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Maiores acompanhados

Nota histórica:

O que os dados arqueológicos mais recentes mostram é que mesmo em comunidades pré-
históricas, o sere humano já demonstrava especiais cuidados com membros que padeciam de
deficiências físicas que os impossibilitavam de andar, e do ponto de vista antropológico é por
vezes referido que o primeiro elemento que nos permite falar em sociedades humanas e que
demonstra uma maior inteligência do ser humano em relação aos outros animais é
efetivamente a maneira como tratavam os membros mais frágeis. Essa preocupação com seres
humanos que padecem de uma deficiência física ou psicológica torna-se ainda mais evidente
quando aparece a escrita, e com ela surgem as primeiras preocupações morais e éticas, o
primeiro exemplo disso foi o antigo testamento. Por tanto a partir do momento em que o ser
humano começou a viver em sociedade mais complexas, e em que os problemas éticos as
regras morais passaram a ser debatidos, esta preocupação com preocupações com deficiência
é mais evidente. Quando se chega ao direito romano, isto tudo já é aceite do ponto de vista
moral, e já encontramos códigos ius civile várias disposições que têm como propósito
precisamente proteger os deficientes, mas não havia um tratamento sistematizado.

Este tratamento sistematizado surge pela primeira no código napoleónico 1804 surge pela
primeira sistematizado o regime da interdição, o CC de Seabra vem inspirar neste, porém o
problema é que tinha apenas um regime jurídico.

Prof. X Moreira: vem dizer que isto não podia ser, pois a realidade demonstra que há
diferentes graus de deficiências, e por tanto não pode ser um regime único que quarta toda a
capacidade jurídica da pessoa que está interdita. Regime da interdição: em que se a pessoa
não tivesse capacidade jurídica de exercício devido a determinada deficiência, outra pessoa
passava a tomar conta dos direitos dessa pessoa.

Américo de Campos Costa: este ciente das críticas Guilherme Moreira, vai ver o que é que era
feito em outro país, e inspira-se em Itália, em que já havia dois regimes, o regime da interdição
e da inabilitação. Regime de interdição: era reservado a pessoas que não conseguia governar a
sua pessoa e bens. Regime da inabilitação: apenas se aplicava a pessoas que não conseguiam
administrar os seus bens.

Este ainda era muito criticado, e em 2018 temos uma reforma que fica a cargo do prof
Menezes Cordeiro, com a colaboração do Pinto Monteiro, e a parte de processo civil com o
Prof. Teixeira de Sousa, esta reforma vem alterar tudo o que já havia sido feito. (trabalhos
preparatórios no Moodle)

O que é que está na origem dessa reforma?

Primeiro se, Guilherme Moreira criticava que o regime era insuficiente, a crítica com a
existência de dois regimes manteve-se. Mas como grande fator que motivou a reforma foi a
convenção de Nova York sobre os direitos de pessoas com deficiência em 2007, e esta
convenção desempenhou um papel muito importante na reforma de 2018 no ponto de vista
de quais eram os princípios gerais que deviam regular esta matéria. Os princípios gerais da
convenção, são: cada situação deve ser avaliada casuisticamente, e por tanto a ideia de
termos um, dois, três regime estante deve ser acabado, isto é, as medidas que o tribunal vai
decretar devem se adequar a situação concreta; e segundo: devemos salvaguardar a todo o
custo a autonomia das pessoas com deficiência.

Esta matéria está prevista nos artigos 138º a 156º do CC. Do ponto de vista do CPC está
previsto nos artigos 891 a 905 do CPC. Temos ainda a lei da saúde mental e o estatuto do
curador informal, isto é fruto do envelhecimento da sociedade ocidental europeia.

O Prof. Menezes Cordeiro identifica 6 grandes princípios nucleares do regime do


acompanhamento de maiores:

• Princípio da judicialidade: está previsto nos artigos 139º e 148º, em que a ideia é que
qualquer medida que tenha como consequência diminuir a capacidade jurídica de
exercício de uma pessoa só pode ser aplicada por um tribunal enquanto órgão de
soberania, e dando cumprimento a todos os princípios processuais, nomeadamente o
princípio do contraditório;
• Princípio da primazia do acompanhado: manifesta-se nos artigos 140 e 146/1 diz-nos
que este regime tem como propósito proteger uma pessoa que padece de uma
doença, são os interesses dessa pessoa que devem prevalecer acima de todos os
interesses;
• Princípio da supletividade: manifesta-se no artigo 140/2, pode ainda ser chamado de
princípio da subsidiariedade, diz que só devemos recorrer ao regime dos menores
acompanhados se, através de outros regimes, não conseguirmos alcançar os mesmos
resultados;
• Princípio da necessidade: está previsto no artigo 138º, diz que só vamos recorrer ao
regime de menores acompanhados se efetivamente for necessário em razão da
situação em que aquela pessoa se encontra, isto é, se, se verificar um problema que
justifique a sua invocação;
• Princípio do minimalismo: manifesta-se no artigo 145º/1, diz-nos que cabe ao juiz em
face da situação concreta determinar quais são as medidas de acompanhamento que
são adequadas;
• Princípio da flexibilidade: diz-nos que a decisão tomada pelo juiz deve adequar-se as
especificidades dos casos. Quando este regime foi feito em 2018, houve pelo menos
uma crítica principal que lhe foi dirigida por alguns professores muito importantes,
nomeadamente prof. Menezes Leitão, dizendo que este regime no fundo se atribuía
poderes ao juiz para decidir discricionariamente o que é que devia ser feito. Está será
uma decisão adequada?

