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Medicalização e Saúde
Profª. Nislândia Santos Evangelista
Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Profª. Nislândia Santos Evangelista
E92p
Evangelista, Nislândia Santos
Psicopatologia, medicalização e saúde. / Nislândia Santos
Evangelista – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
220 p.; il.
ISBN 978-65-5663-851-5
ISBN Digital 978-65-5663-846-1
1. Psicanálise. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 616
Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Psicopatologia,
Medicalização e Saúde, que foi elaborada para permitir a compreensão, a
partir de diferentes óticas e com um olhar sensível, de conceitos e questões
específicas da psicopatologia, uma área em constante diálogo com as deman-
das próprias da psicopedagogia.
Bons estudos!
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Bons estudos!
LEMBRETE
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REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 64
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 139
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 219
UNIDADE 1 —
PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS
HISTÓRICOS, SOCIAIS E
PSICOLÓGICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
É importante entendermos que o que conhecemos, em termos teóricos, clí-
nicos e acadêmicos, ou em termos vulgares, sobre loucura faz parte do imaginário
e da construção social, fecundada e difundida com o decorrer do tempo. Assim, a
história da loucura tem que estar sempre localizada num contexto social e político
próprio de cada época e, na mesma linha, do que consideramos “normal”. Essas
concepções estão sempre emaranhadas com o contexto moral, político, social, te-
órico e, até mesmo, com a cosmovisão da época ou da cultura.
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
NTE
INTERESSA
Vicent Van Gogh foi considerado um dos maiores pintores de todos os tem-
pos, tendo produzido mais de 2 mil obras durante seus 37 anos de vida. O artista foi ca-
racterizado como um homem incompreendido, atormentado, intempestivo e com dis-
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
Van Gogh foi tema de diversos livros, filmes e documentários, sendo o mais recente Com
amor, Van Gogh, uma animação biográfica feita em stop motion, utilizando pinturas a
óleo sobre a tela, para replicar a técnica que o autor utilizava em vida. Para realização das
pinturas, 125 artistas trabalharam para pintar os 65 mil quadros individuais do filme, sendo
cada sequência inspirada por pinturas específicas de Van Gogh. O elenco jogou cenas em
conjuntos rudimentares, então isso foi projetado para telas, quadro a quadro e pintado. Os
cineastas optaram por usar pintores classicamente treinados sobre animações tradicio-
nais. Assim, fica demarcada a importância e a relevância de Van Gogh, o que, em alguma
medida, transcende qualquer diagnóstico psicopatológico que o artista teria.
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
(devido, entre outras coisas, à peste bubônica que assolou o continente europeu
no século XIV), as pessoas recorriam às ervas e ao contato com a natureza, o que
era costume na época (FEDERICI, 2004).
DICAS
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Como reação aos comportamentos das mulheres que já não eram aceitáveis,
como uso de medicamentos e controle da natalidade, passaram a ser considerados
como “bizarros” e possuídos pelos demônios. Assim, esses indivíduos que fugiam
da norma, especulados como “dominados por maus espíritos”, eram considerados
responsáveis por qualquer infortúnio experimentado pelos moradores da cidade.
Por exemplo, se uma vaca parasse de dar leite, se algum animal fugisse e/ou se a
plantação de alguém não vingasse, acreditava-se ser obra de algum dos indivíduos
possuídos, principalmente mulheres, que eram tidas como bruxas. Os tratamentos
incluíam exorcismo, em que diversos rituais religiosos eram desenvolvidos para
livrar vítima dos maus espíritos. Outras abordagens incluíam tosar o cabelo da ví-
tima em formato de cruz e amarrá-la a um muro próximo ao adro de uma igreja, de
maneira que pudesse se beneficiar ao ouvir a missa (BARLOW; DURAND, 2015).
Antes de mais nada, toda uma literatura de contas e moralidades. Sua
origem, sem dúvida, é bem remota. Mas ao final da Idade Média, ela
assume uma superfície considerável: longa série de “loucuras” que,
estigmatizando como no passado vícios e defeitos, aproximam-nos
todos não mais do orgulho, não mais da falta de caridade, não mais
do esquecimento das virtudes cristãs, mas de uma espécie de grande
desatino pelo qual, ao certo, ninguém é exatamente culpável, mas que
arrasta a todos numa complacência secreta. A denúncia da loucura tor-
na-se a forma geral da crítica (FOUCAULT, 1978, p. 18).
Essa foi a época em que a Inquisição teve o seu apogeu, com apoio do Estado
e da Igreja, apoiado em um imaginário popular sobre a batalha entre o bem e o mal.
A convicção de que a bruxaria e as bruxas eram causas da loucura e de outros ma-
les continuou durante o século XV. Essa crença de “possessão”, bruxaria e poderes
“demoníacos” também foi, anos depois, um contributo para a lógica e as estratégias
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
para a colonização dos povos das Américas e da África, que não eram reconhecidos
como humanos, mas como selvagens, considerados sem alma e “menores” por sua
forma de compreender o mundo material e divino (FEDERICI, 2004).
UNI
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
o tratamento oferecido à loucura, àqueles que fogem das normas, não mais será a
partir de exorcismos ou técnicas desenvolvidas pela igreja. A mudança na forma
de se perceber a loucura coloca a medicina como peça-chave e fundamental para
o tratamento e o estudo da cura das doenças nervosas. A partir desse estudo, do
desenvolvimento de técnicas para compreensão da loucura, desse fértil domínio do
saber, do desenvolvimento de uma linguagem e de uma métrica para o comporta-
mento humano, nascerá a possibilidade de uma psiquiatria da observação, de uma
psicologia, de um internamento e, posteriormente, também da psicopedagogia.
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
TUROS
ESTUDOS FU
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
NTE
INTERESSA
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
Assim, a psiquiatria, em seu início, com esse caráter pouco humanizado, des-
dobra-se em práticas de internação, cujo sofrimento humano é incitado em nome da
ciência e na crença de “concertar” e de “endireitar” o sujeito que da norma se desviou.
Tais concepções desdobram-se nas práticas da internação e em diversas te-
rapêuticas, indo inicialmente do acorrentamento, passando pela aplicação
de banhos quentes e frios, pelo tratamento moral, pela lobotomia, pelos
choques insulínicos e elétricos, até a vasta e indiscriminada administração
de psicofármacos, a partir dos anos 1950 (SCHNEIDER, 2009, p. 63).
Assim, a loucura não é mais uma bruxaria ou uma associação a algo mítico,
passando a ser considerada uma doença que deve receber um diagnóstico classi-
ficatório e um tratamento “adequado”, que passa a ser um objeto de intervenção
exclusivo da medicina, tendo o aval para medicar e internar (SCHNEIDER, 2009).
Esse movimento coloca a interpretação do que é loucura no crivo do modelo ana-
tomopatológico, buscando explicações da doença mental em fatores externos como
lesões ou disfunções médicas, as quais se encontrariam no “corpo físico”, procu-
rando, assim, o aspecto orgânico da loucura. Na medida em que não se encontram,
em termos palpáveis, esses fatores objetivos para a doença mental, a medicação
de psicotrópicos passa a ser uma prática comum, à medida que controla alguns
sintomas em alguns casos. Essas práticas medicamentosas ocorriam, em seus pri-
mórdios, a partir de tentativas, incertas, que poderiam incorrer ao erro. No caso de
acerto medicamentoso, quase arbitrário, então, estabelecia-se o diagnóstico.
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
2014). Por conseguinte, surgiram hospitais psiquiátricos para que esses sujeitos
tivessem um tratamento médico adequado, ainda que os profissionais desses lo-
cais não tivessem uma formação médica, o que causava verdadeiros problemas.
NTE
INTERESSA
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
TUROS
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Ainda com intuito de regulamentar essa situação, foi instituída a Lei Na-
cional da Reforma Psiquiátrica, Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 (BRASIL, 2001),
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, re-
direcionando o modelo assistencial em saúde mental. Com isso, foram estipula-
das mudanças tanto em relação ao tratamento quanto à compreensão de loucura
na sociedade. Nesse sentido, pensa-se a loucura não mais como um elemento que
deve estar excluído e posto à margem da sociedade, pelo contrário, essa nova con-
cepção coloca os sujeitos e a ideia na rua e em socialização, com questionamentos
e discussões sobre os sujeitos tidos como “loucos”, que passam a ser reconheci-
dos como cidadãos que possuem direitos (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES,
2014). Assim, a Reforma Psiquiátrica previu a proteção e a garantia de direitos a
pessoas portadoras de transtornos mentais e criticou o modelo hospitalocêntro e
enclausurador imposto anteriormente. De acordo com a Lei nº 10.216/2001, são
direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I- ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâ-
neo às suas necessidades;
II- ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo
de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela
inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III- ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV- ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V- ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclare-
cer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI- ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII- receber o maior número de informações a respeito de sua doença
e de seu tratamento;
VIII- ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasi-
vos possíveis;
IX- ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saú-
de mental (BRASIL, 2001).
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TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
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AUTOATIVIDADE
( ) Não ter acesso aos meios de comunicação para não atrapalhar o tratamento.
( ) Ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração.
21
( ) Receber o menor número de informações a respeito de sua doença e de
seu tratamento.
( ) Ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis.
a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – V – F – V.
5 Foi com a psiquiatria de Pinel que a medicina passou a responder sobre os fe-
nômenos patológicos, rompendo a visão religiosa predominante desde a Idade
Média. Emil Kraepelin (1856-1926) contribuiu com o entendimento que temos
hoje sobre psicopatologia. Disserte sobre as contribuições de Kraepelin.
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TÓPICO 2 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
2 ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
Como discutido anteriormente, há diversas formas de se perceber a doen-
ça, a normalidade e os comportamentos humanos. Para compreender um pouco
mais sobre essa diversidade no campo teórico, destacamos três das principais
abordagens da Psicologia, apresentando um panorama geral de como são e em
que se baseiam a construção dessas teorias e como elas percebem o sujeito em
situação de adoecimento mental.
