na
pedagogia a cura de diversas enfermidades como a paralisia, a surdez, atraso mental e outras.
Montessori foi seguidora de seu método e foi contrária a opinião de seus colegas médicos,
alegando que a questão da educação de quem apresenta insuficiência de uma função física ou
mental tem mais relação direta à pedagogia do que à medicina e em Turim no ano de 1898
ela apresentava o princípio da “educação moral” 1 Viu que assim como as crianças deficientes
respondiam aos estímulos para realizar os trabalhos e ainda passaram no exame para a
educação fundamental, as crianças consideradas normais poderiam ser beneficiadas pelo seu
método também e colocou em prática suas ideias na primeira Casa das crianças (Casa dei
Bambini).
A primeira obra de Maria Montessori foi A Pedagogia Científica, na qual retrata seu
conhecimento adquirido pela prática e observação com as crianças na “Casa dei Bambini”, no
bairro de San Lorenzo em Roma. Essas crianças vinham de famílias pobres, e não haviam
nenhuma ocupação a não ser vandalizar este bairro popular. Muitos países aderiram ao
método montessoriano, porque através do seu método pedagógico foi dada a devida
importância às leis essenciais para o desenvolvimento intelecto-psíquico e desta forma viram
algo surpreendente acontecer com as crianças.
A educação de Montessori tem base científica busca melhorar e modificar o
indivíduo, eis que surge um novo método educacional, além disso ela alicerçava à nova
pedagogia ao “amor, o respeito, a ação de encorajar, de reconfortar são forças que movem a
alma humana; quem se prodigaliza nesse sentido vê, em torno de si, transformar-se e
revigorar-se a vida.”2
O método Montessori é um conjunto o qual visa desenvolver de acordo com a própria
natureza da criança e coloca o ambiente em ordem, tudo sobre medida, móveis leves, na
altura das crianças, a formação do educador para romper com o tradicionalismo, o material
para desenvolver a audição, o sensorial, visual, paladar este método é voltado para a vida
prática e coletiva.
De acordo com Manacorda (2002, p.307) no método de Montessori foi usado o
critério da observação científica do comportamento, baseado no estudo da psicologia infantil,
a criança é livre para utilizar o material, ela é responsável pelas suas descobertas de mundo.
Identifica-se no mundo em que vive a criança, ela inicia a gerar as próprias ideias e
segundo Montessori isso ocorre no período dos primeiros anos de vida. Montessori pensou
em tudo que a criança possa estar inserida, se dedicou aos primeiros anos de vida da criança
(0 a 6 anos), mais adiante voltado a crianças maiores e também para a família.
O material didático sensorial foi meticulosamente pensado para favorecer o
desenvolvimento e colocar ordem na vida da criança. São construídos de modo que a criança
possa aprender cor, forma, peso, dimensão, tipo de material (áspero ou liso). Têm-se sininhos
1
MONTESSORI, Maria Pedagogia científica: a descoberta da nova criança. Editora Flamboyant, 1965. p. 27

2
Ibidem.p. 32
que dão tons musicais de maneira gradual, tabuinhas de diversas cores e muitos materiais
voltados para as funções do dia a dia: como amarrar os cadarços dos sapatos, abotoar as
roupas, atividades de limpeza: varrer, passar o pano nos móveis; organizar a mesa, cozinhar e
higiene pessoal.
Pode-se dizer que o papel da professora na escola é guiar, a execução do exercício é
individual e deverá ser sempre tarefa da criança. A professora no método Montessori
comunica as noções necessárias e direciona as crianças para a educação realizada por si só:

Para evitar os desajustamentos sociais, ela propõe que o educador organize o


ambiente para que este proporcione às crianças, desde bem pequenas, o livre
escoamento do impulso vital segundo padrões de comportamento socializado a
introdução infantil à ordem e ao significado de suas experiências, porque elas
precisam disso, dessas balizas, para se tornarem adultos. 3

Reconhece-se que Maria Montessori estudou a fundo a psicologia infantil, e quando


uma criança vive e cresce em um ambiente ordenado e aprende a mantê-lo em ordem leva
isso até a vida. Montessori afirma que o período sensível à ordem surge já nos meses iniciais
de vida e em seu livro “A criança” (s.d p. 63) nos narra um fato o qual ocorreu com um bebê
de seis meses. Um dia uma senhora veio visitar a residência deste bebê, essa senhora colocou
o guarda-sol sobre a mesa. A criança ficou incomodada e chorou, porém a senhora não
entendeu o motivo, a mãe do bebê retirou o guarda-sol da mesa e a criança parou de chorar.
Montessori explica que ela estava acostumada com a posição dos objetos e quando algo
mudou, isto a disturbou.
Nota-se que as escolas montessorianas são impecáveis, o ambiente está sempre em
ordem. Uma vez que a criança aprende a ordem em que se encontram os objetos, mesmo que
o tire para brincar ou utilizá-lo os devolve para o lugar em que estava.
Sabe-se que o método montessoriano não é só usado nas escolas, muitas famílias e do
mundo todo aderiram a ele. Crianças aprendem a manter em ordem os brinquedos, auxiliam
em casa nas tarefas diárias e quem não está acostumado com cenas de crianças as quais
ajudam em casa, se surpreende.
Montessori explica o que vem a ser esta ordem:
A ordem das coisas significa conhecer a posição dos objetos no ambiente, lembrar-
se do lugar onde cada um deles se encontra, ou seja, orientar-se no ambiente e
dominá-lo em todos os detalhes. O ambiente pertencente ou dominado pelo espírito
é aquele que se conhece, aquele onde é possível movimentar-se de olhos fechados e
ter à mão tudo que nos cerca: é um local necessário à tranquilidade e felicidade da
vida. Evidentemente, o amor pela ordem de forma como o entendem as crianças são

