Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº
1008279-50.2017.8.26.0005, da Comarca de São Paulo, em que é apelante RESIDENCIAL PARQUE SAN SILVESTRE, são apelados ELVIS FRANCISCO DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA) e ANA KARINE GONÇALVES DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA).
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 28ª Câmara de Direito Privado
do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores DIMAS RUBENS
FONSECA (Presidente) e CESAR LACERDA.
São Paulo, 5 de dezembro de 2019.
BERENICE MARCONDES CESAR
Relator Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Apelação Cível n° 1008279-50.2017.8.26.0005
Apelante/Réu: RESIDENCIAL PARQUE SAN SILVESTRE Apelados/Autores: ELVIS FRANCISCO DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA) E OUTRO MM. Juíza de Direito: Lucília Alcione Prata Comarca de São Paulo Foro Regional de São Miguel Paulista - 1° vara cível
Voto nº 30298
APELAÇÃO AÇÃO DECLARATÓRIA - Condômino que
estaciona uma motocicleta e um veículo na mesma vaga de garagem - tratando-se a vaga de propriedade privada, os Autores titulares têm direito de utilizá-la plenamente, inclusive com a possibilidade de nela estacionar um carro e uma motocicleta, tal como pretendem, desde que respeitada a delimitação do espaço da vaga - RECURSO DA RÉ NÃO PROVIDO, COM OBSERVAÇÃO.
Trata-se de “ação declaratória de nulidade
com pedido de antecipação dos efeitos da tutela” (fls. 01/10) ajuizada por ELVIS FRANCISCO DA SILVA e ANA KARINE GONÇALVES DA SILVA contra CONDOMÍNIO PARQUE SAN SILVESTRE, julgada procedente pela r. sentença (fls. 131/135), cujo relatório adoto, declarando nulo o parágrafo primeiro, da cláusula quarta, da Convenção do Condomínio Residencial Parque San Silvestre, unicamente no que se refere à limitação da utilização das vagas de garagem por um único veículo, desde que respeitados os limites demarcados de cada vaga individual, não podendo o usuário estacionar veículos além do espaço delimitado da vaga, sob penalização prevista tanto na convenção como no regulamento do Condomínio. Em razão da sucumbência condenou o Réu ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios do procurador dos Autores arbitrados em R$ 1.000,00 nos termos do art. 85, §8º do CPC.
Inconformado, o Réu interpôs recurso de
apelação (fls. 137/147), aduzindo, em síntese, a validade da cláusula condominial, Apelação Cível nº 1008279-50.2017.8.26.0005 -Voto nº 30298 2 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
devendo ser declarada pertinente as regras internas do Condomínio, favorecendo
a maioria em detrimento da vontade pessoal de cada condômino; ao final, requeru a reforma da r. sentença, jugando improcedente a presente ação, com a inversão dos ônus da sucumbência .
O recurso foi regularmente processado e,
intimado os Autores, apresentaram contrarrazões (fls. 152/156).
É o Relatório.
Trata-se de recurso de apelação contra a r.
sentença que julgou procedente a ação declaratória referente à nulidade de cláusula da convenção de condomínio ajuizada por condôminos contra Condomínio
O recurso não comporta provimento.
Narra a exordial que, os Autores são
proprietários e residentes da unidade autônoma de número 301, do bloco1, com a respectiva vaga de garagem nº 13, conforme matrícula nº 156.425, ambas integrantes do Réu. O empreendimento foi projetado e construído com vagas de garagens fixas e de propriedade individualizada, contudo sem prever vagas específicas para motocicletas.
Alegam os Autores que utilizam o perímetro
de sua garagem para estacionamento de um carro e uma motocicleta desde quando passaram a residir no Condomínio/Réu, em meados de 2011, respeitando as áreas comuns e de manobras, bem como as demais áreas privativas. E a partir do mês de agosto de 2016, o síndico passou a exigir a utilização das vagas por apenas um veículo, vez que seriam construídas vagas, para motocicletas e distribuídas por sorteio, mas que não atenderiam a todos os condôminos.
Assim determina a cláusula 4ª, parágrafo
primeiro da “Convenção do Condomínio”:
“As vagas de garagem destinadas à guarda de
automóveis, localizadas no pavimento térreo tem limite para 120 (cento e vinte) automóveis de passeio, um para cada vaga e sua utilização deve obedecer às normas dos
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poderes públicos, do condomínio e o tamanho de cada vaga”.