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
NTE
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
pai doente e nas horas que passava ao lado do pai, durante o dia, desenvolveu uma série
de sintomas físicos, como perda da visão, da audição e da fala, além da impossibilidade
de comer e paralisia de braços e pernas e algumas alucinações. Com observações cons-
tantes e foco em um sintoma de cada vez, Breuer induziu a paciente ao estado hipnótico,
em que suas memórias eram revividas em forma de símbolos abstratos. Assim, ao mesmo
tempo em que determinados eventos da infância contribuíram para o surgimento dos sin-
tomas, relembrar esses eventos também contribuiu para a melhora de Anna O. Esse é um
caso que consta no livro Estudos sobre a Histeria, de autoria de Breuer e Freud.
Além disso, o filme Freud Além da Alma conta a história do início da psicanálise e os de-
safios que Freud enfrentou para apresentar e legitimar para a comunidade acadêmica sua
nova teoria de desenvolvimento humano.
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Por essa via, a estrutura da mente é composta por id, ego e superego. O
id diz respeito à fonte de nossos desejos sexuais e agressivos, e, por isso, opera a
partir do princípio do prazer. Quando vemos uma criança em seus primeiros me-
ses de vida, pensando a partir de uma perspectiva psicanalítica, dizemos que ela
é “puro id”, no sentido de que ela busca apenas alcançar seus desejos. Isso porque
o id opera a partir de um “processo primário” de informação, sendo irracional,
emocional, ilógico e repleto de fantasias.
O superego, por sua vez, é formado com base em princípios morais, pois
sua construção depende também da cultura na qual o indivíduo está inserido,
tendo uma forte carga de noção civilizatória; o que for considerado bom, respon-
sável, ético e moral, será por onde o superego caminhará. Por isso, os conteúdos
impulsivos, agressivos e/ou sexuais do id, marcados pelo princípio do prazer,
não chegam integralmente ao superego, que é mais rígido e tem sua formação a
partir das lógicas sociais.
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
Os mecanismos de defesa são utilizados por todos nós e a forma como lida-
mos e enfrentamos os conflitos é essencial para compreendermos alguns quadros
de psicopatologia. Alguns exemplos de mecanismos de defesa são descritos como:
• negação: recusa reconhecer algum aspecto da realidade objetiva
ou da experiência subjetiva que é visível para outras pessoas;
• deslocamento: transfere um sentimento sobre um objeto (ou uma
resposta a ele) que causa desconforto para outra pessoa ou objeto,
geralmente menos ameaçadores;
• projeção: atribui falsamente os próprios sentimentos, impulsos e
pensamentos inaceitáveis para outra pessoa ou objeto;
• racionalização: encobre as verdadeiras motivações de atos, pen-
samentos e sentimentos por meio da elaboração de explicações
confortadoras para si mesmo, mas incorretas;
• formação reativa: substitui comportamentos, pensamentos ou senti-
mentos por outros que são diretamente opostos àqueles inaceitáveis;
• repressão: bloqueia desejos, pensamentos ou experiências pertur-
badores da mente consciente;
• sublimação: direciona sentimentos ou impulsos potencialmente
mal adaptativos para se tornarem comportamentos socialmente
aceitos (BARLOW; DURAND, 2015, p. 19).
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
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INTERESSA
Psiquiatra alagoana, Nise da Silveira (1905-1999) foi uma das maiores repre-
sentantes da corrente junguiana no Brasil. Jovem médica, formada pela Universidade da
Bahia e psiquiatra principiante no hospício da Praia Vermelha, Nise da Silveira sempre ou-
sou; esquerdista, atuante na União Feminina do Brasil, foi presa pela ditadura getulista, ao
lado de Olga Prestes e Elisa Berger. Também foi expulsa do Partido Comunista, pelo crime
inafiançável de suposto trotskismo. Nise da Silveira equilibrava-se entre as estruturas rígidas
das instituições e sua inegável vocação para a marginalidade. Seu feito mais celebrado foi
ter transformado honestas e sedativas atividades de terapia ocupacional em vias libertárias
de realização estética para os internos do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Foram
esses trabalhos artísticos dos internos que culminaram na criação do Museu de Imagens
do Inconsciente, em 1952, do qual parte do acervo veio a ser apresentado em São Paulo,
em 2000, na mostra Brasil 500 anos. Em 1955, Nise fundou, no Rio de Janeiro, um grupo
de estudos sobre C. G. Jung, que viria a se tornar um centro aglutinador de todos que bus-
cavam caminhos alternativos aos diversos discursos hegemônicos que, então, dominavam
o campo “psi”. Já em 1956, preocupada em resgatar a dimensão humana dos denomina-
dos “loucos”, Nise da Silveira criou a Casa das Palmeiras, instituição pioneira de acolhimen-
to, de portas sempre abertas, e que, na opinião de um de seus primeiros clientes, seria “um
cantinho que iria modificar o mundo”.
Em 2015, foi lançado um filme biográfico em sua homenagem Nise: no coração da loucura,
que conta uma pouco de sua história, por ter proposto uma nova forma de tratamento aos
pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e a lobotomia. Ao longo
da história, vemos como seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento
e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, no qual dá
início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor, da arte e de mandalas.
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
FIGURA 3 – WATSON
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
NTE
INTERESSA
O PEQUENO ALBERT
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Para Skinner, o mais eficiente, nesse caso, seria não oferecer nenhum tipo
de feedback/reforço para a criança e, assim, esse comportamento seria eliminado,
porque Skinner não acreditava que a punição fosse adequada para a aprendizagem.
O autor aborda mais em termos de não oferecer estímulos, por mais difícil que seja,
para que o comportamento não se repita. Contudo, houver estímulo, mesmo que seja
na forma de advertência, há probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer.
FIGURA 4 – SKINNER SEGURANDO, EM SUAS MÃOS, UM POMBO. ATRÁS DELE, VÁRIAS CAIXAS
COM POMBOS REPRESENTANDO OS EXPERIMENTOS QUE REALIZAVA
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
NTE
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
teoria do psicólogo, pressupõe uma participação ativa do estudante, que está no controle
da máquina. Esse instrumento gerou polêmicas e críticas devido ao caráter mecânico que
percebe e ressalta a aprendizagem.
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
FONTE: A autora
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
DICAS
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
Nesse sentido, na TCC, o foco é que os clientes tenham maior controle sobre
seus comportamentos, pensamentos e emoções funcionais. Para isso, os profissionais
adotam uma série de técnicas para focar e desenvolver a consciência dos sujeitos em
relação aos seus próprios pensamentos (KRAUSS; HALGIN, 2015, p. 120).
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
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ESTUDOS FU
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Herança genética
Biológicas Mudanças fisiológicas
Exposição a substâncias
Experiências de aprendizagem passadas
Psicológicas Padrões de pensamento mal adaptativos
Dificuldades de enfrentar estresse
Políticas sociais
Socioculturais Discriminação
Estigma
FONTE: Krauss; Helgin (2017, p. 38)
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TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
• Normalidade ideal: lança-se uma utopia, um ideal, uma ideia abstrata do que
seria o “normal”, “sábio”, “evoluído”. Isto é, claramente, uma construção social
que pode ser arbitrária e dogmática, dependendo, assim, mais da adaptação do
indivíduo às normas sociais, morais e políticas do que a um quadro de sintomas.
• Normalidade estatística: identifica-se norma e frequência, de acordo com da-
dos estatísticos e quantitativos da população geral, como peso, altura, horas
de sono etc. Assim, o normal seria aquilo que se observa mais frequentemente
em determinada população e aqueles que fogem desses padrões podem ser
considerados anormais ou doentes. O ponto fraco desse modelo é justamente
o fato de que não é porque é frequente que é, necessariamente, saudável, as-
sim como não é porque é raro ou infrequente que é patológico.
• Normalidade como bem-estar: considera-se saúde/normalidade como “com-
pleto bem-estar físico, mental e social”. Esse conceito é criticável por ser de-
masiadamente amplo e utópico.
• Normalidade funcional: baseia-se em aspectos funcionais qualitativos, no
sentido de que é considerado patológico o sintoma que torna o indivíduo
disfuncional, produzindo sofrimento nele e no grupo social.
• Normalidade como processo: consideram-se os aspectos dinâmicos do desen-
volvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo
do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. Esse con-
ceito é particularmente útil na chamada psicopatologia do desenvolvimento
relacionada com psiquiatria e psicologia clínica de crianças, adolescentes e
idosos. Nesse caso, também é especialmente útil para a psicopedagogia.
• Normalidade subjetiva: enfatiza-se a percepção do indivíduo em relação ao
seu estado de saúde, suas vivências e suas experiências subjetivas. Em termos
psicopatológicos, esse conceito pode ser criticado, pois há quadros em que os
indivíduos podem se sentir muitos saudáveis e felizes, como no caso da fase
maníaca do transtorno bipolar.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
44
AUTOATIVIDADE
45
( ) A perspectiva humanista percebe o indivíduo a partir de suas motivações
e através da busca por autorrealização e significado da vida.
( ) Para a abordagem psicanalítica, os transtornos psicológicos podem ser
produtos de pensamentos disfuncionais.
a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – V.
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TÓPICO 3 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos, de forma geral, alguns aspectos da avalição
e do diagnóstico para casos de acompanhamento de pacientes, ressaltando, tam-
bém, um pouco sobre o manejo de entrevista, uma vez que esta é um dos princi-
pais meios pelos quais a avaliação do paciente é realizada. A entrevista é o ponto
chave e central da avaliação diagnóstica em psicopatologia e, acoplada à observa-
ção cuidadosa do indivíduo, torna-se um dos principais instrumentos de conhe-
cimento e manejo de informações valiosas para o diagnóstico clínico.
A forma com que cada indivíduo lida e entra contato com o objeto de conheci-
mento e com as aprendizagens, em geral, é íntima, particular e singular. Com a iden-
tificação de como o aprendente lida com isso, o psicopedagogo poderá realizar uma
intervenção adequada. Assim, essas atuações demandam extrema responsabilidade
por parte do profissional, que deve ter um olhar multifacetado e sem preconceitos.
2 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Na avaliação em Psicopedagogia, é necessário que o profissional tenha uma
postura útil e criativa para extrair informações e conhecimentos do indivíduo. O
principal aspecto de avaliação diagnóstico, em psicopatologia, é a anamnese, ou seja,
o histórico dos sinais e dos sintomas que o indivíduo apresenta ao longo de sua vida,
contendo antecedentes pessoais, familiares, meio social e comorbidades em geral.