3
HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. Vida em expansão. In: Viver e Cérebro. Coleção Memória da Pedagogia – Montessori.
São Paulo: Dueto Editorial, p. 16-27, 2005.
aquele que entendemos e exprimimos com palavras frias. (MONTESSORI, s.d. p.
67)

Percebe-se o desconhecimento deste fato e muitos adultos acreditam que meninos e


meninas são desorganizados por natureza e diversamente nos mostra Montessori. A verdade é
que crianças além de amar a ordem se crescem em ambientes ordenados, harmoniosos e
felizes tem mais chances de serem adultos ordenados, harmoniosos e felizes.
Maria Montessori (s.d. p.63) observou nas crianças que em seus primeiro e segundo
anos de vida, revelam grande interesse pela ordem. A desordem a deixa insegura. É comum
meninos e meninas de dois anos encontrarem objetos fora de lugar e o pegarem para colocá-
lo no lugar de costume. Criança tranquila é aquela que vive em lugar ordenado.
Ao estudarmos a Pedagogia Montessoriana nota-se a presença dos quatro pilares da
educação, apresentados por Delors (2001 p.90): aprender a conhecer – obter as ferramentas
da compreensão; aprender a fazer – para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a
conviver – participar e cooperar com o coletivo em todas as atividades humanas e aprender a
ser – é exercer a capacidade de autonomia, de responsabilidade pessoal, de discernimento.
Assim como Montessori dizia no século XIX, Delor reafirma na Conferência Mundial de
Educação em 1990: “educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa –
espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal,
espiritualidade.”4 Todos esses atributos fazem parte do método Montessori, para ela a
educação deveria desenvolver o ser humano de modo completo não apenas direcionado para
escola, mas para a vida prática e para ter um mundo melhor se deveria começar pelas
crianças.
Sua pedagogia abrange todo o universo do indivíduo da sala de aula ao quarto.
Através de suas observações defende-se a ideia do quarto da criança ser bem mais do que um
lugar para se dormir, é um local de construção, interação e formação da consciência a qual
uma pessoa tem de si mesma. O quarto é organizado de modo que acompanha o
desenvolvimento e crescimento da criança indo de encontro com as necessidades do bebê,
motor, afetivo, cognitivo e sensorial. O método montessoriano é adequado para todas as
faixas etárias. Desta forma, com base no método de Montessori, a psicóloga Sirlândia Reis de
Oliveira Teixeira5, questiona: “Afinal, quem não deseja ter um ambiente organizado para
4
DELORS, Jacques (Org). Educação: um tesouro a descobrir. 6ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001. p. 90-
99)

5
diretora da Associação Brasileira de Brinquedotecas e professora da Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo (USP) http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2015/08/10/noticia_saudeplena,154466/ quarto-
montessoriano-estimula-a-liberdade-e-a-autonomia-da-criança.shtml
atender às suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas e sociais e promova ainda mais
a autonomia?”6 A pedagogia de Maria Montessori busca desenvolver a autonomia, a
disciplina e a liberdade do indivíduo.

A autonomia e a disciplina
Tanto na época de Maria Montessori como ainda nos tempos atuais, ainda percebe-se
professores, pais ou responsáveis os quais privam as crianças de ter autonomia, realizam
atividades das quais elas próprias podem realizar. Algumas crianças ou por dificuldades ou
por já estarem habituadas a esperar que outros façam por elas deixam de realizar determinada
atividade. Exemplo: o aluno não escreve ou responde o exercício e a professora por falta de
paciência faz o dever para o aluno ou o pai faz o mesmo. Esta criança ficou privada da
oportunidade de se sentir capaz em concluir algo.
São vários os exemplos os quais podem ser citados : quando a criança tenta pegar um
brinquedo próximo a ela e o adulto interfere o dando em mãos o objeto, o adulto acabou
sendo um obstáculo. Ou quando a criança começa a se levantar sozinha se apoiando no sofá,
ou em algum outro móvel, em alguns casos o adulto invés de deixar o bebê mover-se e
levantar-se sozinho, o pega pelos braços e o coloca de pé.
O que se pode fazer para desenvolver a autonomia e a disciplina na criança? De
acordo com VAYER (1990 p. 32) a autonomia é um ponto fundamental para o
desenvolvimento da criança, “o desenvolvimento é uma auto-realização que, partindo dos
dados de origem genética, se realiza num meio. O meio, e principalmente o das pessoas, deve
então permitir à criança fazer a experiência da sua autonomia.”
É sem dúvida através da autonomia, ou seja, da não dependência em realizar uma
atividade que o indivíduo aprende a realidade social, aprende a conviver com o outro e com
si próprio.
A verdadeira eficácia da pedagogia é auxiliar a criança a seguir o caminho da
independência, devem tornar-se auto-suficientes. Maria Montessori diz:

Cremos que as crianças são semelhantes a fantoches inanimados: lavamo-


las e alimentamo-las assim como elas lavam e dão de comer às suas
bonecas. Não nos damos conta de que a criança só não age porque não sabe
agir; ela deve agir, e nosso dever para com ela é, indubitavelmente, ajudá-la
na conquista de atos úteis.7
6
Ibidem.
7
MONTESSORI, Maria Pedagogia científica: a descoberta da nova criança. Editora Flamboyant, 1965. p.53
Montessori havia um respeito profundo pela criança, defini-se que da forma na qual
são tratadas quando pequenas pode repercutir por toda a sua vida e nas palavras de
Montessori: “Uma pessoa que se faz servir com frequência não somente vive em
dependência, mas definha na inação e acaba por perder a sua atividade natural. Inoculamos,
assim, na alma infantil, o pecado da preguiça.”8
Ao contrário do que se pensa a criança é muito mais capaz de realizar determinadas
atividades. Invés de intervir na ação da criança se a incentivarmos com certeza desenvolverá
a confiança dela e esta aprenderá a vencer os obstáculos os quais pode se deparar.
VAYER (1990) em seu livro9 fala como Piaget explicava o desenvolvimento da
criança: “’um modo espontâneo” livre para expressar seu potencial, é o de onde nasce o
desenvolvimento, e o “modo psicosocial”, onde o sujeito põe em ordem a realidade e o seu
mundo.
No sistema Montessori estimula-se a auto confiança e a auto- estima da criança, pois
meninos e meninas gostam de desafios e têm plena capacidade de realizar muitas tarefas
sozinhas. O natural do ser humano é usar suas capacidades para novas conquistas. E o mais
gratificante é poder ser útil, sentir-se realizado e satisfeito em atingir um objetivo.
Admira-se muito a cena de um menino com apenas três anos o qual recebe a visita
com um suco preparado por ele mesmo. Este menino pegou a jarra e a segurou com suas
pequenas mãos, foi em direção ao filtro de água, encheu a jarra com água, depois a apoiou
sobre a mesa, colocou o suco em pó e com a colher girou, após o preparo serviu a sua visita.
O que se vê muito são crianças aos três anos sendo servidas, vem-se crianças
dependentes, as quais os pais ou responsáveis as dão banho, as vestem, dão comida na boca,
porém, esta criança citada acima realiza tudo isso sozinha.
De acordo com os estudos de Montessori conclui-se que é instinto próprio dos
meninos e meninas agirem sozinhos. E somente desta forma se dará o desenvolvimento moral
e intelectual. Isso é ser livre, poder realizar algo sem a interrupção de um adulto.
Vê-se frequentemente é o adulto intervir com medo que a criança faça algum dano,
suje o chão, quebre alguma coisa, mas engana-se que a estará ajudando, pelo contrário,
chegará um momento que a criança perderá totalmente o interesse de tomar iniciativa, de
tentar realizar alguma atividade espontaneamente. Ela deve ser deixada livre. Mesmo que
ocorra de quebrar a criança aprenderá com a sua própria experiência e será mais atenta da

8
Ibidem. p. 53

9
VAYER, Pierre. Diálogos com as crianças na creche e no jardim de infância. São Paulo:Manole. 1990. p. 32- 35.
próxima vez, mesmo que venha a sujar o chão, o adulto pode dar-lhe um pano para que a
criança limpe, desta forma aprenderá a corrigir seus próprios erros.
Alguns podem contestar, mas como é possível manter a disciplina e ainda dar
liberdade para a criança? Para Montessori (1995 p. 53) a disciplina é ativa, ser disciplinado
não significa ficar estático como um “paralítico. Indivíduos assim são aniquilados e não
disciplinados.”10 A criança que se move bem, e aprende a disciplinar seus movimentos é
preparada para a vida e não somente para a vida escolar. O fundamental é a criança saber o
que é bem e o que é mal, o limite para a liberdade é a diligência com o coletivo, não é
permitido gestos bruscos que possa prejudicar ou ofender o próximo. Montessori reconhece
que é um período muito cansativo esse de disciplinar a criança: “E é dever da educadora
impedir que a criança confunda bondade com imobilidade, maldade com atividade; isto seria
retroceder aos antigos métodos de disciplina.” “Nosso objetivo é disciplinar a atividade, e
não: imobilizar a criança ou torná-la passiva.”11
MONTESSORI (1965) afirmava que onde a criança tivesse uma atividade
consciente, útil e inteligente e ainda manifestasse delicadeza isso sim é que seria uma classe
disciplinada. Inclusive a aprendizagem do silêncio é fundamental para poder realizar vários
exercícios, pois dessa forma conseguirá adquirir a capacidade de autodisciplina: (...) “O
silêncio é, pois, uma conquista positiva, que se obtêm graças ao conhecimento e ao
exercício.”12

Maria Montessori via a educação como única forma de melhorar a sociedade. Ela via
a criança como um ser sem preconceitos e acreditava que esta poderia desenvolver seu
potencial voltado para a paz e desta forma o mundo se tornaria melhor.
São os fundamentos do método Montessori: a Individualidade, a Liberdade e a
Atividade.

- Individualidade

Para Montessori a criança é sujeito e objeto do ensino ao mesmo tempo. Cada ser tem
necessidades e interesses de acordo com os níveis de desenvolvimento associados às faixas
etárias, e a aplicação de seu método gerado pelas observações procurava ir de encontro com a
natureza humana. A criança é o centro e não o professor ou o adulto. Ela é quem traz dentro
de si o potencial criador e desta forma se torna sujeito ativo do aprendizado. A
10
MONTESSORI, Maria Pedagogia científica: a descoberta da nova criança. Editora Flamboyant, 1965. p.53 p. 45
11
ibidem. p.50
12
Ibidem. P. 167
individualidade é respeitada. A chave do método é fazer com que a criança encontre sozinha
a própria individualidade direcionando-a para a autoeducação.

Em suas observações MONTESSORI (s.d. p. 135) entendeu que cada criança tem
desejos particulares, necessidades interiores e assim o ambiente passou a ser colocado em
ordem, onde objetos estavam à disposição e cada um pode escolher o objeto, o qual melhor
vai de encontro as suas necessidades psíquicas.

- Liberdade

Para Maria Montessori , de acordo com seus estudos com base científica, a
inteligência e o complexo das faculdades psíquicas são formadas nas idades entre 0 e 6 anos.
Assim como Montessori, Piaget criança é capaz de construir seu próprio conhecimento. Para
Piaget: o conhecimento “não está pré formado dentro do sujeito, mas constroe-se à medida
das necessidade e das situações.” (PIAGET, 1978)
Tanto Piaget quanto Montessori defendiam a importância da interação da criança com
o ambiente para construírem as estruturas cognitivas. Nota-se que meninos e meninas entre 3
e 6 anos tem-se consciência do meio em que vive, e de acordo com a organização deste
ambiente, ela aprende a ser responsável pelo seu próprio aprendizado, e também a fazer
escolhas, aprende a compartilhar e a saber esperar.
MONTESSORI (1965 p. 52) dizia que em uma sociedade que vive na forma da
escravidão, não sabe reconhecer a suma importância da independência. E assim o que supõe é
uma ideia equivocada de liberdade e completava ao dizer que somos sujeitos sociáveis e
devemos nos ajudar reciprocamente, isto sim é ser livre.
O indivíduo precisa ser livre para se desenvolver de maneira espontânea. A liberdade
faz parte dos princípios montessorianos. A criança necessita de sentir-se à vontade onde se
encontra. Não apenas na escola, mas no âmbito familiar se a criança tiver seu tempo de
aprendizagem respeitado ela sozinha criará a disciplina e exercerá a autonomia e pensará no
coletivo — o trabalho cooperativo.
Maria Montessori explica:

Do ponto de vista biológico, o conceito de liberdade na educação da


primeira infância deve ser considerado como a condição mais favorável ao
desenvolvimento tanto fisiológico quanto psicológico. Se o educador estiver
imbuído do culto da vida, respeitará e observará, com paixão, o
desenvolvimento da vida infantil. (...) (MONTESSORI. 1965 p.57)
O equivoco por parte do adulto é acreditar que toda criança é uma miniatura do
adulto. Impor nossos pensamentos, nossas ações de modo brusco, isso só faz é alimentar a
rebeldia no sujeito. Mas como dar liberdade a criança e conseguir manter a ordem? :

“A vida livre — Esses conquistadores de si mesmos acabam também por


conquistar uma vantajosa liberdade, pois, aos poucos, se vão livrando de
muitas reações desordenadas e impensadas das que exigem um incessante
controle dos adultos. Podem alegremente distraírem-se num jardim sem
estragar os canteiros ou as flores; correr por um campo sem que nada fique
estragado. A dignidade e graciosidade de conduta, a desenvoltura das
atitudes são dons sobrepostos aos seus laboriosos e pacientes trabalhos de
conquistas básicas. São criaturas “controladas”; seu autocontrole livra-as do
controle alheio. Quem se aprofunda no estudo teórico do nosso método,
sentirá logo a impressão de que ele, em princípio, contraria o postulado
segundo o qual “a criança deve ser livre para fazer o que quer.”
(MONTESSORI. 1995 p.91)

O ESPÍRITO COLABORATIVO DA CRIANÇA


Observa-se que a criança, a qual teve a oportunidade de se desenvolver de modo livre,
despertou sua individualidade e aprendeu a ser autônoma, carrega dentro de si um espírito
colaborativo. É aquele que quando adulto onde se encontra quer ajudar, quer ser útil, cumpre
com seus compromissos e é uma pessoa ética.
Praticamente apresenta-se que meninos e meninas, os quais criaram o hábito de ajudar
em casa, aprenderam a colocar em ordem não só seus movimentos, mas também a própria
vida, gostam de contribuir, de participar. Essas crianças tomam a iniciativa em fazer as
atividades, perguntam em que podem ser úteis e se sentem felizes em poder cooperar. Essas
conquistas no desenvolvimento do caráter e da personalidade da criança é bem mais valioso
do que competir, ganhar mais do que os outros, ou querer ser superior as outras pessoas.
Conforme Ferrari (2008. p. 31) “Maria Montessori acreditava que nem a educação
nem a vida deveriam se limitar às conquistas materiais. Os objetivos individuais mais
importantes seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante e
nutrir paz e densidade interiores para ter capacidade de amar.”
Reconhece-se que quem cresce focado nesses objetivos passa a ser mais feliz, visto
que não se prende ao material, não sofre derradeiramente com as consequências do mundo
capitalista. O método montessoriano visa o aprendizado onde seres sociais se interagem com
o objeto de estudo de acordo com as preferências individuais e ao mesmo tempo educa-se
para o coletivo, para viver de modo harmônico e de amor ao próximo.
De acordo com Vygotsky o aprendizado envolve interação social, “o ser humano
cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial a seu
desenvolvimento”.13 E no que refere-se à imitação para ele a criança observa os outros e
reconstrói não simplesmente copia, e considera isto uma “oportunidade de a criança realizar
ações que estão além de suas próprias capacidades, o que contribuiria para seu
desenvolvimento”.14 As crianças seguem o exemplo, se elas convivem com pessoas as quais
gostam de estudar, respeitam e ajudam as outras pessoas, são educadas, fazem seu papel de
cidadão, a tendência é as crianças imitarem, logo imitam tanto os bons exemplos quanto os
mal exemplos.

De acordo com Taniguchi (2007, p.115):

(...) Deve-se mostrar às crianças exemplos verídicos de bondade, de amor abnegado


e de atitudes nobres, para conduzi-las a praticar boas ações por amor ao bem, à
virtude e à perfeição. Deve-se sempre contar-lhes os feitos de heróis ou a vida de
santos e falar sobre o profundo amor de Deus que nunca odeia ninguém em
circunstância alguma. Então eles ficarão bem impressionados e brotará neles o
desejo de serem tão nobres quanto os heróis e santos, tão perfeitos quanto Deus.

Infelizmente, nos tempos atuais as crianças assistem, ouvem e presenciam cada vez
mais histórias que as influenciam de modo negativo. O mau exemplo muitas vezes é visto
como o melhor, o ter é valorizado e não o ser.
Não deve apenas mostrar bons exemplos, deve-se viver - ser o exemplo é a melhor
maneira de educar. Desde pequenas devem ser orientadas para se tornarem pessoas de bem,
praticarem o bem de modo espontâneo e com espírito independente.
Maria Montessori em uma conferência falou sobre ‘Ciência da Paz’,
os valores para se construir uma PAZ necessária são: capacidade de cooperar com o
outro, espírito crítico, sentido de compromisso, percepção aguçada da unidade e da
diversidade simultânea do mundo. A PAZ não é o resultado de negociações, a paz
começa por uma construção de harmonia entre a criança e o adulto. 15