Resposta: Há primeiro uma resposta em relação a situação concreta, essa foi a pretensão do
legislador, a pretensão da convenção de Nova York, vamos adaptar a solução encontrada em
face as necessidades daquela pessoa, e por tanto só temos duas hipóteses, ou dizemos que o
regime este e é este que o regime tem de escolher ou dizemos que é o juiz mediante o sue
entendimento, e esta última foi a opção legislativa.

E o segundo, é um aspeto, que em virtude do processo de codificação iniciado no final do séc.


XVIII e início do séc. XIX, que é que nossa ciência jurídica funcionou e tem evoluído ao longo
de milénios precisamente nestes termos, isto é, os tribunais decidem, a doutrina tenta
sistematizar essas decisões e encontrar pistas para encontrar soluções não resolvidas pela
jurisprudência.

No regime do maior acompanhado, nós temos duas figuras principais:


- O maior acompanhado, que por vezes é referido como sendo o beneficiário, quem é o maior
acompanhado – artigo 138º;

- Acompanhante – artigo 143º.

Basicamente no regime do maior acompanhado temos alguém que não consegue exercer os
seus direitos ou cumprir as suas obrigações de forma livre, isto é, tem um problema fático de
capacidade jurídica de exercício e o direito reconhece que ela tem um problema de
incapacidade jurídica de exercício em virtude da situação fática em que ela se contra, e é
designado alguém que vai começar a exercer direitos em nome dessa pessoa.

Primeiro: quem é que pode dar início ao processo? Este processo pode ser requerido pelas
pessoas referidas no artigo 141º/1. Eventuais problemas desta parte do requerimento: é
levantado um problema de publicidade, qual o tipo de publicidade que deve ser dada a este
processo? -a publicidade deve ser mínima, artigo 153º/1 do CC e artigos 893º do CPC.

Por tanto, é apresentado o requerimento em que são apresentados os vários factos que visam
demonstrar a situação de incapacidade em que aquela pessoa se encontra, o juiz recebe, e
depois de receber e na eventualidade de não ser o próprio a iniciar o processo, nos termos do
artigo 896º do CPC, ele tem 10 dias para responder.

Audiência pessoal e direta do beneficiar


artigo 139º do CC

Essa audiência pessoal e direta do beneficiário é sempre necessária, ou em algumas


situações pode ser dispensada?

Acórdão da relação de Guimarães – vem dizer que há algumas situações em que está não é
necessária, nomeadamente em situações em que o beneficiário está em situação de coma, e
por tanto havendo provas, não é necessário haver audiência pessoal. Mas a maioria da nossa
jurisprudência diz-nos que o juiz, se for necessário desloca-se a casa do beneficiário para
verificar em que situação em que ele efetivamente se encontra, e em situações em que se
encontra em coma, ele tem de verificar se ele está efetivamente em coma.

Concluído esta fase da audiência pessoal, então o juiz tem de decidir o que fazer. O CC no
145º/2, diz a título meramente exemplificativo, algumas soluções que podem ser encontradas
pelo juiz.

Ou seja, o juiz tem de verificar em concreto qual é a situação em que aquele beneficiário se
encontra, o que é que ele não consegue fazer de forma pessoal, consciente e livremente, e
com base nessa situação decreta as medidas a tomar.

O artigo 147º/1 – vem nos dizer que em relação aos direitos pessoais, estes são sempre
salvaguardados. Ex. ouvir…

Artigo 139º/2 – em qualquer altura do processo, até a decisão se proferida, podem ser
determinadas as medidas de acompanhamento provisorias e urgentes, que sejam necessárias
para providenciar quanto a pessoa e bens do requerido. Ex Acórdão da relação de Lisboa de
2002.
Depois, nos termos do artigo 155º CC – estas medidas de acompanhamento que são
decretadas pelo tribunal devem ser revistas periodicamente nos termos da sentença e no
mínimo de 5 em 5 anos.

Figura do acompanhante
O artigo 143º/1 – permite que se seja o próprio beneficiário, ou o seu representante legal a
escolher a pessoa do acompanhante. Quando não é indicado qualquer nome cabe ao juiz
nomear quem melhor salvaguarda o interesse imperioso de beneficiário, o artigo 143º/2.

O que pode ainda acontecer é que o tribunal determina um acompanhante, mas o beneficiário
recusa-se, neste caso é dada prevalência a decisão do beneficiário.

Artigo 144º - tem uma série de medidas para proteger o beneficiário, tem uma série de
medidas que impedem familiares próximos que se recusem a ser acompanhantes. A
substituição do acompanhante só é possível mediante a verificação de um dos fundamentos
elencados no artigo 1934º que é aqui aplicar através do artigo 144º/3. O tribunal pode ainda
designar mais de um acompanhante.

A função não é remunerada, pode, no entanto, haver uma alocação das despesas, artigos
151º/1 e 2.

Em relação a atuação – artigo 146º (o expressão “bom pai de família” é um termo técnico).

Conflitos de interesses – artigos 150º - está parte é importante, e é identificativo quando isto
foi feito, um dos aspetos mais característicos do direito privado contemporâneo é a existência
de posições jurídicas que são desequilibradas. Uma das medidas que foi criada pelo legislador
para equilibrar as posições, é impor a parte mais fortes deveres de lealdade, pela positiva diz-
nos que o titular dos deveres de lealdade deve atuar sempre no melhor interesse do
beneficiário da relação, e pela negativa diz-nos que a parte mais forte deve evitar situações das
quais resultem conflitos de interesses.

Por um lado, o acompanhante deve atuar como um “bom pai de família”, por outro lado a sua
atuação é sempre pautada pelo dever de lealdade.

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