TUROS
ESTUDOS FU
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Alguns aspectos que devem ser avaliados nessa fase são (DALGALAR-
RONDO, 2019):
Algumas dessas questões são específicas para a área da saúde, mas o campo
da Psicopedagogia tem como referência tanto a saúde como a educação, portanto,
é necessário que a prática leve em conta os conhecimentos produzidos em ambas
as áreas. O profissional psicopedagogo deve estar atento às singularidades e às
necessidades de cada caso e cada contexto.
48
TÓPICO 3 — AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PSICOPEDAGOGIA
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Transtorno obsessivo-com-
Transtorno obsessivo-
Transtornos envolvendo ob- pulsivo
compulsivo e
sessões e compulsões Transtorno dismórfico corporal
transtornos relacionados
Transtorno de acumulação
Transtorno de estresse pós-
Transtornos
-traumático
relacionados a trauma e Respostas a eventos traumáticos
Transtorno de estresse agudo
estressores
Transtorno de adaptação
Transtornos nos quais a inte-
Transtorno dissociativo de
Transtornos gração normal de consciência,
identidade
dissociativos memória, sentido de self ou
Amnésia dissociativa
percepção é perturbada
Transtornos envolvendo queixas
Transtornos de sintomas Transtorno de ansiedade de
recorrentes de sintomas físicos
somáticos e transtornos doença
que podem ou não estar associa-
relacionados Transtorno conversivo
dos com uma condição médica
FONTE: Krauss; Halgin (2015, p. 29)
50
TÓPICO 3 — AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PSICOPEDAGOGIA
De acordo com Fernández (1991, p. 35), “para poder chegar a uma con-
clusão acerca da existência ou não de patologias estruturadas no aprender (sinto-
ma-inibição-transtornos de aprendizagem reativa), nossa visão é orientar-se pela
relação do sujeito com o conhecimento”. Assim, embora as bases dos diagnósti-
cos estejam focadas na psiquiatria e na psicologia, no caso da psicopedagogia,
é necessário que haja interrogações focadas na aprendizagem, como “quais os
recursos disponíveis?”, “o que significa aprender para o aprendente e para a fa-
mília?”, “qual é sua modalidade de aprendizagem?” (FERNÁNDEZ, 1991).
• Teste da figura humana: tem como objetivo avaliar a busca de uma imagem de
si mesmo, papéis sociais, preocupação com o corpo etc. Como complemento, po-
de-se também sugerir que a criança ou o adolescente relate o que ele desenhou.
51
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
• Teste da família prospectiva: tem como objetivo perceber como a criança e/ou
o adolescente se prospecta e percebe sua família. Pode-se pedir que desenhe a
família fazendo alguma atividade no período de cinco anos. Com isso, o psi-
copedagogo pode avaliar como o sujeito percebe os papéis estabelecidos pela
família e quais são seus projetos de vida. Além disso, isso fornece informações
para a realização da intervenção psicopedagógica.
• Teste visão do futuro: trata-se de uma técnica que trabalha tanto com expres-
sões gráficas como verbais. Solicita-se que o adolescente desenhe a si mes-
mo, realizando alguma atividade num futuro, cinco ou dez anos. Isso serve
para que o psicopedagogo tenha uma visão de como o adolescente percebe
a si, quais suas expectativas, ambições e preferências em termos vocacionais.
Avalia-se tanto o desenho quanto a escrita, os pontos que convergem e que
se contradizem. A técnica foi desenvolvida por Silvia Gelván de Veinstein,
especialista em orientação vocacional.
52
TÓPICO 3 — AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PSICOPEDAGOGIA
TUROS
ESTUDOS FU
53
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
54
TÓPICO 3 — AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PSICOPEDAGOGIA
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
56
TÓPICO 3 — AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PSICOPEDAGOGIA
LEITURA COMPLEMENTAR
Tendo como pressuposto que a escola é uma instituição social que repro-
duz o conflito de classes da sociedade que a inclui e, desse modo, a compreensão
das relações escola-sociedade de classes é o pano de fundo que permite um ou-
tro entendimento do que se passa nas escolas públicas de ensino fundamental: a
sua dimensão política. Parte-se, portanto, de uma postura crítica à psicologia que
desconhece a realidade escolar e atribui a causa dos problemas de escolarização
às crianças e suas famílias, explicando o fracasso escolar como consequência de
deficiências biopsicológicas individuais.
57
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
e que, colocando o foco nos fatores intra-escolares e dando voz às crianças pro-
venientes das classes populares, mostram que elas são, em sua grande maioria,
crianças capazes de aprender.
59
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
60
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
61
AUTOATIVIDADE
62
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – V – F – V.
63
REFERÊNCIAS
ALVAREZ, R. Contribuições para o diagnóstico na clínica psicopedagógica. In:
BOSSA, N. A. (org.). Avaliação Psicopedagógica do Adolescente. 11. ed. Petró-
polis: Vozes, 2009.
64
KRAMER, P. D. Introdução. In: ROGERS, K. Tornar-se pessoa. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 1997.
WANG, Y. P.; LOUZA NETO, M. R. L.; ELKIS, H. História da psiquiatria. In: LOU-
ZA NETO, M. R. et al. (org.). Psiquiatria Básica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
65
66
UNIDADE 2 —
PSICOPEDAGOGIA E
PSICOPATOLOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
67
68
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 1, vimos alguns aspectos específicos da psicopatologia, ori-
gens e complexidades. Agora, partiremos para alguns tempos que relacionam
a psicopatologia, ou seja, a percepção de uma doença mental, com o ambiente
escolar. Você já parou para tentar fazer esta associação? Afinal, o que uma coisa
tem a ver com a outra? Como que a ideia de uma psicopatologia, orginalmente
surgida, estudada e difundida a partir de médicos e profissionais específicos da
saúde mental, alcançou o campo escolar, tendo cada vez mais participação e legi-
timando práticas e saberes?
De todo modo, o que temos sempre ressaltado neste livro diz respeito a
um olhar atento e sensível, que compreenda o contexto dos aprendentes, a fim de
localizá-los num tempo e num espaço que delimita ou amplia possibilidades de
aprender. Com isso em mente, podemos repensar também algumas questões que
dizem respeito às patologizações no âmbito da aprendizagem.
69
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
70
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Por um lado, portanto, havia um crescimento das cidades e uma busca por
organização e limpeza geral. Por outro lado, havia a possibilidade de mobilidade
social através da escolarização. A união destas duas vias levou a algumas concep-
ções estereotipadas das pessoas a partir de sua origem, em termos de localização
geográfica, em termos culturais ou em termos de classe social. A partir daí, muito
do que foi elaborado em nome desta “organização” e “limpeza” baseou-se em um
cientificismo recheado de julgamentos morais, como é o caso do racismo presente
nas teses sobre raças e nas práticas de higiene na escola.
71
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
72
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
deveria ser a civilização (PATTO, 1999). Vale ressaltar que essa teoria de Darwin
foi utilizada como base, mas não foi a intenção do autor, que formulou sobre a
evolução das espécies, transportar suas ideias para o campo social e cultural.
73
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Para além disso, um dos objetivos de Francis Galton era, de fato, contri-
buir para o destino da humanidade pautado na ideia de eugenia, ou seja, uma
“ciência que visava controlar e dirigir a evolução humana, aperfeiçoando a es-
pécie através do cruzamento de indivíduos escolhidos especialmente para este
fim (PATTO, 1999). Não obstante, estas ideias de Galton ganharam fertilidade na
comunidade científica, sendo, inclusive, referência para pesquisas em psicologia
diferencial até meados do século XX.
DICAS
74
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Com essas ideias fervilhando a partir do século XIX, o ambiente escolar foi
um dos terrenos onde tais teorias ganharam espaço, passando pela preocupação
com a superdotação ou a subdotação intelectual, baseado também nos estudos e
nos testes psicológicos de Galton. Desse modo, a Psicologia sedimentou uma visão
de mundo biologizante, considerando que os testes de inteligência favoreciam os
mais ricos e, assim, reforçava a ideia de darwinismo social onde os mais capazes
ocupavam também os melhores lugares sociais (PATTO, 1999). É claro que neste
bojo, era ignorado que nem todos tinham as mesmas oportunidades de acesso a
bens culturais e materiais, além de nem todos conseguirem a permanência nos es-
paços de prestígio social, como a escola, por exemplo. Assim, estas visões passam a
ser vistas como preconceituosas pois consideram suas interpretações tendo, a priori,
um ponto de chegada essencial e esperado pelos profissionais de saúde mental.
De todo modo, devemos ressaltar que o tema da higiene escolar está den-
tro do tema mais amplo de higiene pública e higiene geral que estava cada vez
mais em voga com o advento da urbanização das cidades, onde se pensava em
termos físicos das ruas e dos espaços, a fim de gerar menos doenças na popula-
ção. Com isso, algumas teses da Faculdade de Medicina da Bahia, entre os anos
de 1869 a 1898 foram analisadas e sintetizadas por Zocolotto (2007, p. 6), a saber:
Teses Conteúdos
1869 A higiene pública é definida como prevenção de doenças
1885 Concepção de higiene como preservação da saúde do corpo e do espírito
A concepção de higiene escolar se dirige para o objetivo de elevar a nação
1886
brasileira à altura das nações civilizadas através da escola higiênica
Intuito de aperfeiçoamento da raça, denotando a influência das “teorias”
1898 raciais no pensamento médico. A higiene como a “magna questão” que
soluciona o “problema social”.
FONTE: A autora
76
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Essas são algumas sínteses do discurso que estava em vigor sobre a higiene
pública e escolar no século XIX. Nas teses de 1869 e 1885 a higiene seria uma ne-
cessidade das escolas em geral para, com isso, diminuir o índice de adoecimento
de crianças. Tem, assim, um caráter de saúde pública, com vias de prevenção da
propagação de epidemias. A terceira tese, de 1898, contudo, a concepção de higiene
muda de um foco de higiene pública para a concepção de elevar a nação brasileira
à altura das nações e dos homens civilizados. Assim, a preocupação já não é apenas
com o bem-estar de todos, mas a um objetivo maior que estaria imbricado à forma-
ção de toda uma geração e o que se espera dela em termos sociais. Essa preocupa-
ção com uma higiene que também é social e estética, ganha uma força e legitimida-
de junto ao discurso de progresso da nação, de forma que um projeto de uma escola
higiênica passa a ter grande importância e repercussão (ZUCOLOTTO, 2007).