Ela acreditava que para um mundo melhor era necessário partir das crianças,
desenvolver as capacidades delas, para aprenderem a trabalhar em conjunto, com amor e diz
que no desenvolvimento delas existem duas estradas ‘aquela da criança que ama e aquela que
o homem possui’, ‘de um lado aquele que teve uma correta educação que conquistou sua
independência e se relaciona de maneira harmoniosa com os outros, do outro lado o homem

13
OLIVEIRA, Maria Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sociohistórico. São Paulo: Scipione,
1997. p. 57
14
ibidem
15
MOLINA, Edna. Maria Montessori e a Pedagogia Científica - http://www.atecedeira.com.br/2011/01/maria-montessori-
e-pedagogia-cientifica.html Acesso dia 05 de janeiro de 2015.
escravo, o qual querendo se libertar, tornar-se escravo do possuído.’ (Apud: Carletti, 1982 p.
44, tradução nossa)
Pode-se deduzir que a criança bem educada ama tudo a sua volta, o ambiente, as
coisas, as pessoas, e como Montessori já dizia a criança é o construtor do homem, devemos
observar a sua naturalidade, sua ingenuidade, seu entusiasmo com relação à vida.
Meninos e meninas adquirem o espírito colaborativo quando percebem que ajudar ao
próximo o deixa feliz, e para desenvolver este espírito de cooperação nos diz
Taniguchi(2007, p.103):

(...) Deixe-as ajudar, mas de modo gradativo. Não tenha pressa. E demonstre
satisfação pela ajuda, agradecendo-lhes. Assim, elas compreenderão, por
experiência própria, que ‘o trabalho feito com amor causa alegria ao próximo’, e
que é extremamente agradável fazer os outros felizes. Isto é essencial para o
desenvolvimento correto do ser humano.
Desse modo, afirma-se a necessidade da criança de trabalhar, no sentido de participar
de atividades que contribuam para a vida, tarefas de casa, que aprendam coisas úteis para
viver em sociedade, para contribuírem na construção do meio social do melhor modo
possível. De acordo com Carletti (1982) não é o trabalho em si que tem valor, mas o trabalho
como meio de construção do homem interior.
Segundo Taniguchi (2007, p.102), “para ajudar a criança a desenvolver seus dons
naturais, é preciso dar-lhe uma ocupação adequada.” (...) “O trabalho ensina à criança como
usar sua vitalidade de forma construtiva e, ao mesmo tempo, cultiva nela uma tendência
também construtiva e capacidade criativa.”
Muitos podem questionar essa questão de dar uma ocupação à criança, ou um
trabalho, e discutir a respeito do trabalho infantil como algo prejudicial, porém, meninos e
meninas os quais executam algum trabalho em casa, não deveria ser classificado como algo
ruim para a infância. Tanto que CURY (2015 p. 70) reflete sobre o “trabalho intelectual
escravo”, com o avanço da tecnologia ocorre um exagero em atividades, “brinquedos, games,
smartphones.”, Percebe-se seres dependentes, muitas vezes não se socializam, não interagem
como meio e muito menos aprendem a lidar com as próprias emoções e na adolescência:
Tornam-se inibidos socialmente, tímidos diante de situações novas, sem grandes
sonhos ou uma identidade definida, não sabem ouvir negativas, não obedecem as
regras sociais, são poucos resilientes e tem baixo nível de solidariedade (CURY,
2015, p. 70)

É lamentável deparar-se com crianças já acostumadas a viver de modo egoísta, de


serem o centro das atenções, que não respeitam o próximo, aprendem a consumir cada vez
mais, e cada vez mais cedo, associam ao sentimento amar ao material e ao ter, amar somente
quem dá presentes. Acostumados a serem servidos, não aprendem a valorizar o trabalho
alheio e nem o valor do dinheiro. Augusto Cury cita em seu livro, Pais Inteligentes formam
sucessores, não herdeiros, a respeito de sua palestra para membros da ONU e para a Política
Federal na qual falou sobre a necessidade da educação se aperfeiçoar para:
educar a emoção e desenvolver os papéis do Eu como líder de si mesmo, para
formar pensadores altruístas e sucessores inteligentes, capazes de construir com
dignidade sua própria história. Caso, contrário os jovens não saberão fazer escolhas
e muito menos dirigirão a sua mente; serão dirigidos.16

Maria Montessori não queria um mundo desta forma tanto que expressou: “a
educação deve ser uma forma ativa, um instrumento para melhorar a sociedade, não a
mantendo sempre no mesmo nível.” (apud.: CARLETTI. 1982, p.26 tradução nossa).
Ela visava uma educação onde fosse ensinado também à criança a valorizar a
humanidade, a agradecer “aos homens e às mulheres que dedicam suas vidas para que nós
possamos viver de maneira mais abundante” 17 Pessoas as quais trabalham para que possamos
comer verduras, legumes, mantêm em funcionamento ou limpo o meio em que vivemos,
pessoas que se encontram por trás dos bastidores da fama, as quais de alguma forma
beneficiam a humanidade e não são reconhecidas dignamente. Maria Montessori dedicava
seus estudos para que crianças tivessem consciência de um todo do Universo, como peça
integrante do Universo.
No que diz respeito ao espírito colaborativo da criança pode-se associá-lo à “educação
cósmica”, ou seja, é a forma de educação onde o indivíduo constata fazer parte do Universo,
e age com responsabilidade e respeito, Montessori acreditava que através da educação
cósmica na infância faria com já na adolescência fossem sujeitos ativos, autônomos, agissem
com responsabilidade e com boa auto-estima, assim sendo jovens equilibrados.
De Acordo com Montessori (2006),
é difícil ligar uma realidade a suas relações sociais enquanto não se usa a
imaginação. É preciso praticar essas relações. Não é de repente que podemos
acordar a consciência; mas é preciso que a criança exerça uma supervisão constante
sobre seus próprios atos. A educação tem, portanto a possibilidade de resolver o
problema ludicamente, quando ela procura resolvê-lo através de ações