A r. sentença reconheceu abusiva a
restrição imposta na referida cláusula, quanto à limitação das vagas de garagem a um único veículo, desde que respeitados os limites demarcados, não podendo o usuário estacionar veículos além do espaço delimitado.
O art. 19 da Lei nº 4.591/64, dispõe:
“Cada condômino tem o direito de usar e fruir,
com exclusividade, de sua unidade autônoma, segundo suas conveniências e interesses, condicionados, umas e outros, às normas de boa vizinhança, e poderá usar as partes e coisas comuns de maneira a não causar dano ou incômodo aos demais condôminos ou moradores, nem obstáculo ou embaraço ao bom uso das mesmas partes por todos”.
Assim, tem-se que qualquer norma
regulamentar restritiva do uso das unidades condominiais autônomas, além de clara e objetiva, não deve ir além do limite necessário, a não ser que vise evitar dano ou incômodo aos demais moradores.
Como bem decidiu a MMª. Magistrada,
“ante a controvérsia posta em Juízo e a necessidade de adequação entre o uso da propriedade privada e a necessidade de regulamentação da convivência comum em condomínio a questão deve ser pautada pelo bom senso”.
Observa-se que as fotografias anexadas às
fls. 105/112 e 118/120 dão conta de que há espaço suficiente para se estacionar um carro e uma motocicleta, na vaga de titularidade dos Autores, sem que isso traga qualquer prejuízo aos demais condôminos ou que se invada espaço de área comum.
Nesse sentido, já decidiu essa Corte:
“AÇÃO ANULATÓRIA - Pretensão do
autor objetivando o reconhecimento da nulidade do Regulamento Interno do Condomínio-réu que proíbe o estacionamento concomitante de um carro e uma motocicleta nas vagas de garagem, com o consequente cancelamento da sanção de advertência aplicada pelo demandado em virtude da não observância da norma
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aludida - Procedência das ações (principal e cautelar) corretamente decretada em primeiro
grau - Ineficácia e invalidade da cláusula restritiva em causa perfeitamente delineadas na espécie - Vaga para estacionamento na garagem do edifício que, "in casu", consubstancia unidade autônoma, com matrícula específica aberta no Cartório Imobiliário - Nesse contexto, qualquer norma regulamentar restritiva do seu uso, além de clara e objetiva, não deve ir além do limite necessário a não causar dano ou incômodo aos demais comunheiros ou moradores, incidindo, no particular, a Convenção Condominial e o disposto no art. 19 da Lei n° 4.591/64 - Demandado que não cuidou de evidenciar satisfatoriamente que a guarda de uma moto e um carro na vaga de garagem do autor cria embaraços ao uso e fruição das vagas lindeiras - Necessidade, ainda, de quorum especial para discutir e deliberar em Assembleia sobre a matéria em apreço - Apelo não provido (Apelação 127.887.4/8-00, 10ª Câm. de Dir. Privado do TJSP, Rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti, j. 20/08/2002).
Condomínio - Utilização de vaga de garagem
para estacionar carro e moto - Possibilidade, desde que respeitados os limites de demarcação da vaga - recurso improvido”. (Apelação nº 9141394-71.2002.8.26.0000, São Paulo, 5ª Câmara de Direito Privado, Rel. A. C. Mathias Coltro, j. 31.01.2007).
Assim, tendo em vista que o uso da vaga de
garagem pelos Autores, não extrapola as linhas delimitadoras e não interfere na livre circulação de veículos ou nas vagas contíguas, a r. sentença deve ser mantida.
Por derradeiro, considera-se prequestionada
toda matéria infraconstitucional e constitucional, observando-se que é pacífico no Superior Tribunal de Justiça que, tratando-se de pré-questionamento, é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida.
E mais, os embargos declaratórios, mesmo
para fins de prequestionamento, só são admissíveis se a decisão embargada estiver eivada de algum dos vícios que ensejariam a oposição dessa espécie recursal (EDROMS-18205/SP, Ministro FELIX FISCHER, DJ-08.05.2006 p.240).
Os honorários sucumbências recursais
devem ser majorados para R$ 1.200,00, diante da norma do art. 85, § 11 do CPC. Apelação Cível nº 1008279-50.2017.8.26.0005 -Voto nº 30298 5 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Ante o exposto, CONHEÇO e NEGO
PROVIMENTO ao recurso de apelação interposto pelo Réu.