Não obstante, havia, já nessa altura, uma consideração pela influência am-
biental no desenvolvimento da personalidade e, portanto, também da aprendi-
zagem nos primeiros anos da criança. Esta dimensão afetivo-emocional transfor-
mou a nomenclatura na qual a criança era interpretada de modo que de “criança
anormal”, passou-se a considerar como “criança problema”, tal como no livro de
Arthur Ramos. Para este autor, não bastava que fossem analisados os componen-
tes físicos e hereditários dos indivíduos, também era necessário que se avaliasse
os meios de desenvolvimento pelos quais passaram e, assim, a associar os “desa-
justes” da criança com seu ambiente familiar, ressaltando no ambiente a falha, o
77
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
que ainda caminhava de mãos dadas com o ideal eugênico, pois eram as famílias
mais pobres que menos tinham suportes e capitais para oferecer às crianças, res-
saltando-se, assim, as desigualdades sociais.
DICAS
78
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Disposta a mudar o foco de suas pesquisas, Margherit é surpreendida por Roberto, que
invade sua casa após sofrer um grande trauma. Assustado e sem ter para onde ir, ele se re-
fugia no único lugar onde recebeu algum cuidado nos últimos anos. Ela, porém, também
fica com medo do que pode esperar daquele encontro. Com cuidado, a pedagoga tenta
dar uma segunda chance ao menino e vai conquistando a confiança dele, que aos poucos
mostra ter uma grande imaginação. A convivência com Margherit faz com que Roberto
contradiga todas as expectativas, tornando-se um grande contador de histórias.
O Contador de Histórias é baseado na história real de Roberto Carlos Ramos, que aos 13 anos
foi adotado pela pedagoga francesa Margherit Duvas, formou-se pedagogo e é considerado
um dos dez maiores contadores de histórias do mundo. Ramos estudou na França e retornou
ao Brasil, onde passou a lecionar e adotou 25 crianças. O filme é dirigido por Luiz Villaça.
râmetro outra cultura e esta, por sua vez, caracterizada como superior, o risco e a
armadilha que corremos é considerar como “primitivos” ou “atrasados” aqueles
que não participam da cultura dominante. Assim, começa a ser fertilizado, tanto
nas teorias como nos meios sociais, o mito de raças ou indivíduos inferiores que
gerariam e grupos familiares patológicos e desajustados, recaindo sobre as crian-
ças que apresentavam dificuldades de aprendizagem.
No entanto, quando passa a tratar do que chama de “fatores sociais”
da repetência na escola primaria, ela nos surpreende duplamente: pri-
meiro, pela incoerência que introduz em seu raciocínio, ao passar a
atribuir as principais dificuldades da escola pública a características
externas a escola e localizadas no aluno e em seu ambiente familiar e
cultural; em segundo lugar, pela maneira preconceituosa e estereoti-
pada como vê os integrantes das classes subalternas, certamente por-
tadora do preconceito racial confirmado pelas teorias racistas em vigor
nos meios intelectuais brasileiros até pelo menos a década anterior e
pelas teorias racistas em vigor nos meios intelectuais brasileiros até
pelo menos a década anterior e pelas teorias antropológicas que as
sucederam, cuja influência sobre a maneira de pensar as diferenças
sociais foi muito mais duradoura. Impressiona, de qualquer forma, o
tom moralista que impregna suas observações a respeito do que supõe
ser a vida na pobreza e suas supostas consequências para a escolarida-
de das crianças pobres (PATTO, 1999, p. 119).
Nesse sentido, ou seja, com a criação de teorias de cunho evolutivo que clas-
sificam o desenvolvimento em níveis hierárquicos, a psicologia do desenvolvimen-
to contribui para normas que sejam transformadas em fatos e consideradas natu-
rais, partindo – ou apoiando-se – de valores morais socialmente estabelecidos. Por
este ângulo, conceitos como competência ou habilidade funcionam como forma de
expectativa e exigência, proveniente da racionalidade ocidental, sem considerar o
componente histórico e contextual de que se fala, pois, cada criança desenvolve-se
num tempo e sociedade com uma história específica, o que a faz ser permeável às
questões sociais e culturais do lugar e tempo que habita (JOBIM; SOUZA, 1996).
80
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Até o século XIII, de acordo com Ariès (1981), não havia especificações
próprias da infância e crianças eram vistas como adultos em miniatura, com res-
ponsabilidades e participação nas atividades da época (como jogos e danças),
além da inexistência da escola como instituição obrigatória em determinada ida-
de. O sentimento de infância, ou seja, a ideia de que a criança possui especificida-
des e pertence a uma categoria geracional, é oriunda da modernidade. Anterior a
isso, não havia diferença de “mundos” entre adultos e crianças.
DICAS
81
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
82
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
83
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Por essa via, as infâncias, tal como conhecemos, são marcadas e classifica-
das, desde o seu nascimento, com uma série de práticas e saberes que refletem sobre
o desenvolvimento saudável da criança. Há os saberes disciplinares, há documen-
tos oficiais, há deveres dos pais e dos Estado, como manter a criança na escola, por
exemplo. O que acontece, portanto, com a criança que não se enquadra nos saberes,
no que conhecemos por desenvolvimento, que estão à margem daquilo que os do-
cumentos sobre direitos defendem? A essas crianças falta a capacidade de aprender
ou, inúmeras vezes, faltam a quem a avalia um olhar mais contextualizado?
84
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
DICAS
O livro Kindred: laços de sangue, da autora Octavia Butler, conta uma história
de ficção científica cuja protagonista e narradora é Dana, uma mulher negra estaduniden-
se, trabalhadora fabril e escritora que residia no ano de 1976. No entanto, Dana passou a
fazer viagens no tempo para o período de escravidão nos Estados Unidos, pré-guerra de
secessão. Estas viagens no tempo se mostraram sofridas para a protagonista, que em um
escalão de desigualdades sociais, estava no patamar mais baixo, sendo uma mulher negra
no período escravagista. Para a sua vantagem, utilizou-se no fato de saber ler e escrever,
assim passou a lecionar para o filho do dono da casa, Rufus Weyllin. Ainda assim, tinha uma
rotina de mulher escravizada e sofria as consequências disto, mesmo que tivesse a educa-
ção, a liberdade e as leituras críticas do século XX. Convivendo com outros negros escra-
vizados, fez contatos e estabeleceu relações, de forma que um certo dia uma das crianças
escravizadas pediu que Dana também o ensinasse a ler e a escrever, assim quem sabe
poderia assinar a própria libertação. Embora a alfabetização da criança negra e da criança
branca não seja o foco da história, conseguimos relacionar com facilidade sobre o quanto
as desigualdades de oportunidades diferem nas possibilidades que estarão ao alcance de
cada um. Desse modo, enquanto para Rufus Weyllin, ler e escrever seria praticamente uma
questão de honra, para Nigel, a criança negra escravizada, este ato o colocava em imenso
perigo por violar as regras sociais da época. Com este cenário, podemos pensar e lançar
paralelos e reflexões sobre o quanto as desigualdades podem limitar experiências. Ficou
interessado nesta viagem no tempo com muitas doses de reflexão social? Lembre-se que
ficção aguça nossa imaginação e compreensão do abstrato.
85
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
A Argentina, a partir da década de 1960, foi o país cujas ideias mais in-
fluenciaram o desenvolvimento do campo da Psicopedagogia no Brasil, embora
chegasse de maneira marginal, considerando o período histórico de ditadura em
diferentes países da América Latina. De todo modo, as referências também es-
tavam de acordo com o modelo médico-pedagógico. Desse modo, inicialmente
a finalidade da atuação em psicopedagogia, em território brasileiro, dava-se no
âmbito da atuação nos problemas relativos às disfunções neurológicos ou ao que
ficou chamado como “Disfunção Cerebral Mínima”, percepção de problemas de
aprendizagem com base numa visão organicista e patologizante.
ficismo da época, pais e professores passaram a tomar este discurso como verda-
de, procurando médicos para que as dificuldades de aprendizagem de crianças e
adolescentes fossem avaliadas sob uma perspectiva clínica.
Portanto, nesses termos, a prática não está focada na falta, mas é guiada
a partir de uma compreensão de processo. Além disso, se antes o foco estava em
técnicas, testes e diversos instrumentos que medem e mensuram as aprendizagens,
agora a Psicopedagogia coloco o enfoque da aprendizagem na relação do sujeito
nesse processo. Desse modo, leva-se em consideração a multiplicidade e a comple-
xidade de fatores envolvidos no processo de aprendizagem, que passam, sim, por
aspectos biológicos, mas não negligenciam fatores culturais, sociais e linguísticos.
FUNÇÃO OBJETIVO
Manter e reproduzir uma série de normas e condutas
que garante, assim, a continuidade da espécie humana.
MATENEDORA
Esta continuidade do comportamento humano realiza-
se através da aprendizagem.
Utilizar de utensílios, da linguagem, do habitat e,
assim, a formação de um indivíduo social que é
SOCIALIZADORA
pertencente a um grupo com signos e significados
próprios.
87
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
88
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
normas estatísticas, embora estes meios tenham lugar nos processos de avaliação,
o acompanhamento do psicopedagogo a partir de uma visão holística e relacional
não encerra sua análise em dados de bases unicamente objetivas.
Assim, podemos refletir sobre a situação de uma criança que não aprende.