A criança adquiri novas habilidades ao cuidar dos seus pertences, com a prática
constante de colocar em ordem as roupas, seus brinquedos ou outro tipo de atividade faz com
que ela se torne consciente ao ponto de onde quer que vá terá “uma preocupação de correção
e um controle constante de sua própria pessoa” (MONTESSORI, 2006 p. 36)

16
CURY, Augusto. Pais inteligentes formam sucessores, não herdeiros. 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 63

17
MONTESSORI, Maria. Para educar o potencial humano. Tradução Miriam Santini, Campinas, SP: Papirus, 2003.p.30
Sendo assim, Hörhs (2010 p. 100) nos diz que somente a criança psíquica há a
possibilidade de dar “ao aperfeiçoamento humano um impulso dominante e poderoso”, sendo
o espírito da criança que determinará o real “progresso humano e talvez, o início de uma
nova civilização.”
Civilização esta dotada de autonomia, liberdade, que saiba controlar suas emoções e
não agir de modo que o mundo gire em torno de si, e sim de modo mais abnegado, solidário
com relação ao próximo. Cury (2015) diz: “Sucessores lutam para não ser mentalmente
preguiçosos e para não desperdiçar seus talentos. (...) Adquirem, assim, potencial intelectual
para resolver conflitos, superar dificuldades, criar oportunidades.”
O escritor espanhol Gabriel Garcia Marques conta sobre sua experiência em uma
escola montessoriana: “Não acredito que tenha um método melhor daquele montessoriano
para render as crianças sensíveis às belezas do mundo e para despertar a curiosidade deles
para os segredos da vida.”18
O método de Montessori foge ao padrão tradicional, dá-se espaço ao interesse de cada
individuo, busca-se na curiosidade, na liberdade de escolha de cada aluno o resultado
essencial que é a aprendizagem, se ele quiser estudar geografia, e o outro quiser estudar
ciências em nenhum momento a professora se oporá, estará ali para auxiliá-los caso ocorra
algum obstáculo que possa interferir na aprendizagem.
Para a criança entre 7 e 12 anos, “a instrução deve apelar para a imaginação. É dessa
imaginação que se deve surgir a representação da realidade.” (MONTESSORI, 2006 p. 46)
Assim a imaginação será construída e organizada “O homem, então, somente pode atingir um
nível elevado, porque ele penetra o infinito” (Ibidem p. 49) Montessori afirma: “o homem
vive na superfície e o homem deve conquistar o mundo... a inteligência do homem deve
conquistar o mundo, como a inteligência da criancinha conquistou o ambiente.” (Ibidem, p
51)
Montessori exemplifica essa prática de educação, tudo tem uma conexão, “Falar da
vida do homem na superfície do globo é ensinar História. E cada detalhe desperta o interesse,
pelo fato de ser estreitamente ligado aos outros.” “não existe nenhum que não faça parte do
todo, é suficiente escolher qualquer um, que constituirá o traço da união com o conjunto”
(Ibidem, p 52) Entende-se que todas as ciências faz parte de um todo, faz parte do conjunto
existente no Universo, “um detalho provoca o estudo de um conjunto”.

18
Gabriel García Márquez, Vivere per raccontarla, Milano, Arnoldo Mondadori Editore, 2002, pp.87-88.
Il testo è stato pubblicato nel numero di settembre-ottobre 2014 di “Vita dell’infanzia”. (tradução nossa)
Ao estudar o conjunto que engloba o Universo a criança toma consciência de que não
é único e sim alguém que faz parte do todo e dessa forma age de modo que beneficie o
coletivo. Não jogará papel no chão por amor a ordem, por não querer danificar o ambiente ou
acarretar algo ruim a qualquer outra pessoa ou ser existente neste mundo.
Nas palavras de Montessori: “nossa educação lhe trouxe, além de cultura, a faculdade
de facilitar suas relações sociais com os outros indivíduos” (MONTESSORI, 2006 p. 111) É
necessário desenvolver na criança, com mais de 12 anos, “o espírito de sociedade que deve
contribuir a levar mais compreensão entre os homens e, por consequência, mais amor.”
(Ibidem)
Pode-se afirmar que meninos e meninas só terão consciência e desenvolverão o
espírito colaborativo através da prática, eles devem fazer alguma atividade voluntária, social,
deve-se estimular neles o espírito de solidariedade através de exemplos e exercícios.
Na Revista Mente&Cérebro19 um estudo comparativo entre crianças, as quais
estudaram em escolas montessorianas e escolas tradicionais, demonstrou que os alunos de
escolas montessorianas de 5 anos eram melhores do que os alunos de outras escolas no que se
refere as habilidades de leitura e matemática. E na questão comportamental:

demonstraram senso de justiça e de solidariedade mais desenvolvido. A avaliação


de estudantes de 12 anos incluiu também redação. Os resultados mostraram que os
alunos do método montessoriano usaram sentenças mais elaboradas e se revelaram
mais criativos. Além disso, avaliações sociais mostraram que essas crianças tinham
mais habilidade para lidar positivamente com situações sociais adversas .20

Para se ter um bom cidadão deve existir um espírito colaborativo, solidário


incorporado. Montessori buscou através de seu método desenvolver o senso de justiça e de
solidariedade do sujeito, o qual age ativamente na sua própria construção de ser social.
Algumas escolas fazem projetos para envolver crianças em jovens em ações sociais,
como visitar um asilo, ouvir as histórias dos idosos, dar atenção e carinho e também
orfanatos ou abrigos para que tenham contato com uma outra realidade e possam refletir
sobre a situação dessas pessoas, sozinhas, muitas abandonadas pela família, e esses jovens e
crianças por um momento colocarem-se no lugar do outro, pensar como eles se sentiriam se
fosse com eles.
Comprova-se que crianças pequenas aprendem observando, o ato de ser generoso será
aprendido vendo e vivenciando ações generosas. Algumas famílias não prezam pelo
voluntariado, pelo ato de doar amor sem contar com a reciprocidade. Simples ações do dia a

19
Revista Mente&Cérebro. Aprender com liberdade é melhor. 0utubro de 2006. Disponível
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/aprender_com_liberdade_e_melhor.html Acesso dia 10 de fevereiro de 2016.
20
ibidem
dia contribuem para a formação do bom cidadão. Aprender a lidar com situações adversas,
ajudar quem precisa, alguém próximo ficou doente e precisa de companhia, ou de um auxilio
doméstico, são exemplos que podem gerar o sentimento de colaboração e de solidariedade.