De um lado, o problema de aprendizagem que determinada criança sofre tam-
bém condiciona seu meio, a instituição escolar ou a família, a relacionar-se com
esta criança a partir deste olhar. O manejo que se dá, a partir do foco do problema
de aprendizagem, pode ser diverso, indo desde termos carregados de juízo de
valor, como por outro lado, uma perspectiva relacional. Desse modo, o que está
nas relações impregnadas? A criança que aprende tem medo, tem inseguranças,
qual o papel desta criança na estrutura familiar e na escola? Afinal, se pensarmos
a aprendizagem apenas em termos de organismo e inteligência, qual seria, neste
caso, a relevância da família? Contudo, mesmo dentro de um contexto específico,
a criança apresenta suas próprias originalidades. Lembremos, como vimos no
decorrer deste tópico, que recorrer às causas ou fórmulas fáceis pode levar a uma
interpretação da aprendizagem que marginaliza os diferentes.
89
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Por um lado, portanto, havia um crescimento das cidades e uma busca por
organização e limpeza geral. Por outro lado, havia a possibilidade de mobili-
dade social através da escolarização.
• A teoria de Darwin foi usada como justificativa para a ideia de uma hierar-
quia social e, desse modo, validar uma série de violências contra povos que
não cumpriam os critérios abstratos estabelecidos pela classe dominante e
intelectual sobre o que seria um ser humano e como deveria ser a civilização.
• O ambiente escolar foi um dos terrenos onde tais teorias ganharam espaço,
passando pela preocupação com a superdotação ou a subdotação intelectual,
baseado também nos estudos e nos testes psicológicos de Galton.
90
• As quatro funções da educação, mantenedora, socializadora, repressora e
transformadora, estão presentes na aprendizagem, de modo que o sujeito que
não aprende, não realiza estas funções
91
AUTOATIVIDADE
a) ( ) A razão pelo fracasso escolar é que as crianças de baixa renda não têm
interesse pelo ensino.
b) ( ) As razões para o fracasso escolar são poucas e estão isoladas umas das
outras.
c) ( ) As áreas do saber (medicina e psicologia, por exemplo) desconhecem a
realidade escolar.
d) ( ) Atribuir diagnósticos pautados em manuais que tem um caráter
universalizado eliminaria os problemas enfrentados pelas crianças no
processo de aprendizagem.
92
( ) Um dos objetivos de Francis Galton era contribuir para o destino da
humanidade pautado na ideia de eugenia.
( ) Para a realização dos testes de inteligência nas escolas era levado em
consideração que nem todos tinham as mesmas oportunidades de acesso
a bens culturais e materiais.
( ) As dificuldades de aprendizagem das crianças eram procuradas em
causas orgânicas e biológicas.
a) ( )V–V–V.
b) ( )F–V–V.
c) ( )F–V–F.
d) ( )V–F–V.
93
94
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2
PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E
PSICOPATOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Como vimos anteriormente, a aprendizagem tem sido vista a partir da
interação de fatores orgânicos e sociais que possibilitam ou limitam as ações dos
sujeitos aprendentes. Assim, a capacidade de aprender está imbricada a esta base
de vinculação e constância afetiva.
2 NOMENCLATURAS PSICOPEDAGÓGICAS
Como vimos na Unidade 1, a avaliação psicopedagógica busca compreen-
der e verificar o nível de desempenho da criança de acordo com o ano escolar, faixa
etária e contexto. As áreas comumente avaliadas pela psicopedagogia dizem res-
peito a leitura, escrita, matemática e habilidades correlatas. Desse modo, também
está no crivo destas avaliações como são as atitudes da criança em relação à escola
e à aprendizagem para, assim, fazer correlações entre os diversos fatores e dimen-
sões da aprendizagem (MOOJEN; COSTA, 2016). Desse modo, a avaliação psicope-
dagógica depende, fundamentalmente, da perspectiva teórica do profissional, pois
a partir da teoria surgem diversas práticas e estilos de atuação no campo.
95
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
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TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
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UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
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TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
FONTE: A autora
99
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
100
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
101
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
102
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
103
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
DICAS
O neurologista Oliver Sacks, no seu livro O Homem que confundiu sua mu-
lher com chapéu, usa uma abordagem que mistura medicina com literatura, recheado de
casos interessante sob um olhar sensível e humano, que lança linhas de chegada aos seus
pacientes. Como diz na orelha do livro: “Em O homem que confundiu sua mulher comum
chapéu, estamos na presença de um médico que acolhe a todo momento o novo, o
inesperado que irrompe em cada testemunho do drama particular de seus pacientes. Um
músico que percebe apenas formas abstratas, que detecta as propriedades geométricas
de uma flor mas é incapaz de identificar nela uma rosa; pessoas que sentem dores em
membros amputados; uma vítima da amnésia que desesperadamente inventa identidades
para as pessoas; o assassino que não recorda seu crime e que, após um acidente, tem
pesadelos que reconstituem cada detalhe do assassinato — são estas algumas das perso-
nagens de Sacks, almas perdidas na privação neurológica, na super excitação dos sentidos,
nos excessos da imaginação, na clausura interior”.
104
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
FONTE: SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu e outras histó-
rias. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 10-14.
Esta história contada por Oliver Sacks nos permite pensar além dos diag-
nósticos, mas pensar nos indivíduos, nas suas formas de existir e nas criatividades
encontradas diante de determinados desafios. O problema neurológico de Dr. P.
não foi “curado”, ele continuou sem conseguir nomear os objetos ao seu redor,
mas isto não o impediu de lecionar e amar a música. Isto não o invalidou, neces-
sariamente. O que você achou da história? Como pensaria numa abordagem com
o Dr. P. tanto levando em consideração os manuais e termos da neurobiologia e,
ainda assim, percebendo nele originalidade e autoria perante sua própria vida?
105
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
2.1.2 Dislexia
Além dos transtornos supracitados, a dislexia é um transtorno de lingua-
gem que também pode chegar nos campos da psicopedagogia. A definição deste
transtorno é complexa e ainda não uniformizada. De todo modo, a dislexia abran-
de os níveis de transtorno de aprendizagem, leitura e escrita. Algumas caracte-
rísticas da dislexia envolvem transtorno nas operações de reconhecimento das
palavras e nas habilidades de escrita ortográfica e produção textual. Por isto, ge-
ralmente os disléxicos ficam atrasados na leitura e na escrita surgindo na infância
e persistindo durante a vida adulta (MOOJEN; FRANÇA, 2016).
FIGURA 4 – DISLEXIA
106
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
Vemos, assim, que a dislexia é vista sob o viés das ciências da saúde, com
interpretação do funcionamento neurobiológico e neuropsicológico em relação
ao que seria normal no desenvolvimento da leitura e da escrita. Além desta via,
também se compreende a dislexia através das ciências humanas, onde a interpre-
tação pode não ser patologizadora mas recai sobre uma ideia de mal letramento
do indivíduo e/ou da família (MASSI; SANTANA, 2011). Na prática, as duas vias
andam de mãos dadas e os diagnósticos de dislexia crescem cada vez mais.
3 TRANSTORNOS NA MATEMÁTICA
As habilidades em matemática não são exclusivas aos seres humanos pois
alguns animais também a apresentam. Contundo, estas habilidades são, em algu-
ma medida, inatas pois conseguimos quantificar e distinguir mais um ou menos
um (BASTOS, 2016). Inicialmente, as crianças contam os números como se lê as
palavras, posteriormente passar a perceber que cada palavra corresponde a um
ou mais objetos. Assim, pouco a pouco, a criança aprende a ordem dos números,
depois desenvolve também o princípio cardinal.
107
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
108
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
4 TRANSTORNO DA MEMÓRIA
A memória pode apresentar diversos conceitos e definições. Um deles diz
respeito à relação entre memória e aprendizagem, estando intimamente relaciona-
do, havendo sempre uma imbricação entre memorizar e aprender. Outro concei-
to de memória está atrelado aos fatores moduladores da memória, como atenção,
motivação e nível de ansiedade. Nesse sentido, é, em certa medida, esperável que
um indivíduo desatento passe por dificuldades na aquisição de informações novas.
109
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
DICAS
110
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
111
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Crianças de 7 - 12 meses
• Maior incidência de posturas anormais
• Começam a demonstrar atenção • Necessitam de mais estímulos para
compartilhada responder ao nome
• Demonstram referência social (procu- • Hiperorais (põem tudo na boca)
ram na face do adulto informação emo- • Aversão ao toque social
cional quando em situações incertas) • Prestam pouca atenção ao desconfor-
• Comunicação vocal simples to de outros
• Início de capacidades imitativas • Falta de sorriso social e de expressão
facial apropriada
Crianças de 13 - 14 meses
• Atenção compartilhada muito ilimitada
• Comunicação
• Ausência de funções pré-linguísticas
• Receptiva/expressiva
(apontam)
• Maior incidência de "faz-de-conta"
• Falta de empatia
• Exibem atenção compartilhada
• Não demonstram jogo imaginativo
FONTE: Rotta (2016, p. 372)
Com isso em vista, considera-se que pessoas com TEA possuem necessi-
dades educacionais especiais devido às especificidades e singularidades no que
diz respeito às condições clínicas, comportamentais, cognitivas, de linguagem e de
adaptação social que podem apresentar, a depender de cada caso. É possível, a
depender do caso, que precisem de adaptações curriculares e estratégias de manejo
específicas. Com políticas, direcionamentos e capacitação para a inserção da pes-
soa com TEA no ambiente escolar, atendendo às suas necessidades educacionais, é
possível propiciar maior qualidade de vida individual e familiar, além de inserção
no social e no mercado de trabalho (KHOURY et al., 2014). Por isso, dentre outros
fatores, é relevante que seja discutido sobre o TEA no âmbito da educação, tanto em
termos legais e políticos, como também no sentido científico e filosófico.
113
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
DICAS
O livro A Diferença Invisível, uma história em quadrinhos escrita por Julie Da-
chez e ilustrada por Mademoseille Caroline, conta a história de uma mulher que foi diag-
nosticada, aos 27 anos, com síndrome de Asperger. A narrativa foca na rotina da protago-
nista, Margueritte, em sua vida privada, com seus amigos e no seu ambiente de trabalho,
mostra como ela era incompreendida e os movimentos que fez para assumir sua alterida-
de sem a necessidade de patologização. Esta história é também autobiográfica, servindo
de inspiração e representatividade.
114
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA
crônica, tal como problema apresentado, não havendo cura para este transtorno,
apenas novas formas de manejo. O atendimento, assim como nos outros transtor-
nos, deve ser focado a partir de uma ótica multidisciplinar.
115
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
116
AUTOATIVIDADE
117
( ) A discalculia representa um déficit no domínio das habilidades computa-
cionais básicas, como adição, subtração, multiplicação e divisão.
( ) Os transtornos que envolvem a área da memória não implicam a apren-
dizagem.
( ) Amnésia anterógrada é o esquecimento de eventos ocorrido logo após o
acidente
a) ( ) V – F – V.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) V – V – V.
118
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2
MEDICALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, vimos que a construção e o histórico do fracasso escolar
estavam embasados em percepções e correntes relacionadas com a universalidade,
a racionalidade e, em grande medida, o preconceito, enquanto, no Tópico 2, foram
abordados alguns transtornos com base neurológica.
2 MEDICALIZAÇÃO DA VIDA
O termo medicalização da vida, ou medicalização escolar, visa a uma pers-
pectiva da ciência médica em que a medicalização ocorre devido a um processo
de saúde-doença, no qual o indivíduo é o centro e privilegia-se uma abordagem
biológica. No entanto, esse termo tem sido cunhado para designar um processo
que tem ocorrido de forma cada vez mais intensa, que consiste na transformação
de questões sociais e políticas em questões médicas, de forma procura-se cau-
sas e explicações a partir de uma perspectiva biológica, orgânica ou “natural”
(COLLARES; MOYSÉS, 1994). Nesse sentido, compreende-se, em partes, porque
a medicalização sempre parte também de problemas apresentados como se fos-
sem individuais e essencialmente orgânicos.
119
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
Nesse interim, diversas áreas contribuem para a difusão destas práticas, além
da medicina, como a psiquiatria, a psicologia e a pedagogia, que produzem conheci-
mentos e práticas que revelam um julgamento moral sobre modos de ser e de apren-
der que estejam aquém daqueles determinados por manuais e classificações. Desse
modo, é, efetivamente, o modo como o indivíduo se expressa, se apresenta, se veste,
anda, com quem anda, como fala e como se comporta, além da forma como se dá
seu processo de aprendizagem, como constrói relações, qual o seu ritmo e quais as
suas potencialidades que está em jogo. Não se trata, portanto, apenas de atributos ou
explicações hereditárias ou genéticas, mas numa via contrária, busca-se explicações
de ordens biológicas para legitimar um discurso e uma prática que está voltada es-
sencialmente para como o sujeito se apresenta e se relaciona com o mundo.
120
TÓPICO 3 — MEDICALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
121
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
DICAS
123
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
124
TÓPICO 3 — MEDICALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
125
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
126
TÓPICO 3 — MEDICALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Com isso, devemos refletir sobre nossas práticas, que não sejam tão apres-
sadamente classificatórias nem busquem, tão facilmente, causas e explicações ne-
cessariamente biológicas para os modos de ser que talvez não compreendamos. A
aprendizagem e o comportamento podem se apresentar e se desenvolver de for-
mas vastamente diversas e complexas. Com um cenário de excesso de diagnósticos
que limitam tanto a aprendizagem quanto o comportamento e apenas um modo
de ser e desenvolver-se, as crianças e os adolescentes são especialmente afetados
justamente por comporem uma fase da vida onde nas sociedades contemporâneas
se buscam, cada vez mais, padronizar, normatizar, homogeneizar e patologizar.
127
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
128
TÓPICO 3 — MEDICALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
129
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
LEITURA COMPLEMENTAR
131
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
“(...) ela não consegue mesmo aprender é présilábica (...) ela é imatura,
desnutrida (...)”.
132
TÓPICO 3 — MEDICALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Uma outra agravante decorre do fato de que parece que a única preocu-
pação consiste em encontrar “diagnósticos” que expliquem, justifiquem o não
aprender. Não se trata de buscar um diagnóstico real para uma ação efetiva, no
sentido de minimizá-lo, ou mesmo anulá-lo. Uma vez feito o “diagnóstico”, ces-
sam as preocupações e angústias... Uma professora de 1á série em uma Escola em
Campinas encaminhou dez crianças (de uma classe com 31 alunos) para serem
avaliadas por profissionais do Serviço de Saúde Mental; dessas, três foram triadas
para um tratamento com a psicopedagoga do serviço, porém ficaram aguardando
vagas. A partir daí, a professora, mais tranquila, só se refere a esses alunos como
os DMs (Deficientes Mentais): “Os três com DM estão esperando a vaga, mas não
sei quando (...) continuam comigo, mas não fazem nada (...)”.
133
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA
da Saúde. Essa prática acalma a angústia dos professores, não só por transferir
responsabilidades, mas principalmente porque desloca o eixo de preocupações
do coletivo para o particular.
134
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
135
• O Brasil é um dos países que mais apresenta diagnóstico de TDAH em crian-
ças e, também nessa linha, é o segundo maior consumidor mundial de metil-
denidato (Ritalina, Concerta).
CHAMADA
136
AUTOATIVIDADE
a) ( ) F – V – F – V.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – F – F.
137
a) ( ) Percepções de progresso e evolução que normatizam os comportamentos.
b) ( ) Ideias que surgiram nos anos 2000 sobre testes de personalidade.
c) ( ) Ideologias descontruídas sobre o saber e o parecer médico.
d) ( ) Não existe relação entre a obra do autor e os contextos sociais.
138
REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanaba-
ra Koogan, 1981.
139
KHOURY, L. A. et al. Manejo comportamental de crianças com Transtorno do
Espectro do Autismo em condição de inclusão escolar. 2014. Disponível em:
http://portal.educacao.rs.gov.br/Portals/1/Files/3155.pdf. Acesso em: 14 out. 2021.
140
RAMOS, G. P. Psicopedagogia: aparando arestas pela história. VIDYA, Santa
Maria, v. 27, n. 1, p. 9-20, 2007-2009.
141
142
UNIDADE 3 —
PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS,
ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM
PSICOPEDAGOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
143
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
144
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
“A fim de percorrer uma lesma desde o seu nascer até sua extinção, terei
que aprender como é que ela recebe as manhãs, como é que ela anoitece. Terei de
saber como é que ela reage ao sol, às chuvas, aos escuros, ao abismo, ao alarme dos
papagaios” (BARROS, 2013, p. 345) – esse excerto do poema Biografia do Orvalho, de
Manoel de Barros, pode representar um pouco de como é o papel do psicopedago-
go nas travessias de aprendizagens dos indivíduos. Para compreender como o ou-
tro aprende ou não aprende, é preciso compreender também como este outro fun-
ciona em termos de relações, afetos e cognições. Assim, enquanto o psicopedagogo
percorre sobre a aprendizagem que nasce ou se extingue no sujeito, ele também se
atenta e dialoga com os submundos, margens, superfícies e sofrimentos do sujeito.
DICAS
No filme Capitão Fantástico, Ben (Viggo Mortensen) tem seis filhos com quem
vive longe da civilização, no meio da floresta, numa rígida rotina de aventuras. As crianças
lutam, escalam, leem obras clássicas, debatem, caçam e praticam duros exercícios, tendo
a autossuficiência sempre como palavra de ordem. Certo dia, um triste acontecimento
leva a família a deixar o isolamento e o reencontro com parentes distantes traz à tona ve-
lhos conflitos. A Educação altamente diferenciada das crianças era o ponto forte do filme,
porém isso tornava ainda mais complexa e delicada a socialização das crianças em am-
bientes sociais comuns, devido ao fato de terem passado boa parte da vida à parte. Dessa
forma, as aprendizagens operacionais são supra desenvolvidas, com crítica e fundamenta-
146
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
ção, mas há uma lacuna que consiste na necessidade básica de interação pela qual o ser
humano passa para sentir que verdadeiramente pertence a um grupo. Assim, o filme é uma
experiência para repensarmos a aprendizagem na relação com a família e a sociedade.
De todo modo, além das diferentes formas de expressão, seja falada, escri-
ta ou lida, os aspectos sociais também devem ser observados, pois a aprendiza-
gem ocorre sempre em relação. Mudanças no contexto, funcionamento da escola
e esquemas familiares são pontos que podem causar interferência no desenvolvi-
mento da aprendizagem, seja como foco de resistência, seja para reconhecimento
ou como forma de pedido de acolhimento por parte do aprendente.
147
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
com uma queixa que pode ser dele mesmo, pode ser da família e muitas vezes pode
ser da escola (WEISS, 2007). Nesses termos, estamos falando da investigação sobre
não aprender, sobre aprender com muitas dificuldades, sobre não expressar ou
desvelar o que aprendeu e não sustentar situações de aprendizagem (WEISS, 2007).
148
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Além disso, também se deve analisar a visão pela qual a escola e a família per-
cebem o sujeito, considerando que a queixa vai estar relacionada a isso. Dessa forma,
conforme Weiss (2007), “o objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar
os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impe-
dem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social”. Esse Modelo
de Aprendizagem, conforme a autora, diz respeito a todo o repertório do sujeito, o con-
junto dinâmico e relacional de suas aprendizagens, como ritmo, áreas que aprecia ou
não, estilo, mobilidade de funcionamento, tolerância à frustração, entre outros. A partir
dessa síntese, deste condensamento das informações, o psicopedagogo pode levantar
hipóteses sobre o problema da não aprendizagem. Com isso o psicopedagogo também
organiza o prognóstico e o conteúdo para a devolutiva do caso.
149
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
3 EOCA
A sigla EOCA corresponde à Entrevista Operativa Centrada na Apren-
dizagem e foi desenvolvida pelo cientista da educação e psicólogo Jorge Visca
(1935-2000). Esse instrumento surgiu a partir de experiência de Visca em traba-
lhos onde se percebia a interação energético-estrutural na construção da identida-
de e que integram, também, com a aquisição e o desenvolvimento das aprendiza-
gens (BARBOSA, 2018, p. 63). Tem como pressuposto os postulados da Psicologia
Social de Pichon-Rivière, da Psicanálise, do método clínico da Escola de Genébra
e da teoria de Jean Piaget e foi publicada, inicialmente, no livro “Clínica Psicope-
dagógica: Epistemologia Convergente”.
150
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Aberta: gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer. Esse material
é para você utilizar como quiser.