CONCLUSÃO

A conclusão a qual chegou-se é que através do estudo do método Montessori percebe-


se um ótimo instrumento para desenvolver a autonomia, a disciplina e o espírito colaborativo
da criança, pois é um método aperfeiçoado conforme as observações desta médica italiana e
que ao longo dos anos e em diversos países foi e ainda é reconhecida a grandiosidade da
Pedagogia montessoriana e passaram a utilizá-la em escolas públicas ou privadas, no meio
familiar e social.
“O fator ambiente pode modificar, isto é, ajudar ou destruir, jamais criar. As origens do
desenvolvimento são interiores. A criança não cresce porque se alimenta, porque respira, porque se
encontra em condições de clima favorável; cresce porque a vida, exuberante dentro em si, se
desenvolve; porque o germe fecundo de onde esta vida provém evolui em conformidade com o
impulso do destino biológico fixado pela hereditariedade. (...)” (p.57)

“ Quando falamos de “liberdade” da criança pequena, não nos referimos aos atos externos
desordenados que as crianças, abandonadas a si mesmas, realizariam como evasão de uma atividade
qualquer, mas damos a esta palavra “liberdade” um sentido profundo: trata-se de libertar a criança de
obstáculo que impedem o desenvolvimento normal de sua vida.” (p.idem)

(...)

“Em primeiro lugar, pense-se em criar um ambiente adequado, onde a criança possa agir tendo em
vista uma série de interessantes objetivos, canalizando, assim, dentro da ordem, sua irreprimível
atividade, para o próprio aperfeiçoamento. Ora, seu tipo de inteligência é diferente do nosso.
Poderíamos dizer que nós nos bastamos com o auxílio de nossa inteligência; ela, porém, somente
vivendo é que poderá aprender a falar a língua de seu país.(...) É difícil de se imaginar o poder de
absorção do espírito da criança. Tudo o que a rodeia penetra nela: costumes, hábitos, religião. Ela
aprende um idioma com todas as perfeições ou deficiências que encontra em redor de si, sem mesmo
ir a escola.(p.58)

LIBERDADE: “(...) a concepção de liberdade que deve inspirar a pedagogia é universal: é a


libertação da vida reprimida por infinitos obstáculos que se opõem ao seu desenvolvimento
harmônico, orgânico e espiritual. Realidade de suprema importância, despercebida até o presente pela
maioria dos observadores.” (p.16)

INDEPENDÊNCIA: “A idade de três anos já poderia, em grande parte, tornar-se independente e


livre.” (p.52)

“ Nós mesmos ainda não temos avaliado devidamente a suma importância da independência, porque a
forma social em que vivemos é a servidão. Numa época de civilização em que ainda existem servos, o
conceito de independência não pode sugerir senão uma ideia de liberdade igual à que se tinha no
tempo da escravidão.” (p.52)

“Quem é servido, em vez de ser ajudado, está em certo sentido lesado em sua independência. Este
conceito firma-se na própria base da dignidade humana: “não quero ser servido, porque não sou
enfermo; mas devemos ajudar-nos mutuamente, porque somos seres sociáveis”; eis uma noção que é
preciso adquirir antes de sentir verdadeiramente livre.” (p. idem)

“Par ser eficaz, uma atividade pedagógica deve consistir em ajudar as crianças a avançar no caminho
da independência; assim compreendida, esta ação consiste em iniciá-la nas primeiras formas de
atividade, ensinando-as a serem auto-suficientes e a não incomodar os outros. Ajudá-las a aprender a
caminhar, a correr subir e descer escadas, apanhar objetos do chão, vestir-se e pentear-se, lavar-se,
falar indicando claramente as próprias necessidades, procurar realizar a satisfação de seus desejos: eis
o que é uma educação na independência.” (p.53)

“Cremos que as crianças são semelhantes a fantoches inanimados: lavamo-las e alimentamo-las assim
como elas lavam e dão de comer às suas bonecas. Não nos damos conta de que a criança só não age
porque não sabe agir; ela deve agir, e nosso dever para com ela é, indubitavelmente, ajudá-la na
conquista de atos úteis. (p. idem)

“(...) Uma pessoa que se faz servir com frequência não somente vive em dependência, mas definha na
inação e acaba por perder a sua atividade natural. Inoculamos, assim, na alma infantil, o pecado da
preguiça.” (p. idem)

“O homem que age multiplica suas forças, domina-se e se aperfeiçoa.” (p.54)

3.2- Atividade:

Segundo ROHRS (2010 p. 27) a atividade independente é a base do método


Montessori e as crianças carregam dentro de si intuitivamente “as formas de plenitude pela
atividade independente”, ‘Se damos a uma criança o sentimento de seu valor, ela se sente
livre e seu trabalho não lhe pesa mais’.
Quando a criança consegue realizar uma atividade sozinha flora em seu interior uma
grande alegria. Conforme, MONTESSORI (1965) a criança conhece o mundo através das
mãos, (conhecimento sensorial) pelo toque e pelo movimento ela explora o que está ao seu
redor, seus materiais didáticos servem para aprender: a forma, a cor, o peso, o cheiro, o
barulho, a textura e o tamanho, além de alguns serem utilizados para desenvolver a escrita, a
matemática, a coordenação motora, a concentração, a criatividade, a memória etc.

Maria Montessori deu importância a atividade motora, via não somente como algo
que poderia trazer benefícios ao corpo físico, entretanto algo que abrange o psíquico:

O movimento não é apenas a expressão do eu, mas um fator indispensável


para a estruturação da consciência, sendo o único meio tangível que coloca
o eu em relações bem definidas com a realidade exterior. Em consequência,
o movimento é fator essencial para a elaboração da inteligência, que se
alimenta e vive de aquisições obtidas no ambiente exterior.
(MONTESSORI, s.d. 109)

Concorda-se que a criança para se desenvolver precisa movimentar-se para estimular


os músculos, mas também o psíquico. Ela desenvolverá a confiança em si mesma, a vontade
e a questão de tomar iniciativa, a criança não descobre o mundo simplesmente inerte, porém
tocando, superando desafios encontrados no meio exterior. Ao querer pegar um objeto no alto
ela não usará apenas o corpo físico, mas também a sua inteligência, irá raciocinar de que
maneira irá pegar esse objeto, deverá pegar uma cadeira, uma caixa ou simplesmente ficar
nas pontas dos pés? Esticar o braço ou utilizar outro objeto para alcançar o objetivo?

Capítulo 3- O espírito colaborativo da criança

“Defende Ferrari (2008. p. 31)Maria Montessori acreditava que nem a educação nem a vida
deveriam se limitar às conquistas materiais. Os objetivos individuais mais importantes seriam: encontrar
um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante e nutrir paz e densidade interiores para ter
capacidade de amar.”

Numa de suas conferências, Montessori falou em "Ciência da PAZ". Disse que os “valores para se
construir uma PAZ necessária são: capacidade de cooperar com o outro, espírito crítico, sentido de
compromisso, percepção aguçada da unidade e da diversidade simultânea do mundo. A PAZ não é o resultado
de negociações, a paz começa por uma construção de harmonia entre a criança e o adulto". Por isso ela queria
criar uma educação que possibilitasse “o desenvolvimento do que há de melhor em cada indivíduo,
abandonando a priorização da posse material, de modo que, ao estar bem consigo mesmo, o indivíduo possa
conviver melhor com os demais, respeitando as diferenças”. (http://www.atecedeira.com.br/2011/01/maria-
montessori-e-pedagogia-cientifica.html)

Bibliografia

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DELORS, Jacques (Org). Educação: um tesouro a descobrir. 6ed. São Paulo:
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FERRARI, Márcio. Maria Montessori: A médica que valorizou o aluno. In:


Revista Nova Escola. São Paulo, nº 19, p.31-33, julh. 2008.

HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. Vida em expansão. In: Viver e Cérebro. Coleção
Memória da Pedagogia – Montessori. São Paulo: Dueto Editorial, p. 16-27, 2005.

MACHADO, Izaltina de Lourdes. Educação Montessori: de um Homem Novo


para um Mundo Novo, São Paulo: Ed. Pioneira, 1983.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação: da antiguidade aos
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MONTESSORI, Maria. A criança – (tradução de Luiz Horácio da Mata). São Paulo :
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MONTESSORI, Maria Pedagogia científica: a descoberta da nova criança. Editora
Flamboyant, 1965.
PARO, Vitor Henrique: Gestão escolar, democracia e qualidade do ensino. São
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PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 3 ed. Rio de Janeiro:


Zahar, 1978.

ROHRS Hermann. Maria Montessori. tradução: Danilo Di Manno de Almeida,


Maria Leila Alves. – Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. –
(Coleção Educadores)

VAYER, Pierre. Diálogos com as crianças na creche e no jardim de infância. São


Paulo:Manole. 1990. p. 32- 35

Referência

http://www.conteudoescola.com.br/nossos-mestres/84-maria-montessori Acesso 12 de outubro de


2015 às 20:50
http://www.educare-coaching.com.br/fiquepordentro.php?id=1359998928 Acesso 12 de outubro de
2015 às 21:30
http://www.atecedeira.com.br/2011/01/maria-montessori-e-pedagogia-cientifica.html Acesso 12 de
outubro de 2015 às 22:15
http://www.sapere.it/sapere/strumenti/studiafacile/psicologia-pedagogia/Pedagogia/La-scienza-dell-
educazione-nel-Novecento/Pedagogia-e-psicologia.html acesso 12 de outubro de 2015 às 22:34
http://www.ppsj.org.br/o-desenvolvimento-infantil-de-acordo-com-piaget-e-montessori-2/ Acesso dia
12 de outubro de 2015 às 23:00
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=2307&secao=281 Montessori e suas contribuições para
a Pedagogia moderna, Entrevista com a psicóloga Marli Moller Nedel. Acesso 13 de outubro de 2015
às 17h.

http://www.cesfet.it/Magazine-Montessori.pdf Acesso dia 13 de outubro de 2015 às 09:00


http://eduquenet.net/teoriasped.htm Acesso dia 13 de outubro de 2015
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/aprender_com_liberdade_e_melhor.html Aprender com
liberdade é melhor. Acesso dia 14 de 2015 às 10:50
http://omb.org.br/sem-categoria/o-silencio-autentico-expressao-da-autodisciplina-e-da-ordem Acesso
dia 10 de novembro de 2015 às 12h.

Aprender com liberdade é melhor:

“No grupo das crianças de 5 anos, os testes revelaram que os alunos estavam significativamente mais bem
preparados nas habilidades matemáticas e de leitura quando comparados às crianças de outras escolas.
Também tiveram melhor desempenho em testes comportamentais e demonstraram senso de justiça e de
solidariedade mais desenvolvido. A avaliação de estudantes de 12 anos incluiu também redação. Os resultados
mostraram que os alunos do método montessoriano usaram sentenças mais elaboradas e se revelaram mais
criativos. Além disso, avaliações sociais mostraram que essas crianças tinham mais habilidade para lidar
positivamente com situações sociais adversas. Lillard pretende replicar o estudo para analisar os efeitos de
longo prazo do método, bem como se suas práticas estão relacionadas a resultados específicos.”

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