Fechada: gostaria que você me mostrasse outra coisa que não seja. Me
mostre algo diferente do que você já mostrou.
Direta: gostaria que você me mostrasse algo de matemática, escrita,
leitura etc.
Múltipla: você pode ler, escrever, pintar, desenhar, recortar etc.
Pesquisa: para que serve isto, o que você fez, que horas são, que cor
você está utilizando etc. (LOPES, 2008, p. 22, grifo nosso).
151
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
NTE
INTERESSA
152
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
153
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
154
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
155
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
ESTUDO DE CASO
Quando pediram que dissesse o nome e a idade das pessoas desenhadas, disse:
“O aluno tem 10 e o prof. 30, o aluno se chama aluno e o profº, prof.”.
156
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
• Campo geográfico da cena: se desenha a casa (e em que parte, sala, quintal, co-
zinha etc.) e se o entrevistado desenha também atividades (comendo, escovan-
do os dentes etc.), isso nos diz sobre os vínculos e as flexibilidades presentes.
• Objetos do ambiente: indicam as referências no mundo interno do entrevis-
tado, em termos subjetivos e, também uma realidade objetiva em relação ao
ambiente físico.
• Detalhes do desenho: tipos de traços, proporções, posições, retoques, minucio-
sidades, estereotipias, minuciosidades etc., são elementos que expressam tam-
bém sobre os vínculos do sujeito e aspectos mais profundos sobre si mesmo.
• Sequência dos momentos: analisa-se tanto em termos de sequência como or-
dem especial e ordem do relato. Aqui, também se revelam os níveis conscien-
te, pré-consciente e inconsciente.
ESTUDO DE CASO
Uma jovem de 12 anos que possui uma acentuada diminuição intelectual, sua
estrutura cognitiva corresponde ao início do nível operatório concreto – con-
cluiu com severas dificuldades a escola primária – suas aprendizagens são
totalmente automatizadas – e seus pais pretendem matriculá-la na escola se-
cundária. Foi encaminhada pela instituição educativa para a avaliação de sua
capacidade de aprendizagem, os pais expressam durante toda a consulta: a)
que a menina aprende, que não sabem por que é necessário avaliá-la e; b) que
não saberiam o que poderiam fazer com ela se ela não fosse para a escola.
A família pertence à classe alta, ambos os pais são profissionais e se encon-
tram ocupados todo o dia com suas atividades, saem muito cedo de casa para
só voltar à noite. Nos fins de semana dormem muito, pois se sentem muito
cansados. A jovem realiza o desenho muito lentamente e na seguinte ordem:
quadrante superior esquerdo, quadrante superior direito, quadrante inferior
esquerdo e quadrante inferior direito. Ao terminar, verbaliza “já fiz!”.
158
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
159
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
ESTUDO DE CASO
160
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
como ajudá-la. A mãe diz “quando perguntamos para ela, não nos diz ou não
sabe nos dizer; não é por negativismo que não nos diz, pois temos uma relação
muito boa (como efetivamente se pôde comprovar durante o diagnóstico.
161
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
162
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
5 DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO
A partir da teoria de Piaget, considera-se que a aprendizagem se dá a partir
da interação entre o sujeito e o meio, de forma que só é possível aprender dentro dos
termos possibilitados a partir do seu contexto específico. Dito de outro modo, não há
como o sujeito aprender algo que esteja fora do seu nível de competência cognitiva.
Por exemplo, um aluno de série em nível pré-operatório que não tenha
atingido a conservação de conjuntos discretos não terá condições cognitivas
para compreender de imediato exercícios de numeração no trabalho de
sala de aula. Da mesma forma, o aluno de 2ª série que não faz intersecção
de classe, ou seja, não trabalha o multiplicativo, não terá condições de
solucionar problemas de multiplicação (WEISS, 2007, p. 105).
Além dessa caixa, uma segunda caixa deve ser organizada, dessa vez com
enfoque no exame escolar, contendo nela fichas de diferentes formas, cores, ta-
manhos, bastonetes ou palitos; duas espécies de flores e grutas; copinhos transpa-
rentes de diferentes alturas e diâmetros; massa plástica de duas cores diferentes;
fios de lã; balança; casinhas de madeira, régua, lápis.
163
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
6 TESTES PSICOMÉTRICOS
A Psicometria ou medida em psicologia refere-se ao conjunto de técnicas
que permite a quantificação dos fenômenos psicológicos, medida que consiste na
atribuição de magnitudes a um objeto ou classe de objetos, através de valores nu-
méricos (ERTHAL, 2009), o que implica sempre um resultado numérico e apresen-
ta unidades relativamente constantes. Além disso, é necessária a utilização de um
ponto de referência como marco inicial da medida. Na psicologia, a medida é relati-
va por não dispor de um ponto zero absoluto, isso porque não existe um ponto zero
de inteligência, por exemplo, como existe um ponto zero para a variável distância.
• A testagem deve ser realizada quando já tiver uma boa relação com o paciente.
• Deve-se conhecer a forma de aplicação dos testes e as possíveis respostas, tornando
possível a realização de perguntas de aprofundamento, se assim for necessário.
164
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
165
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
Testes aprovados
Testes psicológicos Instrumentos não res- Textos
pelo CFP e uso
não aprovados ou tritos (psicopedagogos, EXCLUSIVOS
EXCLUSIVO de
em estudo psicólogos, outros) da Fonoaudiologia
Psicólogos
Audiometria Teste da
Orelhinha: triagem
auditiva neonatal
FONTE: Castanho (2013, p. 199)
166
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
167
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
Assim como no poema, que diz “a fim de percorrer uma lesma desde o
seu nascer até sua extinção, terei que aprender como é que ela recebe as manhãs,
como é que ela anoitece”, o psicopedagogo também precisa aprender quais as
claridades e quais as escuridões do sujeito. Os diferentes instrumentos indicam
situações, lacunas, colocam como figura pontos específicos da aprendizagem do
sujeito, mas isso não deve simplificar ou reduzir a existência do sujeito, pelo con-
trário, são artifícios da profissão para compreender o estilo, a personalidade, as
preferências e dificuldades do aprendente.
169
AUTOATIVIDADE
2 As técnicas projetivas são testes abstratos e subjetivos que captam parte dos
vínculos do sujeito em relação a sua aprendizagem. Descreva o procedi-
mento para a aplicação da técnica “Par Educativo”.
170
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
171
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
172
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
E seu eu fosse?
Eu não queria ocupar o meu tempo usando palavras bichadas de costumes.
Eu queria mesmo desver o mundo. Tipo assim: eu vi um urubu dejetar
nas vestes da manhã.
Isso não seria de expulsar o tédio?
E como eu poderia saber que o sonho do silêncio era ser pedra!
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças
(BARROS, 2013, p. 15-16).
NOTA
Kairós está relacionado à qualidade do tempo vivido, um tempo divino, presente nos mo-
mentos especiais e inesquecíveis, que não se perdem no tempo do calendário. Ele flui, vai
e retorna, marcando os momentos emocionantes. Refere-se a um instante, a uma ocasião
ou a um momento, que deixa uma impressão forte e única por toda a vida. Por isso, Kairós
se refere a uma experiência atemporal, a partir da qual percebemos o momento oportuno
em relação à determinada ação.
Quantos momentos Kairós deixamos de viver, por estarmos preocupados com o tempo
Kronos: o primeiro sorriso de um filho, uma mão estendida no momento oportuno, o
abraço confortante no momento de tristeza, um carinho que arranca a tristeza do coração
em um momento de infelicidade. São muitos momentos Kairós que, apesar de breves,
fazem a diferença. Quantos momentos Kairós são lembrados depois que alguém se foi,
e, independentemente do tempo Kronos que tenhamos vivido com essa pessoa, são os
momentos Kairós que deixam as lembranças inesquecíveis.
173
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
174
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
O fato de o jogo ser composto por regras contribui para o uso na clínica, no
sentido de estimular, no paciente, os hábitos de planejamento, de execução e de
avaliação. O terapeuta intervém mais do que nas brincadeiras livres, pois é preciso
que se jogue de acordo com as regras, então, pode ser dialogada, com o sujeito, a
forma das jogadas dele, lançando mais consciência para as estratégias para chegar
ao resultado e coordenar as situações. “O Erro será, sempre, uma fonte de informa-
ções. O que fez? Como fez? O que tentou fazer?” (WEISS, 2015, p. 76).
175
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
176
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
177
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
NOTA
Gabi tinha seis anos. Na segunda etapa de A Hora do Jogo, fez uma constru-
ção interessante: juntos, diversos canudinhos, colando uns aos outros nas extremidades.
Em uma das extremidades, Gabi colocou um pincel com uns 20cm de comprimento, de
forma que a extremidade, com as cerdas, ficasse à mostra, parecendo, assim, a cabeça
da cobra. Tentou vários materiais para construir a cabeça da cobra, feita de canudinhos
frágeis. Um a um, desprezava, até encontrar o pincel. Assim, ao encaixar, e, depois, fixar
bem com a fita adesiva, ele diz: “isso aqui, sim”. Isso dá para ser a cabeça da cobra. O que
chama atenção é o processo que o menino fez até chegar no produto final. A partir dos
materiais, ele começou a criar a cobra, e, somente após ter experimentado várias alterna-
tivas, chegou a criar o animal. A respeito dessa produção, falou bastante e com coerência,
pedindo que fosse guardada em um lugar seguro. Nesse momento, Gabi entrou, didati-
camente, na terceira e última etapa de A Hora do Jogo, na qual acontece o aprender: a
integração e a apropriação da experiência (CAIERÃO, 2013).
178
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
179
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
180
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
Assim, percebemos que uma sessão lúdica é espontânea e livre para a crian-
ça, mas cabe, ao psicopedagogo, uma série de observações que devem ser levadas
em consideração para a construção de um diagnóstico. De todo modo, o psicope-
dagogo deve se atentar ao que está sendo desenvolvido nesse processo, que tem
relação com a queixa inicial do aprendente. É de suma importância que as etapas
de avaliação sejam relacionadas entre si, como entrevistas ou anamnese futuras.
FIGURA 6 – SANDPLAY
182
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
183
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
3.1 A NEURODIVERSIDADE
A neurodiversidade é uma abordagem, dentro do campo dos “estudos
da deficiência”, que busca a compreensão dos sujeitos a partir da diferença e da
identidade. Por essa via, essa perspectiva se afasta do discurso de médicos, de
educadores e de especialistas que tratam as deficiências como doenças/lesões
(ORTEGA, 2009). Boa parte do material produzido acerca dos estudos da defici-
ência é de autores e de pesquisadores “deficientes”, com origem fermentada ao
bojo de outros movimentos presentes a partir da década de 1970, como a reforma
psiquiátrica, o feminismo e os movimentos de raça.
184
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
NOTA
Temple Grandin é uma mulher autista que é levada, pela própria mãe, para
a fazenda da tia dela, com o intuito de integrar a jovem ao campo, aos animais, e, con-
sequentemente, a um alívio frente aos pontos negativos que o autismo trazia para ela na
cidade. Assim, neste lugar, Grandin, um tanto arredia com as pessoas em volta dela, come-
ça a observar o modo através do qual os trabalhadores lidam com a criação do gado que
existe na fazenda: desde a alimentação até o abate.
185
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
186
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
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UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
188
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE
189
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
4 CONSIDERAÇÕES
Inicialmente, enfatizamos a importância da brincadeira, encerrando com
uma reflexão sobre as diferentes formas de autismo. De um lado ao outro, o elo é
a alteridade, o respeito à dignidade humana. As possibilidades devem ser explo-
radas e ampliadas, se possível, mas os limites devem, igualmente, ser respeitados.
Não se trata, portanto, de caminhar para que todos tenham as mesmas ações, mas
procurar o equilíbrio entre as travessias de aprendizagem e o reconhecimento do
outro como diferente, e, ainda assim, integral.
190
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
191
AUTOATIVIDADE
1 INTRODUÇÃO
193
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
Por outro lado, também deve ser considerado que dificuldades de apren-
dizagem apresentadas no início da escolarização fazem parte do processo de
maturação da criança, porém, dificuldades persistentes devem ser investigadas
(LAGAE, 2008). Muitas dificuldades apresentadas dizem respeito à decodificação
das palavras, mas há escolares que não apresentam tal dificuldade e, ainda assim,
não compreendem um enunciado de uma frase por não conseguirem extrair o
repertório. Assim, o indivíduo deve ser o foco da avaliação da dificuldade de
aprendizagem no que diz respeito à ausência ou às falhas de aprendizagens e
conhecimentos que são pré-requisitos para que o aluno siga adiante. Além dos
aspectos relatados, há alguns problemas relacionados com o hábito de estudar,
como ser extraclasse e sempre serem atribuídas notas às atividades, além de não
ser feita a verificação de que o aluno obteve ou não o hábito de estudar, bem como
quais fatores interferem ou são dificultadores desse hábito.
194
TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
195
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
2.1 O REGISTRO
A prática psicopedagógica caminha sempre com o registro das atividades
realizadas, que acompanha tanto o processo de formação como o uso do diário de
campos nos estágios. No caso de acompanhamentos e intervenções, isso continua
sendo essencial para a organização do profissional e para uma visão do todo.
a) acompanhar a evolução geral do processo terapêutico;
b) perceber os momentos de avanço, paralização e retrocesso na
conduta do paciente, em que situações ocorriam e que atividades
estavam sendo realizadas;
c) localizar as condutas e atividades ocorridas nas sessões em que o
paciente vivencia a pré-tarefa;
d) observar momentos em que o paciente procurava encontrar na
tarefa e em que atividades estava envolvido;
e) relembrar o primeiro projeto iniciado e como foi proposto, em que
situação ocorreu;
f) avaliar condutas quando o paciente estava envolvido em atividades
de leitura, escrita, cálculo ou outros conhecimentos relacionados à
programação escolar;
g) verificar mudanças na conduta do paciente nas sessões anteriores e
posteriores: aos dias de prova, testes e outras avaliações escolares;
ao período de férias escolares, feriadões e outras interrupções; ao
encontro do terapeuta com a família ou com a escola
h) observar as modificações na conduta do paciente quando acontece
algum fato marcante na família, positivo ou negativo
i) avaliar possíveis alterações na conduta do paciente relacionadas aos
diferentes acompanhantes que conduziram a para a sessão;
j) rever momentos marcantes, significativos que indicam que o
paciente está caminhando para a alta clínica.
196
TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO
CONTROLE DE FREQUÊNCIA DAS SESSÕES
NOME
DIAS:________________________ Horário:____________
INÍCIO: TÉRMINO:
FONTE: A autora
ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO
ACOMPANHAMENTO
NOME:
DATA DE NASCIMENTO:
IDADE:
ANO: MESES:
MÃE: CONTATO:
PAI: CONTATO:
OUTROS MEMBROS DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO
INÍCIO TÉRMINO
FONTE: A autora
197
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO
CONTATO COM A ESCOLA
NOME:
ESCOLA:
ANO ESCOLAR: HORÁRIO/TURNO:
PROFESSORES:
FONTE: A autora
198
TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
sua atuação nos ambientes que o envolve. Nesse sentido, o papel do psicopeda-
gogo consiste em identificar as influências sobre a produção escolar do aprenden-
te, analisar, observar e intervir na maneira que condizer com o caso.
199
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
Além disso, a ação social pode incluir omissão ou tolerância, num contexto
em que a ausência de comportamento aparente também se orienta em relação ao
comportamento dos outros, seja este passado, presente, ou esperado como futuro.
Assim, a ação humana encontra-se sempre enredada nas condições que a produ-
zem e que, ao mesmo tempo, as constituem, ou seja, a emergência da ação só pode
ser compreendida quando situada dentro das práticas sociais que a tornam possí-
vel. Tais caminhos e controvérsias complexificam os estudos sobre a criança e a in-
fância, pois produzem novas formas de entender e escutar o que as crianças dizem,
considerando que essas são portadoras de diversidade e alteridade.
NOME:
DATA PARTICIPANTES OBSERVAÇÕES
FONTE: A autora
200
TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
4 DEVOLUTIVA
A devolutiva é a comunicação do feedback, realizada ao final da avaliação,
quando o psicopedagogo comunica aos pais os resultados obtidos ao longo do diag-
nóstico. Esse procedimento pode ser repetido sempre que necessário e, assim, o vín-
culo entre terapeuta e família se mantém, além de caminharem para um processo
de confiança mútua. Ademais, além de repassar “conclusões” ou levantamento de
hipóteses, esse também é um momento para aproximação dos pais e para que esses
compreendam e assumam o problema de aprendizagem dos filhos em suas diversas
dimensões. A devolutiva realizada com crianças deve ser feita de forma compreensí-
vel para sua faixa etária. Assim, a criança também se sente contemplada e respeitada
em um processo de avaliação e diagnóstico que totalmente lhe diz respeito.
Essas devolutivas não devem ser vistas como fatores isolados, pelo con-
trário, é um ponto importante de um processo que teve início desde o primeiro
contato com a criança e/ou sua família. Não obstante, pode ser um momento de
alguma tensão para todos os envolvidos, considerando as cargas afetivas e sociais
ali impressos, sobretudo, por se tratar uma não aprendizagem, o que pode carre-
gar, em si, diversos estigmas.
201
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
ESTUDO DE CASO
202
TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
as frases”. Ela acrescenta que “o que interessa para ele não interessa para os
outros”. A mãe também se queixava de que André recusava-se a fazer o que
era solicitado, apresentando um constante negativismo. André já havia feito
um curto atendimento com uma psicóloga no hospital, o qual, por iniciativa
da mãe, fora interrompido. Quando chega à escola, é encaminhado para um
atendimento psicanalítico em uma instituição privada. O esquema de trabalho
interdisciplinar que foi estabelecido com essa criança é semelhante ao de Jo-
nas. No turno oposto àquele em que frequentava a aula, era atendido por uma
educadora especial na sala de recursos da escola. Essa educadora faz contatos
sistemáticos com o psicanalista encarregado do caso e, junto à professora de
sala de aula, busca articular o trabalho de classe com o menino na turma.
203
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
com seus colegas. Seu nível de desorganização produz, muitas vezes, uma ati-
tude de afastamento das outras crianças em relação a ele. Algumas situações,
no sentido de compartilhar alguns jogos de bola têm acontecido, que apontam
ser possível superar os obstáculos que tem se colocado para sua interação na
sala de aula.
FONTE: <https://bit.ly/3nyogKz>. Acesso em: 29 ago. 2021.
204
TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
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UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
LEITURA COMPLEMENTAR
INTRODUÇÃO
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TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
Modalidade de aprendizagem
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UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
Desenvolvimento Infantil
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TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
MÉTODO
Campo da pesquisa
Participante
Instrumentos
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UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
Procedimentos
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TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
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UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA
CONCLUSÃO
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TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
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AUTOATIVIDADE
( )
O paciente deve ser previamente avisado que a família participará da sessão.
( )
A sessão conjunta deve ter um objetivo claro para todas as partes envolvidas.
( )
Todos os envolvidos precisam ter clareza das suas responsabilidades.
( )
O paciente participa obrigatoriamente das sessões, não sendo uma ques-
tão discutível.
( ) Os compromissos firmados são exclusivamente com a família e com a escola.
a) ( ) V – V – F – F – V.
b) ( ) V – V – V – F – F.
c) ( ) F – V – V – F – V.
d) ( ) V – V – V – V – F.
217
c) ( ) Nessa sessão, o profissional sugere algumas recomendações e indica-
ções para a família.
d) ( ) Caso o paciente seja indicado para outro profissional, a família é res-
ponsável pela busca e contato.
218
REFERÊNCIAS
ABRAMOWICZ, A.; OLIVEIRA, F. de. A Sociologia da Infância no Brasil: uma
área em construção. Educação, Santa Maria, v. 35, n. 1, p. 39-52, 2010.
BARROS, M. de. Poesia Completa. São Paulo: LeYa, 2013, p. 345; p. 420-421; p. 469.
219
ORTEGA, F. Deficiência, autismo e neurodiversidade. Ciência & Saúde Coletiva,
v. 14, n. 1, p. 67-77, 2009.
220